AU TO RA L TO EI DI R DE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES LE I PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PR OT EG ID O PE LA AVM FACULDADE INTEGRADA DO CU M EN TO O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM ATRAVÉS DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. Por: Ingrid Campos de Oliveira Miranda Orientador Prof.ª Maria Esther de Araújo Co-orientadora: Prof.ª Giselle Böger Brand Salvador 2013 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM ATRAVÉS DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS. Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Psicomotricidade. Por: Ingrid Campos de Oliveira Miranda AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, aos meus familiares e a todos os amigos que, com carinho e apoio, colaboraram e torceram pelo meu sucesso. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus alunos da Educação de Jovens e Adultos que me levaram a uma reflexão mais profunda sobre a psicomotricidade. EPÍGRAFE “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. Mudar é difícil, mas é possível.” (Paulo Freire) RESUMO O presente estudo visa abordar questões relativas à Educação de Jovens e Adultos (EJA) e explicitar como a ludicidade, pode criar um ambiente de crescimento e enriquecimento educacional, que contribui para o desenvolvimento cognitivo e pessoal dos educandos que participam destas práticas. Inicialmente foram abordados conceitos importantes sobre os principais teóricos da aprendizagem a fim de ilustrar como funcionam os mecanismos dos indivíduos que aprendem sobre a esfera bio-pisico-social. Fez-se necessário, ainda elucidar conceitos importantes como ludicidade, corpo e corporeidade, conceitos esses de suma importância para a abordagem psicomotora com o adulto assim como relatar a respeito da história da educação de Jovens e adultos e suas experiências até os dias atuais. Ao final desta pesquisa encontra-se um relato de experiência de um trabalho realizado na cidade de Salvador, Bahia baseado na ludicidade com o objetivo de conseguir melhor desempenho com estes educandos no ponto de vista global (educacional e pessoal). O presente trabalho realiza uma reflexão acerca das práticas docentes atuais, bem como fornece aos atuantes deste espaço pedagógico, professores possibilidades metodológicas de execução e atuação. e alunos, novas METODOLOGIA Segundos Demos (1994 e 2000), podem distinguir, pelo menos, quatro gêneros de pesquisa, mas tendo em conta que nenhum tipo de pesquisa é autossuficiente, pois "na prática, mesclamos todos acentuando mais este ou aquele tipo de pesquisa" (2000). O presente trabalho tem como metodologia principal à revisão bibliográfica para a obtenção de dados acerca do lúdico, da história da EJA e das práticas que se utilizam das ações lúdicas, que vem sendo realizadas nesta modalidade educacional. Apresentará ainda um estudo de caso sobre o projeto “Sexta Legal”, que ocorre na Escola Municipal Clemilda Andrade (Salvador /Bahia), como exemplo da importância do uso do lúdico para o desenvolvimento educacional na EJA. Diversos autores como Freire (2005), Piconez (2002) e Santos (2011), abordam a temática da educação de jovens e adultos, do lúdico e sua importância para o crescimento global do ser humano, sua construção de conhecimento e seu desenvolvimento pessoal. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9 CAPÍTULO I - CONCEITO DE APRENDIZAGEM........................................ 12 CAPITULO II - CONCEITO DE LÚDICO ...................................................... 23 CAPITULO III - O LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ..... 29 3.1 Histórico da Educação de Jovens e Adultos .................................. 32 3.2 Relato de Experiência .................................................................... 34 CONCLUSÃO .............................................................................................. 42 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 44 WEBGRAFIA................................................................................................ 46 9 INTRODUÇÃO A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um processo muito particular dentro das praticas educacionais, e carece muito de pesquisas e exemplos de projetos e experiências exitosas nesta área. O aluno da EJA, ao chegar ao ambiente escolar, traz consigo suas experiências e vivencias que, na maioria das vezes, é menosprezada ou não é aceita como saber. Desta forma, experimentar um ambiente acolhedor e fomentador da aprendizagem, através do uso da ação lúdica, torna-se curioso para entender o desenvolvimento dos alunos dessa modalidade educacional, uma vez que a população e a sociedade inviabilizam a ação lúdica, por acreditar que este venha a infantilizar o adulto. Contudo o lúdico apresenta-se na vida do sujeito a cada momento, e a utilização dessa ação pode vir a se tornar uma ferramenta importante para o aprendizado. Em sendo assim, devemos refletir acerca de como o lúdico pode contribuir de forma positiva para a aprendizagem de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Demonstrar a importância das práticas lúdicas para o desenvolvimento cognitivos dos alunos das classes do primeiro estágio da EJA. O lúdico pode criar um ambiente de crescimento e enriquecimento educacional, que propicia o desenvolvimento cognitivo dos educandos que participam destas práticas. O presente estudo delimita-se a uma escola da rede pública municipal (Escola Municipal Clemilda Andrade), localizada em Salvador (BA), onde será possível experienciar com alunos, na idade entre 20 e 80 anos, na prática, com ações lúdicas e resultados apresentados em seu processo ensino/aprendizagem. 10 Nesse aspecto podemos pensar na seguinte questão com relação a esse tema: Como o lúdico pode auxiliar a aprendizagem dos alunos da educação de jovens e adultos nas classes do primeiro estágio? Procurando alcançar respostas a esse questionamento, este trabalho tem como objetivo mostrar a importância da Psicomotricidade, através das ações lúdicas, para o desenvolvimento positivo no ambiente educacional, apresentar uma experiência vivida num grupo da EJA, com ações lúdicas voltadas para o enriquecimento do processo de aprendizagem e também evidenciar os resultados do uso das ações lúdicas no desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem para o aluno da educação de jovens e adultos. O capítulo inicial trata do conceito de aprendizagem e seus principais teóricos. Para este trabalho foram abordados Piaget, Vygotsky e Wallon, pois ambos teóricos dissertam sofre a aprendizagem e como esta se manifesta no individuo assim como o corpo tem influência na construção do conhecimento. Já o segundo capítulo traz o conceito de lúdico e termos como “ludicidade” e “atividades lúdicas”. Foram escolhidos para este capitulo as abordagens de Luckesi e de autores da Psicomotricidade como Le Boulche e Negrine. Neste capitulo a principal temática é uso do corpo como ferramenta de aprendizagem e de conhecimento do mundo de si mesmo. Em seguida, para ilustrar melhor o trabalho, o terceiro capitulo apresenta um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no panorama mundial e as influências que estas acarretaram na EJA brasileira. Gadotti foi o principal autor para a realização deste capítulo. Foram utilizados as abordagens dos estudos de Heidt, Freire, Piconez e Santos, acerca da importância do lúdico para a Educação de Jovens e Adultos sua influência no desenvolvimento da aprendizagem e no desenvolvimento dos aspectos individuais de crescimento pessoal do individuo. 