UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE FACULDADE DE CIÊNCIAS E SAÚDE - FACS Fernando Eduarte Bessa Kênia Gomes de Souza Luciana Ayres da Silva Neylor Santos Damacena Rafaella Soares Borges Salomão LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO REFERENTE À DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE). Governador Valadares 2008 FERNANDO EDUARTE BESSA KÊNIA GOMES DE SOUZA LUCIANA AYRES DA SILVA NEYLOR SANTOS DAMACENA RAFAELLA SOARES BORGES SALOMÃO LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO REFERENTE À DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE). Monografia para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentada à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientador: Prof.ª Patrícia Carvalho do Canto Governador Valadares 2008 FERNANDO EDUARTE BESSA KÊNIA GOMES DE SOUZA LUCIANA AYRES DA SILVA NEYLOR SANTOS DAMACENA RAFAELLA SOARES BORGES SALOMÃO LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO REFERENTE À DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE). Monografia para obtenção do grau de bacharel em Enfermagem, apresentada à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Governador Valadares, ___________ de ____________________________ de ___________. Banca examinadora: _________________________________________________________________ (Prof.ª Patrícia Carvalho do Canto) Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE _________________________________________________________________ (Prof.ª Patrícia Malta Pinto) Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE _________________________________________________________________ (Profª. Ana Maria Germano) Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus, que nos deu sabedoria e força para seguirmos em frente, pois sem Ele nada seria possível; aos nossos pais que sempre nos apoiaram nessa longa caminhada e pelo amor incondicional; aos amigos e professores pelo incentivo e por acreditarem na nossa capacidade. AGRADECIMENTOS A Deus, que incomparável e inconfundivelmente em sua infinita bondade, compreendeu os nossos anseios e nos deu a necessária coragem para atingirmos os nossos objetivos; Aos pais, que um dia sonharam conosco, e nos amaram antes que existíssemos. Vocês são exemplos de fé e esperança que nos dão forças para vencer na vida. A vocês que nos deram a vida e nos ensinaram a vivê-la com dignidade, não bastaria um simples agradecimento. A conquista é tanto de vocês quanto nossa; Aos que amamos que compartilharam os nossos ideais e os alimentaram incentivando-nos a prosseguir nesta jornada, fossem quais fossem os obstáculos. Ninguém, e nada, crescem sozinho. Sempre é preciso um olhar de apoio, uma palavra de incentivo, um gesto de compreensão, uma atitude de amor; Aos colegas, que a cada dia compartilhado marcaram nossos caminhos e criaram laços de amizade eterna; A nossa orientadora professora Patrícia Carvalho do Canto por nos proporcionar subsídios para a realização deste trabalho, por sua paciência e dedicação; Aos nossos mestres, que nos incentivaram a correr atrás de nossos objetivos, mesmo quando estes pareciam impossíveis; Á Dra. Marilene Silveira Duarte e ao Dr. Marcelo Arimatéia E. Guedes pelos conhecimentos os quais foram muito importantes para a realização desse trabalho; A Rosangela Batista Borges e a Mariana Lacerda, pela amizade e a mão estendida nos momentos angustiantes; A TODOS VOCÊS O NOSSO MUITO OBRIGADO!!! “O medo não é o sinal de covardia. Mas pelo contrario, é ele que nos dá possibilidade de agir com bravura e dignidade diante das situações da vida.” (Paulo Coelho) RESUMO O sistema gastrointestinal é responsável pela ingestão, digestão e absorção dos nutrientes e eliminação dos produtos residuais da digestão. A prevalência dos sintomas relacionados com a desorganização do sistema digestório vem tomando boa parte da atenção dos serviços de saúde pública através do mundo. Há fortes evidências de que pelo menos um terço da população sadia do planeta vivencie sintomas como epigastralgia e empachamento eventual mensal. Nem sempre indivíduos com esse tipo de queixa se apresentam em consultas médicas, mas 2% destes que o fazem tiveram diagnóstico de Refluxo Gastroesofágico. O refluxo de conteúdo gástrico pode acontecer de maneira fisiológica, porém, existem alguns casos em que a mucosa do esôfago tem sua resistência diminuída, ou o ácido reflui mais vezes, ou ainda por mais tempo que a mucosa esofágica pode resistir. Este ácido pode ainda refluir até a garganta, ou causar sintomas pela simples irritação do esôfago. Nestes casos, o refluxo deixa de ser considerado normal e passa a se chamar “Doença do Refluxo Gastroesofágico. A DRGE pode ser primária, quando é o resultado de uma desordem primária de função da área gastrointestinal superior, ou secundário, quando é resultado de dismotilidade que acontece em desordens sistêmicas como deterioração neurológica ou esclerose sistêmica, ou ainda em casos de infecções, distúrbios metabólicos, malformações congênitas, obstruções duodenogástricas, lesões do sistema nervoso central, intolerância à lactose, colagenoses, drogas, entre outras. A DRGE pode se manifestar unicamente através de sintomas respiratórios (tosse crônica, pneumonia por aspiração, asma, espasmo laríngeo, apnéia, estridor laríngeo, displasia pulmonar e crises cianóticas). Em bebês os sintomas são: vômitos do leite artificial ou do leite materno, regurgitação que podem ser forçadas e não em jatos, irritabilidade e choro excessivo com ou sem associação a vômitos, distúrbios do sono, arqueamento e enrijecimento, recusa de alimento, perda de peso ou falta de ganho de peso, desidratação, sintomas respiratórios recorrentes como tosse, sibilo, estridor e pneumonia, eventos com risco de vida aparente como episódios cianóticos (apnéico), diminuição da responsividade, flacidez, apnéia e bradicardia, presença da Síndrome de Sandifer (rara) que é uma postura distônica causada por refluxo, eructação. Em crianças mais velhas aparece como vômitos intermitentes, pirose ou regurgitação crônica, desconforto abdominal alto (sensação de pressão ou aperto), estritor com a tosse crônica, asma noturna especialmente após uma grande refeição, disfagia (dificuldade de deglutição), odinofagia (deglutição dolorosa), anemia, hematêmese (vômito com sangue) ou melena (sangue nas fezes). O diagnóstico é realizado através de cuidadosa anamnese, que pode ser seguida de exames subsidiários (endoscopia, exame radiológico contrastado do esôfago, cintilografia, manometria, pHmetria de 24 horas, teste terapêutico). O objetivo do tratamento da DRGE é aliviar e atenuar os sintomas, e prevenir contra as complicações. Pode ser: medicamentoso, não-medicamentoso (hábitos posturais, terapia nutricional, orientações aos pais através de panfletos explicativos) e cirúrgico. Em conclusão, este estudo sugere que quando bem diagnosticada e escolhido o melhor tratamento, o portador de DRGE adquire melhora significativa dos sinais, sintomas e complicações da doença, além de melhorar sua qualidade de vida. Palavras-chave: Sistema Gastrintestinal. Doença do Refluxo. Tratamento. Orientações. ABSTRACT The gastrointestinal system is responsible for the ingestion, digestion and absorption of nutrients and disposal of waste products of digestion. The prevalence of symptoms related to the disruption of the digestive system is taking much of the attention of public health services throughout the world. There is strong evidence that at least a third of the population of the planet sound experience symptoms such as epigastralgia and empachamento possible monthly. Not always individuals with this type of complaint were present in medical consultations, but 2% of those who do a diagnosis of Gastroesophageal Reflux. The reflux of gastric contents maybe of physiological way, but there are some cases in which the lining of the esophagus has decreased their resistance, or the acid reflux or more times, or even longer than the esophageal mucosa can resist. This acid reflux can even up the throat, or cause symptoms for the simple irritation of the esophagus. In these cases, the reflux no longer be considered normal, going to be called "the gastroesophageal reflux disease. The GERD may be primary, when is the result of a disorder primary function of the upper gastrointestinal area, or secondary, where is the result of what happens in dysmotility disorders like systemic neurological deterioration or systemic sclerosis, or in cases of infections, metabolic disorders , Congenital malformations, obstruction duodenogástricas, central nervous system lesions, lactose intolerance, collagen, drugs, among others. The GERD can occur only through respiratory symptoms (chronic cough, aspiration pneumonia, asthma, laryngeal spasm, apnea, laryngeal stridor, dysplasia and pulmonary crisis cyanotic). In babies the symptoms are: vomiting milk or artificial milk, which can be forced regurgitation and not in jets, irritability and excessive crying with or without association with vomiting, sleep disorders, arching and stiffening, denial of food, loss of weight, or lack of weight gain, dehydration, recurrent respiratory symptoms such as coughing, wheezing, stridor and pneumonia, life-threatening events such as apparent cyanotic episodes (apnea), decreased responsiveness, sagging, apnea and bradycardia, presence of Sandifer Syndrome (rare) that is a posture distônica caused by reflux, eructation. In older children appears as intermittent vomiting, chronic heartburn or regurgitation, high abdominal discomfort (sensation of pressure or tightness), stridor with chronic cough, asthma night especially after a big meal, dysphagia (difficulty in swallowing), sore throat (painful swallowing ), Anemia, hematemesis (vomiting blood) or melena (blood in the stool). The diagnosis is made through careful history, which may be followed by examinations subsidiary (endoscopy, radiological examination of the esophagus contrast, scintigraphy, manometry, pH monitoring of 24 hours, test therapeutic). The goal of treating GERD is to relieve and alleviate the symptoms, and to prevent complications. Can be: medicated, non-medicated (postural habits, nutritional support, guidance to parents through leaflets explanatory) and surgery. In conclusion, this study suggests that when properly diagnosed and chosen the best treatment, the holder of GERD acquires significant improvement of the signs, symptoms and complications of the disease, in addition to improving their quality of life. Key words: Gastrointestinal System. The reflux disease. Treatment. Guidelines LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)..........................................................13 Figura 2- Sistema Digestivo......................................................................................................16 Figura 3- Anatomia da boca......................................................................................................20 Figura 4- Anatomia da língua...................................................................................................21 Figura 5- Anatomia da faringe..................................................................................................22 Figura 6- Esquema do esôfago..................................................................................................23 Figura 7- Posicionamento do Refluxo Gastroesofágico...........................................................25 Figura 8- Exames complementares...........................................................................................32 Figura 9- Endoscopia Digestiva Alta........................................................................................33 Figura 10- Estudo Radiológico.................................................................................................35 Figura 11- Esofagomanometria.................................................................................................36 Figura 12- pHmetria prolongada...............................................................................................37 Figura 13- Fundoplicatura Laparoscópica de Nissen................................................................46 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Fatores que impedem o RGE....................................................................................28 Tabela 2- Classificação de Savary-Miller.................................................................................34 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS GI- Gastrointestinal RGE- Refluxo Gastroesofágico DRGE- Doença do Refluxo Gastroesofágico pH- Potencial Hidrogeniônico EEI- Esfíncter Esofágico Inferior RN- Recém-nascido CBDRGE- Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastroesofágico RTEEI- Relaxamento Transitório do Esfíncter Esofágico Inferior EUA- Estados Unidos da América NG- Nasogástrica ALTE0 Apparent Life Threatening Event EDA- Endoscopia Digestiva Alta TC- Tecnésio VO- Via Oral EMN- Esofagomanometria H2- Hidrogênio 2 IBP- Inibidores da Bomba de Prótons IMC- Índice de Massa Corporal SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 12 1.1 REFLUXO GASTROESOFÁGICO............................................................................... 