TRANSFERÊNCIAS MUSCULARES NAS
PARALISIAS NERVOSAS
Ronaldo Santos Carneiro1, Fernando Carvalho Ventin2, Fabrício Verlindo Brinco3
INTRODUÇÃO
O presente e o passado das transferências
va. Vamos relembrar alguns princípios básicos e
tendinosas são muito diferentes. Transferências
analisar as transposições que temos a disposição.
musculares são menos frequentes nos dias de
Os pré-requisitos para um bom resultado
hoje do que nas décadas de 60, 70 e 80, quando
no pós operatório em transferências tendinosas
pacientes se apresentavam no consultório com
são: motivação do paciente, expectativas razo-
paralisias dos nervos periféricos do membro
áveis e que o mesmo entenda o procedimento
superior e a única solução era a realização de
que será realizado.
transferências tendinosas para melhorar a função da mão. Hoje em dia ainda há necessidade
PRINCÍPIOS DAS TRANSFÊRENCIAS
de transposições de tempos em tempos, mas as
TENDÍNEAS
novas técnicas de reparação nervosa melhora-
Existem basicamente 2 tipos de transferên-
ram os resultados de uma maneira significati-
1 Diretor Médico do Carneiro Institute for Hand Surgery - Naples, Florida, EUA.
2 Sócio fundador do Instituto de Cirurgia de Mão e Microcirurgia do Estado do Espírito Santo (IMÃO) – Vitória, Espírito Santo.
3 Instrutor do grupo de Cirurgia da Mão do serviço de Residência Médica do HU-Canoas – Canoas, Rio Grande do Sul
1
cias: Transferências para obter posição das ar-
Se não for possível faze-lo com terapia, devemos
ticulações maiores (punho e cotovelo) e trans-
pensar em capsulotomias, artrodeses etc.
ferências para obter função da mão: flexores,
extensores e intrínsecos
Abaixo discutiremos alguns princípios que
são necessários para o planejamento e execução
das transferências tendíneas.
Sinergismo funcional
Músculos sinérgicos exercem de alguma maneira a mesma função ou uma estabilização de
uma articulação importante para obter a ação
Força adequada
desejada. A transferência de músculos funcionalmente sinérgicos favorece a adaptação
O tendão escolhido como doador tem que
do paciente à transferência realizada. Flexores
ser suficientemente forte para executar sua
do punho e extensores dos dedos são sinérgi-
nova função na posição alterada. É contraindi-
cos, assim como são os extensores do punho
cado o uso de músculos previamente desnerva-
e flexores dos dedos. O pronador redondo é
dos exceto quando não há outra opção.
funcionalmente sinérgico aos extensores do
punho, já que a maioria das ações que realiza-
Ausência de contraturas articulares
É muito mais fácil prevenir uma contratura
do que trata-la. Todo potencial candidato a uma
transferência tendinosa merece o acompanhamento com um serviço de reabilitação para manter moveis (de forma passiva) as articulações afetadas com as paralisias. Nos pacientes com lesões
mos com o antebraço pronado é feita como o
punho em extensão. O extensor do indicador
é sinérgico aos oponentes do polegar porque
ao fazer oposição para pegar um objeto grande
o indicador vai fazer extensão na articulação
metacarpofalangeana. Para pinça delicada, este
estabiliza a articulação metacarpofalangeana.
crônicas, se faz necessário reposicionar as articulações com contraturas antes das transferências.
