Lição 1 O Que é Reciprocidade? TEXTO BÍBLICO: Eclesiastes 4.9–12. VERSÍCULO PARA MEMORIZAR: Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. (Efésios 4.25). LEITURA SEMANAL Domingo: Eclesiastes 4.9–12 Segunda: Mateus 7 Terça: Isaías 42.18–25 Quarta: Ezequiel 3.16–21 Quinta: Romanos 14.1–12 Sexta: 1 Coríntios 6.1–11 Sábado: Mateus 23 Objetivos da lição: 1) Os alunos devem poder definir a reciprocidade. 2) Os alunos devem reconhecer que Deus criou o homem para se relacionar com seu próximo. 3) Os alunos devem saber que a reciprocidade das virtudes é importante para que os relacionamentos humanos sejam equilibrados e saudáveis. 4) Os alunos devem verificar sua condição espiritual diante de Deus quanto a reciprocidade dos dons que recebeu. 5) Renovar nos alunos sua esperança de transformação quanto ao cultivo da reciprocidade pela obra de Cristo na cruz. Sugestões didáticas: l O professor deve se apresentar, falando sobre sua vida, família, seu interesse na classe e sua expectativa com o que Deus pode fazer durante o estudo da série Cultivando a Reciprocidade. A mesma oportunidade pode ser dada aos alunos. l O professor deve pedir que todos os alunos preencham a “Folha de –8– dados pessoais” contida no fim deste capítulo (cada aluno deve receber uma cópia avulsa impressa). Essa folha deve ser entregue ao professor. Isto o ajudará a conhecer melhor seus alunos e comunicar-se com eles durante a semana. l Quebra-Gelo: cada aluno deve compartilhar com a classe o que o levou a escolher o assunto. l Sugerir a leitura do livro Você Ama de Verdade?, de Mauro Clark, durante o estudo dessa série para enriquecimento da classe. Para estudo complementar, ler o artigo anexo desta lição. Preparando o solo Provavelmente, você já deve ter observado uma pessoa conversando sozinha. Diante de uma cena esquisita assim, você deve ter duvidado da sanidade mental de tal pessoa. Deve ter imaginado: “pobre sujeito, não deve regular bem da bola”. Isso porque o comum é pessoas conversarem entre si. Como o próprio nome sugere, o diálogo coloca duas pessoas em relação através da comunicação. Algo semelhante ao que a reciprocidade proporciona aos relacionamentos. O diálogo é um bom exemplo para falar da importância da reciprocidade. De fato, um relacionamento entre pessoas, principalmente entre crentes, que não é marcado por esse princípio, deveria despertar em nós tanta estranheza quanto observar uma pessoa conversando sozinha. Infelizmente, o nosso egoísmo, por um lado, e descrença, por outro, nos impedem de perceber essa estranheza. Estamos acostumados a relacionamentos baseados no desequilíbrio, na desigualdade e na contradição. Em outras palavras, nossos relacionamentos baseiam-se ou no “um” ou no “outro”, mas quase nunca no “uns aos outros”. Considerando a importância da reciprocidade para o relacionamento entre cristãos, esta série de estudos tem como finalidade principal analisar esse princípio em sua relação com o exercício das virtudes cristãs. Espalhando as sementes 1. Definição de “reciprocidade” Leia 1 Tessalonicenses 5.11 e Romanos 1.12 e defina “reciprocidade”. O termo “reciprocidade” aparece apenas duas vezes na Bíblia, ambas no Novo Testamento. Nas duas ocorrências a palavra é usada como complemento de uma ação que deve ser trocada entre duas ou mais pessoas. Talvez por conta disso, na língua original, o termo “reciprocidade” seja construído a partir da junção de duas palavras. –9– Em Romanos 1.12 o termo é usado para falar do modo como o encontro entre o apóstolo Paulo e os crentes romanos resultou em um conforto mútuo em seus participantes. A companhia de Paulo trouxe conforto a esses irmãos, mas o apóstolo aos gentios também é confortado pela presença dos crentes romanos. Na passagem de 1 Tessalonicenses 5.11 a ideia é semelhante. É dito que os crentes devem se edificar reciprocamente. Isso significa que cada irmão deve retribuir com uma medida semelhante de edificação a edificação que recebe de outros. Em um relacionamento recíproco não há espaço para as ações isoladas e improdutivas. A reciprocidade, portanto, aplica-se a uma ação cuja execução e consequências devem ser partilhadas por todas as pessoas nela envolvidas. Em momento algum ela exclui um dos participantes da relação. Em meu estudo intitulado Sobre o conceito de amizade defini a reciprocidade como o relacionamento baseado na entrega e no recebimento constantes. 