12 2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 14 2.1 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 14 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 14 3 METODOLOGIA ........................................................................................................... 15 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 16 4.1 SISTEMA DIGESTIVO................................................................................................. 16 4.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA DEGLUTIÇÃO E DIGESTÃO ................................ 17 4.3 ATUAÇÃO DO SISTEM NERVOSO AUTÔNOMO NO ESÔFAGO........................... 24 4.4 DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) E REFLUXO FISIOLÓGICO .................................................................................................................... 24 4.5 FISIOLOGIA E ETIOLOGIA DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO . 27 4.6 CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO.................. 30 4.7 MANIFESTAÇÃO CLÍNICA DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO . 31 4.8 DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO...................... 32 4.8.1 Exames complementares........................................................................................... 32 4.9 PREVALÊNCIA DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROSSOFÁGICO NA POPULAÇÃO ..................................................................................................................... 38 4.10 COMPLICAÇÕES DA DRGE E SEU PROGNÓSTICO ............................................. 40 4.11 TRATAMENTO DA DRGE ........................................................................................ 43 4.12 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO ....................................................................... 43 4.13 TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO.............................................................. 44 4.14 TRATAMENTO CIRÚRGICO .................................................................................... 45 4.14.1 Complicações da cirurgia anti-refluxo ................................................................... 47 4.15 ORIENTAÇÕES REALIZADAS PELOS ENFERMEIROS PARA OS FAMILIARES DE RECÉM-NASCIDOS .................................................................................................... 48 5 CONCLUSÃO................................................................................................................. 51 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 53 7 ANEXOS ......................................................................................................................... 59 7.1 ANEXO I....................................................................................................................... 59 7.2 ANEXO II...................................................................................................................... 60 7.3 ANEXO III .................................................................................................................... 62 1 INTRODUÇÃO O sistema gastrointestinal (GI) é responsável pela ingestão, digestão e absorção dos nutrientes e pela eliminação dos produtos residuais da digestão. Ele abrange o trato digestivo, o tubo contínuo que se inicia na boca e termina no ânus, e os órgãos acessórios. Smeltzer e Bare (2002) ressaltam que esses órgãos acessórios (fígado, vesícula biliar e pâncreas) auxiliam no processo digestivo, mas não fazem parte do canal alimentar. Os distúrbios gastrointestinais podem envolver as anomalias ligadas ao tubo primitivo, desde a hipofaringe até o esfíncter anal, ou os defeitos da parede, que podem resultar em alterações do trato gastrointestinal, que irão interferir com o funcionamento e o desenvolvimento deste (TAMEZ & SILVA, 2002). Há alguns anos, a prevalência dos sintomas relacionados com a desorganização do sistema digestório (principalmente estômago e duodeno), vem tomando boa parte da atenção dos serviços de saúde pública através do mundo. Há fortes evidências de que pelo menos um terço da população sadia do planeta vivencie sintomas como epigastralgia e empachamento eventual mensal e que muitos deles podem ter os sintomas quase que diariamente, cerca de 2% a 10% da população (COSTA & PONTES, 2006). Nem sempre os indivíduos com esse tipo de queixa se apresentam em consultas médicas, mas cerca de 2% dos indivíduos que o fazem tiveram diagnóstico de Refluxo Gastroesofágico (RGE), diagnosticado por exames considerados objetivos, tais como endoscopia e biópsia para exame histológico (COSTA & PONTES, 2006). 1.1 REFLUXO GASTROESOFÁGICO Para Eisig et al. (2004), não se caracteriza necessariamente em uma doença o refluxo de material ácido do estômago para o esôfago, pois ele é comum e ocorre diversas vezes ao dia em todas as pessoas. Este processo ocorre por curtos períodos de tempo e o ácido é eliminado do esôfago rapidamente. Mesmo com pouca resistência ao ácido, a mucosa do esôfago tem a capacidade de suportar este refluxo normal. Porém, existem alguns casos em que a mucosa do esôfago tem sua resistência diminuída, ou o ácido reflui mais vezes, ou ainda por mais tempo que a mucosa esofágica pode resistir. Este ácido pode ainda refluir até a 13 garganta, ou causar sintomas pela simples irritação do esôfago. Nestes casos, o refluxo deixa de ser considerado normal e passa a se chamar “Doença do Refluxo Gastroesofágico” (DRGE) ou apenas “Refluxo Gastroesofágico”- RGE. A Doença do Refluxo Gastroesofágico (FIGURA 1) é um distúrbio relacionado à passagem do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e ou órgãos adjacentes, resultando em um espectro de sintomas com ou sem lesão tecidual. Outros eventos, como ruminação, vômitos, regurgitação, golfada e eructação, podem ser incluídos nesta definição (BERQUIST, 1982; RUDOLPH et al., 2001; BEATTI, 2001; MORAES-FILHO et al., 2002). Figura 1- Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) Fonte: www.gastrovida.com.br/menubaseapdigdrge.htm 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL - Levantar bibliografia existente sobre os principais aspectos fisiopatológicos da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE). 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Apontar as características anatômicas e fisiopatológicas que podem levar à DRGE; - Relatar os agravos e associações patológicas relacionados à DRGE; - Identificar formas de diagnóstico e tratamento para a DRGE; - Descrever como o enfermeiro pode contribuir na prevenção e cuidado da DRGE 3 METODOLOGIA O presente estudo possui caráter descritivo, tendo como base artigos científicos e periódicos, pesquisados em bases de dados como MEDLINE, PUBMED, BIREME e SCIELO. Corroborando com esses achados, foram pesquisados livros e revistas contendo o assunto acima proposto, fornecidos por médicos pediatras da cidade de Governador Valadares-MG. 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 SISTEMA DIGESTIVO Cada célula do corpo necessita de um suprimento constante de energia para realizar suas funções próprias (contração, secreção, síntese, etc.). O alimento ingerido fornece os materiais básicos a partir dos quais essa energia é produzida e novas moléculas são sintetizadas. A maioria dos alimentos não pode entrar diretamente na corrente sangüínea e ser usado pelas células do corpo até que seja fracionado em moléculas mais simples. É justamente no Sistema Digestivo (FIGURA 2) que o alimento ingerido é modificado por processos mecânicos e químicos de modo que, no final, possam atravessar a parede do trato gastrintestinal e entrar no sistema vascular sangüíneo e linfático (SPENCER, 1991). Figura 2- Sistema Digestivo Fonte: www.webciencia.com/11_09estom.htm Esses por sua vez, transportam essas moléculas de alimento através da veia porta para o fígado antes de distribuí-la para todas as células. Após esse processo, as moléculas 17 podem ser remontadas em proteínas, carboidratos e lipídios, ou usadas na produção de energia para suportar as atividades do corpo (SPENCER, 1991). 4.2 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA DEGLUTIÇÃO E DIGESTÃO Spencer (1991) revela que todo o trato digestivo é revestido por membrana mucosa, que protege os tecidos subjacentes, e ao mesmo tempo permite a absorção do alimento digerido no intestino. Para que essa membrana seja adequada à absorção, ela deve ser delgada e úmida. A secreção de muco pelas células da membrana mucosa conserva a membrana úmida; pelo fato de o muco ser viscoso, ele também serve como mecanismo protetor. Assim, a delgada membrana que reveste as regiões de absorção do trato digestivo providencia adequada proteção desde que esteja coberta por muco. Todas as células do corpo necessitam de nutrientes. Esses nutrientes derivam da ingestão de alimento que contém proteína, lipídios, carboidratos, vitaminas e minerais, bem como fibras de celulose e outras matérias vegetais sem valor nutricional (SMELTZER & BARE, 2002). As principais funções do sistema digestivo são: - Mastigação: a digestão começa com o ato da mastigação, pelo qual o alimento é quebrado em partículas pequenas, as quais podem ser deglutidas e misturadas com as enzimas digestivas. A alimentação pode provocar a salivação reflexa. A saliva é a primeira secreção que entra em contato com o alimento e é secretada pelas glândulas parótidas, submaxilares e sublinguais. Contém a enzima ptialina, ou amilase salivar, que dá início à digestão dos amidos. Contém ainda muco e água que auxiliam na lubrificação dos alimentos à medida que são mastigados, facilitando assim, a deglutição (SMELTZER & BARE, 2002). - Deglutição: esta começa como um ato voluntário, que é regulado por um centro de deglutição na medula oblonga ou bulbo do sistema nervoso central. Quando o alimento é deglutido, a epiglote se movimenta para cobrir a abertura da traquéia e assim evitar a aspiração do alimento para dentro dos pulmões. Ela resulta na impulsão do bolo alimentar para dentro da parte superior do esôfago, onde termina como uma ação reflexa. O músculo liso da parede do esôfago contrai-se em seqüência ritmada em direção ao estômago, impulsionando o bolo alimentar ao longo do trato. Esse processo chamado de peristalse esofágica faz com que o esfíncter esofágico inferior relaxe e permita que o bolo alimentar 18 entre no estômago. A seguir, o mesmo se fecha firmemente impedindo que o refluxo do conteúdo estomacal entre no esôfago (SMELTZER & BARE, 2002). - Função Gástrica: o estômago armazena e mistura o alimento com as secreções. Ele secreta um líquido altamente ácido em resposta à presença ou ingestão prevista do alimento. Essa secreção tem como funções clivar o alimento em componentes mais absorvíveis e auxiliar na destruição da maioria das bactérias ingeridas. Essa secreção também contém a enzima pepsina, que é importante para iniciar a digestão da proteína. As contrações peristálticas no estômago impulsionam seu conteúdo no sentido do piloro. Partículas maiores que não conseguem atravessar o esfíncter pilórico são agitadas mecanicamente até serem quebradas em partículas menores. O alimento misturado a secreções gástricas é chamado de quimo (SMELTZER & BARE, 2002). Para que a digestão ocorra, o alimento ingerido deve ser continuamente movimentado ao longo do trato gastrintestinal de modo que ele possa ser trabalhado pelas enzimas digestivas que ali são secretadas em várias regiões (SPENCER, 1991). Uma vez que o alimento alcança o estômago, é armazenado e dissolvido, sendo parcialmente digerido pela solução de ácido clorídrico e enzimas, formando um líquido chamado quimo (COSTA & PONTES, 2006). Para assegurar que todas as partículas de alimento estejam em contato com essas enzimas, o conteúdo do tubo digestivo deve ser constantemente agitado e misturado. Esta agitação também coloca o alimento em contato com a sua parede, permitindo que os alimentos digeridos sejam absorvidos e levados para o sangue circulante. A movimentação e a mistura no trato digestivo são acompanhadas por contrações e relaxamentos rítmicos dos músculos associados com ele. Os músculos da boca, faringe, porção superior do esôfago e esfíncter anal externo são músculos esqueléticos e estão sob controle voluntário. Os músculos no restante do trato gastrintestinal são lisos (viscerais) que se contraem rítmica e automaticamente, geralmente independentes da vontade (SPENCER, 1991). Após esse processo, o estômago direciona o fluido parcialmente digerido para o duodeno e intestino delgado para terminar sua digestão e absorção. O intestino grosso armazena o material digerido pelo intestino delgado, e o concentra, absorvendo água. Cada parte do trato gastrintestinal (GI) executa uma função especializada na digestão do alimento. A mucosa que reveste o trato GI absorve e secreta substâncias envolvidas na digestão da comida, e protege o próprio corpo da autodigestão (COSTA & PONTES, 2006). - Função do Intestino Delgado: o processo digestivo continua no duodeno que possui secreções dos órgãos digestivos acessórios (pâncreas, fígado e vesícula biliar). O alimento, inicialmente ingerido na forma de lipídios, proteína e carboidratos, é quebrado em 19 partículas absorvíveis. Pequenas projeções digiformes, chamadas vilosidades, estão presentes por todo o intestino e funcionam para produzir as enzimas digestivas, assim como para absorver os nutrientes. A absorção começa no jejuno e é realizada por transporte ativo e por difusão através da parede intestinal para dentro da circulação (SMELTZER & BARE, 2002). - Função Colônica: depois de mais ou menos 4 horas da alimentação, o material residual passa para dentro do íleo terminal e dirige-se lentamente para dentro da porção proximal do cólon, através da válvula ileocecal. Essa válvula ajuda a evitar que o conteúdo colônico reflua para dentro do intestino delgado. Com as ondas peristálticas do intestino delgado, a válvula se abre por um breve momento, fazendo com que alguma parte do conteúdo atravesse para dentro do cólon. A atividade lenta e fraca movimenta o conteúdo colônico vagarosamente ao longo do trato. Esse transporte lento possibilita a reabsorção eficiente de água e eletrólitos (SMELTZER & BARE, 2002). - Eliminação de Produtos Residuais da Digestão: as fezes constituem alimentos não-digeridos, materiais inorgânicos, água e bactérias. Sua eliminação começa com a distensão do reto, que, de modo reflexo, inicia as contrações da musculatura retal e relaxa o esfíncter anal interno, permitindo que o conteúdo colônico seja expelido (SMELTZER & BARE, 2002). Costa e Pontes (2006) em seus estudos verificaram que é na boca que ocorrem os primeiros esboços de digestão e também é ali que se inicia a deglutição. Tanto um como outro devem ocorrer sem anormalidades para que o sistema digestório não apresente disfunção como um todo. Para Costa e Pontes (2006), existem quatro fases da deglutição. São elas: fase preparatória oral, fase oral, fase faríngea e fase esofágica. As mesmas serão especificadas a seguir. A- Fase preparatória oral O primeiro ato do processo é aquele de apreensão e contenção do alimento na boca (FIGURA 3). A falta de uma zona de contenção dentária faz com que o alimento extravase da zona de preparação do bolo o que faz com que haja sobras alimentares nos cantos da boca, escape labial e, até mesmo, engasgos. A língua também tem função importante neste momento, visto que, ao se posicionar em forma de canoa, facilita a formação do bolo e a sua contenção no centro da boca. Uma pessoa que tenha inadequações neste momento pode acabar por deglutir alimentos sem o devido preparo, o que leva à sobrecarga 20 digestiva e, até mesmo, digestão incompleta dos alimentos. Uma vez contido o alimento na boca, ele deve ser macerado e misturado com a saliva para completar o bolo a ser deglutido (COSTA & PONTES, 2006). Figura 3- Anatomia da boca Fonte: www.soscorpo.com.br/anatomia/s-dig03.htm Esse processo também necessita da língua, para direcionar os alimentos ao local de laceração e maceração, junto aos incisivos e molares. A atrofia ou déficits de movimentação da língua, assim como a falta de dentes pode atrapalhar este momento. Ao mesmo tempo em que é macerado, o alimento vai sendo misturado com a saliva, que determinará a condição final de emulsificação, hidratação e pH do bolo alimentar. Também é a saliva que inicia o processo digestivo químico quando a amilase exerce a ação digestiva sobre o amido dos alimentos. Uma vez que a quebra dos alimentos se inicia, a sensação de paladar e olfato se acentua, e isso vai desencadear uma cascata de acontecimentos biológicos no estômago. Não se sabe ao certo qual deveriam ser a qualidade e quantidade de saliva ideal para que a digestão ocorra a contento. Mas, pode se ter uma idéia das dificuldades geradas por sua insuficiência ao observarem-se queixas de pacientes irradiados nessa região ou aqueles que fazem uso de drogas que provocam xerostomia (boca seca), como antialérgicos, betabloqueadores e diuréticos em grandes quantidades (COSTA & PONTES, 2006). B- Fase oral Nessa fase, o alimento tem que ser propulsionado em direção à parte oral da faringe para dar início à fase faríngea. Essa propulsão é função da língua (FIGURA 4), que 21 faz um movimento de onda comprimindo o bolo contra o palato duro e empurrando-o em direção posterior. Não pode haver sobras ou escape precoce de pedaços do bolo em direção à orofaringe sob risco de que haja engasgos quantidades (COSTA & PONTES, 2006). Figura 4- Anatomia da língua Fonte: www.soscorpo.com.br/anatomia/s-dig03.htm C- Fase faríngea Uma vez atingido a parte oral da faringe (FIGURA 5), sendo o bolo sólido, haverá um estímulo do seu contato na região da parede posterior da faringe e a fase faríngea se iniciará. Sendo o bolo líquido ou pastoso, o contato nos pilares amigdalianos é o principal gatilho para a próxima fase. Portanto, a sensibilidade orofaríngea é fundamental para darmos início à fase faríngea. Se ocorrer algum déficit sensorial regional esta fase poderá estar prejudicada. Aqui entra outra vez o papel da saliva. A sua falta diminui significativamente a sensibilidade mucosa, gerando atrasos no início da fase faríngea em relação à fase oral. A fase faríngea ocorre em um a dois segundos e basicamente consiste em direcionar o bolo para longe das vias aéreas e abrir o segmento faringo-esofágico. Este segmento é de grande importância para alguns portadores de refluxo, visto que pode evitar o “refluxo esôfagoesofágico” ao mesmo tempo em que inibe a deglutição de excessivo volume aéreo. O segmento faringo-esofágico é formado pelas fibras inferiores do músculo constritor inferior da faringe de cada lado, e fibras transversais deste mesmo músculo em sua porção mais posterior, que é chamada de músculo cricofaríngeo, sendo completado em seu anel anterior pela mucosa retrocricofaríngea, que não tem musculatura e tem como zona de contenção apenas o castão da cricóide. Com isso, percebe-se que o segmento não contém um esfíncter 22 anular propriamente dito e que seu diâmetro ântero-posterior acaba contendo duas estruturas sólidas que se opõem a cricóide e a coluna vertebral. É justamente esta oposição que mantém o segmento fechado enquanto em repouso. No ato de deglutir, ao entrar na fase faríngea, os músculos constritores vão se retraindo, justamente com a musculatura pré-laríngea, o que faz com que a faringe encurte e a laringe suba e se incline na direção anterior, apoiando na base da língua. A soma dos dois movimentos faz com que o segmento se abra e gere uma pressão negativa descendente, que praticamente suga o alimento em direção ao esôfago. Distúrbios morfológicos, como espículas e osteófitos vertebrais (bico de papagaio), hipertrofias de base de língua e escolioses podem determinar alterações na abertura do segmento, para mais ou para menos, gerando disfagia. Se a alteração levar à abertura continuada do segmento isto pode acarretar retorno do conteúdo esofágico em direção à faringe ou deglutição de ar em direção ao esôfago (COSTA & PONTES, 2006). Figura 5- Anatomia da Faringe Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 23 D-Fase esofágica Depois de deglutido, o bolo alcança o esôfago, que deverá direcioná-lo até o estômago. O esôfago (FIGURA 6) é um tubo muscular que se estende da faringe ao hiato esofágico do diafragma. O terço superior do esôfago é constituído de músculo estriado, e os dois terços mais baixos consistem em músculo liso. O órgão é inervado pelo vago e divisões simpáticas do sistema nervoso. A fase esofágica da deglutição é ativada por um sinal transmitido pelo nervo vago, e a atividade vagal aumenta a atividade esofágica. O trânsito do bolo alimentar pelo esôfago se dá a partir de ondas peristálticas primárias e secundárias. As primeiras tendem a acontecer com a chegada do alimento no esôfago, mas dependem de sua consistência e volume. Em geral, na alimentação rotineira, espera-se que de 3 a 5 deglutições determinem o início da peristalse primária. A cronometragem da sucessão dos movimentos peristálticos primários é dependente de nervos intrínsecos do esôfago. Já a peristalse secundária ocorre quando o conteúdo esofágico é muito ácido. Apesar de igualmente efetivas, as duas se diferenciam pelo fato de a primeira ocorrer em toda a extensão do esôfago, enquanto a secundária se estender a partir do local do estímulo até o estômago. A inervação simpática é de natureza sensorial. Portanto, o esôfago impele a comida para o estômago por meio da peristalse, previne o refluxo ácido minimizando o movimento retrógrado do conteúdo gástrico e responde com peristalse secundária para se clarear qualquer conteúdo refluído (COSTA & PONTES, 2006). Figura 6- Esquema do esôfago Fonte: www.compuland.com.br 24 4.3 ATUAÇÃO DO SISTEM NERVOSO AUTÔNOMO NO ESÔFAGO O Sistema Nervoso Autônomo é a parte do Sistema Nervoso que está relacionada ao controle da vida vegetativa, ou seja, controla funções como a respiração, a circulação do sangue, o controle da temperatura e a digestão. Nesta última, o controle do Sistema Nervoso Autônomo atua na musculatura lisa do tubo digestivo. A estimulação do Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático aumenta o peristaltismo da musculatura lisa gastrointestinal, enquanto que a estimulação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático a modera ou inibe completamente. Assim, ocorre o "trânsito" do bolo alimentar através do tubo digestivo. É neste momento que ocorre a digestão química dos alimentos com a subseqüente absorção dos componentes digeridos. Ao final desse processo, os "restos" dos alimentos ingeridos que não foram degradados (fezes), são armazenadas no ceco, para posteriormente serem eliminados pelo ato involuntário da defecação (BIOLOGIA USP, 2008). 