Amplitude de movimento
2
As excursões dos tendões flexões e extenso-
transferência de flexores do punho para lesão
res do punho e dos dedos foram avaliadas em
de nervo radial, por exemplo, é desejável man-
estudos anatômicos. De modo geral os flexo-
ter o Flexor Radial do carpo em sua função e
res e extensores do punho possuem menos da
utilizar o Flexor ulnar do carpo e o palmar lon-
metade da excursão dos flexores dos dedos. O
go para as transferências. O FCR é claramente
extensor longo do polegar e o extensor comum
capaz de flexão adequada do punho. Por isto,
dos dedos possuem excursão intermediária.
o autor sênior (RSC) condena o uso do fle-
Em uma transferência de um dos flexores do
xor radial do carpo inteiro para substituição da
punho para extensor comum dos dedos, apesar
base do polegar como alguns autores aconse-
da diferença de excursão entre os músculos, o
lham. A perda da função para que um tendão
efeito tenodese (flexão do punho – extensão
tão importante funcione como enchimento é
dos dedos) favorece a extensão completa dos
funcionalmente inaceitável.
dedos com a flexão ativa do punho.
Tensão
Um tendão – uma função
Uma das perguntas mais frequentes duran-
Se um músculo é inserido em dois tendões
tes estas cirurgias de transferência é o quanto de
com diferentes funções, a forca e amplitude
tensão se deve colocar na suturas dos dois ten-
do tendão doador será dissipada. Dessa forma,
dões (doador e receptor). A resposta é sempre a
recomenda-se que cada músculo seja direcio-
mesma: muita! A sutura deve ser sempre mais
nado para apenas um tendão.
tensa do que o necessário para simplesmente
manter a posição e atitude requerida. Sempre
Doador prescindível
há um relaxamento muscular e o tendão transferido cede um pouco. Há muitas transposi-
A remoção de um tendão não pode resul-
ções que se podem testar com tenodese duran-
tar em uma perda irreparável de função. Na
te a cirurgia. Mas sem duvida, sempre deve-se
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manter a sutura mais tensa que o normal.
déficit sensitivo do nervo mediano. Quanto
Rota
mais grave seja esse déficit, menos provável que
Existem técnicas que advogam as transferências tendinosas
por
técnicas internas
(pela membrana interóssea, principalmente).
Nós preferimos as técnicas subcutâneas por
o paciente possa se beneficiar de uma transferência tendinosa. Esse déficit, no entanto, não
deve contraindicar as transferências e, nestes
casos, a recuperação pós operatória deve se
concentrar na utilização da visão como subs-
três razões principais: evitar aderências, me-
tituta do tato. A missão da terapeuta se torna
lhor deslizamento, facilidade de re-operação.
ainda mais complicada.
Uma transferência pela membrana interóssea
A lesão do nervo mediano pode ser classifi-
não tem possiblidade alguma de não criar uma
cada como baixa ou alta quando ocorre distal
severa aderência por pura falta de espaço. Re-
ou proximal a origem do nervo interósseo an-
-operações para falta de função por causa des-
terior no antebraço. Nas lesões baixas, há uma
sas aderências serão muito mais difíceis.
paralisia da porção da musculatura tenar da
mão que é predominantemente inervada pelo
Nota
nervo mediano: abdutor curto e oponente do
polegar e a porção superficial do flexor curto
Como os autores se concentraram nas técnicas
que são as mais favoráveis, os capítulos de trans-
do polegar. Nas lesões altas, além dos músculos
tenares citados, estão paralisados os pronadores
posições tendinosas não serão uma recapitulação
(redondo e quadrado), flexor radial do carpo,
de todas as técnicas disponíveis, mas se concen-
flexor superficial dos dedos, flexor longo do
trarão nas usadas pelo autor sênior (RSC).
polegar e profundo do indicador e dedo médio, além do palmar longo. Esse conhecimento
TRANSFERÊNCIAS TENDINOSAS
anatômico é importante no planejamento do
NAS LESÕES DO NERVO MEDIANO
tratamento.
É importante uma atenção especial para o
Para todas as lesões do nervo mediano o
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principal objetivo nas transferências tendino-
mente descrito como a associação de abdução,
sas é a recuperação da oponência do polegar.
flexão e pronação da articulação trapézio-me-
Para as lesões altas, também é importante a re-
tacarpiana. Algumas técnicas de transferências
cuperação da função do flexor longo do pole-
tendinosas foram descritas para essa finalidade:
gar e do flexor profundo do indicador.