11 O último capítulo traz aspectos da ludicidade na educação de jovens e adultos e o relato de experiência da Escola Municipal Clemilda Andrade (Salvador-Bahia) e como foi possível realizar um trabalho na EJA pautado no desenvolvimento da ludicidade e seus benefícios na aprendizagem dos alunos implicados, assim como o desenvolvimento pessoal e cultural da pratica realizada na unidade escolar citada. Foram utilizados como referencias os Parâmetros Curriculares Nacionais como base de Fundamentação teórica deste capítulo. Sendo assim o presente estudo visa abordar questões relativas à educação de jovens e adultos e como a psicomotricidade, através do lúdico, pode criar um ambiente de crescimento e enriquecimento educacional, que propicia o desenvolvimento cognitivo dos educandos que participam destas práticas. 12 CAPÍTULO I CONCEITO DE APRENDIZAGEM Com o objetivo de empreender um percurso teórico sobre o estudo da influência do lúdico sobre os processos de aprendizagem, acredito ser necessário abordar o desenvolvimento cognitivo humano segundo seus estágios padrões para ilustrar melhor a forma como ocorre este processo. Creio que ao utilizar-me dos estudos de Piaget, Vygotsky e Wallon estarei mais próxima das áreas que aqui, permeiam este trabalho. Segundo Piaget (2001), a aprendizagem é o processo pelo qual: “as competências, habilidades, conhecimentos, comportamento ou valores são adquiridos ou modificados, como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação”. Este processo pode ser analisado a luz de diferentes perspectivas. Sendo assim há diferentes teorias de aprendizagem. Desta forma, a aprendizagem humana está intimamente ligada à educação e ao incremento pessoal. Precisa ser dirigida de modo a utilizar-se da motivação do individuo. Os estudos da aprendizagem, em geral, utilizamse dos conhecimentos e teorias de diversos campos de estudos como a psicologia, a neurologia e a pedagogia. Piaget era biólogo e baseou seus estudos que abordam diversas áreas como a filosofia e a lógica em uma interlocução com o desenvolvimento humano. Tal percurso permitiu-lhe uma construção consistente e profunda que denominou epistemologia genética. A teoria piagetiana pretende investigar as ideias (os conceitos) ou como o ser humano desenvolve sua cognição, como elabora o conhecimento, construindo a inteligência nesse processo. 13 Segundo Piaget, o indivíduo busca equilibrar-se ao meio que vive através da adaptação. A adaptação é uma característica de todo ser vivo. Para o autor a inteligência é vista como um refinamento da adaptação humana visto que é composta de adaptações sucessivas realizando assim um estado de equilíbrio entre o indivíduo e o meio. Dois conceitos permitem compreender esse processo de adaptações e depois de equilíbrio: assimilação e a acomodação. A assimilação caracteriza-se pela incorporação de elementos do meio à estrutura do individuo enquanto que a acomodação assinala-se pelas modificações da estrutura do indivíduo em função das modificações da estrutura do indivíduo em função das modificações do ambiente. O autor afirma ainda, que três fatores são de suma importância para serem observados na busca do equilíbrio: a maturação neurológica, o papel do exercício, ou seja, da experiência adquirida na ação efetuada anteriormente sobre os objetos, e por fim, as interações e transmissões oriundas do plano social. Esta construção tem como objetivo um equilíbrio ao qual Piaget (apud Marcelli, 1998, p.24) denomina como autorregularão isto é, “uma sequência de compensações ativas do sujeito em resposta às perturbações externas e de uma regulagem retroativa e, ao mesmo tempo antecipadora, constituindo um sistema permanente de compensação”. São conhecidos os seguintes estágios do desenvolvimento cognitivo: a) Período sensório-motor: Este período caracteriza-se por ser exclusivamente pré-verbal. O bebê nesta fase utiliza-se dos esquemas que em uma ação durante os exercícios sensório-motores que se organizarão, progressivamente, em condutas significantes e intencionais. No final desta etapa, a criança pequena deverá já ter construído a representação mental do objeto, ou seja, ser capaz de se remeter a algo que não está presente, mas que mentalmente ela sabe de sua existência e representa-o, por exemplo, 14 brincar de que está telefonando e falando com alguém que não se é possível ver. b) Período pré-operatório (2 a 6 anos): A representação mental do objeto, construída na fase anterior, tornase base para uma estrutura de grande importância nessa fase que é a função simbólica (ou semiótica). Devido a este evento a criança, segundo Piaget, será capaz de evocar objetos ou situações não percebidos atualmente, servindo-se dos signos e dos símbolos. Compõe a função simbólica: A linguagem, a imitação diferida, a imagem mental, o desenho e o jogo simbólico. Nesse período de pré-operatividade a criança serve-se da linguagem da imitação para reproduzir na brincadeira eventos que lhes foram significativos ou que lhes interessaram, evocando assim mentalmente atos anteriores transferidos para o momento atual. Embora seja capaz de realizar tais eventos seu pensamento ainda é bastante pautado em sua realidade, centrado em seu ponto de vista (egocentrismo), pois ainda não é capaz de descentralizar-se nem se distanciar de si mesmo. c) Período das operações concretas (7 a 11-12 anos) À medida que distancia seu pensamento de si própria e passa a coordenar vários pontos de vistas, não se limitando somente a sua própria posição, a criança aproxima-se mais do período das operações concretas. Ela evolui bastante quanto à objetivação do pensamento e a qualidade da socialização. Mas embora o salto cognitivo seja bastante significativo nessa área, ainda se faz necessário o suporte concreto para que esta possa estabelecer suas ações mentais. Surgem nesse período as primeiras preocupações com os sentimentos e ações cooperativas e colaborativas muito bem explicitadas pelos jogos coletivos e de regra. d) Período das operações formais (a partir dos 11 – 12 anos) Este período caracteriza-se principalmente pelo que Piaget (2001, p.57) chamou de “pensamento hipotético-dedutivo”. Neste momento a 15 criança está ingressando no período da adolescência onde gradativamente passará a elaborar teorias abstratas sem ter como apoio, o plano concreto. É importante perceber que esses estágios de desenvolvimento cognitivo não possuem um caráter universal e devem reconhecer também a imensa diversidade nas condições histórico-sociais em que os indivíduos vivem, acreditando que as oportunidades abertas para cada uma delas são muitas e variadas, enfatizando assim, a relevância do social na formação do pensamento. Na perspectiva vygostskyana, a constituição das funções complexas do pensamento é veiculada principalmente pelas trocas sociais e, nesta interação, o fator de maior peso é a linguagem, ou seja, a comunicação entre os homens. Durante os primeiros meses de vida, o sistema de atividade da criança é determinado pelo grau de desenvolvimento orgânico e, em especial, pelo uso que ela faz de instrumentos. Para interagir com o mundo, a criança dispõe de instrumentos que mediam tal interação. Estes instrumentos podem ser de duas naturezas: física e simbólica. Vygotsky (1998) postula que, tal como os instrumentos físicos, os signos constituem também atividade mediana, uma vez que a essência do seu uso consiste em os homens afetarem por seu intermédio, o próprio comportamento. A principal diferença entre o instrumento e o signo pode ser observada na forma como estes orientam o comportamento. O instrumento cuja função é servir como um condutor da influência humana sobre o objeto é orientado externamente, devendo, por conseguinte, originar mudanças nos objetos. O signo não modifica em nada o objeto da operação psicológica, na medida em que se constitui um meio de atividade interna dirigida para o controle do próprio indivíduo. Assim, o signo está, ao contrário do instrumento, orientado internamente. 