4.4 DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) E REFLUXO FISIOLÓGICO O Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastroesofágico (CBDRGE) definiu a DRGE como uma afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes a ele, acarretando um espectro variável de sintomas e/ou sinais esofagianos e/ou extra-esofagianos, associados ou não a lesões teciduais. É uma doença freqüente na prática médica (MORAES-FILHO et al., 2002), sendo a afecção orgânica mais comum do tubo digestivo (CHINZON et al., 2003). Muitos mecanismos estão envolvidos na função gastroesofageana normal, e incluem a motilidade esofagiana, contração e relaxamento do esfíncter esofagiano inferior (EEI), a pressão média intraluminal do estômago e o esvaziamento gástrico. Um ou mais destes fatores estão alterados nos indivíduos com DRGE sintomático. A DRGE é uma doença multifatorial, na qual os eventos iniciais ainda são desconhecidos. O ácido em contato com a mucosa esofágica é o evento central desta doença que se desenvolve quando a quantidade de ácido ultrapassa os mecanismos de defesa intrínsecos ao esôfago, levando ao aparecimento de sintomas (CAMPOS-MELLO, 1999). 25 Para Andrade (1988), denomina-se refluxo gastroesofágico (RGE) o retorno de conteúdo do estômago (intra-abdominal) para o esôfago (intratorácico). Pode também ocorrer em pessoas assintomáticas e até certo limite de tempo é considerado fisiológico (FIGURA 7). O valor limite quanto ao percentual de tempo em que o pH esofágico permanece abaixo de 4,0 varia de 5% a 10% em 24 horas, em função de fatores técnicos. Somente valores acima destes limites são considerados indicativos de DRGE. Figura 7- Posicionamento do Refluxo Gastroesofágico Fonte: www.medicinageriatrica.com.br Costa e Pontes (2006) revelam que a presença de refluxo gastroesofágico em pequenas quantidades é habitual e considerado fisiológico para grande parte dos indivíduos. Quando o refluxo é excessivamente ácido, pode agredir o revestimento do esôfago e provocar suas respostas reflexas de limpeza, induzindo contrações peristálticas secundárias do músculo liso, o que por si pode causar desconforto ou mesmo dor. As evidências indicam que até 36% da população adulta saudável americana sofra pelo menos uma vez de azia por mês. Entretanto, a maioria dos episódios de refluxo ácido cursa assintomática. Muito provavelmente isto ocorra porque, depois de uma refeição, o Esfíncter Esofágico Inferior (EEI) permanece fechado, mas quando relaxa por algum motivo, permite que o ácido clorídrico reflua ao esôfago. A peristalse secundária devolve 90% do ácido ao estômago. Uma vez terminada a peristalse, o EEI se fecha novamente. O ácido restante no esôfago é neutralizado por deglutições sucessivas de saliva que é alcalina e acaba tamponando o ácido refluído. 26 O termo doença do refluxo gastroesofágico sintomática refere-se aqueles pacientes que se apresentam com os sintomas pépticos (pirose e regurgitação), com ou sem evidência endoscópica de esofagite. Os pacientes mais difíceis de serem abordados, tanto no diagnóstico como no tratamento, são aqueles que apresentam grande sintomatologia, mas sem evidência de lesão tecidual do esôfago (doença do refluxo gastroesofágico não erosiva) e aqueles com sintomas ditos extra digestivos, ou refluxo oculto1, 2 e com mínimas alterações da motilidade esofágica (FASS et al., 2004). É exatamente este grupo de pacientes em que será necessária a utilização de métodos diagnósticos. Executar uma endoscopia pode identificar o paciente como tendo a doença do refluxo não erosiva ou uma esofagite erosiva, ou ainda um esôfago de Barrett. A monitoração do pH esofágico pode avaliar a resposta terapêutica e determinar a exposição do esôfago ao ácido (QUINGLEY, 2003). Ippolili (1994), em seus estudos, ressalta que existe uma diferença fundamental entre as populações infantil e adulta em relação ao RGE fisiológico. Nos adultos, o RGE é fenômeno eventual, ocorrendo de forma imperceptível em alguns breves momentos, principalmente após as refeições (em média, 1 a 4 episódios por hora durante as primeiras 3 horas após a refeição) e o indivíduo permanece assintomático. Já na população infantil, particularmente no recém-nascido (RN) e nos lactentes nos primeiros meses de vida, o RGE é um fenômeno quase habitual, e frequentemente sintomático, manifestando-se comumente como regurgitação e, eventualmente, como episódios de vômitos. Esta situação é também conhecida como refluxo gastroesofágico não-complicado ou regurgitação infantil (VANDENPLAS et al., 1996). Trata-se de um problema comum não só nos consultórios de pediatria como no de diversos especialistas pediátricos como gastroenterologistas, pneumologistas, otorrinolaringologistas e cirurgiões (FERREIRA et al., 2002). Segundo Orenstein et al. (1999), sendo o refluxo gastroesofágico uma das causas mais freqüentes de encaminhamento para o gastroenterologista pediátrico, torna-se necessário o reconhecimento de algumas peculiaridades do RGE na criança, e esse fato é o grande divisor de águas em relação aos adultos quanto à conduta terapêutica. Existem diferenças fundamentais na fisiopatologia, manifestações clínicas e avaliação diagnóstica entre o RGE na criança e no adulto. Koda (2007) salienta que a regurgitação freqüente da criança pequena, embora fisiológica, pode causar grande ansiedade nos pais que, com freqüência, exigem dos pediatras medidas que aliviem esta situação. Além disso, na abordagem do RGE fisiológico ou nãocomplicado, deve-se procurar, até que o problema se corrija espontaneamente, prevenir as 27 complicações que o RGE, quando freqüente e persistente, pode provocar. É importante ressaltar que a prevalência do RGE, embora seja muito alta em lactentes, a maioria absoluta dos casos não necessita de uso de medicamentos e o tratamento deve ser o mais conservador possível. Para Quingley (2003), os objetivos do tratamento da doença do refluxo gastroesofágico sintomática é controlar sintomas e melhorar a qualidade de vida. Uma avaliação clínica do paciente pode identificar características clínicas importantes, tais como os sintomas atípicos e extra-esofágicos para os quais os agentes inibidores da secreção ácida tendem a ser menos eficazes. Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento nas últimas décadas, esta desordem apresenta ainda muitos desafios (BYTZER, 2003). Martins (2007) define a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) como "afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago ou órgãos adjacentes a ele, acarretando um espectro variável de sintomas e/ou sinais esofágicos e/ou extraesofágicos associados ou não a lesões teciduais". 4.5 FISIOLOGIA E ETIOLOGIA DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO O esôfago possui duas funções principais: o transporte anterógrado do material deglutido da boca para o estômago e a prevenção do transporte retrógrado desse material do estômago à boca. Trata-se de um tubo muscular constituído no seu terço superior de musculatura estriada, musculatura mista (estriada e lisa, no sentido descendente) no terço médio e musculatura lisa no terço inferior. Possui 2 esfíncteres nas suas extremidades, superior e inferior, que são os responsáveis pela prevenção do retorno do conteúdo gástrico para o esôfago, a cavidade oral e laringe (FERREIRA et al., 2002). A inervação da musculatura estriada do esôfago proximal é mantida pelas fibras motoras do nervo vago que se originam do sistema nervoso central, enquanto a inervação da musculatura lisa do esôfago distal ocorre via sistema nervoso autônomo, sistema provido pelo nervo vago (FERREIRA et al., 2002). Portanto, o esfíncter esofágico inferior (EEI) está anatomicamente inserido em um sistema cujo objetivo maior é prevenir o refluxo gastroesofágico, o que é considerado tarefa difícil, já que é o único local do tubo digestivo onde estruturas luminais contidas em 28 cavidades de pressões opostas estão em continuidade- pressão negativa intratorácica e positiva intra-abdominal (FERREIRA et al., 2002). Há diversos fatores que mantém o refluxo gastroesofágico dentro dos níveis fisiológicos (TABELA 1). Tabela 1- Fatores que impedem o RGE. FATORES QUE IMPEDEM O RGE: - entrada oblíqua do esôfago no estômago (promove o fechamento quando o estômago está cheio); - roseta da mucosa gástrica ao nível da cárdia; Anatômicos - elementos de fixação do estômago (artéria gástrica esquerda e ligamento frenoesofágico), que mantém o mesmo no lugar; - pilar direito do diafragma ao nível do hiato;* - fator valvular (prega de Gubaroff); - pressão do esfíncter esofágico inferior (EEI);* - eficiência do mecanismo de clareamento esofágico (capacidade do esôfago de empurrar o ácido através das suas contrações); - saliva (por causa do ↑ teor de bicarbonato e proteínas tamponantes, Fisiológicos neutraliza o ácido no esôfago); - resistência da mucosa esofágica à agressão (é pouco resistente ao ácido, pepsina, sais biliares e enzimas pancreáticas); - volume e tempo de esvaziamento do conteúdo gástrico. * fatores mais importantes. Segundo Ogorek (1989), a etiopatogenia da DRGE é multifatorial. Koda (2007), em seus estudos relatam ser este tema ainda um assunto controverso, mas, de um modo geral, pode-se afirmar que reside no desequilíbrio entre os fatores que protegem o esôfago contra o refluxo como a barreira anti-refluxo, o clareamento esofágico, a salivação e os fatores de proteção da mucosa esofágica e os que lhe causam dano como o volume e a composição do material refluído. O RGE ocorre, principalmente, nas seguintes situações: - Quando existe diminuição do tônus no nível do Esfíncter Esofágico Inferior (EEI): estudos experimentais demonstram que a musculatura circular esfincteriana, a principal estrutura responsável pela existência de um tônus basal, sofre influências neurais e hormonais 29 e responde de forma variável ao estímulo fisiológico, a drogas e a outros fatores (KODA, 2007). - Quando a pressão intragástrica supera a pressão do EEI: isso acontece quando, mesmo em indivíduos normais sem alterações anatômicas e/ou funcionais do esôfago e/ou estômago, situações como o enchimento excessivo do estômago, a compressão do abdômen, a obesidade, a constipação intestinal, os exercícios físicos, a tosse, a inspiração profunda e o ato de evacuação acarretam a elevação da pressão intragástrica que pode superar a pressão no nível do EEI (KODA, 2007). - Durante o relaxamento transitório do EEI (RTEEI): o relaxamento transitório do esfíncter inferior do esôfago trata-se de um relaxamento ao nível do EEI que ocorre independentemente da deglutição e do peristaltismo esofágico, ocasionando queda abrupta da pressão ao nível do EEI (KODA, 2007). O desenvolvimento e a gravidade da DRGE estão na contingência da presença de três fatores, citados também por Ferreira et al. (2002), revela os fatores etiopatogênicos da DRGE. Esses fatores são demonstrados a seguir. 1. Aumento da freqüência dos episódios de refluxo: aumento do número de episódios do RTEEI, hipotensão do EEI, aumento da pressão intra-abdominal e perda dos efeitos postura/gravidade. 2. Aumento da duração dos episódios de refluxo: perda dos efeitos postura/gravidade, alterações do peristaltismo (primário e secundário) e diminuição da salivação. 