DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS – DESER
SECRETARIA DE AGRICULTURA FAMILIAR/ MDA
(Convênio MDA 112/2006)
A CADEIA PRODUTIVA DO MEL
Curitiba, Novembro de 2008
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS RURAIS
Monitoramento da Conjuntura de Mercado das Principais Cadeias Produtivas Brasileiras.
(CONVÊNIO MDA Nº. 112/2006)
DIRETORIA
EQUIPE INTERNA
Presidente:
Luis Pirin – STR – Francisco Beltrão - PR
Alvori Cristo dos Santos
Área: Produção Familiar e Mercado, Redes e
Sistemas
Amadeu Antonio Bonato
Área: Políticas Públicas, Redes e Sistemas,
Desenvolvimento Institucional.
Denilson Pasin
Área: Desenvolvimento Institucional.
Ézio Gomes
Área: Produção Familiar e Mercado.
Gerson Ferreira Lima
Área: Desenvolvimento Institucional.
Ivone Pereira Ataíde
Área: Desenvolvimento Institucional.
João Carlos Sampaio Torrens
Área: Políticas Públicas, Redes e
Sistemas.
Marcos Antonio de Oliveira
Área: Produção Familiar e Mercado.
Moema Hofstaetter
Área: Desenvolvimento Institucional.
Thiago de Angelis
Área: Produção Familiar e Mercado.
.
Vice-Presidente:
Cláudio Risson – Cresol Central/SC e RS
1º Secretária:
Sandra Nespolo Bergamin – Fetraf - Sul/CUT
2º Secretário:
Marcio Luiz Cassel – STR de Sarandi/RS
1ºTesoureiro:
Genês da Fonseca Rosa - Cresol Chapecó/SC
2ºTesoureiro:
Ademir Luiz Dallazen - UNICAFES/PR
Membros Efetivos:
Avelino Callegari - ASSESOAR/PR
Valdir Zembruski - STR de Xanxerê e Região/SC
Gervásio Plucinski - COORLAC/RS
Augusto V. Pinto - STR de Mallet/PR
Bernardo Vergapolem - Ecoaraucária/PR
Severine Carmem Macedo - Fetraf Brasil/CUT
Membros Suplentes:
Rinaldo Segalin - Ascooper/SC
Denise Knereck - SINTRAF de Laranjeiras do Sul/PR
Adir Fiorese - Cresol-Baser/PR
Conselho Fiscal Efetivo:
Celso Prando - STR Sananduva/RS
Manoel Cardozo - Sintraf Itaperuçu/PR
Vera Lucia Cecchin Dapont - STR Marmeleiro/PR
EQUIPE TÉCNICA:
Marcos A. Oliveira, Thiago de Angelis
DESER – Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais
Endereço: Rua Ubaldino do Amaral, 374 - Alto da Glória
80060-90 - Curitiba - PR
Tel: (41) 3262-1842 - Fax: (41) 3362-3679
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A CADEIA PRODUTIVA DO MEL
Sumário
1.
Introdução...................................................................................................... 1
2.
Distribuição no Brasil e Estados ................................................................... 1
3.
Tipologia dos apicultores .............................................................................. 5
4.
O acesso assistência técnica, crédito e relações com comerciais ................. 9
5.
Comercialização .......................................................................................... 14
6.
Associativismo e cooperativismo................................................................ 15
7.
Principais problemas da cadeia de produção .............................................. 17
8.
Contatos....................................................................................................... 18
1. Introdução
A cada ano a apicultura contribui com a renda de pelo menos 15 mil agricultores
familiares no Brasil. Por isso, contribui ativamente para a geração de renda e trabalho,
atuando direta e indiretamente na geração de empregos, seja, diretamente nos apiários, na
produção de equipamentos e no manejo de produtos e serviços como nos seus produtos
relacionados ao mel, cera, própolis, geléia real e polinização de inúmeras culturas de
importância econômica.
O presente estudo tem como finalidade levantar os grandes números da produção,
consumo, exportações e comercialização de mel no Brasil, especialmente nas regiões de forte
participação da na agricultura familiar. Com isto visa, também, definir a função e as formas
atuais de inserção da agricultura familiar nesta cadeia, elemento importante para a tomada de
decisões pelo agente público, seja no planejamento, seja mesmo na tomada de ações
referentes à política pública.
2. Distribuição no Brasil e Estados
A apicultura no Brasil vem, nos últimos anos, demonstrando um elevado aumento
em seus volumes produzidos. Em 1990, a produção brasileira de mel apresentava uma
produção de 16,18 mil toneladas e em 2006 superou as 36 mil toneladas, numa evolução de
quase 124% em dezesseis anos.
Uma rápida analise por região aponta os estados da região Sul (Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná) como historicamente líderes da produção Brasileira de mel com um
volume em 2006 acima das 16,4 mil toneladas de mel produzidas, 58% acima do produzido
em 1990. Apesar da maior produção bruta ainda estar na Região Sul, esta apresenta o menores
índices de crescimento relativo à outras Regiões brasileiras e à produção total do país, o que
pode indicar uma aproximação a estabilidade da produção, apesar desta ter voltado a
apresentar aumentos sensíveis a partir de 2003.
Entre os anos de 1990 até 2002 os Estados da região Sudeste se mantiveram no
segundo lugar na produção nacional, com volumes de produção superiores as 5 mil toneladas.
Os seus índices de crescimento da região Sudeste foram expressivos do início de 1990 a 1995.
Por outro lado, nos anos de 1997/98 às produções caíram com uma suave retomada, a partir
de 1999. Entre 2002 e 2004 esta novamente apresentou aumentos significativos, mas voltou a
recuar novamente em 2005 e 2006.