»»Transferência do extensor próprio do indicador
Objetivo:
Recuperação da oponência (oponentoplastia)
Em alguns casos, a abdução e a oponência
do polegar estão conservadas após lesão isolada do nervo mediano. Isso se deve a presença
frequente de anastomoses de Riche-Cannieu
entre ramos motores do nervo ulnar e mediano. Fouther e colaboradores publicaram que
apenas 6,6% dos pacientes com síndrome do
túnel do carpo severos cursavam com oponência inadequada do polegar. Se a lesão do nervo
é unilateral, principalmente na mão não dominante, a perda de função pode ser insuficiente
para indicar alguma transferência tendinosa. A
eletroneuromiografia pode ser importante na
identificação de anastomoses entre os nervos
mediano e ulnar.
A oponência é um movimento classica-
Popularizada por Burkhalter, essa técnica
consiste em retirar o extensor próprio do indicador (EPI) ao nível da articulação metacarpofalangeana e sutura-lo na inserção do abdutor
curto do polegar com uma forte ancoragem no
extensor longo do polegar (ELP), para maior
segurança e também para simular a inserção do
abdutor curto do polegar no ELP. Uma incisão
é feita na borda dorso ulnar do punho para puxar o tendão proximalmente ao retináculo dos
extensores e passa-lo por túnel subcutâneo até
a região metacarpofalangeana do polegar. Durante essa passagem, deve-se ter o cuidado de
passar o EPI distal ao pisiforme. Desta forma,
a borda lateral do antebraço serve como polia
para a transferência. É a técnica preferida pelos
autores por ser de fácil execução, não necessita a construção de polias e por não provocar
fraqueza, rigidez ou deformidades no dedo do5
ador, como as técnicas que usam o flexor superficial. Além disso há uma sinergia funcional
envolvida, uma vez que já estamos condicionados a manter o extensor atuante nos movimentos delicados de pinça.
»»Transferência do abdutor do dedo mínimo
É a segunda opção para os autores. Consiste em transferir o músculo abdutor do dedo
mínimo para a região metacarpofalangeana do
polegar. Para realiza-la, liberamos esse abdutor
dos demais músculos hipotenares e o dissecamos do pisiforme, tomando cuidado com o
seu feixe neurovascular que se insere proximalmente. Quando necessário é feita sua desinserção do pisiforme, mas sempre mantendo uma
inserção tendinosa no flexor ulnar do carpo.
Um túnel subcutâneo leva o músculo até sua
nova inserção no abdutor curto do polegar.
São vantagens desta técnica o acesso fácil ao
músculo com tendão, a cobertura que oferece
ao nervo lesado (quando for o caso), além de
levar a um bom resultado estético, já que aumenta o volume na região tenar atrofiada.
Fig.1 – Oponentoplastia pela transferência do extensor próprio do indicador (EIP). A: EIP seccionado ao
nível da MF e puxado proximalmente ao retináculo dos
extensores; B: Confecção de túnel subcutâneo distal ao
psiforme; C: Postura da mão “armada” em oponência
logo após a tenorrafia
Fig.2 - Oponentoplastia pela transferência do abdutor
do dedo mínimo. A: Passagem do músculo pelo túnel
subcutâneo; B: Mão em posição de oponência no intra
operatório
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Um ponto negativo é a diminuição da força
de abdução do dedo mínimo.