3. Aumento da lesividade do material refluído: ácido, pepsina, ácidos biliares (refluxo duodenogástrico) e tripsina (refluxo duodenogástrico). Segundo Orenstein (1992), as alterações da barreira anti-refluxo podem ocasionar aumento da freqüência enquanto que alterações no mecanismo de clareamento esofágico e na salivação ocasionam aumento da duração dos episódios de refluxo. Alterações no volume e na composição do material refluído podem ocasionar aumento da lesividade à mucosa esofágica. Diversas condições facilitam o aparecimento do RGE em níveis patológicos, levando à doença. Um dos mais conhecidos, porém mais controversos, é a hérnia de hiato, ou hérnia hiatal. Normalmente, o esôfago termina no estômago pouco abaixo do hiato diafragmático. Na hérnia, a transição esofago-gástrica está localizada acima do hiato, o que faz com que o estômago seja submetido à pressão do diafragma, não o esôfago. Enquanto esse é fino e tende a permanecer fechado pela pressão, o estômago tem paredes mais espessas e não cede à pressão do diafragma, deixando espaço livre para que o ácido reflua para o esôfago. No entanto, mesmo sendo mais freqüente em pessoas com DRGE que nas normais, 30 pode haver hérnia mesmo em pessoas sem a doença. Condições que aumentam a pressão intra-abdominal também facilitam o refluxo por empurrar o conteúdo gástrico para cima, incluindo ascite, obesidade, gravidez e exercícios extenuantes. Outras condições, que levam à redução da pressão intratorácica, "puxam" o conteúdo do estômago para o esôfago, principalmente as doenças pulmonares e otorrinolaringológicas, aonde o esforço do paciente de respirar leva à essa alteração de pressão. A influência do Helicobacter pylori na DRGE ainda não está estabelecida. Há estudos que sugerem menor freqüência do DRGE em portadores do H. pylori, assim como há estudos que poderiam indicar um aumento na incidência de DRGE após o tratamento e erradicação da bactéria. O Helicobacter pylori produz amônia, que neutraliza parte do ácido, além da gastrite causada pela bactéria alterar a produção de ácido. Mas essa relação ainda necessita de muita pesquisa para ser compreendida. Até o momento, não há indicação ou contra-indicação de erradicar o Helicobacter pylori em portadores do DRGE (EISIG et al., 2004). Constitui ainda como fatores predisponentes ao surgimento do refluxo gastroesofágico a cirurgia pilórica, quando o piloro é alterado ou removido, o que permite o refluxo da bile ou do suco pancreático, a entubação NG por longo prazo (mais de 5 dias), qualquer agente que diminua a pressão do EEI, como alimento, álcool, cigarros, anticolinérgicos (atropina, beladona, propantelina) e, outros medicamentos (morfina, diazepam e meperidina) e qualquer condição ou posição que aumente a pressão intraabdominal (CAROL & BRUE, 2006). 4.6 CLASSIFICAÇÃO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO A Doença do Refluxo Gastroesofágico pode ser classificada em: - Primária: A DRGE primária é o resultado de uma desordem primária de função da área gastrointestinal superior, isto é, quando existe disfunção no nível esofagogástrico; - Secundária: A DRGE secundária é resultado de dismotilidade que acontece em desordens sistêmicas como deterioração neurológica ou esclerose sistêmica. Também pode resultar de fatores mecânicos em jogo nas doenças crônicas do pulmão ou obstrução de rota aérea superior como em amigdalite crônica. Ocorre também quando existem causas subjacentes que predispõem ao RGE, tais como: infecções, distúrbios metabólicos, 31 malformações congênitas, obstruções duodenogástricas, lesões do sistema nervoso central, intolerância à lactose, colagenoses, drogas, entre outras (KODA, 2007). 4.7 MANIFESTAÇÃO CLÍNICA DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) nem sempre provoca sintomas, e, nos pacientes que exibem os efeitos clínicos, o refluxo fisiológico nem sempre é confirmável (CAROL & BRUE, 2006). A Doença do Refluxo Gastroesofágico pode se manifestar unicamente através de sintomas respiratórios (DRGE oculto), como tosse crônica (KALACH et al., 2000), pneumonia por aspiração, asma, espasmo laríngeo, apnéia, estridor laríngeo, displasia pulmonar e crises cianóticas (VANDENPLAS, 1997). Sibilância ou tosse noturna, com resposta inadequada ao tratamento médico para asma, histórico familiar negativo de atopia e início precoce de hiperreatividade brônquica caracterizam pacientes que devem ser investigados para DRGE. O chiado pode ser a única manifestação de refluxo em algumas crianças, o que indica DRGE oculto (VANDENPLAS, 1997). Segundo Nettina (2003), as manifestações clínicas da Doença do Refluxo Gastroesofágico em bebês são: vômitos do leite artificial ou do leite materno, regurgitação que podem ser forçadas e não em jatos, irritabilidade e choro excessivo com ou sem associação a vômitos, distúrbios do sono, arqueamento e enrijecimento, recusa de alimento, perda de peso ou falta de ganho de peso, desidratação, sintomas respiratórios recorrentes como tosse, sibilo, estridor e pneumonia, eventos com risco de vida aparente como episódios cianóticos (apnéico), diminuição da responsividade, flacidez, apnéia e bradicardia, presença da Síndrome de Sandifer (rara) que é uma postura distônica causada por refluxo, eructação. Nettina (2003), ainda descreve as manifestações clínicas da DRGE em crianças mais velhas como as crianças em idade pré-escolar. São as seguintes manifestações clínicas: vômitos intermitentes, pirose ou regurgitação crônica, desconforto abdominal alto (sensação de pressão ou aperto), estritor com a tosse crônica, asma noturna especialmente após uma grande refeição, disfagia (dificuldade de deglutição), odinofagia (deglutição dolorosa), anemia, hematêmese (vômito com sangue) ou melena (sangue nas fezes). 32 4.8 DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO O diagnóstico da DRGE é realizado através de cuidadosa anamnese, que pode ser seguida de exames subsidiários (endoscopia, exame radiológico contrastado do esôfago, cintilografia, manometria, pHmetria de 24 horas, teste terapêutico). A decisão de iniciar um tratamento empírico, muito utilizado em adultos, é influenciada sobremaneira pela relação custo-benefício. Para a DRGE em crianças, recomenda-se a confirmação diagnóstica antes de tratamentos medicamentosos repetidos ou prolongados (FERREIRA et al., 2002). Muscari (1998) descreve os achados do histórico clínico da DRGE. São estes: vômito forçado possivelmente com hematêmese, emagrecimento, aspiração e infecções respiratórias recorrentes, episódios cianóticos e apneicos que podem ameaçar a vida, esofagite e sangramento devido à repetida irritação do revestimento esofágico com ácido gástrico, Melena, pirose, dor abdominal e sabor amargo na boca. 4.8.1 Exames complementares Dentre os exames complementares (FIGURA 8), alguns estão relacionados fundamentalmente ao histórico colhido: observação de refluxo após deglutição de bário e ausência de obstrução gástrica ou duodenal a deglutição de bário e radiografia GI alta, pressão baixa do esfíncter esofágico inferior em repouso à manometria esofágica, anemia secundária à perda de sangue, monitorização do pH intra-esofágico medindo o refluxo de ácido do estômago, cintilografia, que detecta substâncias radiográficas no esôfago após a ingestão de uma substância pela criança (MUSCARI, 1998), a endoscopia e a biópsia permitem a visualização e a confirmação de qualquer alteração anormal na mucosa (CAROL & BRUE, 2006). O método que inicia a investigação em pacientes com DRGE é a endoscopia digestiva alta (EDA), que visualiza a mucosa esofágica. Dos outros exames habitualmente utilizados, alguns pesquisam o refluxo (estudo radiológico, cintilográfico, pHmetria prolongada), suas complicações (estudo radiológico) ou as alterações motoras que podem ocorrer (esofagomanometria). Mais recentemente, surgiu no armamentário de investigação, a monitorização de bilirrubina no esôfago (VAEZI & RICHTER, 1996), de maior utilidade 33 quando se suspeita de refluxo alcalino e a impedanciometria elétrica intra-luminal múltipla (VAEZI, 2003), esta última ainda em bases experimentais, mas com grande potencial em futuro próximo. Figura 8- Exames complementares Fonte: www.google.com.br/imagens A- Endoscopia Digestiva Alta (EDA) É necessária a definição da presença ou não de lesões de mucosa, pois na ausência de erosão, úlcera ou esôfago de Barret, o paciente é considerado “endoscopicamente negativo” (FIGURA 9), inclusive os portadores de alterações mínimas, como eritema, espessamento de mucosa, etc. A importância destes achados é prognóstica, pois se sabe que as recidivas da doença, em sua maioria, se fazem no mesmo grau revelado pela EDA anterior e que a evolução da forma não erosiva para a erosiva é pouco comum. A prevalência da forma não erosiva da doença parece estar entre 60-70% (FASS et al., 2001). O esôfago de Barrett consiste na substituição do epitélio estratificado do esôfago por epitélio colunar, observado ao exame endoscópico e confirmado por exame histopatológico, com o encontro de células intestinalizadas ou mistas (MORAES-FILHO et al, 2002; WINTERS et al., 1987). Figura 9- Endoscopia Digestiva Alta Fonte: www.edo.com.br/eda.htm 34 A endoscopia permite ainda detecção de complicações da DRGE como: estenose, úlcera e hemorragia, e a retirada de fragmentos de biópsia para análise histológica. A biópsia é sempre recomendada quando uma endoscopia diagnóstica é realizada mesmo quando o esôfago se apresente de aparência normal, pois, permite exclusão de outras causas de esofagite, como esofagite eosinofílica e esofagite infecciosa (KODA, 2007). Das várias classificações endoscópicas para esofagite, a mais empregada na prática clínica é a classificação de Savary-Miller, demonstrada na TABELA 2 (MORAES-FILHO et al, 2002; WINTERS et al., 1987). Tabela 2- Classificação de Savary-Miller CLASSIFICAÇÃO DE SAVARY-MILLER (1978) Erosões ou traços vermelhos não confluentes na porção distal do Grau I ou Leve esôfago. Podem ser longitudinal ou oval, coberta por fino exsudato branco e únicas ou múltiplas. Grau II ou Moderada Erosões múltiplas confluentes não atingindo toda circunferência do órgão. O processo inflamatório se estende em toda a circunferência do Grau III ou Intensa esôfago, porém não causando estenose. Pode acompanhar edema, friabilidade e sangramento. Grau IV ou Corresponde às formas crônicas complicadas, como diminuição da luz Complicada do órgão e/ou úlceras e/ou Barrett. B- Estudo Radiológico A esofagografia ou a seriografia esofagogastroduodenal tem pouca sensibilidade na demonstração do refluxo e se o paciente não tem lesão de mucosa, ela pouco acrescenta neste particular (RICHTER, 1996). Entretanto é de importância na avaliação da extensão de uma estenose péptica, na observação grosseira da motilidade em pacientes com disfagia e, sobretudo, tem papel relevante na avaliação do grau de fixação de uma hérnia hiatal. As grandes hérnias hiatais são bem demonstradas no estudo radiológico (FIGURA 10), inclusive a definição de seu tipo, (deslizamento, parahiatal ou mista) e pode-se observar também o grau de tortuosidade do esôfago, que algumas vezes, contribui para a disfagia do paciente (MORAES-FILHO et al., 2002). 35 Figura 10- Estudo Radiológico. Fonte: www.cidpitombo.com.br/english/especialidades C- Cintilografia de Refluxo A cintilografia para pesquisa de refluxo é um exame não-invasivo, muito bem aceito pelos pacientes (MORAES-FILHO et al., 2002). Consiste na administração por via oral de líquidos ou sólidos com substâncias marcadas (enxofre coloidal) com isótopo radioativo tecnésio 00 (TC 99m) e obtenção de imagens sob gamma-câmara acoplada a um computador durante 30 a 60 minutos. Após quatro horas, faz-se rastreamento do tórax para documentar eventual aspiração pulmonar (KODA, 2007), sendo o estudo radiológico um método qualitativo (MORAES-FILHO et al., 2002). Nos dias atuais, pela sua boa tolerância, a cintilografia de refluxo tem sido recomendada para crianças (MORAES-FILHO et al., 2002). Este método possui baixa sensibilidade para a confirmação diagnóstica da DRGE. Embora alguns pesquisadores tivessem sugerido que a cintilografia gastroesofágica poderia ser útil na detecção da aspiração pulmonar, a maioria dos estudos, na tentativa de documentar episódios de microaspiração pulmonar, não tem sido uniformemente bem-sucedida. No entanto, é um método adequado ao estudo do trânsito e esvaziamento esôfago-gástrico, podendo demonstrar retardo do esvaziamento gástrico, um componente potencial da patofisiologia da DRGE (MORAES-FILHO et al., 2002). 