16 Acredita-se, também, que é da relação entre a fala e a inteligência prática, ou seja, de combinação entre o instrumento e o signo que emergem as funções cognitivas superiores. A linguagem intervém no processo de desenvolvimento da criança desde o nascimento. Nas situações de vida diária, quando os pais chamam a atenção da criança para objetos, pessoas e fenômenos que se passam no meio ambiente, estão oferecendo elementos por meio aos quais ela organiza sua percepção. Nesta interação, a criança é orientada na discriminação do essencial e do irrelevante podendo, posteriormente, ser capaz de exercer esta tarefa por si só, ao tentar compreender a realidade. Assim, com a ajuda da linguagem, ela controla primeiro o ambiente e, mais tarde, seu próprio pensamento. Ao longo do desenvolvimento, a dinâmica da relação entre fala e ação se altera, ocorrendo do seguinte modo: num primeiro momento, até por volta dos três anos de idade, a fala acompanha as ações da criança e apresenta-se dispersa e confusa, sem muita ligação entre a fala e o real refletindo as vicissitudes do processo de solução da situação em questão. Essa fase é denominada de fala social. No segundo período, aproximadamente dos três aos seis anos, a fala começa a se deslocar para o início da ação, terminando por precedê-la. Esse deslocamento temporal da fala implica em mudança de função. Agora, ela passa a atuar como auxiliar do plano de ação já concebido, mas ainda não realizado. Ele identifica esse período como fala egocêntrica sem, no entanto atribuir-lhe a mesma conotação de Piaget. A fala constitui-se num meio de expressão e liberação de tensões, tornando-se um instrumento do pensamento. Nesta perspectiva, a fala egocêntrica é um estágio transitório na evolução da fala social para a fala interior. Após a idade de seis anos, a fala externa das crianças vai se tornando fragmentada, sendo substituída por sussurros e, eventualmente, desaparece denominada interna. Através dessa internalização progressiva 17 da fala, o sujeito adquire a função de auto realização, sendo a partir daí, capaz de controlar suas atividades mentais e seu comportamento. Nesta fase, a fala determina e domina a ação, adquirindo função planejadora. Quando isso acontece, a criança passa a ter condições de efetuar operações complexas dentro de um universo temporal, deixando de agir apenas em função do espaço compreendido pelo seu campo visual. O domínio da fala permite à criança a utilização de instrumentos auxiliares; o planejamento da ação, o controle de seu próprio comportamento e ainda possibilita-lhe o acesso a uma forma de contato social privilegiada. Quando Vygotsky (1998) escreve sobre as raízes genéticas do pensamento e da linguagem, sugere a existência de quatro estágios durante o desenvolvimento das operações mentais que envolvem o uso dos signos. O primeiro, denominado “estágio natural ou primitivo” corresponde à fala préintelectual (que se manifesta na forma de balbucio, choro e riso) e ao pensamento pré-verbal, que se caracteriza por manifestações intelectuais rudimentares, ligados à manipulação de instrumentos. No segundo estágio ou “das experiências psicológicas ingênuas”, a criança interage com seu próprio corpo, com objetos e pessoas a sua volta, buscando aplicar essas experiências ao uso de instrumentos. Esses exercícios demonstram o início da inteligência prática. Em termos de desenvolvimento linguístico, este período manifesta-se pelo uso correto das formas e estruturas gramaticais, antes mesmo que a criança tenha entendido suas respectivas representações lógicas. Na medida em que essas “experiências ingênuas” vão se acumulando, a criança passa para o terceiro estágio, identificada como “estágio dos signos exteriores”. Nele o pensamento atua basicamente com operações externas das quais a criança se apropria para resolver problemas internos. É o estágio em que ela, por exemplo, efetua cálculos aritméticos 18 simples, usando signos como os dados ou objetos, recorre a auxiliares mnemônicos etc. O quarto e último estágio é denominado de “crescimento interior” e se caracteriza pela interiorização das operações externas. A criança dispõe agora de “memória-lógica”, isto é, ela pode operar com relações intrínsecas e signos interiores. Esses estágios de desenvolvimento cognitivo não possuem caráter universal, reconhece, também, a imensa diversidade nas condições histórico-sociais em que as crianças vivem, acreditando que as oportunidades abertas para cada uma delas são muitas e variadas, enfatizando assim, a relevância do social na formação do pensamento. Para Vygotsky (1996) as formações psicológicas superiores são produtos da influência social sobre o ser humano. Todas as pessoas possuem estas formações, mas dependendo da história e da plasticidade de suas capacidades elas são altamente desenvolvidas em umas pessoas e em outras não. Para o estudioso da temática o meio é fator determinante para construção de estruturas mentais onde cada indivíduo aparece como ativo participante de sua própria existência. Num movimento dialético, o indivíduo realiza ações externas e recebe do meio social as respostas a essas ações. Recebendo esta resposta o indivíduo a reelabora, internamente retornando assim com uma nova ação que poderá ser realizada para o meio externo. Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências, contextos familiares e realidades em geral, dos vários indivíduos neste contexto, apontam possibilidades de trocas valiosas, de ajuda e de momentos reais de ampliações de capacidades cooperativas e individuais. Para Wallon (apud Galvão, 1995), os processos de desenvolvimento humano dependem tanto da capacidade biológica (orgânica) do sujeito quanto do ambiente que o rodeia (social). O autor afirma que o ser humano nasce com um equipamento orgânico capaz de criar recursos para seu 19 desenvolvimento, mas que o meio ambiente é quem vai lhe permitir desenvolver determinadas potencialidades. Segundo o autor, “o ato mental se desenvolve a partir do ato motor”. Diante desta afirmação é possível perceber que Wallon observou o ser humano como ser integral, possuidor de capacidades particulares de desenvolvimento, mas cabendo ao meio o desenvolvimento e ampliação destas potencialidades. Conforme afirma Wallon, o ser humano é “organicamente social”, pois precisa para tanto do meio cultural para ampliar o seu repertório de capacidades intelectuais. Assim sendo, à medida que aumenta suas interações com ambiente ganham novas possibilidades de interação com esse meio. A afetividade é o fio condutor destas relações ente o ato motor e o ato mental. Para Wallon somo afetados positiva ou negativamente, tanto pelas sensações internas quanto externas. A afetividade, em conjunto com a cognição e que nos permite evoluir em nossos processos de desenvolvimento e, no caso da criança, para a construção da sua autonomia e independência. Segundo Wallon, a cognição está baseada em quatro categorias de atividades cognitivas específicas, às quais o autor nomeia de campos funcionais. Os campos funcionais seriam: o movimento, a afetividade, a inteligência e a pessoa. O movimento seria um dos primeiros campos funcionais a se desenvolver, e que serviria de base para o desenvolvimento dos demais. Enquanto atividades cognitivas, os movimentos podem estar divididos em duas categorias: movimentos instrumentais e movimentos expressivos. Os movimentos instrumentais são ações executadas para alcançar um objetivo imediato e, em si, não diretamente relacionado com outro indivíduo; este seria o caso de ações como andar, pegar objetos, mastigar e etc. 20 Já os movimentos expressivos têm uma função comunicativa intrínseca, estando usualmente associados a outros indivíduos ou sendo usados para uma estruturação do pensamento do próprio movimentador. Falar, gesticular e sorrir seriam exemplos de movimentos expressivos. Wallon dá especial ênfase ao movimento como campo funcional porque acredita que o movimento tem grande importância na atividade de estruturação do pensamento no período anterior à aquisição da linguagem. Por sua vez a afetividade seria a primeira forma de interação com o meio ambiente e a motivação primeira do movimento. À medida que o