«* i | o , 25 de junho de 1988 — CIDADES — EDUCAÇÃO E CIÊNCIA — A - 1 7 Prazo para alfabetizaçax) é pequeno, dizem técnicos Da Sucursal de Brasília professores dos órgãos conveniadoso com a Educar é leiga ( com o I grauoincompleto, 2o grau incompleto ou 2 grau completo sem especialização para o magistério). Para remediar p problema, a fundação criou um programa de capacitação à distância (por correspondência ou por rádio e televisão), para tentar melhorar o nível dos professores. Núbia e Correia afirmam que á alfabetização não pode ser feita por /'programas de massas", como foi tentado sem êxito pelo Mobral. Eles defendem o atual método da fundação, que ensina em pouco menos de três anos o correspondente às quatro primeiras séries do I o grau„ Correia chegou a comparar a fixação de prazos para a erradicação do analfabetismo, como fez a constituinte, com "as políticas de alfabetização em massa dos regimes totalitários". Dirigentes da Fundação Educar, órgão do Ministério da Educação encarregado da alfabetização de adultos, consideram *'muito difícil, mas não impossível", a erradicação do analfabetismo no Brasil em dez anos, conforme emenda aprovada pelo Congresso constituinte. "Tudo depende da vontade política para isso, que nunca houve no Brasil", afirmou a diretora técnica, Pdaria Núbia Bonfim. "Impossível não é, mas acho que é mais um dispositivo para não ser cumprido", disse o diretor de operação, Antônio Correia. Atualmente, o número de analfabetos no Brasil gira em torno de 30 milhões, segundo Correia. A Fundação Educar (ex-Mobral), através de convênios com órgãos públicos e privados, espera atender este ano 2,5 milhões de alunos —duas vezes mais Utopia do que no ano passado e quatro Segundo Núbia, não é utopia falar vezes mais que em 1986. O orçamento previsto para o órgão este ano é em erradicação do analfabetismo no de aproximadamente Cz$ 9 bilhões, Brasil, quando mesmo os países desenvolvidos ainda têm este proconsiderados insuficientes. blema. Ela disse que por erradicação deve-se entender que o analfabeProfessores leigos tismo permanece em nível "residu"O problema é que o ensino regular (de I o grau) não consegue al", por causa das pessoas que não atender a demanda, e a cada ano a estudam por uma opção pessoal. nossa clientela aumenta", disse CorOs dois diretores não souberam reia. A Fundação Educar só atende dizer qual o volume de recursos alunos com mais de 15 anos e necessários para o fim do analfabecalcula-se quê haja cerca de 8 tismo em dez anos. Também não milhões de alunos entre 7 e 14 anos souberam calcular quanto tempo fora da escola. será preciso, se for mantida a atual Outro problema, segundo Núbia, é política de educação, para se atingir a falta de capacitação dos professo- o objetivo de acabar com o alto res. Mais da metade dos 170 mil número de analfabetos no país. Editoria de Arte ANALFABETISMO NO MUNDO Artsifabetos totais na América Latina Sò.òj Otftft»mai»t Analfabetos funcionais* em {Kiíses 1 no**»** r* — ftSatvador | **W« C <<rf**w» £ Z WS} ••••M .36.8* ***** c^Mãi 33 ~T8t * * * * * * • , . . Mésfco *«**» f"v;8%'l tom*» EUA *t*tt«M*<*. * AnoHob#to f yrwonal 4 aqvaf»<gu* ndo OfHr***nfci0 nív*í d» wolortçiack rw%%ér *o poro tííte^^írtKji^ííéociOiéJrtHXÍ^ftOviéi •condín ico«tocíoi*£om o» avíjoçpído lecrroSo^iQ. AoífíjÍ»tlroçÔoíuneíondfndó4 > (.Jjj^ Hk*t*v** r 121 mítico &LSÍ JM Wwpwí GJLK /jW <*•* £0 /r CMteKtc* | 6 j ^ {•**%) i j Fonte: Unesco Irrealismo marca metas do governo Outro problema enfrentado pela fundação, segundo Souza, é a incerO Congresso constituinte aprovou teza quanto a seu orçamento. O 1 na útima quarta-feira o artigo 32 das órgão sobrevive de incentivos fiscais i Disposições Transitórias da nova que as empresas podem aplicar, até . Constituição que se propõe a "no o limite de 2% do imposto devido, > prazo máximo de dez anos, eliminar em programas de alfabetização. Isso o analfabetismo e universalizar o faz com que o projetos de médio e ensino fundamental". As autorida- longo prazos se tornem inviáveis, diz ele. t des responsáveis pelo problema da eduacação Brasil têm apresentado, O educador Paulo Freire, acha o desde antes da criação do Mobral dispositivo constitucional "lastimá1 (Movimento Brasileiro de Alfabeti- v e l . Segundo ele, "é possível acazação) em 8 de setembro de 1970, bar com o problema em um prazo uma visão otimista da questão. muito menor". As estimativas oficiais brasileiras O analfabetismo não é problema consideram alfabetizadas as pessoas exclusivo do Brasil. Na Alemanha capazes de ler e escrever um bilhete Ocidental, onde a educação é obrigasimples na língua que conhecem. tória há 64 anos, ainda há, segundo Segundo esse conceito, os dados de dados da Unesco (Organização das 1 1983 do IBGE (Fundação Instituto Nações Unidas para a Educação, Brasileiro de Geografia e Estatísti- Ciência e Cultura) cerca de 1 milhão ca) indicam que 21,9% das pessoas de analfabetos. Destes, cerca de 98% com mais de 15 anos, no Brasil, são são os chamados analfabetos "fun| analfabetas. cionais". Alguns países desenvolAs declarações sobre o assunto vidos utilizam esse outro conceito, j proliferaram com maior intensidade que se difere do analfabetismo na época da criação do órgão. Mário completo porque as pessoas nessa Henrique Simonsen, o primeiro pre- situação são capazes de ler coisas l sidente do Mobral. afirmou em simples, mas não são capazes de agosto de 1970 que ''até o final da lidar com informações escritas mais década de 70, não deverá haver mais complexas. analfabetos no Brasil, pelo menos na Nos EUA a situação é mais grave. faixa até 35 anos". Em 1972, o IBGE Cerca de 13% da população com . divulgou um estudo que previa que mais de dez anos de idade é j em 10 anos o analfabetismo atingiria constituída de analfabetos funcionais (veja quadro). j apenas 10% da população. As afirmações otimistas continu- Isso significa um contigente de am a ser feitas até hoje. O presiden- cerca de 20 milhões de pessoas. A te José Sarney declarou na abertura França não apresenta um melhor da Campanha Interamericana de quadro: 19% da população é consiAlfabetização que "O Brasil está derada analfabeta total ou funcional. O norte-americano Philip Fletdecidido a entrar no século 21 como um povo alfabetizado". As condições cher, estudioso da questão da educação adulta, afirmou que "o Mobral para isso não foram esclarecidas. Manoel Raimundo de Souza Júni- pretendeu afastar uma preocupação or, 40, técnico educacional da Fun- pessimista com alguns dos probledação Educar, que substituiu o mas mais graves do Brasil, substíantigo Mobral afirma que é impossí- tuindo-a por uma espécie de gratifivel erradicar o analfabetismo em cação psicológica, na forma de dez anos. Um dos problemas identi- promessas e esperanças para o ficados por ele é o preconceito da futuro". A promessa, agora, virou sociedade em relação ao analfabeto. lei. Da Redação