A PSICOMOTRICIDADE COMO INSTRUMENTO PEDAGOGICO
PARA CRIANÇAS COM SINDROME DE DOWN
THE PSICOMOTRICITY AS AN EDUCATIONAL TOOL CHILDREN
WITH DOWN SYNDROME
DIANA BARBADO COTRIM¹
Orientadora: VÂNIA RAMOS²
Resumo: Este artigo tem como objetivo apresentar a importância da psicomotricidade
para o desenvolvimento sensório - motor e o processo de ensino - aprendizagem para
crianças com síndrome de down e para compreender as questões sociais que implicam
na inclusão destas crianças em um grupo social dito normal e fazer com que ela interaja
plenamente com todos e o meio em que está inserida e que de certa forma a interação
seja recíproca em ambos universos.
Portanto, apresentamos a importância da psicomotricidade para o desenvolvimento da
criança através de aplicações de atividades com uma criança diagnosticada com
Síndrome de Down em uma escola da zona sul de São Paulo.
Palavra Chave: Processo didático, Psicomotricidade, Síndrome Down
Abstract: This article aims to present the importance of psychomotor development sensory and motor learning process - learning for children with Down syndrome and to
understand the social issues that involve the inclusion of these children in a social group
called normal and have her to interact fully with all means and where it is inserted and
that somehow the interaction is reciprocal in both universes.
Therefore, we present the importance of psychomotor development of children through
the application of activities with a child diagnosed with Down Syndrome in a school in
the southern zone of São Paulo.
Key Words: teaching, Psychomotricity, Syndrome
______________________
¹Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Assunção (UNIFAI), aluna do curso de PósGraduação em Psicomotricidade.
²Doutora em Ciências Sociais e Mestre em Gerontologia pela PUC/SP. Psicopedagoga e Psicomotricista.
Presidente da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, Representação – São Paulo. Coordenadora do
curso de Pós – Graduação em Psicomotricidade do UNIFAI.
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Introdução
A profundidade e a intercomunicação por meio de movimentos, cores, sons são
formas que estão em relação estreita com suas emoções, essa que é matéria prima para
se construir uma ligação direta ao desenvolvimento e evolução de uma nova perspectiva
vivencial.
A Psicomotricidade definiu-se com o campo transdisciplinar que estuda e
investiga as relações e as influencias recíprocas e sistemáticas entre o psiquismo e a
motricidade, sendo aplicada em crianças em fase de desenvolvimento; bebês de alto
risco; crianças com dificuldades/atrasos no desenvolvimento global; pessoas portadoras
de deficiências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas; família e a 3ª idade.
O emprego de novas técnicas e modelos de abordagens é imprescindível para a
evolução obtendo o melhor resultado possível e delinear todos os pontos que
caracterizam a utilização da Psicomotricidade em um ambiente favorável a crianças
com síndrome de Down ou trissomia do cromossomo 21.
Para se solidificar a implantação de um trabalho diferenciado, voltado à
intervenção e estimulação precoce em todas as crianças com deficiência, e em especial
as que possuem síndrome de Down a necessidade de uma estratégia consolidada e
comprometida com a difusão da questão Psicomotricidade em todos os âmbitos
educacionais, governamentais e com participação ampla da opinião publica,
questionado a sua real importância e a consciência da necessidade de uma política
integrada que certifique a sua aplicação em todas as instituições ligadas a educação.
Nessa perspectiva, apresenta-se neste artigo a possibilidade para que a criança
com síndrome de Down, num ambiente escolar possa ser estimulada durante todo o seu
processo evolutivo, oferecendo apoios especiais para o desenvolvimento intelectual,
com atuação específica na parte motora e cognitiva.
O atendimento pedagógico deve ser exercido com base nos fundamentos da
Psicomotricidade, que atua nas condições de desenvolver o potencial motor, utilizando
o movimento para atingir aquisições mais elaboradas de aprendizagem, desta forma as
técnicas aplicadas serviram para amenizar as dificuldades psicomotoras que as crianças
com síndrome de Down apresentam.