movimento proporciona experiências à criança, ela vai respondendo através de emoções, diferenciando-se, para si mesma, do ambiente. A afetividade é o elemento mediador das relações sociais primordial, portanto, dado que separa a criança do ambiente. As emoções são, também, a base do desenvolvimento do terceiro campo funcional, a inteligência. Para Wallon, inteligência tem um sentido bastante peculiar, estando diretamente ligada com duas importantes atividades cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e a linguagem. À medida que o individuo vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua presença, o raciocínio simbólico e o poder de abstração vão se desenvolvendo. Ao mesmo tempo, as habilidades linguísticas vão surgindo no indivíduo, potencializando e ampliando sua capacidade de abstração. Wallon dá o nome de pessoa ao campo funcional que coordena os demais. Seria este também o campo funcional responsável pelo desenvolvimento da consciência e da identidade do eu. As relações entre estes três campos funcionais não são harmônicas, de modo que constantemente surgem conflitos entre eles. A pessoa, como campo funcional, cumpre um papel integrador importante, mas não absoluto. A cognição desenvolve-se de maneira dialética, em um constante processo de tese, antítese e síntese entre os campos funcionais. 21 Assim como na teoria piagetiana, a teoria de Wallon também propõe uma série de estágios do desenvolvimento, mas diferentemente daquele, não se limitando ao aspecto cognitivo. Wallon não acredita que os estágios de desenvolvimento formem uma sequência linear e fixa, ou que um estágio suprima o outro. Para o autor, as mudanças nas etapas de desenvolvimento, não ocorrem de forma linear. O indivíduo passará por “crises”, cortes e mudanças e conflitos. Esses conflitos podem ser de ordem: exógena (externos ao individuo) ou endógena (interno do individuo). Basicamente esses conflitos ocorrem devido ao declínio ou aumento da cognição ou da afetividade em determinadas fases. Elas não evoluem de forma igual, manifestando-se no indivíduo em caráter de alternância. Wallon afirma que os estágios se sucedem de maneira que momentos predominantemente afetivos sejam sucedidos por momentos predominantemente cognitivos. Usualmente, períodos predominantemente afetivos ocorrem em períodos focados na construção do eu, enquanto estágios com predominância cognitiva estão mais direcionados à construção do real e compreensão do mundo físico. Desta forma, afetividade e cognição não são estanques e se revezam na dominância dos estágios. O primeiro estágio seria o impulsivo-emocional. Ocorre do nascimento até aproximadamente o primeiro ano de vida. É um estágio predominantemente afetivo, onde as emoções são o principal instrumento de interação com o meio. A relação com o ambiente desenvolve sentimentos intraceptivos e fatores afetivos. Os movimentos são um tanto quanto desorientados, mas a contínua resposta do ambiente ao movimento infantil permite que a criança passe da desordem gestual às emoções diferenciadas. No estágio sensório-motor e projetivo (dos três meses de idade até aproximadamente o terceiro ano de vida), a inteligência predomina e o mundo externo prevalece nos fenômenos cognitivos. Acontecem nesta etapa dois fenômenos distintos: a inteligência prática, obtida pela interação de 22 objetos com o próprio corpo, e a inteligência discursiva, adquirida pela imitação e apropriação da linguagem. Os pensamentos, nesse estágio, muito comumente se projetam em atos motores. O próximo momento, estágio do personalismo estende-se aproximadamente dos três aos seis anos de idade sendo um período crucial para a formação da personalidade do indivíduo e da autoconsciência. Verifica-se nesta etapa uma fase de imitação motora e social bastante latente. Neste estágio seguinte, chamado estágio categorial, a criança começa a desenvolver as capacidades de memória e atenção voluntárias. Este estágio geralmente manifesta-se entre os seis e vai até os onze anos de idade. É neste estágio que se formam as categorias mentais: conceitos abstratos que abarcam vários conceitos concretos sem se prender a nenhum deles. No estágio categorial, o poder de abstração da mente do individuo é consideravelmente amplificado. Provavelmente por isto mesmo, é nesse estágio que o raciocínio simbólico se consolida como ferramenta cognitiva. Entre onze e doze anos, a criança começa a passar pelas transformações físicas e psicológicas. Para Wallon este seria o estágio da adolescência. Este é um estágio caracterizadamente afetivo, onde o indivíduo passa por uma série de conflitos internos e externos. Os grandes marcos desse estágio são a busca de autoafirmação e o desenvolvimento da sexualidade. Os estágios de desenvolvimento não se encerram com a adolescência. Em verdade, para Wallon o processo de aprendizagem sempre implica na passagem por um novo estágio. O indivíduo, ante algo em relação ao qual tem imperícia, sofre manifestações afetivas que levarão a um processo de adaptação. O resultado será a aquisição de perícia pelo indivíduo. O processo dialético de desenvolvimento jamais se encerra. 23 CAPITULO II CONCEITO DE LÚDICO A palavra lúdico vem do latim “ludus” e significa brincar. Neste conceito estão incluídos como brincar os jogos, os brinquedos, os divertimentos em geral. O conceito aborda também a conduta daquele que joga ou brinca e que se diverte. Em sendo assim, a atividade lúdica “é todo e qualquer movimento que tem como objetivo produzir prazer quando de sua execução, ou seja, divertir o praticante.”. Em termos teríamos as seguintes características sobre elas: • “são brinquedos ou brincadeiras menos consistentes e mais livres de regras ou normas; • são atividades que não visam à competição como objetivo principal, mas a realização de uma tarefa de forma prazerosa; • existe sempre a presença de motivação para atingir os objetivos.” Desde a Grécia utiliza-se este recurso para ajudar os educandos a compreender de forma mais prazerosa conteúdos escolares. As brincadeiras e jogos podem e devem ser utilizados como uma ferramenta importante de educação. O jogo e a brincadeira seus recursos importantes na ação lúdica. Por sua vez a dimensão educativa do jogo proporciona a aprendizagem do individuo, a construção do seu conhecimento através da experimentação e vivência lúdica. A ludicidade é uma necessidade do ser humano e não pode se vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem e enriquece o individuo em sua dimensão pessoal, social e cultural. Segundo Santos (2011) “Colabora ainda para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilitando os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.” 24 Segundo Cipriano Luckesi (2005) “a ludicidade, a meu ver, é um fenômeno interno do sujeito, que possui manifestações no exterior. Assim, ludicidade foi e está sendo entendida por mim a partir do lugar interno do sujeito.”. Através do corpo, sentimos, experimentamos e experienciamos a maioria das nossas impressões e sensações sobre o mundo que nos rodeia. Este ponto de referência servirá de base para o desenvolvimento cognitivo, para aprendizagem de muitos conceitos importantes para um desenvolvimento global, bem como para nossa orientação tempo-espacial, por exemplo, os conceitos de espaço: embaixo, em cima, ao lado, atrás, direita, esquerda etc. Primeiramente o individuo visualiza estes conceitos através de seu corpo e só depois consegue visualizá-los nos objetos entre si. Seu corpo também está inserido em um tempo e isto irá permitir situá-la melhor no mundo em que se encontra. Ele domina seus gestos ao escrever, domina seu tônus muscular ao imprimir a força adequada para a realização de determinadas tarefas. E vai evoluindo nesse movimento a ponto de realizar atividades mais requintadas em termos motores e intelectuais. Fonseca (1988) ilustra esta colocação quando diz: “O espírito não está atrás do corpo, ele o habita; o corpo não serve ao espírito, ele o exprime, insere-o no mundo e o faz comunicar-se com o mundo (...). Nem coisa, nem instrumento o meu corpo sou eu próprio no mundo. Habito o mundo pelo meu corpo. O meu corpo é para mim o mundo”. Segundo Luckesi, na vivência de uma atividade lúdica, estamos plenos e inteiros nesse momento; utilizamo-nos da atenção plena. Enquanto estamos participando verdadeiramente de uma atividade lúdica, “não há lugar, na nossa experiência, para qualquer outra coisa além dessa própria atividade. Não há divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis”. 