1
Com isto, a segunda maior Região produtora de mel no Brasil, a partir de 2003, é
Região Nordeste. Esta Região, tomando como referência o ano de 1990, apresenta uma
instabilidade na produção com a última queda registrada no ano de 1998. Desde então, o
Nordeste sestuplicou seu volume de produção em relação à média 1990/91. A região
Nordeste, a partir de 2002, se destaca pelo salto na produção de mel e desta maneira supera o
Sudeste na sua participação na produção nacional, produzindo atualmente mais de 12 mil
toneladas de mel. No período compreendido entre 1990 e 2006, foi aquela em que a produção
mais aumentou, chegando a uma evolução relativa no período de 579%.
A região Centro-Oeste, também, reflete os aumentos com uma característica estável
na sua produção e praticamente aumenta em todo o período analisado, alcançando
recentemente uma produção acima das 1,1 mil toneladas.
Já a Região Norte apresenta índices de crescimento da produção de mel interessantes,
embora com volumes de produção brutos que representem somente menos de 2 % da
produção nacional. Assim, supera os patamares de produção do triênio 1996/97/98 e,
atualmente, mais do que setuplica a sua produção com relação aos anos de 1990/91
aproximando-se das produções do Centro-oeste.
Mel: Produção no Brasil por Macrorregião Geográfica (1990 a 2006)
Ano
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Var. (%)
Sul
Regiões
Nordeste
Sudeste
Norte
Índice
Volume (t)
Índice
Volume (t)
10.355
12.314
12.504
11.975
10.108
10.198
12.894
11.290
11.399
11.870
12.670
12.746
12.277
15.357
109
110
106
89
90
114
100
101
105
112
112
108
135
3.567
3.825
4.300
4.730
4.860
5.020
4.842
4.234
4.127
4.291
4.514
4.686
5.101
5.333
103
116
128
131
136
131
115
112
116
122
127
138
144
1.782
1.975
1.478
951
1.782
2.133
2.748
2.799
2.082
2.795
3.748
3.800
5.562
7.967
105
79
51
95
114
146
149
111
149
200
202
296
424
407
432
420
493
526
521
539
582
550
610
632
671
683
852
103
100
117
125
124
128
139
131
145
151
160
163
203
70
122
139
219
239
250
150
157
150
185
302
318
371
510
127
145
229
250
261
157
164
157
194
315
332
388
728
16.181
18.668
18.841
18.367
17.514
18.123
21.173
19.062
18.308
19.751
21.865
22.220
23.995
30.022
15.266
147
152
5.187
145
138
10.401
584
552
917
225
254
517
739
534
32.290
33.750
483
383
36.194
124
158
58
5.272
5.805
63
135
35
10.911
12.103
579
819
719
1.097
1.189
192
Índice Volume (t)
Brasil
Volume (t)
15.816
16.422
59
Índice Volume (t)
Centro-Oeste
283
183
652
672
860
Índice
Fonte: IBGE (Pesquisa Pecuária Municipal)
Assim,verifica-se o aumento da participação das Regiões Nordeste e Centro-Oeste na
produção brasileira de mel e o recuo na participação da produção de Regiões mais
tradicionais, como as Regiões Sul e Sudeste. Atualmente, a Região Sul ainda é a que tem
2
maior participação, mas em 2006 de somente 45% da produção total do Brasil, contra quase
64% em 1990. Já a Região Nordeste, atualmente a segunda maior região produtora, conta com
uma participação atual de 33%, contra somente 11% de 1990. Com isto, vislumbra-se a
possibilidade de, num futuro próximo, dividir a liderança da produção brasileira de mel com a
Região Sul.
Mel: Participação Regional na produção brasileira (em %)
Ano
Sul
Sudeste Nordeste C. Oeste
Norte
1990
63,99
22,04
11,01
2,52
0,43
1991
65,96
20,49
10,58
2,31
0,65
1992
66,37
22,82
7,84
2,23
0,74
1993
65,20
25,75
5,18
2,68
1,19
1994
57,71
27,75
10,17
3,00
1,36
1995
56,27
27,70
11,77
2,87
1,38
1996
60,90
22,87
12,98
2,55
0,71
1997
59,23
22,21
14,68
3,05
0,82
1998
62,26
22,54
11,37
3,00
0,82
1999
60,10
21,73
14,15
3,09
0,94
2000
57,95
20,64
17,14
2,89
1,38
2001
57,36
21,09
17,10
3,02
1,43
2002
51,16
21,26
23,18
2,85
1,55
2003
51,15
17,76
26,54
2,84
1,70
2004
47,28
16,06
32,21
2,84
1,60
2005
46,86
15,62
32,33
3,25
1,93
2006
45,37
16,04
33,44
3,29
1,86
Fonte: IBGE (Pesquisa Pecuária Municipal)
Já as produções por Estado, demonstram a constância do Rio Grande do Sul na
liderança e a ascensão do Paraná no ranking brasileiro, este o atual segundo maior produtor
nacional. No Nordeste destacam-se o Piauí, Maranhão, Ceará, Bahia, Pernambuco e Rio
Grande do Norte, onde as produções aumentam significativamente, demonstrando a relativa
distribuição do crescimento entre os Estados nordestinos.
No sudoeste se destaca a queda em índices relativos de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O Espírito Santo apresenta índices de crescimento interessantes na produção mas, abaixo da
média nacional.
No Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul liderada entre os Estados produtores, mas
apresenta índices de crescimento abaixo da média nacional.
3
Em relação à produção total, no Brasil esta aumentou 66%, desde 1990, sendo 21%
somente a partir de 2003, o que demonstra a importância desta produção na obtenção de renda
para os agricultores, especialmente os familiares.
Mel: Produção brasileira e nos principais Estados produtores- em t.