Para avaliação do resultado das oponentoplastias, Sundararaj e Mani criaram uma classificação baseada na função. Em um resultado
»»Transferência do flexor superficial de um dedo
tido como excelente, há a oponência do polegar com o quarto e quinto dedos, mantendo a
Essa técnica foi popularizada por Royle Thompson e por Bunnell e trata-se da transferência do flexor superficial de um dedo para
recuperação da oponência. Inicialmente utilizava-se o flexor do dedo anular, mas observou-se que a perda da força de preensão era muito
prejudicial. Para realização da mesma o tendão
articulação interfalangeana estendida. Para um
bom resultado, há oponência com o segundo
e terceiro dedos. Um desfecho é considerado
regular quando a oponência só ocorre com a
flexão da interfalangeana do polegar, enquanto
que o resultado é considerado pobre quando
não houve restauração da oponência.
doador é seccionado do dedo alguns centímetros proximal a sua inserção e transferido para
a inserção do abdutor curto do polegar pas-
Lesão alta do nervo mediano
sando-o por uma polia que pode ser formada
A lesão alta pura do nervo mediano é muito
pela borda ulnar da aponeurose palmar ou por
rara, porque geralmente dois ou mais nervos
uma alça criada na inserção do flexor ulnar do
são lesionados neste nível. As transferências
carpo. Em nossa opinião, essa técnica é a me-
nestes casos, portanto, são feitas com “o que
nos interessante porque além da perda de força
sobrou”. Se o nervo ulnar ainda está funcio-
causada ao dedo doador, frequentemente estão
nando, as anastomoses lado a lado dos flexores
associadas outras complicações como deformi-
dos dedos são muito uteis. Não havendo fun-
dade em hiperextensão ou déficit de extensão
ção do nervo ulnar, somente os músculos iner-
da articulação interfalangeana proximal.
vados pelo nervo radial estarão disponíveis. O
braquiorradial é um músculo usado nestas situações, apesar de suas limitações de músculo
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de posicionamento, em vez de ser um músculo de
dade da técnica e pelo fato de que a regeneração
função. O extensor radial longo do carpo é um ou-
do nervo radial quando lesado proximalmente
tro músculo que pode ser usado nestas situações.
é difícil - principalmente quando associada a
fraturas do úmero e calos ósseos exuberantes.
TRANSFERÊNCIAS TENDINOSAS
A vantagem da “órtese interna” é a de que o
NAS LESÕES DO NERVO RADIAL
paciente não precisa esperar pela reinervação
para começar a usar sua mão, deixando de utilizar órteses externas que ocupam lugar e não
Objetivos:
permitem os movimentos de tenodese para ex-
Extensão do punho e extensão dos dedos
tensão dos dedos.
Existem inúmeras possibilidades de transferências tendinosas para os casos de lesão do
nervo radial, utilizando músculos inervados
pelos nervos mediano e ulnar. Discutiremos
abaixo as possibilidades mais utilizadas pelo
autor sênior (RSC).
PRINCIPAIS TRANSFERÊNCIAS
TENDINOSAS
Extensão do punho
»»Pronador redondo para extensor radial curto do carpo
Como já foi dito anteriormente, é indispensável a presença de um bom arco de movimento passivo no pré-operatório.
Existem alguns pontos importantes de técnica que facilitam esta cirurgia:
a) Incisão em ziguezague no bordo dor-
»»Órtese interna - Burkhalter
so-radial do antebraço, começando 5 dedos
proximal ao estiloide radial. Assim, o campo
A transferência precoce do pronador redon-
cirúrgico pode ser aumentado para proximal
do para o extensor radial curto do carpo tor-
ou distal, dependendo das variações anatômi-
nou-se popular devido a facilidade e confiabili-
cas da inserção do pronador redondo.
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b) A inserção deste músculo é única porque
que a segunda serve para definir os extensores.
não há um tendão bem definido, mas uma ex-
Como o músculo do FUC tem inserção
tensão músculo-tendínea que se insere sutil-
distal, temos que prestar muita atenção ao tú-
mente no periósteo do rádio por uma extensão
nel subcutaneo: tem que ser mais largo que o
variável.
músculo para haver espaço suficiente para seu
c) A maneira mais fácil de dissecar esta in-
deslizamento. Uma vez transplantado o mús-
serção é uma incisão retangular no periósteo
culo, deve-se examinar a entrada do conjunto
3 cm distal à ultima fibra tendinosa da inser-
tendão-músculo no túnel subcutâneo ventral.