25 Através do trabalho pautado nas atividades lúdicas podemos observar que diversas dimensões podem ser desenvolvidas nos indivíduos envolvidos. Dentre muitas podemos citar: • Comunicação: Através da comunicação expressamos nossos sentimentos, dificuldades e intenções. Pode ser verbal ou não verbal. O corpo também se apresenta como ferramenta de comunicação, pois através dos movimentos, expressa o nosso ser e nossa forma de agir e pensar. • Expressão: Tem intima ligação com a comunicação. A expressão corporal ou facial busca externar quem somos. Podemos ter exemplo deste tópico através da dança, do teatro entre outros recursos expressivos. • Afetividade: Nela é baseado todo o trabalho psicomotor. Um clima emocional favorável é importante para o desenvolvimento de um bom trabalho em psicomotricidade. Através dela o corpo pode demonstrar também diversos comportamentos e sentimentos (agressividade e outros). • Agressividade: É resultado de um conflito, por não saber lidar com alguma questão ou sentimento. A agressividade faz parte da estrutura do ser humano, ajudando-a a crescer e construir sua identidade. Deve ser trabalhada quando se torna exacerbada trazendo prejuízo para o individuo ou ao seu convívio com outros. • Limite: É permitir que o indivíduo experiencie e descubra os seus próprios limites. A criança necessita adquirir limites internos e externos para construção da sua identidade. • Corporeidade: É a vivencia do corpo, através do movimento, construindo sua história em relação ao ambiente que o rodeia. A experiência vivida é que realiza a construção e conscientização da noção de corpo interna e externamente. Segundo Luckesi, poderá ocorrer, evidentemente, de estarmos no meio de uma atividade lúdica e, ao mesmo tempo, estarmos divididos com outra coisa, mas aí, com certeza, não estaremos verdadeiramente 26 participando dessa atividade. Estaremos com o corpo aí presente, mas com a mente em outro lugar e, então, nossa atividade não será plena e, por isso mesmo, não será lúdica. Para ser lúdica a atividade deve estar intimamente ligada ao desenvolvimento da corporeidade do individuo que a vivencia A corporeidade é a capacidade do individuo sentir e utilizar seu corpo como ferramenta de manifestação e interação com o mundo. Ela evolui com a idade, e se apresenta de forma diferente nas particularidades do ser humano (jovem, idosos, homem, mulher etc.). Nosso corpo é movido por intenções e nossos movimentos são reflexos disto. A corporeidade está intimamente ligada com a expressão, pois através do nosso corpo podemos dizer muito sobre quem somos como atuamos e nossas intenções (no plano consciente e inconsciente). Segundo Merleau-Ponty (in Machado-2010): “Cada organismo tem, pois, na presença de um meio dado, suas condições ótimas de atividades, sua própria maneira de realizar o equilíbrio, e as determinantes interiores desse equilíbrio, não são dadas por uma pluralidade de valores, mas por uma atitude geral com relação ao mundo”. Em sendo assim a afirmação do autor reforça que a corporeidade representa o elemento formador da expressão do corpo no ambiente, pois através dela, o individuo, manifesta-se através do corpo que informa a mente a sua intenção e esta muda ou reafirma as suas intenções, em busca de novas manifestações. Em sendo a corporeidade a capacidade do individuo sentir e utilizar seu corpo como ferramenta de manifestação e interação com o mundo, as atividades que visam estimular esta manifestação devem, primordialmente, estar ligadas as linguagens expressivas (as construções escritas e orais, a dança, a música, as artes plásticas em geral, os jogos e as brincadeiras entre outros recursos). 27 No documento RCN (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil) fica muito explicito a importância do uso de recurso para o desenvolvimento das expressões corporais na infância, pois: “O trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade (...), abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal (...)”. Estes recursos devem propiciar ao individuo vivenciar o mundo através do seu corpo. O individuo que é estimulado desde cedo a se movimentar, e utilizar-se deste movimento como expressão pessoal e cultural, possui um controle maior de seu corpo e cria vínculos positivos em sua interação com o mundo que o cerca. Deve-se levar em consideração, que o estimulo ao desenvolvimento da corporeidade não se restringe ao campo infantil, podendo ser trabalhados todos os recursos no universo adulto (inclusive no trabalho com os idosos), com as suas devidas adequações e levando em consideração as especificidades de cada grupo etário. Para Machado (2010) o comportamento é reflexo da expressão humana. As questões orgânicas, reflexos e estímulos são parte deste comportamento, mas o que se refere ao intencional, o que envolve o “querer” com relação ao movimento também fazem parte, e influenciam a corporeidade. Segundo Chauí (in Machado, 2010), “É através do corpo que o ser se forma sensível efetiva-se no mundo. É na originalidade da experiência corporal, que redescobre a unidade fundamental do mundo sensível”. Em sendo assim a emoção e o comportamento influenciam a corporeidade de forma significativa, tendo em vista que nossa forma de ser e agir estão intimamente ligados ao modo como agimos (comportamento) no meio em que vivemos e como esse meio nos mobiliza (emoção). 28 Portanto a ludicidade seria o conceito primordial para o desenvolvimento de práticas educativas baseadas em uma perspectiva psicomotora em educação. No tocante da educação de jovens e adultos, esta se constitui em uma forma interessante e bastante produtiva de ampliar as dimensões de vivencias com relação ao aluno adulto que comumente não tem a possibilidade de vivenciar estas praticas em seu cotidiano fora do ambiente educacional. Le Boulch afirma ainda que “O objetivo central da educação pelo movimento é contribuir ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o seu sucesso escolar (...) considerando a dimensão afetiva da atitude educativa”. 29 CAPITULO III O LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Ao longo da história da educação brasileira pouco se fez em prol de um ensino de qualidade para os jovens e adultos. É somente a partir da década de 40 que no Brasil começa-se a pensar em uma educação voltada a estas camadas populares, as quais tomaram maiores evidencia a partir da década de 60. Neste cenário Paulo Freire propunha uma concepção de educação libertadora, a partir das experiências vividas pelo aluno, à constituição de um processo emancipador na qual a leitura está intimamente vinculada à transformação social com a superação da opressão. As propostas de Freire visam uma educação popular, pautada na conscientização, na qual a leitura de mundo, o estimulo ao conhecimento a através do vivido, este precede a leitura da palavra. Entretanto, contrariamente a esta perspectiva, em 1967 foi lançado o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), que se expandiu para todo país. Este programa levava o educando a apenas decifrar letras e, muito precariamente, a leitura e a escrita. De um modo geral, mesmo após a extinção do Mobral e com os sucessivos programas governamentais para atender a EJA, é possível constatar que ainda são fortes as influências de perspectivas limitadas de educação nesta modalidade de ensino. Sendo assim para modificar este panorama, faz-se necessário envolver os alunos em um processo de ensino norteado por práticas que possibilite a inclusão educacional e social. Para tal, os trabalhos educativos com jovens e adultos devem estar alicerçados com práticas que desenvolvam a permanência do educando na escola, permitindo o seu desenvolvimento em múltiplas dimensões e fazendo com o mesmo se capacite para novos desafios na sua vida acadêmica e social. 