2
A aplicação da educação psicomotora proporciona um alicerce solido por meio
de atividades recreativa, formando uma base de desenvolvimento indispensável à
criança com síndrome de Down estimulando a parte motora, psicológica e afetiva sendo
de suma importância na prevenção de problemas da aprendizagem e na reeducação do
tônus, da postura, da direcionalidade, da lateralidade e do ritmo, levando em
consideração a sua idade e seus interesses. Dessa forma, entende-se o quanto são
essenciais às atividades psicomotoras para colaborar na evolução do processo de
aprendizagem
Através da psicomotricidade (não necessariamente encontrar a solução definitiva
para crianças portadoras da síndrome de Down), mas oferecer meios para que elas
obtenham uma melhor qualidade de vida, ampliando a sua percepção sensorial e motora,
dando uma nova perspectiva a seu desenvolvimento.
1 Breve histórico sobre a Psicomotricidade
O termo Psicomotricidade emergiu com os trabalhos de Dupré por volta de
1905, teve como ponto de partida uma elaborada reflexão sobre o movimento corporal,
no qual definiu de forma rigorosa a debilidade motora, a instabilidade, e perturbações
emocionais. Sendo um eixo essencialmente neurológico, o propósito é definir a
realidade do fenômeno da consciência de si, que se manifesta, sobretudo, como
consciência da imagem do seu corpo, isto é, esquema corporal na abordagem fisiológica
e psicanalítica.
A Psicomotricidade se preocupa com o homem na relação do corpo com a
mente, através da ação psicomotora como meio de tomada de consciência das
possibilidades motoras de agir e de expressar-se em relação ao seu mundo interno e
externo, como assim, se baseia Almeida (2007, p.17) na definição da Sociedade
Brasileira de Psicomotricidade:
“È a ciência que tem como objeto de estudo o homem por meio do seu corpo em
movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades
de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está
relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições
cognitivas, afetivas e orgânicas”.
3
Portanto, essa definição determina a função da Psicomotricidade de atuação
clínica e institucional que compreende três campos de atuação psicomotora: reeducação,
terapia e educação.
A reeducação visa um atendimento individual de crianças, adolescentes ou
adultos que apresentam sintomas psicomotores, proveniente das conseqüências de
distúrbios mentais, orgânicos, psiquiátricos, neurológicos, relacionais e afetivos.
A terapia psicomotora também está direcionada ao atendimento individual de
crianças, adolescentes ou adultos que apresentam diferentes patologias.
A educação psicomotora está direcionada em atuar no âmbito escolar, visando o
desenvolvimento global do indivíduo por meio dos movimentos, auxiliando na
prevenção de distúrbios de aprendizagem, exercitando a estimulação precoce e
proporcionando as vivências corporais, desafiando zonas de desenvolvimento do
esquema corporal.
Nessa dimensão, a Psicomotricidade atua constituindo a base de sustentação do
corpo como origem da aquisição cognitiva, afetiva, orgânica ou movimento, intelecto e
afeto.
2 Antecedentes históricos sobre a Síndrome de Down e seus aspectos genéticos
Em 1866, o médico britânico Dr. John Langdon Down descreveu o diagnóstico
da condição genética dessa mutação, e, portanto, foi homenageado recebendo o nome de
síndrome de Down. Assim, após o reconhecimento desse diagnóstico do Dr. Down,
surgiram várias contribuições para desmistificar o preconceito e exclusão que tinham a
respeito das pessoas que nasciam com essa síndrome, nas quais distinguiram a idiotia
mongolóide (semelhança do fenótipo aos povos da Mongólia) da idiotia cretinóide, que
segundo Saad (2003, p. 39), "Essa práticas eram condizentes com os ideais clássicos de
cultivo e perfeição corporais como base política da cultura e da sociedade grega
clássica". Portanto, eram pessoas diferentes dos padrões postulados pela sociedade
clássica.
A síndrome de Down é também chamada de Trissomia 21, uma ocorrência
genética no cromossomo extra no par 21, seja inteiro ou parcial, somando 47
4
cromossomos, ao contrário do número usual de 46, e, ocorre em torno de um em cada
mil nascimentos, tanto em meninos quanto em meninas, independente de etnia ou
origem, e classes sociais.
