n. 169, 10 de agosto de 2010. Ano IV. "a verdade é que o Estado é uma conspiração desenhada não somente para explorar, mas acima de tudo para corromper seus cidadãos (...)" (liev tolstoi). um Estava agendada para o final dessa semana, por meio de uma lista de discussão eletrônica, uma manifestação de grupos neonazistas no vão livre do MASP. Alguns punks se adiantaram em alertar para o absurdo de tal investida: lançaram, também no meio eletrônico, um chamado de contra manifestação e um dossiê sobre as recentes aparições na mídia de neonazistas e grupos skin heads. Não se viu ou leu mais nada sobre o assunto. dois Em brevíssimo tempo, um jornal de São Paulo, deu nota sobre a proibição da manifestação por meio da intervenção do Ministério Público (como ocorrera com a chamada Marcha da maconha) e a abertura de investigação do DEGRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância). Em tempos de intermináveis negociações, até mesmo os enfrentamentos de rua, como entre anarcopunks e skin heads, são investidos de variações contínuas onde os mesmos anarcopunks, ora são alvo da polícia, ora compõem pragmaticamente com ONGs e grupos de direitos para reforçar os dispositivos de governo, controle e administração das violências. E todos estão endireitados e prontos a colaborar e ser polícia, mesmo odiando-a. Qual paradoxo? doismiledez Libertários notam e anotam o mais preocupante: há muitos que já dão nome ao desejo fascista, mesmo sob a ameaça da lei; os que dizem combater os fascistas confiam no Estado e na polícia para abafar o caso e depois gritam, espetacularmente, em um contra ato simbólico; a grande maioria nem liga, segue rebanho. A história não se repete, isso é bobagem. Mas estamos atentos, ainda que de estômago embrulhado e olhos injetados, no que não deixou de graçar e se insinuar apenas porque não ocupa mais o Estado. Também sabemos o quanto de fascismo está inscrito na expansão de direitos, na crença na lei, enfim, no direito moderno e suas derivações. Além do mais, conhecemos por onde andam, nos fluxos eletrônicos, as forças fascistas e neonazistas, mas não chamaremos a polícia, morô!? liberdade de expressão e extermínio O símbolo da campanha Free Speech Online é uma fita azul. Apoiada por sites nazi-fascistas, que têm sua propaganda proibida em vários países, a campanha refere-se à liberdade de expressão como um conteúdo de direitos humanos. Estes sites reclamam seu lugar na democracia e se dizem prejudicados por dispositivos de censura da internet. Em tempos de tolerância, também querem participar, sem abrir mão do discurso racista. Não se deve esquecer que, por vias democráticas, o regime nazista se institucionalizou para depois exterminar gays, loucos, anarquistas, comunistas e judeus: seu alvo sempre foi a solução final. para ficar atento... Sites, fóruns e blogs nazi-fascistas proliferam pela internet. Um blog tem mais de 30.000 acessos em 8 meses. Um site, 40 conexões nacionais e 50 internacionais. A sessão brasileira de um fórum internacional, já teve mais de 215.000 visitas; mais de 800 postagens, uma delas com quase 11.000 visualizações. De todos eles jorram divulgações de eventos, imagens, vídeos, fotos, textos, livros para downloads, hinos, charges, músicas e outros links. Ligações infinitas mantidas por pessoas que proclamam a livre expressão de suas ideias. O nazismo e o fascismo não cessam, alimentam-se, disseminam-se na vontade de cada um de extermínio. Em tempo: digite no Google "Holocausto é" e pasme diante da frase estampada: "Holocausto é uma farsa". para ficar mais atento... Desde 2007 está no ar uma enciclopédia alternativa eletrônica em língua portuguesa, a Metapedia, com suas regras de participação, usuários atualizando constantemente o conteúdo, ferramentas de moderação, hierarquias... uma variação da famosa Wikipédia. No entanto, propõe dedicar-se ao revisionismo histórico do Holocausto e à divulgação do Nacional Socialismo. Em seus 581 artigos, quase 5 vezes mais do que na Anarcopédia, pessoas cadastradas publicam imagens, símbolos nazistas e preenchem sessões como Nacionalismo, Terceiro Reich, Revolução Conservadora, Nova Direita, Fascismo Italiano, Biologia Social... Usuários alertas e logados estão prontos para serem identificados e marcarem seus alvos: suas condutas não estão apartadas do que postam. O alternativo não inventa, aqui é a válvula de escape para proliferação de racismo e vontade de extermínio. direitos humanos e diplomacia 2010. A diplomacia brasileira apresentou-se na dianteira na reforma política do jogo de poderes que envolvem a defesa e a fiscalização de Direitos Humanos. Fundamentada no argumento pela melhoria da administração da humanidade, a diplomacia brasileira propõe recuos nas denúncias contra governos ditatoriais e autoritários que encenam exercícios eleitorais, sugerindo novos equacionamentos negociáveis para as práticas de torturas, confinamentos sórdidos, escamoteações, humilhações... relatadas aos agentes da ONU. A quem isso interessa? diplomacia e interesses Interessa ao governo brasileiro e a certos parceiros na América Latina, no Oriente Médio e na África. Interessa a muitos outros governos também, como os da Europa, com suas legislações racistas contra imigrantes. Interessa, principalmente, à China e ao seu regime ditatorial que institucionaliza o capitalismo pela renovação imperial. E não interessa aos Estados Unidos? Sustentando sua retórica humanitarista, desde Jimmy Carter, está o jogo comercial com a China, os efeitos das intervenções cirúrgicas em ditaduras no Oriente Médio, os acordos sobre o petróleo com os sheiks, enfim, a gestão capitalista negociada. Ninguém é inocente em política, muito menos em comércio. O resto que se dane, ora com mais, ora com menos direitos. Que vivam com esperança na democracia! Até quando? peste: bombas atômicas, mulheres e o que (a) grava “Hibakusha”, ou “bombardeados”, assim foram designados os poucos sobreviventes das bombas atômicas lançadas pelos EUA sobre Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945. Os raros que sobrevivem ainda são chamados por “niju hibakusha”, ou “duplamente bombardeados”. No século XXI, mulheres niju hibakusha contam que por muito tempo silenciaram sua condição, pois ser uma “hibakusha” era equivalente, no Japão, a levar a pecha de pestilento por irradiação; de quem ninguém queria ou iria se aproximar... e nas mulheres isto se agravava. E hoje, quais outras pestes e pechas da peste se agravam nas mulheres? Será o que afasta ou o que aproxima? "não esqueço o corpo de minha irmã xerocado na parede de nossa casa" (misako katani, uma niju hibakusha de 80 anos). "lembro-me ainda do odor da carne queimada e dos gritos dos moribundos pedindo água... não esquecerei jamais" (kazuko uragashira, uma niju hibakusha de 71 anos). "as bombas atômicas destruíram minha vida" (misako katani, uma niju hibakusha de 80 anos).