Ano
Estados
Variações (%)
2000 (a)
2003 (b)
2006 ©
b/c
a/c
Rio Grande do Sul
5.815
6.778
7.820
15
34
Santa Catarina
3.984
4.511
3.990
-12
0
Paraná
2.871
4.068
4.612
13
61
Piauí
1.863
3.146
4.196
33
125
São Paulo
1.830
2.454
2.542
4
39
Minas Gerais
2.101
2.194
2.482
13
18
Ceará
655
1.896
3.053
61
366
Bahia
521
1.419
2.047
44
293
Pernambuco
344
653
1.162
78
237
Mato Grosso do Sul
303
408
485
19
60
Rio de Janeiro
406
375
378
1
-7
Rio Grande do Norte
171
373
585
57
242
Espírito Santo
177
313
403
29
128
Maranhão
133
286
559
95
322
Mato Grosso
192
241
365
51
91
Outros
501
908
1.515
67
203
Brasil
21.865
30.022
36.194
21
66
Fonte: IBGE (Pesquisa Pecuária Municipal)
Em termos municipais, os principais produtores ou localizam-se no Sul ou Nordeste
brasileiro. Em 2006, o maior município produtor foi Ortigueira, no Paraná, seguido por Picos
e Itainópolis, ambos no Piauí. Destacam-se, ainda, Santana do Livramento, no Rio Grande do
Sul, São Carlos, em São Paulo e Santa do Cariri e Limoeiro do Norte, ambos no Ceará.
Somente Picos, no Piauí, e Ortigueira, no Paraná, produzem quase 20% de toda produção
brasileira de mel.
4
Mel: Produção nos principais municípios produtores
Município
Estado
Ortigueira
Picos
Itainópolis
Araripina - PE
Santana do Livramento
Santana do Cariri
Limoeiro do Norte
São Carlos
São João do Triunfo
Cambará do Sul
Ribeira do Pombal
Santiago
Campo Grande do Piauí
Cruz Machado
Paraná
Piauí
Piauí
Pernambuco
R. G. do Sul
Ceará
Ceará
São Paulo
Paraná
R. G. do Sul
Bahia
R. G. do Sul
Piauí
Paraná
Volume (t)
560,0
525,3
405,3
378,0
363,0
357,1
336,0
315,0
280,7
260,9
230,0
214,5
211,9
209,0
Part. (%)
Produção
Brasileira
1,55
1,45
1,12
1,04
1,00
0,99
0,93
0,87
0,78
0,72
0,64
0,59
0,59
0,58
Fonte: IBGE (Pesquisa Pecuária Municipal)
3. Tipologia dos apicultores
A apicultura está presente em todos os estados do Brasil. Desta maneira, qualquer
tentativa de fazer uma breve descrição das diferentes tipologias dos apicultores existentes no
país corre o risco de ser muito simplificador. Ademais, para tornar mais difícil a análise, há
uma carência de dados oficiais com respeito à atividade primária, além da dificuldade de
identificação dos atores indiretos ligados à cadeia apícola nos municípios brasileiros.
Em relação aos estabelecimentos e agricultores, os últimos dados oficiais remetem ao
Censo Agropecuário de 1995/96, haja vista que os dados para a apicultura levantados nos
Censo Agropecuário 2005/06 ainda não foram divulgados. Em 1995/96, de acordo com
aquele Censo, havia no Brasil aproximadamente de 173 mil estabelecimentos que atuavam na
atividade apícola. Desta maneira, partindo-se de uma simples projeção destes dados, a partir
do aumento do comportamento do volume produzido, já acima descrito, pode-se dizer que a
apicultura brasileira conta atualmente com algo entre 250 e 300 mil apicultores com uma
produção anual estimada entre 30.000 a 40.000 toneladas de mel. Desta forma, a
produtividade média anual é de aproximadamente 15 Kg/colméia..
5
Mel: Número de estabelecimentos agrícolas produtores.
Posição
Proprietário
Arrendatário
Parceiro
Ocupante
Total
Número de
estabelecimentos
146.010
4.693
7.012
14.773
172.488
Número de
colméias
1.395.588
63.294
45.472
135.103
1.639.457
Produção de
Mel (t)
14.759
1.191
468
2.032
18.450
Fonte: IBGE Censo Agropecuário 1995/96
Buscou-se demarcar os dados secundários nas regiões produtoras de mel e de
concentração de produtores familiares. Isto decorre do dato de que os dados secundários têm
validade apenas local, principalmente quando se admite que a cadeia apresenta uma complexa
rede de relações. Parte-se, portanto, da identificação das características ambientais,
econômicas, institucionais, sociais e culturais da cadeia, além de buscar aprofundar o grau de
articulação dos diferentes sistemas de produção, manejo de pós-colheita, processamento,
comercialização e distribuição, assim como os tipos e qualidade de relações existente entre
eles.
Desta forma, analisam-se primeiramente características que são comuns a todos os
Estados e após traça-se comentários sobre situações especificas de cada região.
A atividade apícola caracteriza-se fundamentalmente por ser uma atividade de
pequena e média escala associada a proprietários, arrendatários e/ou parceiros que se
estruturam em torno de pequenas unidades agrárias onde o trabalho praticado é
predominantemente familiar.