A maioria das alterações orgânicas acontece durante o desenvolvimento do feto,
sendo seu diagnóstico feito durante a gravidez possibilitando uma intervenção precoce e
um melhor ajustamento familiar.
Entretanto, esse fato surge carregado de problemas próprio da síndrome de
Down, que são problemas cerebrais, de desenvolvimento físico, fisiológico e saúde,
como também, apresentam muitas características comuns nas crianças às quais, fazem
com que elas se pareçam. Estas características são fortemente aparentes na identificação
da síndrome na parte física: cabeça, nariz, olhos, orelhas, boca, língua, dentes, pescoço,
mãos, dedos, pés, cabelo e pele.
Diante dessas características físicas, ainda a síndrome de Down apresenta
problemas de saúde como, por exemplo: problemas cardiológicos congênitos;
problemas auditivos; anormalidade do aparelho digestivo; problemas oculares; pele
seca; obesidade; hipotiroidismo; ligamento frouxo, principalmente, no joelho e no
pescoço; memória de curto e longo prazo e problemas imunológicos.
Contudo, a síndrome causa na criança limitações do ponto de vista social e
educacional, mas dependendo do potencial genético e da estimulação recebida do meio,
a criança pode desenvolver suas potencialidades e habilidades, sem serem
estereotipadas, como crianças incapazes ou mesmo inferiores.
Sendo assim, a condição de inferioridade atribuída a essas crianças, foi
substituída por a uma nova concepção de valorização de vida com qualidade, dignidade
e respeito, sendo incluídas na escola, em todos os segmentos de trabalho e convivência
na sociedade, onde a segregação e a discriminação são preconceitos ultrapassados no
processo de desenvolvimento dessas crianças
5
3 Psicomotricidade como suporte da aprendizagem escolar
O processo de desenvolvimento humano está ligado ao corpo em movimento e a
mente. O movimento é a parte mais ampla e significativa do comportamento humano, é
comandado através de três fatores básicos: os músculos, a emoção e os nervos, que
formam um sistema de sinalizações que permite atuar de forma coordenada e
sincronizada. A mente transmite sinais aos músculos através de mecanismos cerebrais,
que ordenam para o controle da contínua atividade de movimento e específica finalidade
da capacidade de equilíbrio e segurança as posições estáticas, que constituem as
estruturas psicomotoras da unidade básica do movimento.
Aos poucos, esse corpo em movimento forma um organismo bem estruturado,
expressando desejo, prazer, emoções e, posteriormente, a linguagem. Esse processo
reproduz situações reais de vivência dos elementos psicomotores que se transformam
em significado da representação corporal, isto é, quando inexiste deficiências orgânicas
que podem condicionar ou dificultar esse processo. Dessa forma, o organismo constitui
a infra-estruturar neurofisiológica de todas as coordenações do desenvolvimento
psicomotor e cognitivo do indivíduo.
Nesse sentido, a linguagem humana é também manifestada pelas expressões
corporais, onde a participação do corpo no processo de aprendizagem se dá pela função
das relações e correlações entre a ação e a sua representação como destaca Alves (2007,
p. 127):
"A Estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo
intelectivo e de aprendizagem da criança".
Assim, quando uma criança apresenta dificuldade de aprendizagem, o problema
pode está no nível das bases de desenvolvimento psicomotor.
Nesse contexto, a criança com síndrome de Down possui dificuldade de
aprendizagem, que na grande maioria dos casos são generalizadas e afetam as
capacidades da área de linguagem, autonomia, motricidade e integração social, as quais
podem manifestar-se em grau leve, moderado ou grave. Diante dessa dificuldade de
aprendizagem, verifica-se a importância da necessidade de potencializar de fato seu
6
desenvolvimento cognitivo e motor, respeitando suas limitações e explorando suas
habilidades no âmbito escolar.
