Ponto de Vista “Que mico!” Q uem ainda não ouviu a expressão-título desse artigo, é porque não tem se relacionado com adolescentes ou não foi avaliado pelo critério do constrangimento da convivência com o mundo adulto (quase sempre assíncrono), comum aos meninos e meninas dessa faixa etária. Sim, meu caro, se você ouvir um sonoro “Que mico!”, é porque alguém está muito constrangido com algo que você disse ou fez e está querendo lhe dizer: “Que vergonha”! Isso porque essa restrição ou controversa representou um risco à imagem desse adolescente perante o grupo a que ele pertence e/ou almeja pertencer. É importante ressaltar que pertencer a um grupo com pessoas de idade e interesse semelhantes é indispensável nessa fase da vida, pois a referência dos pares é salutar para a construção da identidade. Por isso, mais do que incentivado, deve ser cultivado pelos adultos. Muito embora seja importante conhecer e estar atento ao grupo de amigos, vale a pena considerar que o grau de influência que esse grupo exerce tem relação com a constituição biopsicossocial de cada adolescente. A maior parte dos profissionais que atuam em clínica de reabilitação de dependência química, afirma que, em grande parte, “os adolescentes que se perdem nas ruas, antes não se encontraram em suas casas”. Um movimento diferente, observado pelos pais, dá conta do fato de que os filhos preferem ficar em casa, ao grupo de amigos nas ruas e, isso acaba por ser motivo de orgulho para alguns, que dizem, abertamente: “Meu filho não sai de casa. Fica a noite inteira no quarto, na internet.” Sinceramente, não consigo ver com otimismo esse movimento e creio em uma dose de ingenuidade implícita nessa afirmação. Primeiro, as portas da internet são abertas para o mundo e não somente para os arredores da residência. Segundo, a faixa etária e os interesses difundidos nesse meio são os mais diversos e difusos possíveis e não somente a do grupo 50 REVISTA A&E | ANO 14 | No. 23| OUTUBRO/2013 de amigos. Terceiro, há vazios existenciais produzidos na rede que provocam depressão, ansiedade, dependência entre outras doenças, ainda não pesquisadas em escala, mas já podemos afirmar que o tempo de convivência, de escuta, de troca entre os familiares foi reduzido drasticamente, em virtude da utilização da internet e, só por isso, já há prejuízos para essa faixa etária. Na primeira infância tanto quanto na adolescência, a natureza humana carece, de forma mais intensa, de "adultos-referência" para a sua formação. Todavia, como o trabalho educativo é feito a “quatro mãos” família-escola, temos a responsabilidade de contribuir com os responsáveis pela construção de referências, para uma reflexão que urge: quais são os perigos do universo digital que se mascara de pseudoproteção? Nem todos têm a dimensão do que podem trazer para dentro de casa, quando abrem o acesso à internet. Por outro lado, seria uma insanidade viver nesse século e estarmos alheios às inúmeras possibilidades de informação e de comunicação que a internet oportuniza, democraticamente, acessando as maravilhas do mundo, em tempo real, sem sair de casa. Novamente estamos, nós, adultos, diante da necessidade de recorrer ao bom senso. Ao caminho do meio que, necessariamente, caminha-se junto para encontrar... Talvez, por isso, meu maior mico tenha sido trazer o computador para a sala e colocá-lo lado a lado com a TV, de tal forma, que todos lá em casa possam acessar a internet, desde que “socialmente”. E eu fico com “um olho no peixe (TV) e outro no gato (computador)”. Quem é cristão, me entende: “orai e vigiai”. Acedriana Vicente Sandi Diretora Pedagógica da Editora Positivo [email protected]