Com base nesta caracterização geral distinguem-se os apicultores familiares pelo
número de colméias que manejam. Numa breve classificação, se pode encontrar grupos que
facilitam o entendimento das discussões deste estudo.
a) Apicultores com 1 a 50 colméias:
Correspondem a apicultores que estão começando na atividade, podem variar desde
simplesmente um passatempo, uma complementação de renda até uma característica
comercial. Caracterizam-se pela dedicação parcial a atividade, pelos pequenos volumes de
mel onde os investimentos dirigidos à atividade, nos primeiros anos, direcionam o futuro de
uma atividade de maior escala.
b) Apicultores com 51 a 200 colméias:
6
Correspondem a apicultores em fase de crescimento, em sua maioria com
características essencialmente familiares. Essa escala ainda apresenta uma baixa exigência em
infra-estrutura, mas qualquer seu limite para o crescimento se encontra associada a
investimentos em infra-estrutura. De maneira geral os serviços de extração do mel estão
vinculados a associações ou terceirizada.
c) Apicultores com 201 a 500 colméias:
Correspondem a apicultores que já adquiriram uma certa experiência na atividade e
apresentam fortes características de crescimento. Caracterizam-se pela transição gradual da
dedicação parcial à dedicação exclusiva a atividade, em vários casos com a incorporação de
trabalho temporário. A apicultura migratória começa representar uma característica da
atividade, principalmente no nordeste.
d) Apicultores com 501 a 700 colméias:
Correspondem a apicultores que alcançaram uma certa profissionalização com
volumes importantes de mel. Caracterizam-se pela maior incorporação de trabalho assalariado
e começam a apresentar características de buscar soluções próprias de extração do mel.
e) Apicultores com mais de 700 colméias:
Correspondem a apicultores que alcançaram uma escala importante e na sua grande
maioria utilizam o trabalho assalariado permanente. A infra-estrutura adquire normalmente
uma característica de PME onde o transporte adquire uma importância estratégica para
ampliação da atividade.
A grande maioria dos apicultores familiares brasileiros se encaixa no estrato que
apresenta um número de 0 a 50 colméias por apicultor. Uma das razões para que o número de
apicultores se encaixe neste estrato se deve a que nos últimos 10 anos o número de apicultores
no Brasil praticamente dobrou, e portanto é natural que os considerados “novos apicultores”
comecem a manejar seus apiários com um pequeno número de colméias. Outro elemento
ligado ao maior ou menor número de colméias está relacionada à relação quanto maior a
quantidade de colméias próprias, maior a tendência de o apicultor ter como principal fonte de
renda a apicultura. O contrário também é verdadeiro, ou seja, quanto menor a quantidade de
colméias do produtor, menor a chance de ele ter como principal fonte de renda a apicultura.
7
Neste mesmo sentido é natural que o número de colméias tenda a aumentar à medida
que o apicultor adquira maior experiência e comece a demandar uma série de serviços
relacionados à produção e comercialização. Os serviços demandados pelos apicultores de
baixa escala de produção são relativamente baixos quando comparados a apicultores de maior
escala.
Vários estudos realizados tanto pela Embrapa Meio-Norte e Embrapa Pantanal
quanto pelo SEBRAE nos diferentes Estados brasileiros (AL, BA, CE, DF, GO, MA, MG,
MS, MT, PA, PB, PI, PR, RN, RO, RR, SC, SE, TO) destacam claramente a diferenciação
entre os apicultores iniciantes e os apicultores mais experientes, principalmente na produção
média de mel/colméia/ano. A Embrapa Meio-Norte realizou no ano 2000 um Estudo da
Cadeia Produtiva do Mel onde apontou que no Piauí cerca de 70% dos produtores possuíam
entre 4 e 100 colméias, enquanto que apenas 1,32 % possuíam número superior a mil
colméias, sendo estes considerados grandes produtores. Isto confirma a ampla participação de
agricultores familiares na produção de mel. Apesar de terem ocorrido mudanças nesse
panorama nos últimos anos a predominância, ainda é, de agricultores familiares (com menos
de 100 colméias) na atividade.
Este quadro também é observado na maioria dos Estados do Nordeste. A grande
maioria dos apicultores trabalha com colméias fixas (onde as colméias permanecem na
mesma área durante todo o ano), com produtividade média em torno de 20Kg/colméia/ano,
que é considerada baixa para a atividade. A apicultura migratória é adotada por menos de
20% dos apicultores, conseguindo produtividades relativamente mais altas, em torno de
40Kg/colméia/ano, a partir da pesquisa de campo.
O aumento da demanda por serviços com o aumento do número de colméias são
fatores importantes para se entender os fatores relacionados à diferenciação entre apicultores.
Esses elementos variam amplamente entre Estados e mesmo dentro destes. Os fatores
vão desde o potencial da flora apícola e os recursos associados aos sistemas agroecológicos, a
infra-estrutura de estradas e caminhos, a oferta de serviços e equipamentos, o acesso ao
crédito, assistência técnica e tecnologias, a cultura apícola da região e a demanda dos centros
consumidores.
Um dos principais destes fatores é a cultura apícola. Tradicionalmente alguns
Estados desenvolveram conhecimentos e habilidades relacionadas com as abelhas, o mel e a
fabricação de outros produtos apícolas. Por exemplo, a polinização de culturas de importância
econômica nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul estimularam a produção de
8
pólen e uma série de serviços relacionados. Naturalmente que os ativos fixos, ou seja, tudo
que seja relativo à infra-estrutura (transporte, água, energia elétrica, estradas e caminhos,
sistemas de comunicação, instalações) e os equipamentos de produção que permitam aos
apicultores desenvolver a atividade, também, promovem a diferenciação entre os apicultores.
Desta maneira, os aspectos relacionados à cultura apícola desenvolve a geração de outras
fontes de trabalho e renda para outras pessoas. Assim, todo equipamento, quando fabricado e
reparado localmente soma valor à subsistência de muitos setores diferentes dentro de uma
comunidade ou região: comerciantes, carpinteiros (fabricando colméias e suportes);
costureiras (fazendo véus, roupa, luvas); fabricantes e vendedores de equipamentos e
embalagens.