Sendo assim, o atendimento precoce de estimulação é essencial para ser
utilizado com todas as crianças, e, principalmente, com maior intensidade nos casos de
síndrome de Down, por apresentarem déficit na aprendizagem em função da conduta
cognitiva que se processa de forma mais lenta, em relação à memória de curto e longo
prazo, falta de atenção e iniciativa, processamento da informação, correlação e análise,
dificuldade de memorização e outros aspectos inerentes à síndrome que conspiram
contra o favorável desenvolvimento cognitivo da criança Down, conforme Horstmeier
(apud PUESCHEL, 2005, p. 240) explica:
“Maior freqüência de perda auditiva; problemas com os movimentos motores de língua
e boca, com o controle do uso da cavidade nasal e com o controle da respiração;
problemas com o encadeamento de sons e palavras; menores expectativas de
comunicação, devido ao fato de que sua aparência física é muitas vezes associada à
deficiência mental”.
Entretanto, não se pode desanimar diante desse quadro, é necessária à
intervenção precoce tanto dos pais, quanto dos professores e psicomotricista dando
enfoque abrangente nas relações de afinidade compartilhada de afeto, alegria e
divertimento, criando condições para a criança desenvolver capacidades básicas de
potencial motor e cognitivo sobre uma base de experiências, atividades e conceitos do
seu mundo ao redor.
A educação psicomotora nas escolas visa desenvolver frente à aprendizagem,
práticas de caráter preventivo e educativo que garante o desenvolvimento integral da
criança nas várias etapas de crescimento, e assim, segundo Alves (2007, p. 133), "Ajuda
a criança a adquirir o estágio de perfeição motora até o final da infância (07 a 11anos),
nos seus aspectos neurológicos de maturação, nos plano rítmico e espacial, no plano da
palavra e no plano corporal" e com isso, a criança descobre o mundo e se auto-descobre.
Esse processo da aquisição de aprendizagem na criança com síndrome de Down
depende muito da escola e dos profissionais que se propõem a motivar a criança com
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atos de ensino diferenciado, buscando utilizar desafios com estratégias e treinamentos
adequados às condições de cada criança Down.
Assim, é conveniente que a escola realize adaptações curriculares, estruturação
do ambiente físico e professores especializados, que possam favorecer uma
aprendizagem significativa de integração com a Psicomotricidade.
Desse modo, descortinar a motricidade no processo de aprendizagem possibilita
evidenciar as mudanças qualitativas do desenvolvimento global da criança Down, o que
em termos gerais percebe-se um alto rendimento quanto à questão de formação de base
da estrutura do esquema corporal no campo psíquico e do domínio, da instabilidade e do
equilíbrio motor, sob a intervenção educacional em todos os parâmetros do
desenvolvimento: inteligência, comunicação, afetividade e sociabilidade, o que constitui
a evolução das capacidades psico-educacionais.
4 A aplicação da Psicomotricidade no desenvolvimento das potencialidades de
crianças com Síndrome de Down
A criança com síndrome de Down deve ser estimulada desde o nascimento,
como todas as outras crianças, para desenvolver o interesse e habilidades necessárias de
aquisição e evolução das funções cognitivas e motoras. O desenvolvimento psicomotor
está relacionado à motricidade que se realiza através da evolução de influências
ambientais e, especialmente relacionais.
Essas funções são responsáveis pela ação corporal que se manifesta pelo ato de
impulsionar, mover e por em movimento o corpo nas diversas atividades de estimulação
de acordo com os estágios de desenvolvimento ou dificuldade motora da criança, bem
como, o conhecimento da essência etimológica da palavra motricidade e psicomotor, e
os seus conceitos que encontra-se implícito na visão de Gomes (apud OLIVEIRA, 2005,
p.131).
Sendo assim, o desenvolvimento psicomotor ocorre na criança a partir das
manifestações do meio que o cerca, sob forma de estímulos, quebrando o equilíbrio da
organização das condições anátomo - fisiológica e provocando a reação reflexa. O
reflexo constitui-se em uma modalidade assimiladora quando se põe em funcionamento
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e se caracteriza pelas conquistas da organização da estrutura motora, tônus de fundo,
propriocepção e desaparecimento das reações primárias.
Dessa forma, o desenvolvimento motor está ligado aos aspectos funcionais e
relacionais dentro de um potencial ativo existente em cada ser humano. Esse potencial
se manifesta à medida que vai ampliando suas percepções e controle de seu corpo,
através das interiorizações de sensações e possibilidades da ação.
