Eduardo Athayde: ONU na Floresta de Chocolate da
Bahia
29/11/2013 07:35:00
Eduardo Athayde*
Floresta de Chocolate foi o nome cunhado pelo WWI-Worldwatch Institute para exibir
internacionalmente a região cacaueira da Bahia, plantada na megadiversa e ameaçada Mata
Atlântica. Rica, esquecida, mal percebida e única no mundo, produz cerca de 4% do cacau do
planeta, sediando recordes mundiais em biodiversidade, registrados pelo Jardim Botânico de Nova
York, e produz chocolate em estado natural (semente do cacau seca) guloseima cara e altamente
nutritiva, hoje muito consumida na Europa, EUA e Japão.
A Organização Internacional do Cacau – ICCO, que classifica o Brasil em sexto lugar no ranking
dos países produtores, não o destaca como deveria, no primeiro lugar como maior produtor de
cacau em ambiente de alta biodiversidade, chamando atenção dos amantes do chocolate e dos
fundos verdes. Como será que o ICCO se manifestará agora com a força da economia verde
jorrando dinheiro novo nas florestas produtoras de cacau/chocolate?
O Fundo Verde para o Clima, aprovado pela COP-19 (19ª Conferência das Partes da Convenção da
ONU sobre Mudança do Clima), encerrada em 22/11, em Varsóvia, poderá destinar bilhões de
dólares para projetos em países em desenvolvimento, onde a Bahia é destaque (não mostrado)
com a sua Floresta de Chocolate. O acordo prevê financiamento de Redução de Emissões por
Desmatamento e Degradação de Florestas (Redd), abrindo novos caminhos para investimentos
multibilionários de governos, órgãos de fomento e
empresas privadas para deter o desmatamento.
Recente estudo piloto da mineradora Vale levantou o valor dos serviços ambientais de uma reserva
florestal de 230 km² na pequena zona cacaueira do Espírito Santo. Espécies, estoque de carbono,
fornecimento de água, regulação do ar e do clima, entre outros, foram precificados, revelando o
valor do ativo para a Vale e para a sociedade. Desenvolvido por um grupo multidisciplinar de
profissionais do Brasil, EUA e Espanha, envolvendo o IBGE, a Universidade de Berkeley e
cientistas do IPCC/ONU encarregados de mudanças climáticas.
US$1 bilhão foi o valor final encontrado. Se apenas 230 km² de floresta vale um bilhão de dólares,
quanto vale a Floresta de Chocolate da Bahia com 90 mil km², 89 municípios e suas ricas,
deliciosas e turísticas ‘Fazendas de Chocolate’, recheadas desses valiosos ativos ambientais?
Governos estão investindo em programas de incentivo à rotulagem ambiental, levando o mercado
consumidor a privilegiar os produtos com cuidados ambientais. O governo alemão lançou o
programa de rotulagem ambiental, chamado de Blue Engel, para estimular a ecoeficiência nas
empresas. O Canadá lançou o Environmental Choice, logo seguido pelo Japão, com o Ecomark,
pela Noruega, Suécia e Finlândia, com o Nordic Swan, e pelos EUA, com o Green Seal. Hoje
dezenas de países conduzem programas de rotulagem ambiental, formando o GEN (Global
Ecolabelling Network). Sem ecorotulagem, as ricas matas chocolateiras da Bahia são
comoditizadas e sangradas pela mão invisível do mercado sob forma de sacas de cacau, cheias de
riqueza e ignorância.
Organizações como a SOS Mata Atlântica, Instituto Arapyaú, Instituto Cabruca e Floresta Viva
ajudam a romper a casca do casulo que brota do ultrapassado conceito de ‘região cacaueira’ e a
bater asas rumo a nova equação ‘eco-nômica’.
Os novos chocolateiros da Mata Atlântica estão descobrindo que as matas das ‘Fazendas de
Chocolate’ são uma nova grife cobiçada pelo mercado internacional e entender que, na economia
verde, a preservação funciona como uma poupança renovável de ativos geradores de rendas ‘in
natura’.
Descobriram ainda que o verdadeiro chocolate e seus derivados têm alto teor de cacau e, além de
nutritivos, podem ser produzidos localmente e vendidos mais caro - com denominação de origem
controlada - por embutir o valor da biodiversidade preservada.
* Eduardo Athayde é diretor do WWI Brasil e da Associação Comercial da Bahia.
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