36 D- Esofagomanometria (EMN) A função da esofagomanometria é o de avaliar o funcionamento de todo o esôfago através de medições computadorizadas das pressões esofágicas pode-se avaliar o funcionamento da faringe e a sua coordenação com o esfíncter superior do esôfago, a atividade motora do corpo do esôfago, e a localização e tônus do esfíncter inferior do esôfago. A esofagomanometria não é método de demonstração de refluxo e como método isolado, tem valor limitado na avaliação destes pacientes. A DRGE é acompanhada de alterações como redução da pressão do esfíncter esofagiano inferior em pelo menos metade dos pacientes (percentual este que aumenta com a gravidade da esofagite) e anormalidades ditas específicas, porém com padrão bastante característico; como redução de amplitude das ondas de corpo esofagiano, falhas de condução conhecidas como motilidade esofagiana ineficaz, até alterações graves em que há perda completa da peristalse (RICHTER, 1996; LEMME et al., 1997; LEITE et al., 1997). A principal indicação para realização da EMN (FIGURA 11) em paciente com sintomas típicos é no pré-operatório de cirurgia antirefluxo, para avaliação da função motora do corpo esofagiano, principalmente para diagnóstico diferencial com outras doenças, sobretudo acalasia e esclerose sistêmica (MORAES-FILHO et al., 2002). Figura 11- Esofagomanometria Fonte: adam.sertaoggi.com.br/.../article/003884.htm Segundo Richter (1996), o papel da esofagomanometria em orientar o tipo de cirurgia antirefluxo a ser realizada ainda é objeto de discussão. Recentemente, um estudo 37 prospectivo e randomizado concluiu que a incidência de disfagia pós-operatória não apresentou relação nem com o tipo de cirurgia realizada (Nissen ou Toupet) ou com as alterações motoras detectadas no pré-operatório. Os autores sugerem que não há necessidade de se ajustar a técnica cirúrgica às alterações de motilidade e que as indicações da EMN deveriam ser mais seletivas do que rotineiras (FIBBE et al., 2001). Outras indicações para o emprego da esofagomanometria em Doença de Refluxo Gastroesofágico seriam pacientes com disfagia, sem causa orgânica a justificá-la, para diagnóstico diferencial com outras doenças e para orientar o posicionamento de cateter precedendo a pHmetria prolongada, tanto de um como de dois sensores, em que o sensor superior é posicionado no esôfago proximal ou na faringe (MORAES-FILHO et al., 2002; KAHRILAS & QUIGLEY, 1996). E- pHmetria Esofagiana Prolongada A pHmetria esofagiana prolongada (FIGURA 12) tem sido considerada o método isolado mais sensível e específico para o diagnóstico da DRGE (KAHRILAS & QUIGLEY, 1996; DEMEESTER et al., 1980). Figura 12- pHmetria prolongada Fonte: www.cidpitombo.com.br/english/especialidades_... Trata-se de monitorização do pH do esôfago por 24 horas, levando-se em consideração o horário das alimentações e das posturas ortostáticas e supina. Tem como característica única, a possibilidade de correlação entre os sintomas que o paciente apresentar durante as 24 horas e episódios de refluxo. Como é método invasivo, envolvendo introdução de um fino cateter naso-esofágico, suas indicações devem ser reservadas para casos muito 38 precisos. Em pacientes com sintomas típicos, a principal indicação da pHmetria prolongada é a demonstração de refluxo na ausência de esofagite. Pelo menos 50% destes pacientes terão refluxo anormal, e nos com esofagite erosiva, em geral, há uma boa correlação entre os dois exames (DEMEESTER et al., 1980; LEMME et al., 2001). 4.9 PREVALÊNCIA DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROSSOFÁGICO NA POPULAÇÃO Almeida (2007) revela que a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é uma afecção de elevada prevalência em todo o mundo, afetando cerca de 10% a 30% da população ocidental. Fato preocupante em relação a essa patologia é o comprometimento da qualidade de vida do paciente, além do alto custo do tratamento. Para Fennerty (2003), tanto a incidência quanto a prevalência da DRGE não é precisa, pois são subestimadas. Mesmo assim, parece afetar cerca de 20% da população americana adulta e acarreta um prejuízo significativo à qualidade de vida. Ogorek e Cohen (1989) descrevem a DRGE como uma doença crônica, sujeita a recidivas e remissões, podendo se apresentar em qualquer faixa etária, em ambos os sexos. Costa e Pontes (2006) ressaltam que não se sabe qual é a incidência exata da doença, nem tampouco sua morbidade, visto que as queixas podem ser consideradas uma normalidade para seus portadores, que associam à alimentação e ao estresse, o que faz com que poucos procurem cuidados médicos. Sua prevalência em crianças é também discutível, havendo trabalhos indicando até 50% de ocorrência nas crianças. Entretanto, é muito difícil distinguir os episódios de refluxo patológico daqueles considerados fisiológicos na infância (COSTA & PONTES, 2006). Na Europa, com base em achados de endoscopia, a doença do refluxo gastroesofágico tem uma prevalência de aproximadamente 10% (PETERSEN, 1995). Segundo Costa et al. (2004), no Brasil, a prevalência de refluxo gastroesofágico patológico foi de 11,15% no primeiro ano de vida. Foi mais alta durante os dois primeiros trimestres de vida, sendo de 14,62% no primeiro trimestre e de 13,76% no segundo trimestre. Atualmente, é a doença gastrointestinal mais freqüente no oeste europeu, sendo que aproximadamente 10% da população estão envolvidas (PETERSEN, 1995). 39 Acima de 50% dos adultos nos EUA descrevem pirose pelo menos uma vez por semana e um quarto usam medicações anti-secretoras pelo menos três vezes por semana (PACE & PORRO, 2004). Moraes-Filho et al. (2002), num estudo realizado no Brasil em nível nacional, revela que a pirose (uma vez por semana) estava presente em 4,6% da amostra. Quando a ocorrência de pirose era de duas ou mais vezes por semana a prevalência foi de 7,3%. Estimase que aproximadamente 12% da população brasileira tenham a DRGE, sem que tal análise tenha incluído aqueles com manifestações atípicas, os quais certamente devem aumentar este número. Um estudo populacional em nível nacional, empreendido pelo Instituto Datafolha em 22 metrópoles brasileiras, entrevistou 13.959 indivíduos. A pirose (azia), uma vez por semana estava presente em 4,6% da amostra. Quando a ocorrência de pirose (azia) era de duas ou mais vezes por semana a prevalência foi de 7,3%. Estima-se, portanto, que cerca de 12% da população brasileira tem a DRGE, sem que tal análise tenha levado em conta os doentes com manifestações atípicas, os quais certamente, devem aumentar substancialmente esse número. Portanto acredita-se que estes números sejam apenas uma subestimativa da real prevalência da DRGE (GASTROVIDA, 2008). A DRGE predomina no mundo ocidental, sendo bem menos freqüente nos países orientais. Estima-se que 15% a 20% da população do mundo ocidental tenham sintomas típicos freqüentes e que 45% a 60% tenham estes sintomas ocasionalmente. Acredita-se que estas diferenças geográficas se devam a fatores ambientais, como o estresse, o teor de gordura da alimentação, o uso de restaurantes tipos “fast foods” e não a fatores raciais ou genéticos. Estatísticas americanas demonstram que a prevalência da DRGE está em franca ascensão. Dados recentes de pesquisas americanas revelam que freqüência anual dos sintomas típicos da DRGE é da ordem de 58,7% e a semanal de 19,8%. A prevalência da DRGE é semelhante entre ambos os sexos ou discretamente superior no sexo masculino. Existem evidências, no entanto, de que a DRGE seja mais grave no sexo masculino pela maior freqüência de aparecimento de esofagite erosiva ou de esôfago de Barrett. A prevalência da DRGE aumenta progressivamente com a idade, principalmente após os 40 anos (GASTROVIDA, 2008). Estudos sobre distribuição racial da DRGE não estão disponíveis até o momento, mas acredita-se que esta seja mais grave na raça branca pela maior freqüência de aparecimento de esôfago de Barrett nesta raça (GASTROVIDA, 2008). 40 4.10 COMPLICAÇÕES DA DRGE E SEU PROGNÓSTICO Na maioria dos lactentes com DRGE, o distúrbio é leve e geralmente melhora com cerca de um ano de idade, exigindo apenas tratamento clínico. Se a DRGE for grave, e o tratamento não tiver êxito, podem ocorrer múltiplas complicações. As estenoses do esôfago causadas pela esofagite persistente com fibrose constituem uma das complicações mais significativas. O distúrbio respiratório recorrente com pneumonia por aspiração representa outra complicação grave, constituindo uma indicação para cirurgia. O retardo do crescimento ocasionado pela DRGE quase sempre pode ser controlado através de tratamento e suporte nutricional (WONG et al., 1999). As complicações da DRGE resultam de refluxo freqüente e sustentado de conteúdo gástrico na porção inferior do esôfago como a esofagite que é uma inflamação da mucosa esofágica assim como outros agravos. São aquelas secundárias à esofagite. Até recentemente, a esofagite não era muito reconhecida como um processo patológico na faixa etária pediátrica. A descoberta de que ela pode ser uma causa maior de vários sinais e sintomas, como cólicas do lactente, desordens da alimentação, anemia, sangramentos e dor abdominal recorrente, levaram ao conhecimento atual de que a esofagite, na faixa etária pediátrica, apresenta diferentes etiologias e interações complexas. Em conseqüência disso, ela requer estratégias diagnósticas e terapêuticas igualmente complexas. - Esofagite de refluxo ou crônica: a esofagite de refluxo em crianças pode causar inúmeros sintomas, que são muitas vezes inespecíficos em lactentes. Nas crianças menores não costuma haver relação entre os sintomas e a intensidade da esofagite. As crianças maiores já apresentam sintomas semelhantes aos dos adultos e o diagnóstico torna-se fácil. A endoscopia do trato gastrointestinal alto, com múltiplas biópsias, é o exame de escolha na avaliação de lactentes e crianças com suspeita de esofagite. Alterações macroscópicas do esôfago, como eritema, erosões ou úlceras, facilitam o diagnóstico de esofagite e dirigem as biópsias para os locais mais prováveis de confirmar o diagnóstico. Por outro lado, uma endoscopia normal ou com alterações leves não exclui esofagite histológica (FERREIRA et al., 2002). - Estenose de esôfago ou péptica: a incidência de estenose de esôfago não é conhecida na criança. A inflamação persistente da mucosa esofágica pela presença do material refluído leva, em um estágio inicial, a edema de mucosa e espasmo muscular, fato esse que é 41 reversível apenas com tratamento medicamentoso adequado. Nesse caso, pode ocorrer alguma deposição de colágeno se a agressão persistir. As erosões tornam-se confluentes, mais profundas e surgem as ulcerações. A lesão tecidual ultrapassa a mucosa, atingindo a submucosa e as camadas mais profundas, havendo mais deposição de colágeno. Há a instalação da fibrose cicatricial irreversível que estreita a luz do órgão e altera toda a sua estrutura, causando motilidade anormal. As estenoses pépticas usualmente se desenvolvem no terço distal do esôfago, onde há mais exposição ao ácido, e não costumam ser longas. O principal sintoma é a disfagia que pode ser progressiva com o agravamento da doença (FERREIRA et al., 2002). - Esôfago de Barret: é a substituição de mucosa esofágica distal por um epitélio metaplásico potencialmente maligno causada por exposição crônica ao ácido (NETTINA, 2003). É observado quase exclusivamente na esofagite crônica grave e existe alta propensão para a degeneração neoplásica, sendo reconhecido como um precursor de adenocarcinoma de esôfago em adultos (KODA, 2007). - Adenocarcinoma de esôfago: o risco de