ção óssea e o levantamento inteiro do periós-
Atenção especial para os seguintes detalhes:
teo proximalmente junto com o tendão. Desta
além da abertura ser de tamanho suficiente
forma, aumenta-se o tamanho do tendão dis-
para dar uma folga para o músculo, não pode
ponível para a sutura.
haver uma curva tão fechada que o músculo
não possa exercer sua função – no máximo 30
Extensão dos dedos
a 45 graus de inclinação em relação à ulna.
Tudo isto tem que ser feito antes da anastomo-
»»Flexor ulnar do carpo para extensor comum dos dedos
O flexor ulnar do carpo (FUC) é o tendão de
preferencia para ganho de extensão dos dedos.
se tendinosa dorsal. Voltar para ventral e tentar
mudar o angulo do músculo ou o tamanho do
túnel seria impossível.
Outro detalhe de técnica é a tensão muscu-
Para realizar esta transferência, são feitas 2
lar da sutura. Deve ser tensa, como explicamos
incisões longitudinais – uma seguindo o FUC
anteriormente. Testar o efeito tenodese é uma
do Pisiforme até o fim do terço distal do ante-
obrigação do cirurgião, mas como vamos fazer
braço e a outra no dorso do antebraço, proxi-
uma anastomose sinuosa entre os 6 extensores
malmente ao retináculo extensor. A primeira
dos dedos, sempre será uma manobra compli-
completa toda a dissecção do FUC, enquanto
cada e temos que ter um auxiliar mantendo a
9
tensão que escolhemos e utilizar suturas preli-
músculo de função dispensável para obter uma
minares para não colocarmos tensões variáveis
função importante, portanto uma transposi-
em diferentes tendões.
ção natural. O que temos que decidir no pré-operatório é qual tipo de extensão queremos
dar para o paciente: extensão interfalangeana e
metacarpofalangeana pura ou misturada com
um desvio palmar.
A técnica para ganho de extensão interfalangeana e metacarpofalangeana pura deve ser
feita apenas nos casos em que há a certeza de
que o nervo não irá regenerar, como nos casos
antigos ou casos de nervo não reparado. Este
cuidado ocorre porque utilizamos o retináculo
do primeiro espaço dorsal como polia, e para
isso removemos os tendões do abdutor longo
e extensor curto de dentro do primeiro espaço
dorsal. A seguir, passamos o tendão do exten-
Fig.3 – Caso de paciente com lesão de nervo radial. A: Incisões volares para tenotomia e transferência dos tendões
utilizados; B: Tensionamento do extensor longo do polegar durante a transferência; C: Pós operatório tardio das
transferências. O prognóstico nestes casos é muito bom
sor longo do polegar por dentro da polia, para
depois sutura-lo no palmar longo proximalmente à polia.
A segunda opção de técnica confere exten-
Extensão do polegar
»»Palmar longo para extensor longo do polegar
são interfalangeana e metacarpofalangeana
misturada com um desvio palmar. É um procedimento mais simples, em que é criado uma
Esta transposição é ótima porque utiliza um
anastomose subcutânea, utilizando uma “liga10
ção direta” entre os 2 tendões na parte ventral
Clinicamente apresentam garra ulnar, que é
do antebraço, onde vai haver mais deslizamen-
a flexão do quarto e quinto dedos, atrofia da
to. O inconveniente é que o movimento de ex-
musculatura interóssea e hipotenar, além de
tensão perde sua “pureza”, introduzindo algum
perda da sensibilidade da face ulnar da mão.
desvio palmar. Funcionalmente esta técnica
Há basicamente 2 tipos de transferências e
não causa muitos problemas numa pessoa com
suas indicações dependem da demanda do pa-
atividades de preensão em lugares não muito
ciente:
apertados, mas pode trazer problemas para um
mecânico, por exemplo (figura 3).