Nesse sentido, a Psicomotricidade atua no desenvolvimento motor humano sobre
o esquema corporal, possibilitando a formação e estruturação da representação global,
científica e diferenciada de cada pessoa em ralação ao seu corpo, dividindo-se em três
etapas: corpo vivido; corpo percebido ou descoberto; corpo representado. Nessas etapas,
aparece a noção da imagem corporal, que se refere aos sentimentos do indivíduo em
relação à estrutura de seu corpo, como a bilateralidade, lateralidade, dinâmica e
equilíbrio corporal. A coordenação geral e facial constitui o desenvolvimento de todas
as capacidades perceptivas, sendo essencial para a evolução das potencialidades da
criança na aprendizagem cognitiva, psicomotora e afetiva.
Assim, a coordenação geral é a tomada de consciência do corpo para a execução
e o controle de movimentos a serem corretamente coordenado e estruturado com plena
dissociação de movimentos, quer seja simultâneo, simétrico ou de coordenação
assimétrica, o que implica certo grau de maturação neuromotora, considerando a
evolução fisiológica de cada indivíduo, que segundo Alves (2007, p. 57),
"A coordenação geral necessita de uma perfeita harmonia de jogos musculares em
repouso e em movimento".
Essa harmonia de jogos musculares refere-se à coordenação estática e
coordenação dinâmica do controle e domínio de seu próprio corpo, como assim explica
Alves (2007, p.57):
“Coordenação estática, quando se realiza em repouso. É dada pelo equilíbrio entre a
ação dos grupos musculares antagonistas, estabelece-se em função do tônus e permite a
conservação voluntária das atitudes. Coordenação dinâmica, quando a coordenação se
realiza em movimento, põe em ação simultâneos grupos musculares diferentes, tendo
em vista a execução de movimentos voluntários mais ou menos complexos.”
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Para tanto, essa realização se estabelece numa relação entre uma imagem
(Gnosia) e um conjunto de deslocamentos segmentares que se juntam para um
determinado fim, ou seja, uma relação entre um plano de ação e a respectiva
concretização (praxia).
Portanto, é necessário oferecer o máximo de experiência de movimentos
coordenados à criança, considerando os tipos de coordenação motora: coordenação
motora-fina diz respeito à habilidade e destreza manual da capacidade de controlar os
pequenos músculos para exercícios refinados e constitui um aspecto particular da
coordenação global; coordenação motora-ampla é existente entre os grandes
grupamentos musculares; coordenação visomotora é a habilidade de coordenar a visão
com movimentos do corpo; coordenação audiomotora é a capacidade de transformar em
movimentos um comando sensibilizado pelo aparelho auditivo; coordenação facial é o
modo de comunicação interpessoal mais importante, pois é o começo da expressão de
estados abstratos e aparece nos primeiros momentos de vida humana, sendo considerada
uma comunicação de movimentos primários pré-lingüística.
Ainda, no aspecto do desenvolvimento motor ligado ao esquema corporal, o
equilíbrio é indispensável para que possa acontecer a coordenação entre os movimentos
dos vários segmentos corporais, entre si e no todo, constitui a base de sustentação
imprescindível para sua manutenção, conforme Alves (2007, p. 60) afirma:
"Assim, não pode haver movimento sem atitude, também não pode haver coordenação
de movimento sem um bom equilíbrio, permitindo o ajustamento do homem ao meio. É
um dos sentidos mais nobres do corpo humano".
Outro aspecto essencial ao esquema corporal é a lateralidade, que na visão de
Fonseca (2004, p. 172) define:
"A lateralização como a capacidade de integração sensório-motora dos dois lados do
corpo, transformando-se numa espécie de radar endopsíquico de relação e de
orientação com e no mundo exterior".
Em termos de motricidade, retrata uma competência operacional, que preside a
todas as formas de orientação do indivíduo, compreendendo uma conscientização
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integrada da experiência sensorial e motora, bem como, um mecanismo de orientação
intracorporal (proprioceptiva) e extra corporal (exteroceptiva).