adenocarcinoma de esôfago em adultos é de 30 a 40 vezes maior quando há metaplasia de Barret. Por esse motivo, na presença dessa alteração, as endoscopias periódicas de controle são mandatórias. É um tumor que predomina em homens brancos. O câncer do trato gastrointestinal em crianças é raro. Naquelas abaixo de 14 anos, apenas 2% de todas as neoplasias são gastrointestinais, enquanto que menos de 10% o são em indivíduos entre 15 e 29 anos de idade. Poucos casos de adenocarcinona de esôfago foram relatados na faixa etária pediátrica (FERREIRA et al., 2002). - Complicações respiratórias: alguns estudos demonstram que até 50% dos pacientes com DRGE, definidos por pHmetria esofágica alterada, podem apresentar sintomas exclusivamente respiratórios, sem sintoma gastrointestinal (FERREIRA et al., 2002). - Complicações otolaringológicas: dentre as complicações otolaringológicas já existem inúmeras descrições: sinusite crônica, adenoidite, laringite, disfagia orofaríngea, amigdalite crônica, otite crônica, granuloma de corda vocal, estenose subglótica, laringomalácia, laringoespasmo e laringite recorrente. O mecanismo provável para essas complicações otolaringológicas ainda não está esclarecido, entretanto, levanta-se a hipótese da relação com DRGE em decorrência da característica comum entre todos eles: alteração da pHmetria intra- 42 esofágica prolongada, muitas vezes associada com pHmetria hipofaríngea, e melhora dos sintomas após terapêutica para DRGE (FERREIRA et al., 2002). - Asma brônquica: dentre todas as manifestações atípicas da DRGE a mais freqüentemente citada é a asma brônquica. Alguns estudos mostram que a prevalência de DRGE e asma tem aumentado nos últimos anos, com demonstração de monitorização de pH intra-esofágico anormal variando de 47% a 64% em crianças e até 80% em adultos asmáticos, e com esofagite endoscópica em 39% desses adultos (FERREIRA et al., 2002). - Risco aparente de vida: o evento com risco aparente de vida (ALTE, do inglês apparent life threatening event) é definido como um episódio que ocorre na criança que é assustador para o observador, caracterizado pela combinação de apnéia, mudança na cor da pele (cianose, palidez, rubor), mudança no tônus muscular ou sufocação e engasgo que necessitem de intervenção do acompanhante. O primeiro evento geralmente ocorre entre 1 e 2 meses e raramente após 8 meses de idade. A efetividade do tratamento da DRGE associada com ALTE ainda não foi adequadamente estudada, no entanto, recomenda-se o tratamento antirefluxo para os casos diagnosticados para DRGE, visto que se trata de complicações com risco de vida. A cirurgia anti-refluxo pode ser considerada para os casos graves e sem resposta a tratamento clínico (FERREIRA et al., 2002). - Problemas de alimentação: a esofagite pode causar desconforto ou dor (odinofagia) ou dificuldade para deglutir (disfagia) tanto em crianças como em adultos. A criança mais velha é capaz de distinguir sensações que auxiliam na discriminação entre problemas de orofaringe e problemas esofágicos. A incoordenação na deglutição, o engasgo ou a apnéia durante a deglutição sugerem problemas anatômicos ou funcionais da orofaringe. Por outro lado, dor torácica ou sensação de alimento parado no peito geralmente indicam problemas esofágicos, embora sem precisão de localização topográfica da obstrução. A esofagite de refluxo parece ser uma das causas mais comuns desses sintomas em crianças (FERREIRA et al., 2002). O prognóstico atual não difere muito do encontrado por Shepherd et al. (1987), que estudaram 126 recém-nascidos e crianças com refluxo gastroesofágico. Somente com o tratamento de posicionamento e medicações anti-refluxo, 51% melhoraram os sintomas aos 10 meses de idade e 81% encontravam-se sem sintomas aos 18 meses de idade. Somente 17% dos casos necessitavam de intervenção cirúrgica (TAMEZ & SILVA, 2002). 43 4.11 TRATAMENTO DA DRGE O objetivo do tratamento da DRGE é aliviar e atenuar os sintomas, e prevenir contra as complicações. Porém, o tratamento do refluxo em crianças é bastante inconsistente quanto às evidências científicas. Em revisões recentes, a comunidade científica não conseguiu dar destaque a nenhum trabalho referente ao tratamento de crianças com refluxo. Portanto, a experiência empírica é que vem determinando os protocolos terapêuticos. No entanto, há alguns trabalhos que indicam que as medidas dietéticas (terapia nutricional) associadas com o uso de bloqueadores H2 e procinéticos podem ser úteis (COSTA & PONTES, 2006). Segundo Ferreira et al. (2002), o tratamento conservador inclui posicionamento apropriado, correção de hábitos alimentares (volume e tipo de alimento) e espessamento de fórmulas. O tratamento para a Doença do Refluxo Gastroesofágico pode ser: medicamentoso, não-medicamento, cirúrgico e orientações aos pais dos lactentes. 4.12 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Dá-se a preferência à combinação das medicações com o objetivo de agilizar o esvaziamento gástrico e aumentar a motilidade do sistema gastrointestinal; a medicação mais utilizada no período neonatal é a metoclopramide. Em alguns casos também são utilizados agentes antiácidos para prevenir a esofagite (TAMEZ & SILVA, 2002). A bromoprida, administrada na dose de 0,5 a 1 mg/kg/dia, dividida em quatro a seis vezes por dia uma hora antes das mamadas ou das refeições e antes de ir dormir, tem sido muito utilizada na prática, sendo pouco freqüente o surgimento de efeitos colaterias (sonolência, astenia, cefaléia, calafrios e, mais raramente, espasmos musculares localizados ou generalizados, reversíveis com a suspensão do medicamento). A medicação considerada mais eficaz para o tratamento da DRGE é a cisaprida (MS, 2002). Malfroot et al. (1987), demonstraram que tratamento com cisaprida foi responsável pela resolução de 80% de um grupo de 22 pacientes com sintomas respiratórios inexplicáveis e RGE patológico. Saye e Forget (1987) fizeram avaliações clínicas e através de pHmetrias antes e após um mês de tratamento com cisaprida (0,3mg/kg 3 vezes ao dia) em 19 crianças (idade média = 7 anos) com refluxo associado a doença broncopulmonar. Estes 44 autores observaram que as crises de tosse noturna desapareceram completamente em 12/13 (92,3%) crianças sob tratamento com cisaprida. Bottaro et al. (1993) investigaram os efeitos de cisaprida (1 mg/kg/dia) durante 8 semanas em 12 crianças (idades variando de 3 - 40 meses) com DRGE. A avaliação clínica foi determinada através de peso, altura e um escore clínico. Esses autores observaram normalização do escore clínico em todas as crianças, já após 2 semanas de tratamento e redução em 33% de crianças com peso abaixo do percentil 10 ao final de 8 semanas de tratamento. No entanto, recentemente, várias publicações têm relatado o encontro de alteração da repolarização ventricular associada ao uso de cisaprida. Sabe-se que níveis elevados de cisaprida, assim como a instituição concomitante de cisaprida com outras drogas que são metabolizadas na mesma via hepática, predispõem a arritmia cardíaca. Segundo o Ministério da Saúde (2002), com base nesses relatos, a partir do ano de 2000, a venda da cisaprida no Brasil passou a ser controlada, com a receita médica sendo retida na farmácia. Assim, orientase que o médico de saúde da família dê preferência ao uso da bromoprida, deixando a cisaprida como medicamento a ser instituído, quando necessário, em centros especializados. No entanto, o médico deve estar ciente de que está contra-indicado o uso concomitante de cisaprida com as medicações dos seguintes grupos: macrolídeos (eritromicina, azitromicina, claritromicina e outros), antifúngicos imidazólicos (cetoconazol, fluconazol etc.), inibidores das proteases (anti-retrovirais), antiarrítmicos e ciclosporina. Além disso, deve-se evitar o seu uso em portadores de doenças cardíacas e hepáticas (MS, 2002). Recentemente foi descrito o emprego do Baclofen, um antagonista beta do ácido gamaaminobutírico no tratamento da DRGE. Esta substância, inicialmente empregada para fenômenos espásticos em pacientes neurológicos, inibe os relaxamentos transitórios do esfíncter inferior, que são responsáveis pelo maior número de episódios de refluxo. Um estudo inicial em pacientes com DRGE com e sem esofagite, placebo controlado, mostrou que o Baclofen reduziu o número de relaxamentos transitórios e o de episódios de refluxo, embora não tenha reduzido a intensidade da exposição ácida (OGOREK & COHEN, 1989). 4.13 TRATAMENTO NÃO-MEDICAMENTOSO Muitos hábitos podem atrapalhar o controle do refluxo. Não são recomendados vestuários apertados na cintura, cadeiras que projetem o corpo para frente ou exercícios com 45 movimentos de flexão abdominal. Gomas de mascar podem ser úteis para algumas pessoas, principalmente as portadoras de dismotilidade esofágica ou de diminuição de fluxo salivar. No entanto, fica ressalvado o fato de que este hábito aumenta a secreção ácida do estômago e, se houver refluxo gastroesofágico, ele poderá ter maior conteúdo gástrico (COSTA & PONTES, 2006). Para lactentes, recomenda-se fracionar as mamadas, dando menor volume por vez e com menor intervalo entre as mesmas (maior número de mamadas em 24 horas). Acertar a técnica da mamada, para evitar deglutição de muito ar, e deixar arrotar bem antes de colocar na posição adequada (MAFFEI, 1999). Tradicionalmente tem-se empregado para lactentes amamentados ao seio uma colher das de chá com papa de Epstein 5-10 minutos antes das mamadas (água engrossada com amido de milho até consistência pastosa), mas não se conhece o valor de tal medida. Pode-se engrossar a mamadeira com amiláceos a 3%-5%, principalmente se o lactente for desnutrido. O creme de arroz ou amido de milho é freqüentemente empregado em nosso meio, mas devem ser acrescidos de farelo de trigo, para evitar a constipação intestinal (MAFFEI, 1999). Segundo Maffei (1999), crianças maiores devem evitar refeições volumosas e os seguintes alimentos: frituras e excesso de gorduras, calda de doces, refrigerantes, chá preto, hortelã, chocolate, álcool, pimenta e café. As frutas são ácidas e devem ser evitadas quando há sinais de esofagite. Um pouco de café fraco com leite pode ser dado e não interferem na pressão do esfíncter esofágico inferior (EEI), ao contrário de chocolate, chá preto e hortelã, que diminuem a pressão do mesmo. As crianças não devem ser colocadas para dormir imediatamente após as refeições e nem receber qualquer líquido na hora de dormir, devendose aguardar pelo menor uma hora, de preferência duas horas (MAFFEI, 1999). 