Por outro lado, mesmo que a apicultura se desenvolva em uma determinada região
reconhecida como tradicionalmente apícola isso por si só não lhe garante que a atividade
tenha bons rendimentos e possa ser fator de desenvolvimento local. A Região Nordeste da
Bahia, que inclui parte do Norte do Estado, englobando os municípios da Ribeira do Pombal,
Nova Soure, Inhambupe, Sátiro Dias, Araci, Tucano, Jeremoabo e Paulo Afonso, possui uma
experiência de quase três décadas na apicultura, entretanto, somente se tornou a região mais
produtiva do Estado após os trabalhos do Sebrae/BA e extensão oficial estadual naquela
região.
Em relação ao potencial da flora apícola, pode-se observar que este fator, também,
promove a diferenciação dos apicultores. O Semi-árido Nordestino é única região brasileira
que apresenta uma limitação à expansão de uma apicultura em grande escala em virtude da
restrição hídrica, que limita as tentativas do apicultor familiar dedicar-se exclusivamente a
atividade apícola. Essa limitação não tem impedido a Região do Semi-árido Nordestino de
desenvolver alternativas criativas de ampliação da atividade apícola, principalmente em
formas associativas. Ao mesmo tempo, nesta Região existem pólos de irrigação associados à
fruticultura, propícios à manutenção de uma apicultura mais estável na sua produção.
4. O acesso assistência técnica, crédito e relações com comerciais
Neste estudo, utilizou-se de uma combinação de dados quantitativos com elementos
qualitativos, concretizados a partir de métodos de coleta de informações, como de entrevistas
telefônicas, análise dos documentos, acompanhamento das atividades dos entrevistados e pela
aplicação do Método de Estudo de Caso. Desta forma, e assumindo caráter aglutinador de
9
diferentes métodos de coleta de informação, identificou uma relação diretamente proporcional
entre o acesso à assistência técnica e crédito com regiões altamente produtoras de mel.
Dada a crise atual da assistência técnica governamental, não haveria porque ser
diferente com relação à atividade apícola, o que explica algumas diferenças de estágios de
organização desta atividade em algumas regiões brasileiras.
Há características que destacam alguns elementos que diferenciam a apicultura de
outras atividades, principalmente, por sua facilidade em promover a ação coletiva.
Normalmente a apicultura começa como uma atividade informal, familiar e secundaria e à
medida que se intensifica a necessidade de acesso à informações, a simples serviços, à
tecnologias e à novas possibilidades de comercialização, pressionam o apicultor a buscar
soluções coletivas. Um dos exemplos vem de um conjunto de comunidades localizadas em
Simplício Mendes no Piauí. A iniciativa da constituição das comunidades de produtores e da
formação de uma associação e construção de um entreposto para comercialização de mel não
parte do governo nem de um grupo de empresários, mas de um padre, líder de paróquia e das
próprias comunidades que se reuniam em torno das celebrações e das atividades promovidas
pela Igreja Católica da Diocese de Floriano (PI). No caso desta experiência, um conjunto de
normas de confiança mútua, às redes de cooperação, aos mecanismos de sanção e às regras de
comportamento de elementos que lhe garante o sucesso seja melhorando o desempenho da
sociedade na solução de problemas que exigem a ação coletiva. No mesmo Estado, destaca-se
também a experiências das cooperativas de produtores apícolas de Picos, que produzem
volume expressivo de mel que atualmente ganha o mercado interno dentro dos mecanismos
do comércio justo.
No Rio Grande do Norte, a Rede Abelha que se fundamentada em atividades sociais
em redes de cooperação horizontais e no fortalecimento das relações de confiança, na lógica
de que é possível melhorar de vida trabalhando coletivamente e relacionando-se com a terra,
mesmo numa região onde predomina o Semi-árido. O temp de execução de cada uma das
etapas certamente é um dos elementos explicativos do sucesso da experiência. Nesta, não se
tratou de tempo subordinado à lógica do capital, nem à lógica política ou institucional, mas de
um tempo próprio da comunidade e de seu povo, ou seja, construir princípios de
solidariedade. Os resultados são palpáveis: melhoria da qualidade de vida, medida pela
aquisição de bens de consumo durável, melhora da auto-estima, aumento da exigência da
qualidade de produtos na condição de consumidor, consciência da necessidade de negociar e
se reunir para organizar os esforços coletivos, e do ponto de vista mais mercadológico,
abertura e conquista de mercados internacionais por meio do Mercado Solidário.
10
As formas auto-organizativas têm auxiliado a melhorar o relacionamento com
estruturas de assistência técnica tanto pública (estado e municípios) quanto com outros tipos
não governamentais (ONGs, Sindicatos e movimentos sociais). Ao mesmo tempo, esse tipo
de forma organizativa (maioria pequenas associações) apresenta vantagens de intercambio de
informações, experiências e comunicação com as relações de comercialização tanto
diretamente com o comercio local quanto com compradores e “atravessadores” que circulam
pelo País em busca de “regiões com cultura apícola”.
Por outro lado, a assistência técnica e o crédito ligado à apicultura não podem ser
analisados sem entender as influências do mercado e entender como essas relações não
aconteceram por um simples acaso. A crescente demanda do mercado exportador pressionou
o mercado interno de mel brasileiro a partir de 2001, e essa demanda se acentuou devido à
crise em dois grandes exportadores mundiais de mel: Argentina (doença de abelhas,
denominada cria pútrida) e Chinesa (detecção de cloranfenicol no mel).
A partir 2005, entretanto, o embargo definido pela União Européia, sob a alegação de
falta de controle por parte do governo brasileiro em relação à existência de contaminantes no
mel exportado, fez os exportadores terem que buscar outros mercados, principalmente o
norte-americano, o que trouxe queda nos volumes embarcados ao exterior, além da queda do
preço do produto em dólar. Este atingiu em 2003 e 2004 níveis superiores aos US$ 2,00/kg,
recuando no ano passado para apenas US$ 1,64/kg.
