EDITORIAL
Com base nas suas análises económica e monetária regulares e em conformidade
com as suas indicações sobre a orientação futura da política monetária (forward
guidance), o Conselho do BCE decidiu, na reunião de 2 de outubro de 2014,
manter as taxas de juro diretoras do BCE inalteradas. Na sequência das decisões de
4 de setembro de 2014, decidiu também sobre os principais pormenores
operacionais do programa de aquisição de instrumentos de dívida titularizados
(asset-backed securities purchase programme – ABSPP) e do terceiro programa
de aquisição de covered bonds (covered bond purchase programme – CBPP3).
Tal permitirá ao Eurosistema iniciar a compra de covered bonds (obrigações
hipotecárias e obrigações sobre o setor público) e de instrumentos de dívida
titularizados no quarto trimestre de 2014, começando com a compra de covered
bonds na segunda quinzena de outubro. Os programas terão uma duração de, pelo
menos, dois anos. A par da série de operações de refinanciamento de prazo
alargado direcionadas a realizar até junho de 2016, estas aquisições terão um
impacto considerável no balanço do Eurosistema.
As novas medidas apoiarão segmentos de mercado específicos, que desempenham
um papel fundamental no financiamento da economia. Por conseguinte,
melhorarão ainda mais o funcionamento do mecanismo de transmissão da política
monetária, facilitarão a disponibilização de crédito à economia e terão
repercussões positivas em outros mercados. Atendendo às perspetivas globalmente
moderadas no que respeita à inflação, ao enfraquecimento do dinamismo de
crescimento da área do euro nos últimos meses e à continuação de uma dinâmica
monetária e do crédito comedida, as aquisições de ativos pelo Eurosistema
deverão, de um modo mais geral, tornar a orientação da política monetária menos
restritiva. Deverão também reforçar as indicações do Conselho do BCE sobre a
evolução futura das taxas de juro diretoras do BCE e o facto de, entre as principais
economias avançadas, existirem diferenças significativas e crescentes no ciclo de
política monetária.
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Em conjunto com a acomodação monetária já existente, a implementação
determinada das novas medidas assegurará um ancorar firme das expetativas de
inflação a médio e longo prazo, em consonância com o objetivo do Conselho do
BCE de manter as taxas de inflação abaixo, mas próximo, de 2%. À medida que se
forem repercutindo na economia, as medidas contribuirão para que as taxas de
inflação regressem a valores mais próximos do objetivo do Conselho do BCE.
Caso seja necessário dar nova resposta aos riscos de um período demasiado
prolongado de inflação baixa, o Conselho do BCE é unânime no compromisso de,
no âmbito do seu mandato, utilizar instrumentos não convencionais adicionais.
No que se refere à análise económica, após quatro trimestres de expansão
moderada, o PIB real da área do euro permaneceu inalterado no primeiro e
segundo trimestres do corrente ano. Os dados dos inquéritos disponíveis até
setembro confirmam o enfraquecimento do dinamismo de crescimento da área do
euro, continuando, porém, a ser compatíveis com uma expansão económica
modesta no segundo semestre do ano. Numa análise prospetiva, relativamente a
2015, mantêm-se as perspetivas de uma recuperação moderada na área do euro,
mas os principais fatores e pressupostos subjacentes a esta avaliação têm de ser
acompanhados de perto. A procura interna deverá ser apoiada pelas medidas de
política monetária, pela melhoria em curso das condições financeiras, pelos
progressos alcançados em termos de consolidação orçamental e de reformas
estruturais, assim como pelos preços mais baixos dos produtos energéticos, que
apoiam o rendimento disponível real. Acresce que a procura de exportações deverá
beneficiar da retoma mundial. Simultaneamente, é provável que a recuperação
continue a ser travada pelo desemprego elevado, pela considerável capacidade
produtiva não utilizada, pela continuação do crescimento negativo dos
empréstimos bancários ao setor privado e pelos ajustamentos do balanço
necessários nos setores público e privado.
Os riscos em torno das perspetivas económicas para a área do euro permanecem do
lado descendente. Mais especificamente, o enfraquecimento recente do dinamismo
de crescimento da área do euro, aliado a riscos geopolíticos acrescidos, poderá
reduzir a confiança e, em especial, o investimento privado. Além disso,
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os progressos insuficientes em termos de reformas estruturais nos países da área do
euro constituem um importante risco em sentido descendente para as perspetivas
económicas.