30 Portanto, a ludicidade institui-se como forma básica de um novo olhar para a educação dos jovens e adultos, na qual esses alunos que não tiveram oportunidades educacionais na idade própria e retornaram à escola na tentativa de superar o tempo perdido, possam encontrar neste ambiente prazer, descontração e de satisfação pessoal e ao mesmo tempo possam construir seus conhecimentos de forma agradável e muito mais significativa. O lúdico é uma necessidade do ser humano, em qualquer idade, e não pode ser vista apenas como diversão. Segundo Santos (2011), o desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização comunicação, expressão e construção do conhecimento. Em uma concepção pautada na ludicidade, a linguagem oral e escrita deve ser considerada como forma de interação e expressão, para externar pensamentos ou para apropriação de conhecimentos. Desta forma, poderemos através de jogos, brincadeiras, montagens e produções dos alunos criar um ambiente alfabetizador significativo e concreto bem como ampliar seus conceitos, através das vivencias acerca do mundo e de si mesmo. É importante observar, que é necessário respeitar os diversos níveis de compreensão dos alunos da EJA, valorizando a sua realidade para que de fato aconteça o processo de ensino aprendizagem. Isto deve ser feito sem imposição, pois ninguém sabe tudo, cada um tem intrínseco o seu conhecimento pautado em suas convicções e experiências vividas. Assim sendo, o trabalho com a ludicidade, para além da recreação, deve envolver a sensibilidade e a descoberta de um novo sentido para a leitura e a escrita, vislumbrando o desenvolvimento pleno da capacidade do sujeito, assim como o desenvolvimento de variadas dimensões (ética, estética, artística, afetiva etc.). 31 Desta forma é importante redimensionar através das atividades lúdicas os conteúdos a serem trabalhados na EJA, modificando atitudes e comportamentos facilitando a aprendizagem, e tornando-a significativa. Faz-se necessário a essa utilização observar duas questões importantes. Em primeiro lugar, a utilização de atividades lúdicas com novas metodologias de ensino baseada na perspectiva de um novo olhar para o currículo da EJA. Isso será necessário para efetivar a construção do conhecimento junto à vivência e a capacidade criadora dos alunos. Em seguida deve-se perceber que a educação de hoje precisa aproveitar a ludicidade em benefício de todos, garantindo aos alunos uma integração na sociedade como agentes mais críticos e criativos, onde este individuo terá mais oportunidade de expressar sua afetividade, emoções e até mesmo integrar-se ao grupo de forma consciente e crítica. Entretanto, ao pensar sobre a utilização do lúdico na EJA é preciso considerar que esta modalidade possui suas especificidades as quais devem ser respeitadas. Não podemos mais ver a EJA como uma extensão do ensino regular ou com atividades meramente recreativas que não são usadas para programar novas práticas e, sobretudo criar um ambiente de integração entre professores e aluno. O lúdico não deve ser utilizado simplesmente como passatempo, como se não tivesse nenhum valor pedagógico. Ao contrário essas atividades devem envolver os alunos para o trabalho coletivo, é através das atividades lúdicas como jogo e brincadeiras que o adulto poderá indagar transformar e expressar suas vontades. Para, Haidt (2003) “o jogo tem um valor formativo porque contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência a regras, senso de responsabilidade iniciativa, pessoal e grupal”. Sendo assim, a concepção de formação humana contínua, segundo a qual todos, educadores e educandos, são eternos aprendizes, trocando e 32 inovando suas experiências e aumentando a perspectiva de permanência desses alunos na escola deve ser a visão primordial para utilização do lúdico nas classes de educação de jovens e adultos. Assim a escola deve constituir se em um espaço de troca de experiências, onde a ludicidade auxiliam o professor na sua prática. 3.1 Histórico da Educação de Jovens e Adultos Até a segunda Guerra Mundial, a educação popular era concebida como a extensão da educação formal para todos, principalmente, para os habitantes das áreas periféricas das cidades e das comunidades rurais. Em 1949, foi realizada na Dinamarca, a I Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, com o objetivo de criar ferramentas educacionais, para formar o “homem para paz” (Gadotti, 2011). Percebeu-se neste momento que a educação não conseguiu deixar que a guerra não acontecesse e, que talvez, fosse necessária a educação do homem mesmo depois da escolaridade formal. Após este período e com a II Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, em Montreal (1963) e EJA toma dois enfoques bastante distintos: a educação permanente e a educação de base ou comunitária. Ambos os enfoques visavam à continuidade de uma educação já existente, bastante diferentes dos moldes atuais. Na cidade de Tóquio (1972), ocorreu a III Conferência Internacional sobre Educação de Adultos onde já se fala na EJA como modalidade educacional e que visava à introdução do aluno analfabeto em seu processo inicial da educação e a complementação dos estudos formais daqueles que não puderam fazê-lo no período regular. A IV Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, em Paris, trouxe um novo conceito sobre a educação de jovens e adultos, pois neste 33 momento a escolaridade formal, já não bastava em si, agregando-se ao ambiente escolar as questões sociais, raciais e de trabalho. A Conferência de Paris impulsionou o conceito de Educação e Jovens e Adultos (Gadotti, 2011). Nos Anos 90, mas precisamente em 1990, a Conferência Internacional sobre Educação para Todos em Jomtien (Tailândia), define que a alfabetização de jovens e adultos seria uma primeira etapa a educação básica e nos conscientiza que esta modalidade educacional não pode estar separada das “necessidades básicas de aprendizagem”. No Brasil, a Educação de Jovens e Adultos (EJA), durante as décadas de 40 e 50 era vista como uma extensão da escolaridade formal, principalmente na zona rural. No inicio dos anos 60 e durante toda a década de 70 são observadas duas fortes tendências: A educação libertadora (com a fundamentação de Paulo Freire e sua imensa obra voltada para a Educação Conscientizadora) e educação funcional (Com um forte apelo tecnicista. O MOBRAL-Movimento Brasileiro de Alfabetização foi o grande exemplo da educação funcional neste período). Atualmente as perspectivas da fundamentação da EJA, são baseadas na “Declaração Mundial de Educação para Todos” e o no “Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem”, onde pode ser observado que embora as taxas de analfabetismo no Brasil tenham diminuído, a matrícula na EJA vem caindo, demonstrando que assim como os demais segmentos educacionais de nosso país, que estão em crise, a educação de jovens e adultos, infelizmente distanciasse da realidade e da necessidade dos educandos, criando descontextualização e descontentamento. no ambiente escolar 34 3.2 Relato de Experiência Segundo Gadotti (2011), o aluno adulto não pode ser tratado como uma criança cuja história de vida apenas começa. Ele quer ver a aplicação imediata do que está aprendendo. Ao mesmo tempo, apresenta-se temeroso, sente-se ameaçado, precisa ser estimulado, criar autoestima, pois sua “ignorância” lhe traz tensão, angustia complexo de inferioridade. Muitas vezes tem vergonha e falar de si, de sua moradia, de sua