4.14 TRATAMENTO CIRÚRGICO Como alternativa ao tratamento clínico-medicamentoso do refluxo, há a cirurgia. Os candidatos ideais para o procedimento são os pacientes jovens, cujos sintomas remitiram com o uso de inibidores de bomba de prótons, mas que apresentaram alguma dificuldade para a manutenção do tratamento, aqueles indivíduos cujos sintomas são mais de regurgitação do que de azia e aqueles com sintomas extra-esofágicos intensos (COSTA & PONTES, 2006). Em crianças, a cirurgia é recomendada nos casos persistentes de refluxo gastroesofágico, 46 normalmente após os três meses de idade, ou antes, quando ocorrem complicações respiratórias severas (TAMEZ & SILVA, 2002). Há algum tempo, antes de se conhecer a efetividade e a segurança dos IBP (Inibidores da Bomba de Prótons) no tratamento da criança com doença clóridro-péptica, a cirurgia tinha um papel maior na criança com DRGE. Apesar de ainda ser largamente usado, seu uso indiscriminado não é compatível com os conhecimentos atuais sobre a eficiência do tratamento farmacológico e com as altas taxas de falhas e morbidade cirúrgica (FONKALSRUD et al., 1998). Antes da indicação cirúrgica, a DRGE deve ser caracterizada como crônica e recorrente, sendo o paciente caracterizado como necessitando de IBP ao longo da vida. Assim, é o caso de se optar por terapia farmacológica por longos anos ou tratamento cirúrgico. A necessidade de reoperação deve ser considerada, bem como a possibilidade de voltar a utilizar os IBP (FONKALSRUD et al., 1998). A cirurgia anti-refluxo na criança com problemas respiratórios deve ser considerada quando ocorrerem complicações que ameaçam a vida, como aspiração, laringoespasmo, apnéia; nas situações em que exista falta de resposta à terapia farmacológica devido a distúrbio motor do esôfago, ocorrendo aspirações crônicas; e em crianças com efeitos colaterais intoleráveis da medicação (GOLD, 2005). O tratamento apresenta de 70 a 100% de resolução dos sinais e sintomas se bem indicado. Entretanto, há algumas evidências que mostram uma recidiva alta do problema após três ou quatro anos de procedimento (GOLD, 2005). Uma possível contra-indicação do tratamento cirúrgico seria a obesidade. Porém, trabalhos avaliando pacientes com índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 35, mostraram que a cirurgia de Fundoplicatura Laparoscópicas de Nissen (FIGURA 13) apresentou os mesmos resultados funcionais a curto e médio prazo que os pacientes com IMC abaixo de 30 e com o mesmo índice de complicações (COSTA & PONTES, 2006). Figura 13- Fundoplicatura Laparoscópica de Nissen Fonte: www.esadi.com.br/informativo 47 Além disso, a necessidade de conversão para a cirurgia aberta foi quase nula em mãos experientes (COSTA & PONTES, 2006). O procedimento cirúrgico consta de uma técnica utilizada onde é feita uma diminuição do esfíncter gastroesofágico, dificultando assim que ocorra vômito e refluxo (TAMEZ & SILVA, 2002). Um bom preditor do sucesso cirúrgico é a melhora dos sintomas com IBP e a experiência do cirurgião (HASSAL, 2005). 4.14.1 Complicações da cirurgia anti-refluxo A fundoplicatura (cirurgia em que se realiza a fixação do fundo do estômago em torno do esôfago terminal) é uma das três cirurgias mais freqüentes realizadas pelo cirurgião pediátrico nos Estados Unidos, juntamente com a cirurgia para correção de hérnia inguinal e implantação de cateter central. Atualmente, tem-se observado o número crescente de relatos de complicações da fundoplicatura. Embora a maioria dos estudos indique uma prevalência não superior a 20% dos casos operados, acredita-se que a prevalência possa chegar até 30% ou mais, já que os sintomas podem estar subestimados (FERREIRA et al., 2002). As complicações da fundoplicatura são mais freqüentes em alguns grupos de crianças com doença neurológica, doença respiratória, atresia de esôfago ou dismotilidade generalizada. São elas: - Disfagia pós-fundoplicatura: em decorrência da válvula anti-refluxo pelo hiato ou desenvolvimento da hérnia hiatal paraesofágica; - Síndrome pós-fundoplicatura ou “gas bloat syndrome”: caracterizada por um cortejo de sintomas como náusea, engasgo, esforço de vômito, recusa alimentar, distensão abdominal e síndrome de dumping. Esta última, caracterizada por náusea pós-prandial, esforço de vômito, diarréia e oscilação da glicemia em decorrência da grande sobrecarga de conteúdo gástrico no duodeno. A fisiopatologia da síndrome pós-fundoplicatura é decorrente da alteração anatômica ocasionada pela correção cirúrgica na região esofagogástrica. A dismotilidade antroduodenal anormal e o retardo no esvaziamento gástrico pós-cirúrgico podem ser decorrentes da disfunção vagal que ocorre em cerca de 20% dos casos. A acomodação gástrica reduzida em conseqüência da válvula anti-refluxo no estômago proximal e a distensão do estômago distal podem colaborar para os sintomas 48 dispépticos. A hipersensibilidade gástrica também pode participar dos sintomas de reflexo de vômito (FERREIRA et al., 2002). O tratamento da síndrome pós-fundoplicatura não é definido, visto que se trata de uma entidade nova e que necessita ainda de muitos estudos. Pode ser útil as mudanças dietéticas, no sentido de otimizar e esvaziamento gástrico. Entretanto, o melhor tratamento ainda é a prevenção das complicações, a qual pode ser realizada observando-se os seguintes passos: 1º- É necessário o reconhecimento das condições associadas com alta incidência de problemas pós-operatórios e das doenças que podem mimetizar uma DRGE (ruminação, gastroparesia, vômitos cíclicos e esofagite eosinofílica); 2º- A antecipação das complicações com o respectivo esclarecimento para a família pode contribuir na melhor condução do paciente; 3º- É importante ressaltar que o tratamento cirúrgico, quando bem indicado, possui grande impacto positivo na DRGE e na qualidade de vida do paciente (FERREIRA et al., 2002). 4.15 ORIENTAÇÕES REALIZADAS PELOS ENFERMEIROS PARA OS FAMILIARES DE RECÉM-NASCIDOS O primeiro passo do tratamento da DRGE em lactentes é a orientação adequada dos pais sobre o que é a patologia, e que, na maioria das vezes, trata-se de um processo fisiológico sem maiores complicações (VANDENPLAS et al., 1998). Estas orientações devem ser passadas aos pais pelo enfermeiro no momento da puericultura. Alguns folhetos explicativos (ANEXOS I, II, III,IV) visam informar de forma clara e precisa aos pais e/ou responsáveis pelos lactentes o que é a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), suas manifestações, classificações e como é feito o tratamento mais adequado. 49 Dentre essas informações, destacam-se as medidas posturais e cuidados no manuseio da criança com DRGE. A seguir, são citadas as principais medidas encontradas nos folhetos explicativos sobre a DRGE para os pais. 1- Apoiar o bebê nos braços durante a amamentação, com a cabeça e tronco alinhados entre si, de forma que o abdômen da mãe toque o abdômen do bebê; 2- Liberar as narinas do bebê para facilitar a respiração durante as mamadas, fazendo com que o queixo do bebê toque o seio materno; 3- A boca do bebê deve abocanhar boa parte da mama, para preencher o bico todo de leite, impedindo que a criança engula muito ar; 4- Mamar deitado, nem pensar; Os lactentes com DRGE nunca devem ser alimentados nem receber água enquanto estiverem deitados (MAFFEI, 1999). 5- Permanecer com a criança no colo até ela arrotar (eructar); As crianças com DRGE não devem ser colocadas para dormir imediatamente após as refeições e nem receber qualquer líquidos na hora de dormir, devendo-se aguardar pelo menos 1 hora, de preferência duas horas (MAFFEI, 1999). 6- Evitar ficar chacoalhando a criança após as mamadas; 7- Nos 30 minutos pós-mamadas, recomenda-se que as crianças portadoras de refluxo fiquem na posição ereta; Segundo Dani e Castro (1988), deve-se evitar assumir a posição de decúbito após as refeições, pois, nesta circunstância, haverá maior facilidade à passagem do conteúdo gástrico para o esôfago. Prevenindo-se esta medida, o conteúdo gástrico terá maior dificuldade de regurgitar para o esôfago, evitando-se o agravamento do processo inflamatório da mucosa do esôfago distal. 50 8- Evitar manobras que aumentem a pressão intra-abdominal, por exemplo, abraçá-la pelo abdômen durante a troca de fraldas; De acordo com Maffei (1999), os lactentes portadores de DRGE não devem usar roupas apertadas nem serem trocados após as refeições, mas, se necessário, sem apertar o abdômen. 9- Deve-se evitar o uso do bebê conforto na posição semi-sentada, pois nestas situações ocorre o aumento da pressão no abdômen favorecendo os episódios de refluxo; Quando no colo, a criança com DRGE deve ser colocada de bruços elevada (MAFFEI, 1999). 10- Nos primeiros meses de vida recomenda-se que o lactente não durma de bruços, o ideal seria dormir de lado, sobre o braço esquerdo com uma ligeira elevação do tronco (máximo de 30º); Lactentes maiores e crianças devem dormir de bruços, mas se, de fato, não aceitarem a posição, deverão ficar em decúbito lateral esquerdo. Pode-se colocar cunha de bloco de espuma ou de madeira forrada com espuma embaixo do lençol ou colchão, para manter a criança elevada, apoiando os pés, se necessário, com calço de saco de areia (MAFFEI, 1999). 11- Elevar a cabeceira da cama em um ângulo de 30 a 45º; Para Souza et al. (1999), diversas ações preventivas, simples e eficazes, são muito importantes no tratamento da DRGE. Deve-se orientar a mãe quanto aos cuidados que deverá ter em casa com a criança. Aconselha-se à mãe que mantenha a cabeceira do berço da criança elevada, a fim de manter o estômago longe da função gastroesofágica. Detalhes: tudo aquilo que aumentar a pressão do abdômen, favorece o refluxo, como fraldas apertadas, intestino preso, excesso de gases abdominais, ficar com a criança no colo segurando-a pelo abdômen, brincadeiras de apertar a barriga do bebê, entre outros deslizes que de forma inocente são cometidos. 5 CONCLUSÃO A Doença do Refluxo Gastroesofágico é uma afecção crônica decorrente do fluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes, acarretando variável espectro de sintomas que podem ser esofágicos ou extra-esofágicos, associados ou não a lesões teciduais. Segundo a literatura vigente, é uma afecção comum entre os recém-nascidos e é uma das principais causas de visitas periódicas aos consultórios de pediatria. Observa-se, porém que, à medida que avança a prevalência dessa doença na população brasileira, principalmente nessa população de recém-nascidos, cresce a necessidade de maior conhecimento fundamentado em evidências científicas sobre o tema, a fim de orientar profissionais e familiares de portadores da DRGE. Deve-se lembrar que as considerações terapêuticas na DRGE visam valorizar o fato de que a doença provavelmente se prolongue por longos anos, se não por toda a vida. Em sua grande maioria, o refluxo gastroesofágico na infância é uma condição benigna, devendo ser conduzido através de orientações dietéticas e posturais. No entanto a doença do refluxo gastroesofágico tem aumentado sua prevalência e medidas terapêuticas medicamentosas devem ser instituídas para prevenir a instalação de complicações digestivas e/ou extradigestivas, além de melhorar a qualidade de vida do paciente durante a infância e, possivelmente, em sua fase adulta. Na presença de DRGE não complicado, o mesmo deve ser tratado somente com orientações aos familiares em relação à natureza fisiológica do achado. Nesses caos, deve-se adotar também ao tratamento, as medidas posturais que visam amenizar os sintomas da DRGE. O uso de medicamentos é recomendado quando as medidas iniciais são insuficientes. No tratamento cirúrgico deve-se considera dois tipos de indicações: absolutas e relativas. Absolutas: pacientes com episódios de apnéia, estenose péptica do estômago, grande hérnia hiatal e aqueles que necessitam de gastrostomia para se alimentar. Relativas: decorrem da falha do tratamento clínico bem conduzido, inclusive intra-hospitalar. Para que isto aconteça, é de fundamental importância a orientação aos pais sobre os cuidados com a criança portadora de DRGE. É também importante ressaltar que o tratamento da DRGE não vai curar o refluxo e sim evitar o surgimento de complicações da patologia e melhorar a qualidade de vida do paciente. Compreensão e adesão dos pais ao 52 tratamento reforçam as chances de êxito da amenização dos sintomas e complicações inerentes à DRGE. Através desse levantamento bibliográfico conclui-se, portanto que, a literatura abordada sugere que quando bem diagnosticada e escolhido o melhor tratamento, o portador de Doença do Refluxo Gastroesofágico adquire melhora significativa dos sinais, sintomas e complicações da doença, além de melhorar sua qualidade de vida. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ALMEIDA, J. R. Doença do refluxo gastroesofágico. Washington Convention Center. Washington, D.C., 19 a 24 de maio de 2007. - ANDRADE, M. R. Refluxo gastroesofágico na infância. Padronização da metodologia e interpretação do estudo radiológico. Rev. Paul. Ped. Vol. 6, nº. 20, 1988, p. 33-34. - BEATTI, R. M. Diagnosis and Management of gastro-oesophageal reflux. Current Pediatrics. Vol. 11, 2001, p. 269-275. - BERQUIST, W. E. Gastroesophageal reflux in children: a clinical review. Pediatr. Ann. 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