Assim, a lateralidade constitui a base da estrutura espacial da relação com os
objetos localizados no espaço, da posição relativa que ocupa o corpo, enfim, das
múltiplas relações integradas da tonicidade, da equilibração, da lateralização, e da noção
do corpo, o que confirma o princípio da hierarquização dos sistemas funcionais e da sua
organização vertical que resume na concepção de Kephart (apud FONSECA, 1995, p.
204):
“A criança localiza-se a si própria antes de se localizar no espaço ou de localizar
objetos no espaço. Localiza os objetos em relação a si própria e, posteriormente,
localiza cada objeto sem precisar referi-los corporalmente. Dá-se, conseqüentemente,
uma projeção da lateralização e da noção de corpo no espaço, isto é, a lateralidade
desenvolvida no interior do organismo projeta-se no exterior e transforma-se em
direcionamento”.
Também o desenvolvimento da estrutura temporal é importante, porque não se
pode separar o tempo do espaço, no qual garante as experiências de localização dos
acontecimentos passados e uma capacidade de projetar-se para o futuro, fazendo planos
e decidindo sobre sua vida, obedecendo a certo ritmo e dentro de um determinado
tempo, conforme Alves (2007, p. 74) explica: "A estruturação temporal insere o homem
no tempo, onde ele nasce, cresce e morre, e sua atividade é uma seqüência de mudanças
condicionadas pelas atividades diárias". Essas atividades são experiências vivenciadas
ritmicamente, que envolve a conscientização da igualdade dos intervalos de tempo. Um
ritmo constante –cadência – é uma série de intervalos de tempos iguais, fenômeno que
traduz muitos ritmos biológicos no indivíduo do tipo: circulação, respiração,
flexibilidade de movimentos, relaxamento e outros ritmos físicos.
Assim, considera-se a unidade de extensão da dimensão temporal o ritmo, que
na visão de Alves (2007, p.76):
O ritmo é considerado um dos conceitos mais importantes da orientação temporal. Ele
não envolve apenas noções de tempo, mas está ligado ao espaço também. Toda criança
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tem um ritmo natural, espontâneo. As manifestações do bebê são ritmadas. Tem hora de
repouso e horas de impulsos e se manifesta através delas.
Nessa perspectiva, a Psicomotricidade como terapia de reeducação irá contribuir
de maneira significativa para o desenvolvimento do potencial da criança com síndrome
de Down, porque proporcionará experiências de movimentos que requer uma
estimulação mais intensa e ampla, devido os mesmos apresentarem um atraso no
desenvolvimento da maturação e habilidades de motricidade fina e grossa por causa das
conseqüências da própria síndrome.
Diante dessas conseqüências, a Psicomotricidade tem função de estimular
precocemente o desenvolvimento da motricidade fina e grossa, de modo expressivo para
a formação e estruturação do esquema corporal de acordo com a faixa etária de
desenvolvimento da criança com síndrome de Down. Essa estimulação deve acontecer
com favorecimento de várias atividades de relaxamento e condicionamentos físicos
necessários, para uma melhor aquisição e evolução das funções cognitivas e motoras.
Assim, as crianças com síndrome de Down na fase infantil, têm dificuldades no
controle da cabeça, erguer o corpo, virar de barriga para baixo, levantar da posição
deitada para a posição sentada, arrastar e engatinhar, ajoelhar e ficar ajoelhado, ficar de
pé sozinho, a marcha, correr, subir, pular e saltar etc. Com isso, torna-se necessário um
atendimento com base na Psicomotricidade para que essas crianças possam atingir todo
seu potencial de autonomia, integração social, linguagem, capacidade motora e
intelectual
5 Um referencial para a escola que se propõe a desenvolver aprendizagem de
crianças com Síndrome de Down
O processo de articulação entre Psicomotricidade e aprendizagem está relacionado à
estimulação dos movimentos e a exploração do corpo que ampliam as condições da
organização estrutural dos elementos psicomotores essenciais ao desenvolvimento
corporal e cognitivo da criança.
Assim, as atividades que estão envolvidas nessas práticas dizem respeito à
coordenação motora global, incluindo todas as funções psicomotoras, que devem ser
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desenvolvida na fase sensorial (zero a 02 anos) e pré-operatório (02 a 07 anos),
portanto, na educação infantil.