experiência frustrada de infância, principalmente em relação à escola. É preciso que tudo isto seja verbalizado e analisado. O primeiro direito do educando é o direito de se expressar. A educação básica no Brasil tem por finalidade, segundo o artigo 22 da LDB, “... de desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Com este referencial, propomos discutir as possibilidades de se repensar a educação na perspectiva interdisciplinar. Consideramos importante que cada escola faça um retrato de si mesma, dos sujeitos que a faz viva e do meio social em que se insere, no sentido de compreender sua própria cultura, identificando dimensões da realidade motivadoras de uma proposta curricular coerente com os interesses e as necessidades de seus alunos. Afinal, a escola faz parte do conjunto social em que está inserida e deve se comprometer, também, com seus projetos. Sem nunca esgotar-se em si mesma, a dimensão local pode ser uma dimensão importante do planejamento educacional, integrado a um projeto social comprometido com a melhoria da qualidade de vida de toda a população. A metodologia do projeto foi sistematizada com leituras de publicações diversas, além dos livros didáticos, selecionando temas e 35 construindo objetos de estudo capazes de integrar os conhecimentos trabalhados nas respectivas áreas de conhecimento e interdisciplinaridade, envolvimento dos alunos nesse processo de escolha; valorização da cultura e o contexto local referenciados na cultura global, levando-se em conta os interesses, a realidade e os projetos pessoais /sociais dos alunos; A educação no horário noturno possui características peculiares como, por exemplo: ser um turno que se agrega a jornada de trabalho do aluno, o que se torna bastante desgastante vir à escola, cansado e lá não encontrar atrativo, o novo, o ensinar diferente que venha fazer valer esse esforço. Foi identificado que o maior índice de ausência dos alunos é no dia de sexta-feira. O projeto se justificava inicialmente no interesse em diminuir o índice de evasão, que vinha tornando as noites de sexta-feira vazias nas unidades escolares. A realização de atividades interativas com o cunho dinâmico foi à proposta do projeto que visava atrair e manter o aluno na sala de aula também nesse dia. O projeto foi destinado aos alunos do segmento de educação de jovens e adultos (SEJA) da etapa inicial (estágios I ao IV) em idades variantes entre quinze e setenta anos, da escola municipal Clemilda Andrade, situada na Rua Ariston Bertino de Carvalho, s/n no bairro de Brotas em Salvador, na Bahia. Em sua maioria são oriundos das comunidades mais carentes do entorno do bairro de Brotas como: Candeal, Bonocô, Cosme de Farias, Campinas de Brotas e outras localidades próximas à unidade escolar. Esta clientela são em sua maioria comerciante do mercado informal, trabalhadores (as) da construção civil, empregados (as) domésticos (as), alguns desempregados e uma parcela significativa de portadores de necessidades especiais. Os alunos participantes deste grupo escolar, em sua maioria, iniciaram sua alfabetização nesta unidade escolar. Muitos deles apresentam dificuldades de aprendizagem (trabalham todo o dia, ambiente social pobre de estímulos ao aprender escolar entre outros.) e alguns ainda apresentam condições diferenciadas para aprender (necessidades educativas especiais). 36 Diante deste panorama conflituoso, fez-se necessário um projeto especial, neste caso o aqui citado como “Sexta Legal”, para inicialmente sanar e posteriormente prevenir a evasão escolar, principalmente nos dias que antecedem o final de semana (no caso as sextas-feiras) onde a grande maioria deixa de ir para escola em busca de uma renda extra através do comércio em lugares públicos, em eventos de lazer e nos trabalhos domésticos, que normalmente possuem maior procura neste período da semana. A maioria do projeto foi programada para ocorrer à sexta-feira, quinzenalmente. Deu-se inicio no mês de agosto no ano de 2010 e se apresenta acontecendo até o corrente ano de 2013. Em alguns meses foi necessário acontecer algumas adaptações visto que o projeto poderia se chocar com outros eventos do calendário escolar, bem como outros momentos da própria escola. Nos dia da organização do projeto, visando uma maior integração entre as turmas, reunimos todas as turmas em uma única sala com todas as professoras. Em alguns momentos também contamos com o apoio da coordenação, da vice direção e também da direção da unidade escolar. A proposta das atividades foi feita aos alunos presentes, que são informados sobre como é a atividade, o porquê da atividade e como realizála. Em todas as etapas das oficinas existe um professor responsável pela atividade daquele dia. Esse professor é responsável pelo material necessário, pela orientação da execução bem como o planejamento e avaliação posterior de como ocorreu àquela etapa. Todas as professoras presentes participam da operacionalização da atividade, sendo o comando da sala de um professor ou uma dupla de professores, conforme calendário estabelecido. A escolha das atividades variou de acordo com a necessidade dos projetos elencados no bimestre ou de acordo com a demanda da turma em 37 pesquisa oral feita com os alunos a respeito do que gostariam de trabalhar em momento posterior. A título de exemplificação do projeto ocorrido segue o cronogramas de algumas atividades realizadas no ano de 2010 e 2011 que deram inicio ao projeto. DATAS ATIVIDADES REALIZADAS 13/08/2010 Tangram (distinção de figuras geométricas e montagem com e sem suporte concreto). 27/08/2010 A lenda da mandioca (peça teatral apresentada pelas professoras aos alunos). 17/09/2010 Qual é a música?(apreciação musical e trabalho com a percepção auditiva). 24/09/2010 Colcha de retalhos (compartilhando relatos de experiências e tecendo saberes. Técnica de colagem em papel crepom). 08/10/2010 Loteria do saber (Conhecimentos gerais e conteúdos trabalhados no bimestre). 15/04/2011 Customização de cadernos (técnica livre de recorte e colagem e/ou mosaico). 27/05/2011 Releitura das obras de Romero Brito (técnica livre de desenho e pintura com lápis de cor). 09/09/2011 Pintura em tecido (técnica livre de pintura em tecido-artesanato) 23/09/2011 Arte em Jornal (confecção de peças utilitárias a partir da reciclagem de jornal) 07/10/2011 Dobradura em papel (Confecção de porta retrato com papel de revista) 21/10/2011 Visitando Kandinsky (Releitura das obras do artista plástico através de recorte e colagem) 38 Pode-se observar que diversas foram as linguagens e o objetivo maior era possibilitar uma ampla gama de experiências que pudessem não só envolver a dimensão pedagógica deste aluno, mas também engloba e propiciar seu desenvolvimento pessoal exterior (atividade em grupo) e individual (atividades expressivas). Segundo Negrine (1986) a educação psicomotora tem por finalidade “promover, através de uma ação pedagógica, o desenvolvimento de todas as potencialidades da criança, objetivando o equilíbrio biopsicossocial.” Esta prática é observada, hoje, nas escolas de educação infantil e nos centros de trabalho que atuam com crianças de 06 a 12 anos que buscam o desenvolvimento da interação/intenção do corpo e movimento infantil. Le Boulch (1987) em seu livro “educação psicomotora” detalha de forma minuciosa esta área da psicomotricidade. Infelizmente, não existem teóricos específicos que ilustrem de forma efetiva os benefícios das praticas lúdicas com o aluno adulto. Na verdade transfere-se o saber produzido com a criança para a educação de Jovens e adultos. Fato que faz com que algumas iniciativas não sejam felizes, pois o adulto possui suas peculiaridades, potencialidades e limitações bastante diferentes da criança. Segundo o que pode ser observado com a realização deste projeto, as atividades baseadas no folclore, na cultura popular, resgatando o lado cultural da escola (contos, parlendas, lendas, encenações...) e mesclando-o as