Segundo o Mdic/Secex, os volumes totais exportados, que atingiram mais de 21 mil
toneladas em 2004, recuaram para menos de 13 mil em 2007.
Mel: Exportações a partir do Brasil
ANO
US$ FOB
KG
US$/KG
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
331.060
2.809.353
23.141.221
45.545.098
42.374.383
18.972.455
23.372.924
21.194.121
268.904
2.488.671
12.640.487
19.273.148
21.028.468
14.447.958
14.601.908
12.907.267
1,23
1,13
1,83
2,36
2,02
1,31
1,60
1,64
Fonte: MDIC/SECEX.
11
Entretanto, ao agricultor a principal questão continua sendo a diferença de preço
entre o produto colhido pelo apicultor e ao consumidor final, que alcança margens superiores
a 300%. Além disso, o mel tem a vantagem apresentar baixíssimas perdas desde a colheita até
o produto embalado (ou processado).
Com base neste contexto não fica difícil justificar o porquê de importantes volumes
de investimentos realizados pelo SEBRAE, Banco do Nordeste, Banco do Brasil e alguns
Governos Estaduais e até municipais no setor apícola nos últimos anos.
A produtividade da atividade apícola em nível nacional é considerada baixa quando
comparada em termos internacionais, aos nossos vizinhos Argentinos e Uruguaios. As
entidades de pesquisa e extensão enumeram uma enormidade de fatores responsáveis por tal
nível de produção. Os procedimentos técnicos de instalação do apiário, apresentam problemas
em relação à localização do apiário; espaçamento entre colméias; limite máximo de colméia
por apiário; instalação em locais de sombreamento; proximidade de fonte de água e à
capacidade de suporte da região. Tais ocorrências contribuem para instigar a agressividade da
abelha, aumentar a sua migração, elevar a temperatura na colméia e aumentar a mortalidade, o
que, por conseqüência, se traduz na diminuição da produtividade.
No campo do manejo, ressalta-se que problemas de substituição dos quadros de
ninhos sempre que a cera está velha; o uso de cera alveolada no ninho; introdução de rainhas
novas a cada ano nas colméias; forma de prevenção a ataque de pragas e doenças; alimentação
das colméias em períodos de seca ou baixa floração; entre outros. Segundo a expressão de um
dirigente de associação, entrevistado durante a pesquisa de campo: “ .....o apicultor não sabe
como alimentar as abelhas, de trocar a cera alveolada, de como trocar a rainha, trocar a rainha
ninguém troca... Isso é um ponto pacífico, seria uma das primeiras coisas que teria que
trabalhar, retrata o quadro existente de baixa produtividade”.
É comum encontrar na apicultura brasileira procedimentos inadequados que se
traduzem em perda da qualidade e motivo de desconfiança entre os consumidores. Constatase, no processamento do produto, a ocorrência de extração por esmagamento por falta de
equipamentos padronizados. Além disso, se encontra facilmente inexistência de local
adequado; problema de abastecimento de água; não utilização de luvas, máscaras e tocas; e
colocação do mel em recipientes inadequados. É comum existir ocorrência de falsificação de
mel, obtido com a agregação de açúcar e de outros teores de glicose em sua textura original,
tanto na venda ao consumidor final, como nas empresas, que utilizam de tal subterfúgio nos
processos transformadores.
12
Tais problemas, entretanto, estão tornando-se mais evidentes nos últimos anos,
considerando que a atividade apícola cresceu significativamente, em face do estímulo
provocado em muito pelo aquecimento na demanda externa e pelas possibilidades de
diversificação produção para atendimento do mercado interno. Se, por um lado, essa atividade
expõe os limites que a impede de alcançar maior produtividade/colméia, por outro, tais
problemas conduzem a esforços em busca de superação, em muito alcançado através de
participação em cursos oferecidos pelas Associações, Instituições de Assistência técnica e
extensão rural, Cooperativas, etc.; em busca de informações junto as Secretarias de
Agriculturas e através do processo de aprendizado na atividade.
De toda forma,a expansão da atividade apícola no Brasil é evidente, bastando para
verificar isto considerar o registro da evolução da produção, tanto de mel como de outros
produtos decorrentes. Na pesquisa de campo, verificou-se o registros de casos onde houve
aumento ao redor de 100% do número de apicultores nos últimos anos.
Ao contrário, ainda que haja espaço para crescer em face de novas alternativas para
produção de mel, constata-se crescente preocupação com a possibilidade de saturação de
várias áreas propícias para apicultura. Segundo informações de pesquisa de campo, a região
de Prudentópolis, considerada uma das maiores produtoras do Paraná, encontra-se com o
espaço saturado e sem condições para a expansão da atividade. Por outro lado, outras regiões
passam a se preocupar com a possibilidade de ocorrer superpopulação de apiários, com
destaque para as localidades de Mandirituba, no Paraná e Mafra, em Santa Catarina, cujas
Prefeituras Municipais estão criando leis de zoneamento apícola.
Também existem preocupações em relação às áreas plantadas de soja ante o uso
significativo de agrotóxico, cujo resíduo tóxico é transportado pela abelha na produção de mel
para o consumidor final. Há variedades da oleaginosa, sob tais condições produtivas, que as
abelhas visitam e produzem mel, assim como existem variedades que a abelha sequer visita,
diante do nível de produtos tóxicos utilizado. Considerando que houve nos últimos anos a
retomada do plantio da oleaginosa, principalmente em virtude da elevação de seus preços,
estas preocupações são bem fundamentadas, devendo continuar, principalmente em virtude da
continuidade dos elevados preços da soja.