2. A importância da reciprocidade Leia Mateus 7, especialmente versículo 12 e considere a importância da reciprocidade. A reciprocidade é um princípio ético muito antigo. Este fato pode ser atestado pelo testemunho de muitos escritores. Já no século V a.C. Demócrito, filósofo grego, afirmava que uma pessoa deve receber favores com a intenção de corresponder com outros maiores.1 O princípio também foi defendido por Aristóteles. Em uma passagem de sua Ética a Nicômaco ele afirma que a forma mais perfeita de amizade é aquela em que cada um dos amigos recebe do outro o mesmo que dá.2 Pensamento semelhante é defendido por Cícero, filósofo romano, quando afirma em seu Diálogo sobre a amizade que, “em todas as coisas é preciso considerar o que podeis pedir a vosso amigo e o que podeis conceder-lhe”.3 Exemplos como esse poderiam se multiplicar, mas estes que foram alistados são suficientes para nossa discussão. A Bíblia define sua importância em Mateus 7.12, como regra para ajudar uns aos outros. Leia Efésios 4.25, Romanos 14.1–12, 1 Coríntios 6.1–11 e Mateus 23 e destaque qual deve ser a conduta de uns para com os outros conforme essas passagens. Quais lições podem ser destacadas e aplicadas quanto à reciprocidade? 1 DEMÓCRITO. Pré-socráticos I. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 136. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2001. p. 177. 3 CÍCERO. Diálogo sobre a amizade (e-book). Disponível em <http://www.ebookbrasil.com> Acesso em: 15 nov. 2007. p. 31. 2 – 10 – O fato do termo “reciprocidade” aparecer pouquíssimas vezes na Bíblia pode transmitir a falsa ideia de que esse princípio possui pouca relevância para a doutrina cristã. Essa tendência é completamente equivocada, pois, mesmo diante da escassez do vocábulo, o ensino sobre a reciprocidade é abundante na Bíblia, em especial, no Novo Testamento. Além disso, deve ser considerado que o ensinamento sobre a reciprocidade aparece em outros termos bem mais frequentes nas Sagradas Escrituras. Dentre eles, podemos destacar a comunhão e a sugestiva expressão “uns aos outros”, bastante repetida nas páginas do Novo Testamento. Isso confirma o valor desse princípio para a doutrina bíblica. 3. Bases para a reciprocidade 3.1. O homem é um ser social O que significa o ditado popular “nenhum homem é uma ilha”? Esta expressão enfatiza a natureza social do homem, a sua incapacidade de viver isoladamente. Aristóteles costumava afirmar que aquele que deseja viver sozinho ou é uma besta ou um deus. Para o pensador grego, as bestas, por conta de sua natureza feroz, não conseguem viver em grupo, já um deus, não precisa de ninguém porque é autossuficiente.4 O homem foi projetado por Deus com a capacidade de estabelecer relacionamentos pessoais com o seu semelhante. Tal capacidade é condição necessária para a sua realização na esfera humana. Isso quer dizer que é impossível ao homem encontrar a sua realização na solidão absoluta. É preciso a existência de um ser semelhante para que o homem encontre sua realização. Essa natureza social pode ser vista no primeiro homem. Ao ser criado Adão experimentou a solidão absoluta. Ele estava diante de uma infinidade de criaturas, no entanto, estava só, pois a sua solidão era a ausência de um ser semelhante a ele. Deus cria Eva porque reconhece que não é bom que o homem esteja só, não é bom que ele esteja entregue à solidão absoluta. Foi o próprio Deus que criou o homem como um ser social. Leia Provérbios 18.1 e Eclesiastes 4.9–12 e destaque o que Salomão apresenta sobre a dimensão social do homem. Salomão nos apresenta duas passagens bastante esclarecedoras sobre a dimensão social do homem. Uma em Provérbios e outra em Eclesiastes. No primeiro texto ele afirma que “o solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Provérbios 18.1). Conforme esse texto, é uma expressão de loucura contrariar a natureza social do homem, refugiando-se 4 ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martin Claret, 2001. p. 31. – 11 – na solidão. No texto de Eclesiastes, geralmente aplicado ao relacionamento conjugal, o sábio é ainda mais claro e convincente na defesa desse princípio. “É melhor serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu salário. Porque se caírem, um levanta o seu companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade” (Eclesiastes 4.9–12). A terceira dobra do cordão na metáfora de Salomão tem levantado discussões acaloradas. Os que aplicam o texto ao relacionamento conjugal costumam dizer que se trata do amor. Outros preferem dizer que o terceiro cordão seria Deus. Certamente, a presença de Deus e do amor é fundamental para o sucesso dos relacionamentos. Contudo, essas opções possuem uma base contextual bastante frágil. Claramente, Salomão está falando da reciprocidade. É o vínculo mútuo, a troca constante entre os companheiros que torna o relacionamento forte. Na medida em que um supre a carência do outro, o seu relacionamento estará mais apto para superar as adversidades. 3.2. O homem não é autossuficiente Você acha que a autossuficiência faz parte da essência dos seres criados? Leia Romanos 15.1–7. A autossuficiência não faz parte da essência dos seres criados. Isso faz com que eles se ajudem reciprocamente a fim de preservarem a sua espécie. As formigas nos apresentam uma excelente ilustração para essa verdade. Em um formigueiro esses pequeninos animais se revezam na realização do seu trabalho a fim de que um possa suprir a necessidade do outro. Algumas formigas se encarregam da defesa, outras da procriação e outras da provisão de alimentos. O trabalho que cada formiga realiza é importante para si e para as outras e ela mesma é beneficiada pelo trabalho das outras. Sendo o homem um desses seres criados, as limitações e finitude lhe são características. Esse fato torna indispensável o exercício da reciprocidade no relacionamento dos homens entre si. É porque, em suas limitações, os homens não se bastam a si mesmos que eles precisam ser complementados pelos outros. Dito de outro modo, é próprio dos seres finitos estabelecerem certas relações com a finalidade de que um supra a carência do outro. É somente no relacionamento com o outro que o homem se torna completo, pode alcançar a felicidade e a sua realização existencial. Se uma pessoa não é compensada com uma medida de recebimento semelhante à medida de entrega, o esgotamento será inevitável. O que está preparado para pedir que o outro leve sua carga também deve está pronto para aliviar a carga de outros. Qualquer um que não seguir esse princípio reivindica para si, equivocadamente, – 12 – uma condição divina, pois somente um ser não criado pode se considerar autossuficiente. Por fim, somente por meio da reciprocidade os finitos se completam. 3.3. O pecado afetou os relacionamentos humanos Leia Gênesis 3.8–11. Quais os resultados do pecado que encontramos nesses versículos? A comunhão com Deus foi interrompida pelo pecado (vv. 8, 10). Perceberam sua nudez e fugiram de Deus. Tiveram medo das consequências do pecado. Leia Gênesis 3.12–13. Quais os resultados imediatos do pecado no relacionamento de um para com o outro? Pense no relacionamento perfeito de Gênesis 2.18–24 e tudo o que foi perdido. No lugar de um relacionamento perfeito, um culpava o outro, destruindo a intimidade, a amizade e a união entre eles. Agora, existia competição, conflito e culpa. O homem culpava a Deus por ser Ele que colocou a mulher ao seu lado. Ninguém assumiu a responsabilidade pelo pecado, nem pediu perdão, mas se justificavam pelo erro colocando a culpa um no outro. Como a reciprocidade pode ajudar o homem afetado pela natureza pecaminosa? O homem foi criado para relacionar-se. Entretanto, não devemos deixar de notar que o pecado alterou catastroficamente os relacionamentos humanos. É reconhecendo esta alteração desastrosa que a Bíblia ocupa-se em apresentar princípios para nortear o relacionamento dos homens entre si. Nisto, percebe-se claramente o valor da reciprocidade. Considerando que o homem é pecador por natureza, em seu relacionamento com seu semelhante, ele é tendencioso ou ao extremo do egoísmo ou ao extremo da autoflagelação. A reciprocidade ajuda-o a evitar esses exageros, possibilitando-lhe relacionamentos mais equilibrados e saudáveis. Sem esse princípio, em virtude do pecado, a humanidade se autodestruiria em uma espécie de guerra de todos contra todos. Por meio da reciprocidade, mesmo afetado pela natureza pecaminosa, o homem é capaz de ver o valor e utilidade de seu semelhante. 