CONHECENDO MELHOR O SEU CÉREBRO
Não pode tratar o derrame cerebral só porque o
paciente tem mais de 80 anos?
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POR DR. RICARDO A. TEIXEIRA
O
derrame cerebral ou acidente vascular
cerebral (AVC) é a segunda maior causa de
morte e a primeira causa de incapacidade física
permanente no mundo. Os AVCs de etiologia
isquêmica (AVCi) representam 70 a 80% dos
casos, e portanto, são os principais alvos para
o desenvolvimento de terapêuticas que visem
a redução da mortalidade e incapacidade física
decorrentes das doenças cerebrovasculares.
Como o AVCi decorre da obstrução de um vaso
arterial cerebral, a melhor estratégia para
alcançar um tratamento eficaz é a busca de
métodos que permitam a desobstrução desta
artéria antes que haja um grau de lesão cerebral
irreversível. Desde a década de 1950 que isso
vem sendo tentado, mas foi só no ano de 1995
no caso de pacientes com mais de 80 anos.
que tivemos os resultados do primeiro estudo
Nessa idade, é de se esperar que o prognóstico
que mudou para valer a história do tratamento
não seja tão bom quanto o de pacientes mais
do AVCi na sua fase aguda. Tínhamos então a
jovens. Entretanto, as pesquisas apontam cada
primeira forte evidência de que o uso de uma
vez mais que as complicações do tratamento,
medicação por via endovenosa nas primeiras
especialmente sangramento cerebral, não são
três horas do início dos sintomas era capaz de
maiores entre os octogenários.
salvar vidas e reduzir a chance de seqüelas.
Nesse primeiro estudo, foram excluídos
No caso de pacientes com mais de 80 anos,
pacientes com mais de 80 anos.
a indicação de qualquer tratamento sempre
deve se feita de forma mais criteriosa. Isso não
Muita coisa evoluiu nesses últimos 15 anos.
quer dizer que devam ser privados, somente
Vários outros estudos foram realizados
pelo fator idade, da chance de receber um
confirmando a eficácia do tratamento inclusive
tratamento que pode mudar radicalmente o
CONHECENDO MELHOR O SEU CÉREBRO
curso de suas vidas. Essa é a posição do Pacto
AVC, projeto brasileiro para organização do
atendimento emergencial do AVC e que tem
apoio da Sociedade Brasileira de Doenças
Cerebrovasculares. Essa também é a posição
das recentes publicações da American Heart
Association sobre o assunto.
Não custa lembrar que metade dos pacientes
que sofrem um AVC tem mais de 75 anos e um
terço deles já tem mais de 80.
* Este artigo é um alerta aos médicos que
atuam nas emergências assim como uma
homenagem a um paciente muito querido que
não recebeu o tratamento trombolítico, já que
tinha 84 anos. Não pude ajudar, pois estava
fora do país no dia do AVC.
Jul 2011
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