Na ausência congênita do palmar longo, a
• Transferências para obtenção de força
(trabalhadores braçais, pessoas que necessitam
de força manual para seu lazer, por exemplo);
transposição é feita com um dos flexores su-
• Transferências para uma função mais de-
perficiais, sempre pela rota subcutânea. Como
licada da mão, que não demande tanta força
uma das principais funções dos flexores super-
(pessoas com trabalhos mais leves), e que soli-
ficiais é a estabilização da articulação interfa-
citem uma correção funcional e estética.
langeana proximal durante a extensão, geralmente o resultado desta transferência é pobre.
Por este motivo, só utilizamos os flexores superficiais em ultimo recurso.
Objetivos:
Correção da garra ulnar
»»Transferência para força: extensor radial longo
do carpo (ERLC) + enxerto de tendão (Brand)
TRANSFERÊNCIAS TENDINOSAS
NAS LESÕES DO NERVO ULNAR
Os pacientes com lesão do nervo ulnar apresentam considerável perda da função da mão.
O objetivo desta técnica é aumentar a força
de flexão do punho cerrado, melhorando a flexão metacarpofalangeana e extensão da interfalangeana proximal.
11
Utilizamos uma incisão cutânea dorsal na
nico muito importante, senão se criará mais
base do segundo metacarpo e realizamos uma
um extensor metacarpofalangeano). Passam
tenotomia da inserção do ERLC. Como este
então através do canal dos lumbricais para se-
tendão termina no dorso do punho, temos que
rem suturados na bandeleta lateral radial do
alongá-lo com o usos de enxertos tendinosos.
segundo, terceiro quarto e quinto dedos.
Se o objetivo é reconstruir somente o quarto e
Existem outras formas de inserir o enxerto
quinto dedos, o palmar longo dividido em dois
na falange proximal dos dedos. Podemos sutu-
fascículos poderá ser utilizado. Entretanto, se
rar o tendão na bandeleta lateral e no extensor
formos reconstruir os 4 dedos, temos que suple-
a nível da falange proximal, no próprio osso da
menta-lo com outro tendão: o plantar delgado
falange proximal (através de um túnel ósseo e
ou um tendão não funcionante do antebraço
pull out ou com âncoras) ou também em um
(em paralisias altas). Confecciona-se então um
túnel feito na polia A-2.
enxerto do palmar longo + o segundo tendão
com 4 fascículos que serão suturados ao ERLC.
»»Transferência cosmética: cirurgia de Zancolli: lasso, lazo ou laço (flexor superficial dos
dedos (FDS) para tenodese dinâmica)
Fig4 – Caso de paralisia baixa com atrofia de intrínsecos.
Neste caso foi utilizado o flexor ulnar do carpo + enxerto
para correção da garra com ganho de força. Normalmente utilizamos o ELRC. A: Enxerto direcionado para
os quatro dedos; B: Resultado no pós operatório tardio
Esta cirurgia é um triunfo da inventividade
do seu autor. O ganho de força é mais limitado
que na transferência anterior, mas a correção
da garra melhora muito a função e a cosmética
As porções separadas do enxerto deverão seguir no sentido de dorsal para volar, por baixo
do ligamento intermetacarpiano (detalhe téc-
da mão com incisões ocultas e sutis.
O principal objetivo desta técnica é corrigir a hiperextensão das metacarpofalangeanas
e, dessa forma, melhorar a função dos dedos.
12
Essa técnica deve ser indicada em pacientes
que apresentam deformidade flexível.
As incisões descritas por Zancolli são transversas na mão, seguindo a prega palmar. Quando
houver dificuldades para se expor a polia A2 através delas, pode-se utilizar uma incisão longitudinal complementar até a base de cada dedo, como
se fosse uma incisão de Skoog para ressecção de
Dupuytren, melhorando muito a visualização
das polias. Realiza-se a tenotomia do flexor su-
»»Tenodese intrínseca para lesões altas com
dedo em botoeira
Burkhalter e Carneiro publicaram em 1979
uma cirurgia para corrigir o que Burkhalter
chamava de boutonniere por atenuação do
tendão central. Esta atenuação ocorre em lesões crônicas quando há hiperextensão da articulação metacarpofalangeana, associada a uma
hiperflexão da interfalangeana proximal.
perficial na base da falage média do 4 e 5 dedos.