De acordo com a estimativa provisória do Eurostat, na área do euro, a inflação
homóloga medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC)
situou-se em 0.3% em setembro de 2014, face a 0.4% em agosto. Em comparação
com o mês anterior, tal reflete uma descida mais pronunciada dos preços dos
produtos energéticos e aumentos ligeiramente inferiores dos preços da maioria das
restantes componentes do IHPC. Com base na informação atual, a inflação
homóloga medida pelo IHPC deverá manter-se em níveis baixos nos próximos
meses, aumentando depois gradualmente no decurso de 2015 e 2016.
O Conselho do BCE continuará a acompanhar atentamente os riscos para as
perspetivas de evolução dos preços no médio prazo. Neste contexto, centrar-se-á,
em particular, nas possíveis repercussões da menor dinâmica de crescimento, dos
desenvolvimentos geopolíticos, da evolução da taxa de câmbio e da transmissão
das medidas de política monetária.
No que respeita à análise monetária, os dados referentes a agosto de 2014
continuam a apontar para um crescimento subjacente comedido do agregado
monetário largo (M3), cuja taxa de crescimento homóloga aumentou de forma
moderada, situando-se em 2.0% em agosto, face a 1.8% em julho. O crescimento
homólogo do M3 continua a ser apoiado pelas suas componentes mais líquidas,
tendo o agregado monetário estreito M1 registado uma taxa de crescimento
homóloga de 5.8% em agosto.
A taxa de variação homóloga dos empréstimos às sociedades não financeiras
(corrigida de vendas e titularização de empréstimos) permaneceu negativa,
situando-se em -2.0% em agosto, o que compara com -2.2% no mês anterior.
Em média, nos últimos meses, os reembolsos líquidos apresentaram uma
moderação face aos valores historicamente elevados registados há um ano.
Os empréstimos às sociedades não financeiras continuam a refletir a relação
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desfasada com o ciclo económico, o risco de crédito, fatores associados à oferta de
crédito e o ajustamento em curso dos balanços dos setores financeiro e não
financeiro. A taxa de crescimento homóloga dos empréstimos às famílias
(corrigida de vendas e titularização de empréstimos) situou-se em 0.5% em agosto,
permanecendo globalmente inalterada desde o início de 2013.
Num contexto de crescimento fraco do crédito, o BCE está prestes a finalizar a
avaliação completa dos balanços dos bancos, a qual é de uma importância decisiva
para superar as restrições na oferta de crédito.
O cruzamento dos resultados da análise económica com os sinais fornecidos pela
análise monetária corrobora as recentes decisões tomadas pelo Conselho do BCE
no sentido de reforçar a orientação acomodatícia da política monetária e apoiar a
disponibilização de crédito à economia real.
A política monetária visa a manutenção da estabilidade de preços a médio prazo e
a sua orientação acomodatícia contribui para apoiar a atividade económica.
Contudo, a fim de reforçar o investimento, a criação de emprego e o crescimento
potencial, é necessário o contributo decisivo de outras áreas de política.
Em particular, a legislação e a implementação de reformas estruturais precisam
claramente de ganhar dinamismo em vários países. Tal aplica-se aos mercados do
produto e de trabalho, bem como a iniciativas destinadas a melhorar o
enquadramento empresarial. Em termos de políticas orçamentais, os países da área
do euro não devem anular os progressos já realizados e devem continuar a atuar
em consonância com as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC).
Tal deve refletir-se nos projetos de planos orçamentais para 2015 que os governos
terão agora de apresentar, nos quais contemplarão as recomendações específicas
por país relevantes. O PEC deverá continuar a ser a âncora da confiança na
sustentabilidade das finanças públicas e a atual flexibilidade das suas regras deverá
permitir aos governos dar resposta aos custos orçamentais de reformas estruturais
importantes, apoiar a procura e definir políticas orçamentais com uma composição
mais favorável ao crescimento. Uma implementação plena e coerente do quadro de
supervisão macroeconómica e orçamental em vigor na área do euro é fundamental
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para reduzir os elevados rácios da dívida pública, assim como para aumentar o
crescimento potencial e a capacidade de resistência da área do euro a choques.
A edição de outubro de 2014 do Boletim Mensal inclui dois artigos. O primeiro
discute o impacto da crise económica nos mercados de trabalho da área do euro.
O segundo explica o conceito de esforço orçamental e promove a sensibilização
quanto às questões conceptuais e aos problemas de mensuração associados à
avaliação desse esforço.
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Boletim Mensal do BCE - Outubro 2014 - Editorial