ZERO HORA PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 14 DE NOVEMBRO DE 2000 38 POLÍCIA Editor: MARCELO ERMEL [email protected] ☎ 218-4737 Editor Assistente: CLÉVER MOREIRA [email protected] ☎ 218-4738 JEFFERSON BOTEGA – PIONEIRO/AGÊNCIA RBS VIGILANTE BALEADO Corregedoria investigará ação de policial civil Inspetor da 3ª DP foi afastado para que o episódio seja apurado ADRIANO SANTANA O inspetor também enfrentará um Procedimento Disciplinar Administrativo (PAD), que poderá O chefe de Polícia, José Andeterminar o afastamento definititônio de Araújo, determinou O saldo do confronto entre vo do policial, caso fique provado ontem que a Corregedoria-ge- civis e policiais este ano no que agiu de forma negligente. Até ral de Polícia (Cogepol) condu- Estado*: que as circunstâncias do fato seza as investigações sobre a Civis mortos por PMs em serviço jam esclarecidas, Edelvem per9 (até 30 de junho) manecerá suspenso. Sua arma e a atuação do inspetor da 3ª Delegacia de Polícia, Manoel Civis feridos por PMs em serviço carteira policial foram recolhidas. Por enquanto, a polícia procura Edelvem, que baleou na cabeça 76 (até 30 de junho) por um homem que teria inforo vigilante Frederico Michel mado ao policial sobre o suposto PMs mortos em serviço Meirelles de Mattos, 25 anos. assalto. O Instituto-geral de Perí3 (até outubro) Ontem à noite, a vítima escias (IGP) já realizou exame na tava em estado grave no Hos- Policiais civis mortos em serviço arma do policial e no carro da 2 (até setembro) vítima. Os resultados, quando fopital de Pronto Socorro. rem concluídos, serão anexados Mattos foi alvejado no sába- * Não existe levantamento seguro à investigação. A família do rado pela manhã, quando sacava sobre o número de civis mortos ou paz informou que ajuizará um dinheiro em um caixa eletrôni- feridos por policiais civis em serviço ação contra o Estado. co, na Avenida Cristóvão Co- Fonte: Ouvidoria-geral de Segurança O assessor especial para assunlombo, em frente à 3ª DP. Ele e tos da Polícia Civil na Secretaria mais três amigos foram confunda Justiça e da Segurança, Jorge didos com assaltantes. Quadros, aproveitou a ocasião paO chefe de Polícia decidiu encaminhar a investi- ra reafirmar a importância da portaria que discipligação do caso à Cogepol a fim de garantir isenção nou e limitou o uso de armas por policiais civis e e impedir que colegas do policial interfiram na militares. Segundo ele, entre agosto de 1998 e apuração. O inquérito ficará sob a responsabilida- agosto de 1999 – portanto, um ano antes da norma de do corregedor-geral da Polícia Civil, delegado ser editada – as polícias dispararam 5.897 tiros. Wailon Chazan Hütten, que terá 30 dias para con- Nesse período, 6.935 pessoas foram presas. Entre cluí-lo. Caso não houvesse um policial envolvido, agosto de 1999 e agosto de 2000, houve 2.439 diso crime seria apurado pela 3ª DP. paros da polícia e 7.385 pessoas foram presas. MORTOS E FERIDOS Entrevista: Manoel Edelvem “Atirei em minha defesa e de meu colega” ADRIANA IRION DG/Agência RBS Manoel Edelvem, 49 anos, ingressou na Polícia Civil em 1979. Desde então, atua como plantonista na 3ª DP. No sábado, quando baleou o vigilante Frederico Michel Meirelles de Mattos, faltava meia hora para deixar o plantão. Ontem, em casa, falou sobre o episódio: Agência RBS – Como tudo começou? Manoel Edelvem – Às 7h30min, um cidadão chegou desesperado. Ele dizia: “Vamos lá, estão assaltando o Banrisul”. Tinha um veículo sobre a calçada, em frente ao caixa eletrônico. Um rapaz de cor morena, do lado de fora, olhava para dentro e para fora, em direção à delegacia. Quando me aproximei, com a arma ao lado da perna, esse rapaz viu, acho que fez