As constatações de prática de apicultura migratória demonstram esforços dos
produtores de buscar novas fontes de matérias-primas. Essa prática tem possibilitado o
crescimento da produção de mel e produtos decorrentes, bem como diversificado a qualidade
dos produtos, considerando a importância da planta para a qualidade dos produtos
decorrentes. Em particular, a prática de apicultura migratória tem ocorrido nas principais
13
regiões produtoras. Os grandes produtores percorrem Estados como Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Rio Grande do norte, Piauí e outros.
Mesmo com limites à expansão produtiva da apicultura, tem-se constatado, na
apicultura dos Estados do Sul e São Paulo, esforços de substituição correta de rainha nas
colméias, que ocorre nos estabelecimentos agrícolas e em laboratório de empresas
processadoras que buscam fazer melhoramento genético. Entretanto, de acordo com alguns
especialistas, esses esforços individuais poderiam ser facilitados pela criação de um Centro de
Pesquisa, voltado para a atividade apícola e estimulando a troca constante de rainhas, como
apontado em entrevista qualificada.
Da mesma forma, há avanços na área do manejo, em particular pela disposição de
equipamentos aos apicultores pela indústria fornecedora. A produção das empresas produtoras
de equipamentos tem disponibilizado em muitos Estados equipamentos inoxidáveis em
substituição aos de folhas de flanders, cujo óxido de ferro, chumbo e outros elementos
passavam para o produto, deteriorando sua qualidade. O uso desses equipamentos modernos,
por outro lado, têm possibilitado melhorias na qualidade do mel, com reflexos nas vendas no
mercado. Outros avanços vêm gradativamente sendo adotados pelos apicultores, como:
suporte de manilha de barro ou de plástico em substituição ao suporte de madeira que se
deteriora em exposição e no tempo; redução no tempo de atendimento por colméia através de
novas técnicas e utilização de novos dispositivos que diminuem as perdas e aumentam a
produtividade.
Os avanços tecnológicos citados são ainda localizados e ocorrem, particularmente,
entre os médios e grandes produtores que possuem estrutura de produção mais organizada e
com ligações mais densas com os elos de processamento, distribuição e comercialização da
cadeia produtiva apícola.
5. Comercialização
Posteriormente à a extração dos produtos e derivados da apicultura nos
estabelecimentos agrícolas, o apicultor procura se relacionar com a comercialização, seja
através de esforços pessoais para venda no mercado consumidor, de acordo com as suas
condições estruturais, seja vendendo a intermediários ou a empresas processadoras. A venda
através de esforços pessoais no mercado ocorre de forma precária em embalagens de diversos
tipos, entre estes litros, vidros e até em latas. Os locais são, geralmente, feiras, em residências
(no comércio porta-a-porta), além de pequenos comércios. Por sua vez, existe a figura do
14
intermediário, que adquire mel em grande quantidade do apicultor e revende às empresas para
processamento industrial, enquanto existem empresas processadoras que adquirem direto do
produtor apícola para sua transformação industrial. Nesse último quadro ocorrem distintas
formas de aquisição, desde a empresa que se responsabiliza pela compra direta no
estabelecimento agrícola, que entrega sua produção em departamentos específicos de
recebimento pela empresa, até formas de parcerias que assumem a figura de quase-integração.
Se constata, em várias regiões produtoras, a figura do intermediário que percorre os
estabelecimentos rurais, adquirindo mel e outros produtos, aproveitando as dificuldades do
próprio apicultor em negociar condições de venda com as empresas processadoras por não
disponibilizar de embalagens adequadas, dificuldades de acesso às empresas em face da baixa
quantidade produzida, rigor no controle sanitário de determinadas empresas, etc. Tais
intermediários repassam o produto para as empresas processadoras nas condições recebidas.
Então, esta lhe fornece o padrão comercial para alcançar o consumidor final. A figura desse
intermediador de negócios é criticada não só por várias associações de apicultores, como
pelas empresas mais bem organizadas, justamente por estar contribuindo para reproduzir as
condições inadequadas de produção de mel e de outros produtos nos estabelecimentos
agrícolas.
De outra forma, existe avanço no sistema produtivo apícola expresso pela forma de
quase integração presente na Região Sul do Brasil, onde se encontram fortes relações entre
produtor-empresa processadora (essa empresa em alguns casos é uma cooperativa). Essa
forma de organização distingue-se das demais praticadas em outros Estados, visto que está se
desenvolvendo um nicho de produção de mel orgânico destinado principalmente à exportação,
com participação efetiva das empresas no fornecimento de insumo, assistência técnica,
financiamento dos custos e garantia de compra, se assim o apicultor o desejar. Essa forma
integrada de produzir faculta ao apicultor a vender para outra empresa se assim o desejar,
pois, segundo dirigente dessa empresa.
6. Associativismo e cooperativismo
Os apicultores em muitos locais se organizam em associações e cooperativas, com
vistas a terem melhores condições de negociação, dado que há a possibilidade de concentrar a
produção em volumes que sejam interessantes aos compradores e, desta maneira, os
apicultores poderiam exigir melhores condições de preço e formas de pagamento.
15
Entretanto, a realidade é que na maior parte das vezes a cultura de associatividade ou
cooperativismo parte de considerá-lo como um fim em si mesmo. Assim se observa grande
quantidade de associações/cooperativas com baixa capacidade de gestão, com frágil nível de
organização, carentes de infra-estrutura, equipamentos e capacitação, fatores necessários para
a comercialização do mel no mínimo para o mercado interno. Isto ocorre mesmo que existam
avanços no intercambio de informações, idéias e experiências onde a heterogeneidade do
grupo pode agregar um certo acúmulo de conhecimentos, pois o conjunto de experiências
tanto positivas quanto negativas, vivenciadas serve de referência para novas tomadas de
decisão.