Como a criança com síndrome de Down apresenta uma hipotonia generalizada e os
reflexos fracos, ou seja, uma tonicidade ou tensão menor do que o normal, o que causa
uma diminuição do equilíbrio, postura e coordenação, é necessário trabalhar as funções
psicomotoras com atendimento que requer manejos diferenciados em relação ao
controle da cabeça; erguer o corpo; virar de barriga para baixo; sentar; trocar a posição
deitada para a posição sentada; arrastar e engatinhar; ajoelhar e ficar ajoelhado; ficar de
pé; aprender a marcha; correr; subir; pular e saltar.
A partir dessas situações de dificuldades no desenvolvimento psicomotor, enquanto
diagnóstico identificado pelos profissionais busca-se na Psicomotricidade a visão de
Almeida (2007), que destaca atividades tanto para a fase sensorial, quanto para préoperatório que auxiliam no desenvolvimento da coordenação motora global, que devem
ser trabalhadas como apoios especiais de forma parceira com profissionais,
principalmente na direção dos docentes.
•
A psicomotricidade relacional e a ludicidade
A finalidade da psicomotricidade relacional é de ser um meio lúdico-educativo
para a criança expressar-se por intermédio do jogo e do exercício. Deve permitir às
crianças a exploração corporal diversa do espaço, dos objetos e materiais, facilitar a
comunicação das crianças por intermédio da expressividade motriz, potenciar as
atividades grupais, também favorecer a liberação das emoções e conflitos por
intermédio do vivenciamento simbólico.
Ressaltando que a psicomotricidade, relacionada com o lúdico é um fator muito
importante no desenvolvimento da criança portadora de síndrome de down, trazendo de
volta o sentido pedagógico das sessões de psicomotricidade, ou seja, do ato pedagógico
que está inserido na prática com as crianças.
Nesse sentido a prática não se dá apenas por observação e análises de
comportamentos, mas fundamentalmente por intermédio das intervenções e interações
dos professores com as crianças.
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O comportamento lúdico das crianças portadoras de síndrome de Down
Com a finalidade de refletir o comportamento lúdico das crianças portadoras da
síndrome de Down passamos a classificá-lo em três categorias que são:
a) na relação com os objetos;
b) em participações na companhia dos colegas e/ou professores;
c) as experiências criadoras (momentos em que a criança é iniciada ou toma iniciativa);
Exercitar a curiosidade é provocar a iniciativa e a vontade de aprender, é despertar para
novas experiências.
Apresentamos algumas atividades psicomotoras desenvolvidas com uma criança
portadora de síndrome de down inserida com as demais crianças:
JOGO DE CIRCUITO
figura 1
figura 2
figura 3
As imagens á cima, apresentam o jogo de circuito, o qual é iniciado no colchão
onde as crianças tiveram que dar uma cambalhota, em seguida, passar pelos pinos
contornando-os em “S” e finalizando jogando a bola no cesto.
Este jogo estimula e desenvolve a praxia, a lateralidade, a noção espacial, a
percepção visual, o equilibrio e a coordenação motora global.
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CIRCUITO 2
figura 4
figura 5
figura 7
figura 6
figura 8
Ás imagens 4, 5, 6, 7 e 8 são continuidade do jogo anterior, porém com o
percurso modificado, entre o colchão, e os pinos foi colocada uma caixa, a qual, a
criança teve que pular sobre ela, ao pular a criança estimula a sua tonicidade.
JOGO DAS CORES
figura 1
figura 2
figura 3
15
figura 4
figura 5
figura 6
Ás imagens á cima apresentam o jogo das cores, onde a criança teve que separar
individualmente o monta-monta por cores, em cada canto da quadra estava posicionado
pinos de boliche de cores diferentes e no centro da quadra o monte de monta monta, ao
som do apito a criança correu ao centro pegou um monta monta de determinada cor,
levou no seu respectivo lugar voltou ao centro pegou outro de uma cor diferente do
primeiro levou a seu lugar e assim sucessivamente até completar as quatro cores.