Em geral, pacientes que levam muito tempo
O tendão será suturado nele próprio, após fazer
para procurar ajuda são difíceis em termos de re-
uma volta sobre o intervalo entre as polias A1 e
cuperação e uma cirurgia mais simples pode que
A2. Isto vai exercer uma força de flexão na articu-
ser utilizada. Realizamos então a simples tenodese
lação metacarpofalangeana e a transmissão desta
entre os 2 tendões das bandeletas laterais por cima
força dorsalmente através das bandeletas laterais
do tendão central, provocando uma flexão da me-
irá facilitar a extensão interfalangeana proximal.
tacarpofalangeana com extensão da interfalangeana proximal. Como efeito, ocorre também uma
hiperextensão da interfalangeana distal, que deve
ser tratada através de tenotomia do tendão terminal, provocando um dedo em martelo e melhorando a flexão da parte distal do dedo. Fixamos a
interfalangiana proximal com um fio de Kirschner
por 3 semanas. É uma cirurgia de aplicação rara,
Fig.5 - Técnica do laço de Zancolli. Tendão flexor superficial sendo suturado nele mesmo após passagem entre as polias A1 e A2. O nervo foi explorado no punho
e enxertado no mesmo procedimento
mas efetiva e fácil de execução e também pouco
complicada em termos de reabilitação.
13
radial curto do carpo (ERCC). Realiza-se a tenotomia do tendão na sua inserção e mediante enxerto, alonga-se a transferência, que será
dirigida de dorsal para volar através do 3 e 4
metacarpiano para ser inserida na aponeurose
do primeiro adutor.
A preferência do autor sênior (RSC) é a
Fig.6 – Tenodese intrínseca para lesões altas com dedo
em botoeira. Ilustrações do artigo original
utilização do extensor próprio do indicador
ao invés do ERCC, através do intervalo entre
o segundo e terceiro metacarpos. O problema
desta transposição é a dificuldade técnica e a
possibilidade real de se provocar uma lesão no
ramo motor do nervo mediano. Sendo assim,
não recomendamos o seu uso indiscriminado.
Existem outras transferências descritas na lite-
Fig.7 – A: PO tardio da técnica de tenodese intrínseca
ratura, como a utilização do flexor superficial
dos dedos e do palmar longo.
Na atrofia do adutor, a falta de adução do
CORREÇÃO DA ADUÇÃO DO
POLEGAR
polegar está associada a diminuição de força
flexora interfalangeana por perda da estabilidade da extensão da articulação interfalangeana
Nas lesões com perda da adução e atrofia
do polegar. Isso corre pela falta de tensão na
importante do adutor do polegar, há vária ma-
aponeurose do adutor e torna o sinal de Fro-
neiras de se reforçar a adução. Uma das técni-
ment positivo.
cas mais utilizadas é usar o tendão do extensor
Devemos lembrar que o extensor longo do
14
polegar tem também uma função de adução e
o flexor longo do polegar é um tendão forte,
mas dissipa sua força fletindo a interfalangeana sem ajuda do adutor. Os autores preferem
então utilizar estas forças para corrigir a adução e acrescentar vigor à pinça. A melhor solução para alcançar este objetivo é realizando
uma artrodese da articulação interfalangeana
do polegar. É uma manobra fácil que aproveita as forças ocultas do extensor e do flexor do
polegar para corrigir o Froment e melhorar em
muito a função. Pode-se dizer que a artrodese
da IF do polegar, realiza indiretamente, uma
transposição dupla com uma técnica simples.
Preferimos a posição neutra do polegar de maneira a utilizar os tendões mais efetivamente.
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TRANSFERÊNCIAS MUSCULARES NAS PARALISIAS NERVOSAS