um sinal e os outros saíram do banco. Tenho certeza de que dois saíram do caixa (Mattos, que foi baleado saiu de dentro do banco). Então esse rapaz moreno olhou pa- ra mim e disse: “O senhor pode usar o caixa que já usamos”. Edelvem – Foi o que pensamos todo tempo. Agência RBS – O que você fez? Edelvem – Eu disse: “É polícia. Não se mexam, levantem as mãos”. Eles não obedeceram. O motorista entrou no carro, o branco (Mattos), também. Sentou-se e ficou abaixado mexendo em algo. Eles tentavam esconder algo. E nós gritando. Mesmo assim o motorista ligou o carro e foi dando ré. Quando meu colega fechou eles e gritou para não arrancar, o motorista largou o carro para dentro da avenida e tentou alinhar. Meu colega chegou mais perto e mandou saírem. O motorista abriu a porta e saiu em direção ao meu colega. Esse rapaz que estava na frente se abaixou. Meu instinto foi mais rápido, pensei: Eles vão atirar no meu colega e esse aí vai me fechar. Aí eu dei um disparo na direção deles. E na fatalidade veio a pegar na nuca desse rapaz. Agência RBS – Os outros dois não fizeram nada? Edelvem – Os outros três. Depois que houve disparo, entraram em pânico e começaram a sair a gritar. E um menor, de uns 13 ou 14 anos, foi orientado por eles a correr. E ele, segundo meu colega, levou alguma coisa sob a camisa ou dentro das calças. Agência RBS – Você achou que ele pegaria uma arma? Agência RBS – O senhor diria que agiu conforme as normas da portaria do governo sobre o uso de armas? Edelvem – Sem dúvida. A primeira voz de comando que tive sobre eles foi de que era polícia, fiquei com o revólver apontado. E esse disparo foi dado porque fizeram menção de atirar. Atirei em minha defesa e de meu colega. Agência RBS – O senhor acredita que eles estavam cometendo algum ato ilícito? Edelvem – Não tenho dúvida. Foi achado no carro um talão de cheques roubado de um malote. BM admite engano O comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar de Caxias do Sul, tenente-coronel Carlos Vicente Bernardoni Gonçalves, admitiu ontem que houve engano na ação policial que culminou no assassinato do líder comunitário e mestrede-obras José Maria Martins, 42 anos. A vítima foi morta com dois tiros efetuados por PMs, quando estava em sua Quantum, perseguida por policiais, às 2h30min de sábado, no bairro Fátima, onde residia. Conforme o comandante, a perseguição e a suposta troca de tiros ocorreram a partir da informação repassada por um motorista de um Gol a um PM que pilotava uma moto na área central. Esse motorista, nãoidentificado, teria suspeitado que Martins tentava roubar a Quantum. Na verdade, ele entrava no próprio carro. O soldado José Carlos Pereira, em uma moto, teria avistado o mestre-de-obras com o carro em movimento e mandado ele parar, acreditando se tratar de um ladrão. Pela versão da BM, José Carlos pediu reforço, sendo atendido por um Vectra da BM, ocupado pelos soldados Fabiane Chaves e Rafael Leandro Witt e pelo cabo Roberto Bortot. No bairro Fátima, a Quantum teve pelo menos 30 perfurações provocadas por tiros. A perícia indicou que o Vectra teve três perfurações. Só daqui a 40 dias a comunidade conhecerá o resultado do Inquérito Policial-militar (IPM) que investiga a ação. O chefede-seção da Corregedoria-geral da BM, major José Roberto Furlanetto, disse que já ouviu os quatro policiais envolvidos, mas não revelou detalhes dos depoimentos. Um revólver, que teria sido apreendido com José Maria, e 27 armas de PMs estão apreendidas para perícia (foto). O crime gerou protestos da presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, Maria do Rosário (PT), que solicitou ao governo investigação. A parlamentar acredita ter havido abuso policial.