Este jogo estimula e desenvolve a praxia global, coordenação motora global, a
noção espacial e temporal, a lateralidade, a percepção visual e o raciocínio lógico.
JOGO DAS CORES 2
figura 7
figura 8
figura 9
16
figura 10
figura 11
figura 12
As imagens á cima apresentam também o jogo das cores, porém com o
diferencial que ao invés de ser individual, neste, o jogo é em equipe, cada equipe
representa uma cor e elas tiveram que recolher apenas a sua cor e levar ao seu
respectivo lugar.
Neste segundo método o objetivo é voltado ao relacionamento interpessoal, onde
as crianças se relacionaram entre elas e juntas tiveram que respeitar o espaço umas das
outras.
RELAXAMENTO
figura 1
figura 4
figura 2
figura 5
figura 3
figura 6
17
figura 7
figura 8
figura 9
Às imagens á cima apresentam uma atividade de relaxamento, onde ao som de
um fundo musical a criança fez uma pintura livre com tinta guache utilizando o pincel, a
professora propôs que cada criança desenhasse o que estavam sentindo ou pensando
naquele momento.
Esta atividade estimula e desenvolve a praxia fina, a coordenação motora fina, a
concentração, a percepção visual e auditiva e o raciocínio lógico.
SIGA O MESTRE
figura 1
figura 2
figura 3
As imagens á cima apresentam a brincadeira siga o mestre onde a criança teve
que seguir as ordens do mestre, neste momento da brincadeira o mestre ordenou que
todos os seguissem sobre a linha amarela.
Esta atividade estimula e desenvolve a coordenação motora a noção espacial e o
equilíbrio.
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MASSINHA
figura 1
figura 2
figura 3
As imagens á cima, apresentam a criança brincando de massinha a professora
propôs que as crianças fizessem de massinha uma letra do alfabeto.
O manuseio da massinha estimula e desenvolve a coordenação motora fina, o
raciocínio lógico, a percepção visual e desperta a criatividade.
Considerações Finais
A educação inclusiva tem sido alvo de importante valor no âmbito educacional,
devido aos diversos embates existentes nas escolas, bem como, aos envolvidos no
processo de ensino-aprendizagem, os quais consideram-se um desafio que apresenta-se
na abordagem deste artigo, pela problemática das questões de atendimentos educativos
inclusivos para crianças com síndrome Down.
Sendo assim, essa problemática recai na complexa discussão da prática
pedagógica do professor em sala de aula em relação ao ensino diferenciado frente à
criança com síndrome de Down, o que causa certo transtorno tanto para a criança,
quanto para o professor.
Dessa forma, emergiu-se a vontade de abordar uma proposta de contribuição
ligada à educação psicomotora que favoreça um desenvolvimento afetivo entre as
pessoas, o contato físico, as emoções e ações, podendo servir como um suporte para o
processo construtivo de aprendizagem na criança com síndrome de Down.
Para tanto, buscamos a aplicação da Psicomotricidade que contribui de maneira
expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal, o que facilitará a sua
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aprendizagem, como também, desenvolver na criança uma maturidade neurológica,
sendo necessária para o desenvolvimento motor e cognitivo.
A compreensão havida de conceitos didáticos e psicológicos e pediátricos na
elaboração de um trabalho que aplicado de forma concisa denota em resultados que
aliado a uma linguagem corporal através de gestos, olhares, movimentos, emoções e
forma de andar e se comportar no meio espacial de uma criança com Síndrome de
Down, para compreender as questões sociais que implica na introdução desta criança
em um grupo social dito normal e fazer com que interaja plenamente com todos os
objetos existentes de certa forma a interação seja recíproco em ambos universos.
Por fim, reafirmamos a necessidade do trabalho psicomotor nas crianças com
Síndrome de Down, para o desenvolvimento do potencial orgânico e mental, como
também, para a qualidade do desempenho escolar e o convívio social, atribuindo um
referencial para a escola que se propõe a desenvolver aprendizagem á essas crianças,
com atividades que auxiliam o desenvolvimento da coordenação motora global.
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a psicomotricidade como instrumento pedagogico para crianças