atividades de origem lúdica propiciaram o sucesso do projeto pesquisado. Vale salientar a importância dos principais recursos utilizados na realização do projeto pesquisado: A) Contos: Os contos são uma grande fonte de estimulo e inspiração para diversas atividades. Através dos contos os indivíduos de todas as idades podem compreender de forma lúdica, conflitos da vida real e 39 resignifica-los de forma a absorver este recurso ao seu próprio entendimento. Em diversos projetos eles podem servir de recurso incentivador e propulsor. Eles podem ser construídos durante oficinas de arte, a partir de elementos concretos (brinquedos, objetos diversos, plantas e etc.) ou de pensamentos. Pode-se ainda dramatizar contos com recursos diversos como fantoches, bonecos, máscaras e ainda o próprio corpo ou através de encenações. Criar fantoches, cenários, inventar histórias, recriar os contos já existentes, realizar adaptações, são recursos que podem introduzir os contos nas oficinas de arte e em projetos em geral. B) Música: Segundo Haetinger (2005) “cantar é carregar o som com a sua energia. Quando cantamos em grupo nossa energia é ainda maior e tocamos o nosso corpo, nossa mente e nossa alma”. A música tem o poder de estabelecer vínculos e nos aproximar do cotidiano do individuo. Pode ser usado como estimulo para o desenvolvimento de várias habilidades e competências. Jogos musicais, rodas cantadas, parlendas, quadrinhas são alguns dos recursos que podem ser utilizados em sala de aula também com alunos adultos. Podem ser utilizadas ainda, músicas folclóricas ou do repertório atual com o fim de ler, escrever, reescrever letras ou somente cantá-las com objetivo puramente lúdico e expressivo. Sem dúvida a música é um dos principais recursos para desenvolvimento da atenção, concentração, sensibilidade e aprendizagem de forma geral. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a dança faz parte das culturas humanas e sempre integrou o trabalho, a religião e as atividades de lazer. Os povos sempre privilegiaram a dança como um bem cultural e uma atividade inerente à natureza do homem. 40 C) Dança: A dança está presente em diversas manifestações culturais, principalmente em nossa cultura brasileira, em que o movimento corporal é tão privilegiado. É possível observar que dependendo da região, observamos manifestações culturais típicas de cada ambiente e às influencias externas de outras culturas nesta formação. O trabalho com a dança deve ter em vista estes aspectos valorizando e incentivando essas características. Para Haetinger (2005) “diversos tipos de dança estão presentes no cotidiano de diferentes sociedades. A dança é uma manifestação cultural e social (...) a dança representa um importante modo de expressão”. O reconhecimento do desenvolvimento motriz (individual e coletivo), capacidade de improvisação e criação, reconhecimento e exploração do espaço, comunicação e reconhecimento da comunicação através de gestos são alguns dos objetivos propostos pelos PCNs para o desenvolvimento da dança como expressão da manifestação coletiva e objeto de construção do conhecimento. D) Teatro: Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais “as propostas educacionais devem compreender a atividade teatral como uma combinação de atividades para o desenvolvimento global do individuo, um processo de socialização consciente e critico um exercício de convivência democrática, uma atividade artística com preocupações de organização estética e uma experiência que faz parte das culturas humanas.”. Como recurso expressivo, pode-se observar que o teatro propicia ao individuo a possibilidade de experimentar recursos diversos (imagens, sons, adereços e materiais cênicos em geral) que lhe possibilite dizer sobre si e seus sentimentos e sensações. Em relação à esfera comunicativa o teatro permite ao individuo lidar com questões individuais e coletivas assim como informar elementos culturais, regionais e políticos existentes em seu ambiente. 41 Para os PCNs, o teatro como expressão e comunicação permite à participação de momentos lúdicos de aprendizagem, o reconhecimento de materiais dramáticos (espaço cênico /personagem /ação dramática), a experimentação das expressões plásticas e sonoras bem como o uso de estímulos diversos para improvisação (textos, objetos, adereços...), a pesquisa, elaboração e utilização de cenários, figurinos diversos, iluminação e som, utilização de maquiagem, máscaras e bonecos entre outros recursos. Os principais objetivos do projeto pesquisado trabalho foram: • Proporcionar a integração entre o corpo docente e discente em consonância com as atividades lúdicas idealizadas. • Valorizar os conhecimentos prévios dos alunos. • Incentivar a motivação, enfatizando a autoestima. • Desenvolver as competências e habilidades dos educandos para uma aprendizagem significativa. A escola precisa ser em sua essência, espaço para construção de uma prática social que reconheça em cada sujeito suas potencialidades e as desenvolvam com compreensão, respeitando a individualidade, limites e o momento próprio de cada educando. Buscou-se através das atividades lúdicas, trabalhar áreas como memória, percepção, compreensão e interpretação. A aprendizagem foi o foco central do trabalho utilizando-se da ludicidade a fim de possibilitando um trabalhar novas vivencias e experiências para o individuo que utiliza esta modalidade educacional, realizando-se assim seu desenvolvimento em múltiplas dimensões do seu aprendizado fazendo com que o mesmo se prepare para novos desafios. 42 CONCLUSÃO As necessidades específicas da EJA exige que busquemos analisar e propor práticas educativas condizentes com a realidade socialmente excludente em que vivemos. Repensar a educação de jovens e adultos é um desafio para aqueles que se propõe na construção de uma educação emancipadora, que considere o ser humano em todas as suas dimensões. Neste processo, a psicomotricidade, através das atividades lúdicas, representa um caminho para um desenvolvimento mais humano, fraterno e libertador. Na pesquisa realizada foi possível constatar que o fazer educativo pautado em atividades lúdicas foi bastante positivo e a experiência realizada nesta escola, em Salvador, comprova que os alunos obtiveram maiores rendimentos, reduziu-se a evasão e proporcionou aos educandos e professores novas aprendizagens tanto no campo pedagógico como no psicomotor. E neste processo, que o professor precisa assumir a crença no poder de transformação que o lúdico pode trazer para a educação e o brincar deve ser visto como um ampliador do desempenho do educador e potencializador de grandes êxitos. Faz-se necessário repensar nossas práticas, ajustando as ações pedagógicas para promover o efetivo exercício da cidadania e também perceber que a sala de aula constitui-se em um ambiente com diferentes vivências que podem ser aproveitadas para estimular os alunos facilitando e dinamizando as aulas. Bem como criando espaços para o desenvolvimento pessoal através da experiência corporal através da utilização do lúdico e de outras vertentes da psicomotricidade que pode e deve ser aplicada a educação. 43 Outro aspecto a ser acrescentado é que com as atividades lúdicas o professor favorece a autoestima e promove o desenvolvimento de diversas linguagens, pois alguns alunos têm dificuldades de comunicar-se e através dos jogos e brincadeiras, mas podem ter facilidade de comunicar através da linguagem plástica (pintura, desenhos...) ou da linguagem corporal (a dança, a capoeira e outros). Assim, é possível compreender o outro, amar e sentirse aceito pelos colegas respeitando e compartilhando seus anseios, suas dúvidas e desejos. Para Freire, (1996) “a alegria necessária à atividade educativa é a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podem aprender ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos”. 44 BIBLIOGRAFIA BRASIL. 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