3.4. O homem se complementa dando e recebendo Leia Mateus 7.12. Que relação há entre o dar e o receber? A doutrina cristã defende a existência de virtudes e regras morais elevadas. Um princípio fundamental, que às vezes é esquecido pelos estudiosos da Bíblia, consiste no fato de que o exercício das virtudes cristãs é aconselhado de forma recíproca. Amar uns aos outros, perdoar uns aos outros, consolar uns aos outros, honrar uns aos outros, levarem as cargas uns dos outros, só para alistar alguns exemplos. No sentido estritamente cristão, não – 13 – existe o homem virtuoso que o é apenas para si mesmo ou apenas para o outro isoladamente. Ele é sempre virtuoso em relação ao outro e o outro o é em relação a ele. A prática de qualquer virtude exige que se estabeleça entre eles uma relação constante de complementação. Tomemos como exemplo o amor, a virtude cristã por excelência. A letra do mandamento exige que o amor seja dado e recebido. Só o recebimento gera o egoísmo e só a entrega gera a autoflagelação, vícios tão contrários ao principal mandamento bíblico. 3.5. Cada homem regenerado é um membro do Corpo de Cristo Leia 1 Pedro 4.10. Por que o apóstolo Pedro nos exorta dizendo “cada crente deve administrar aos outros o seu próprio dom”? A figura do corpo é uma das metáforas mais profundas para a igreja no Novo Testamento. O funcionamento adequado do corpo exige o funcionamento de cada um dos membros que o compõem. No corpo de Cristo cada crente é um membro, possuindo, portanto, a sua utilidade. O dom que ele recebeu servirá para que ele exerça a sua função de membro e garanta o funcionamento adequado da igreja. A edificação integral é promovida pelo exercício e correspondência entre os vários dons. Em um corpo não existe membro sem utilidade. Do mesmo modo, não há um único membro que concentre em si todas as funções vitais do corpo. De forma análoga, não há na igreja de Cristo um crente sem dom, nem um crente que seja possuidor de todos os dons. Essa verdade assegura a importância da reciprocidade. A edificação promovida pelo exercício dos dons é mútua. Se um crente não tivesse dom, não poderia edificar. Por outro lado, se ele tivesse todos os dons, não precisaria ser edificado. Em certo sentido, cada crente é incompleto. Ele será completado pelo dom do outro, mas ele também dispõe da parte que completará outros. Acredito que é por conta disso que o apóstolo Pedro nos exorta dizendo que “cada crente deve administrar aos outros o seu próprio dom” (1 Pedro 4.10). Leia Efésios 4.25. Como o não falar a verdade afeta o corpo de Cristo? A mentira é o pior pecado que pode existir porque mina o alicerce de todo relacionamento, que é a confiança mútua. Somos membros uns dos outros. A mentira, então, é contra nós mesmos. A pessoa que mente ama a si mesma mais do que a outra. Usa uma máscara para fingir ser o que não é e, assim, evita a verdadeira identidade (veremos mais sobre esse tema na lição 15). – 14 – Colhendo os frutos De forma geral, a reciprocidade nos ajuda a vermos duas verdades sobre a nossa condição ou sobre a condição humana. Ela nos ensina, por um lado, que não somos autossuficientes e, por outro, a importância que o nosso semelhante tem para a nossa vida. Através dela nos deparamos com a nossa impotência e dignidade. Esse princípio aplica-se perfeitamente ao contexto da igreja. Deus criou o homem para se relacionar com seu próximo. A reciprocidade das virtudes é importante para que os relacionamentos humanos sejam equilibrados e saudáveis. A reciprocidade dos dons é importante para que cada crente exercite o dom que recebeu. Se cada crente é limitado, é lógico que cada um se complemente através do relacionamento com o outro. Devido à obra redentora de Cristo na