Poucas associações e ou cooperativas entrevistadas, entretanto, conseguiram
descrever objetivamente seu modo de atuação e de que maneira soluciona seus problemas de
produção, beneficiamento e comercialização. Isto evidencia o desconhecimento dos fatores de
estrangulamentos que dificultam a atuação destas organizações. A clara ausência de
entendimentos dos fatores que determinam os resultado econômico, financeiro e técnico, em
especial em relação aos estudos de mercado, processos tecnológicos e até os modos de
organização.
Apesar destas se organizarem em torno da economia de escala para a
comercialização, existe uma inadequação da escala da agroindústria com o mercado, devido,
principalmente, aos limites econômicos ou financeiras destas associações e cooperativas. A
falta de padronização e qualidade da produção, devido à falta de planejamento da aquisição de
matéria-prima e ao desconhecimento do processamento causa problema de abastecimento da
oferta, o que inviabiliza abrir mercados e estabelecer contratos de comercialização com
cadeias mais complexas como supermercados ou com grandes fornecedores.
No Piauí e Santa Catarina, por exemplo, existem casos de associações e cooperativas
com algum nível de organização e eficiência que, atualmente, já dispõem de SIF
internacional, podendo exportar diretamente para o mercado externo. Nesse tipo de
organização os produtores não mais necessitam das empresas intermediárias, conseguindo um
preço bastante superior pelo produto. Entretanto, estes casos, ainda são raros nestes Estados,
onde a maioria dos produtores vende o mel a intermediários que exportam o produto, na
maioria das vezes, em outros Estados.
16
7. Principais problemas da cadeia de produção
Como se viu, a cadeia de produção e comercialização do mel apresenta características
nem sempre favoráveis aos pequenos agricultores familiares. Podem ser citados, além
daqueles já denunciados neste estudo:
a) A capacitação e Assistência Técnica, relativa principalmente ao número de instituições de
assistência técnica e capacidade instalada insuficiente para atender à demanda dos apicultores;
b) A organização incipiente dos apicultores, observada principalmente em alguns Estados, o
que se reflete a falta de estrutura para coordenar o processo de comercialização e para garantir
um volume de produção adequado e constante aos mercados demandantes;
c) A deficiência de qualidade e padronização de materiais e equipamentos que, em alguns
Estados, é decorrente da carência de indústrias de equipamentos e empresas comerciais
voltados para a atividade apícola;
d) A pesquisa tecnológica, onde há poucos pesquisadores na área e a limitada infra-estrutura
nas instituições de ensino e pesquisa;
e) Na industrialização e beneficiamento, onde em Estados, principalmente no Nordeste,
existe carência de indústrias de beneficiamento do mel;
f) As fontes de financiamento, uma vez que em alguns Estados, principalmente no Rio Grande
do Norte, faltam financiamento para custeio e;
g) A infra-estrutura rodoviária, deficitárias em vários locais, o que dificulta o escoamento da
produção e dificulta a chegada do mel dos produtores familiares aos mercados de consumo;
17
8. Contatos
Instituições e/ou
empresas
CEPEA - Centro
de Referência em
Pesquisa
e
Extensão
Apícola
IAGRAM
Incubadora
Agroindustrial de
Apicultura de
Grupo Colméias
EBDA
APAEB
(Associação de
Desenvolvimento
Sustentável
e
Solidário
da
Região Sisaleira)
Federação
Mineira
de
Apicultura
EMATER MG
contato
Hörst
Karvelage
Embrapa
Pantanal
e-mail
(48)
[email protected]
33313900
Cidade/estado
Florianópolis
(SC)
Frederico
(84)
[email protected]
silva Théa 33151786
Pontes
Mossoró (RN)
Paulo
Roberto
Palhano
Marco
Antonio
Andrade
Valmir
Natal (RN)
(84)
[email protected]
32019001
(71) 3115 [email protected] Salvador (BA)
2748
(75) 81 [email protected]
149337
Irone
(31)
[email protected]
Martins de 32934866
Sampaio
Dirceu
(31) 3349 [email protected]
82 70
IDATERRA
Embrapa
Norte
telefone
Paulo
Piruca
Meio- Carlos
Freitas
Vanderlei
Doniseti
Acassio
dos Reis
Emater RN
Ubirajara
Fernandes
Dantas
Cooperativa
Antônio
Apícola
da Leopoldino
Microregião de Dantas
Picos
Filho
SEBRAE PR
André
Paludo
(67) 3318 [email protected]
5100
(86) 3225 [email protected]
1141
(r252)
(67) 3233 [email protected]
2430
(r231)
Valente (BA)
Belo
Horizonte
(BH)
Belo
Horizonte
(BH)
Campo grande
(MS)
Teresina (PI)
Corumbá
(MS)
(84) 232- [email protected]
2220
Natal (RN)
(89) 3422 [email protected]
4738
Picos (PI)
(41) 3330 [email protected]
5740
Curitiba (PR)
18
SEBRAE PR
Ricardo
Dellaméa
CERCOPA
Ilário
Horodenski
SEAB/DERAL
Roberto
Andrade
Secretaria
Paulo
agricultura
Maciel
Associação dos Carlos
apicultores
da Alberto
Região do Alto Câmara
Turi
Madeira
(41) 3330 [email protected]
5819
(41) 3624 [email protected]
2466
(41) 3313 [email protected]
4132
[email protected]
(98) 3359 Rua Nenê de Abreu, S/N centro
1170
Curitiba (PR)
Guarapuava
(PR)
Curitiba (PR)
São
Luiz
(MA)
Santa Luzia do
Paruá
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A Cadeia Produtiva do Mel