cruz, há possibilidade de chegarmos ao ideal bíblico quanto ao cultivo da reciprocidade — 2 Coríntios 5.17. Como estou me relacionando com meu próximo? Estou utilizando meus dons conforme os recebi do Senhor? Que ajustes preciso fazer em minha vida para que meus relacionamentos evidenciem a obra de Cristo na cruz quanto ao dar e receber? Momento da oração Peça a Deus que lhe ajude a ver as verdades sobre sua condição e lhe faça entender a importância que a outra pessoa tem em sua vida. Trecho de “Cartas de um diabo a seu aprendiz”5 C. S. Lewis Querido Vermebile , Sim, o namoro é a época ideal para plantar aquelas sementes que daqui a dez anos darão os frutos do ódio doméstico. Podemos induzir os humanos a confundir as consequências do encanto produzido pelo desejo não satisfeito com os resultados da caridade. Aproveite-se da ambiguidade da palavra “Amor”: deixe-os pensar que foi por causa do Amor que resolveram seus problemas quando, na verdade, nada fizeram além de evitá-los e postergá-los, sob a influência do encantamento. Enquanto esse estado de coisas durar, você terá a chance de secretamente piorar os problemas e transformá-los em problemas crônicos. 6 5 LEWIS, C. S. Cartas de um diabo a seu aprendiz. São Paulo: Martins Fontes, 2005. pp. 132–137 Nota do Editor: Nesta carta, um demônio experiente, Fitafuso, ensina seu sobrinho Vermebile, um jovem e inexperiente demônio, a traçar armadilhas para os seres humanos. Portanto, pelo contexto, devemos entender as referências a “Nosso Pai” como Satanás, “Inimigo” como Deus etc. 6 – 15 – O grande empecilho é a “Abnegação”. Mais uma vez chamo a sua atenção para o admirável trabalho desenvolvido por nosso Departamento Filológico, ao substituir a Caridade positiva do Inimigo pela abnegação negativa. Graças a isso, você pode, desde o início, ensinar um homem a renunciar a coisas boas, não em nome da felicidade de terceiros, e sim para que ele possa ser altruísta ao renunciar a elas. Isso é uma grande vantagem. Outra coisa de grande ajuda, quando as partes envolvidas são um homem e uma mulher, é a divergência de opinião (obra nossa) que ambos possuem sobre a Abnegação. Para uma mulher, Abnegação significa, principalmente, preocupar-se com os outros; para um homem, significa não criar problemas para os outros. Consequentemente, uma mulher que já estiver num estágio avançado nos serviços prestados ao Inimigo será muito mais inconveniente e irritante do que qualquer homem, exceto aqueles que Nosso Pai já dominou completamente; e, por outro lado, um homem terá de passar ainda um bom tempo ao lado do Inimigo antes de agir espontaneamente para agradar aos outros do mesmo modo que uma mulher o faz em seu dia-a-dia. Assim, enquanto a mulher busca ser generosa e o homem busca respeitar os direitos alheios, cada sexo, sem nenhuma razão óbvia, passa a ver o outro como absurdamente egoísta. Você pode criar ainda mais confusões. O encanto erótico produz um sentimento de gentileza mútuo, através do qual cada um se sente realmente satisfeito ao ceder aos pedidos do outro. Eles também sabem que o Inimigo exige deles um certo grau de caridade que, se obtido, resultaria em atos semelhantes. Você deve fazer com que eles estabeleçam como regra para toda a vida de casados esse grau de autossacrifício mútuo, que no presente brota naturalmente do encanto, mas que, quando o encanto desaparecer, eles não terão como tornar realidade, pois não terão caridade suficiente. Eles não serão capazes de ver a armadilha, já que estão duplamente cegos: confundem o entusiasmo sexual com a caridade e pensam que esse entusiasmo irá durar. Quando um certo tipo de abnegação oficial ou legal já estiver estabelecido como regra — uma regra que já não pode ser mantida, porque os recursos emocionais de ambos feneceram e seus recursos espirituais ainda não amadureceram —, os resultados serão excelentes. Ao discutir qualquer ação conjunta, torna-se obrigatório que A discuta em favor dos supostos desejos de B e contra os seus próprios, enquanto B deve fazer o oposto. Em geral, é impossível saber quais os verdadeiros desejos de cada um; com sorte, eles terminarão por fazer algo que nenhum dos dois quer, enquanto cada um erroneamente se sente superior ao outro moralmente e nutre secretamente o desejo por um tratamento preferencial devido à abnegação que demonstrou possuir, além de guardar um rancor oculto pelo outro, por ele ter aceitado tão facilmente o seu sacrifício. Mais tarde você pode até arriscar aquilo que podemos chamar de Ilusão do Conflito Generoso. Esse é um jogo que funciona melhor com mais de duas pessoas, uma família com filhos já adultos, por exemplo. Alguém propõe algo bastante trivial, como tomar chá no jardim. Uma das pessoas faz questão de deixar bem claro (embora não com essas palavras) que prefere não tomar chá no jardim, mas está, é claro, disposta a ceder em nome do seu “altruísmo”. – 16 – Os outros instantaneamente desistem da proposta, aparentemente por causa do seu próprio “altruísmo”, mas na verdade porque não querem ser usados como um receptáculo onde a primeira pessoa despeja seus insignificantes rompantes de abnegação. Mas ela também não aceita ser dissuadida de sua orgia altruística. Ela insiste em fazer “o que os outros querem”. Os outros insistem em fazer o que ela quer. Logo os ânimos ficam acirrados. Logo alguém dirá: “Então, pronto, não vou tomar chá coisa nenhuma!”, e segue-se uma verdadeira briga cheia de ressentimentos de ambos os lados. Percebe como a coisa funciona? Se cada lado estivesse lutando abertamente por aquilo que realmente deseja, todos teriam permanecido dentro das fronteiras da razão e da gentileza; mas, precisamente porque a discórdia foi invertida e cada lado está lutando no lugar do outro, toda a amargura que flui no sentimento de superioridade moral frustrado, da teimosia e dos rancores acumulados ao longo dos anos acaba ficando oculta de todos por essa “abnegação” nominal ou oficial ou, no mínimo, usa a abnegação como desculpa. Portanto cada lado está bastante alerta à mesquinharia da Abnegação do adversário, bem como à falsa posição que ela os obriga a assumir; mas, ainda assim, cada um é capaz de pensar que não tem culpa de nada e que está sendo manipulado, com toda a desonestidade natural a um ser humano. Um homem bastante sensato certa vez disse: “Se as pessoas soubessem o quanto a Abnegação provoca mal-estar, poucos padres a recomendariam em seus sermões”; e também disse: “Ela é aquele tipo de mulher que vive para os outros — dá para notar pela expressão assustada que elas têm.” Você pode dar início a tudo isso no próprio período em que um corteja o outro. Um pouco de verdadeiro egoísmo da parte do seu paciente em geral é menos eficaz para assegurar a sua alma a longo prazo do que aquele egoísmo intrincado e constrangido que ele sente inicialmente, algo que um belo dia poderá transformar-se no que eu acabo de descrever. Você já pode começar a introduzir sorrateiramente um certo grau de falsidade de ambas as partes, um certo sentimento de surpresa se a moça nem sempre notar o quanto ele está sendo altruísta. Faça tudo isso e, acima de tudo, não deixe que os jovens tolos percebam. Se perceberem, estarão prestes a descobrir que o “Amor” não é o bastante, que é necessário ter uma caridade que ainda não possuem, e que nenhuma lei externa pode ocupar o seu lugar. Eu só queria que Cafoníleo fizesse alguma coisa para sabotar o senso de ridículo da jovem. Afetuosamente, seu tio, FITAFUSO – 17 – FOLHA DE DADOS PESSOAIS Bem-vindos a série de estudos “Cultivando a Reciprocidade”. Meu desejo como professor é que Deus fale aos nossos corações através das lições que vamos estudar. Também, gostaria que cada aluno preenchesse essa folha de dados para que possamos nos conhecer melhor. Nome: ______________________________________________________ Data de Nascimento: _____/_____/_____ Profissão: ___________________________________________________ Endereço: ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Telefones: ___________________________________________________ E-mail: _____________________________________________________ Qualquer outra informação que gostaria de compartilhar: ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Por que você escolheu esse assunto? ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________