AS RELAÇÕES BRASIL- EUROPA Entre o inter-regionalismo e o bilaterismo As relações com a Europa do inicio dos anos 1990 até 2004 tiveram um significado muito importante para o Brasil nos marcos da ordem internacional. No campo político, essa ordem aponta para a necessidade de todas as sociedades partilharem as normas internas comuns identificadas com o pluralismo democrático. No campo econômico, o paradigma neoliberal passou a ser tanto o marco de referencia da economia internacional quanto o elemento orientador da reformulação e da execução de políticas de ajuste e mudanças estruturais no interior dos Estados. Em termos produtivos, a transnacionalização progressiva que tomou impulso com os avanços tecnológicos dos anos 1980 atuou como parte desse processo. A Europa viveu três processos importantes para se entender as relações do Brasil com a região. Em primeiro lugar, nesse novo cenário, e também como novas potencias gestoras, os países europeus buscaram ampliar sua presença no cenário internacional em termos também políticos e por meio de um comportamento baseado em valores e princípios inerentes ao modelo interno europeu. A promoção as democracia e do pluralismo político, defesa dos direitos humanos, do meio ambiente, liberalização econômica, entre outros, passaram a ser elementos constantes nas declarações europeias, assim como condicionadores das relações dos europeus com os terceiros Estados. Visando implementar este projeto, foi criada, em 1993,a Política Externa e de Segurança Comum (PESC), que busca articular o comportamento dos países comunitários. Em segundo lugar, na perspectiva de ampliar sua presença externa, a União Europeia incrementou e desenvolveu o mecanismo de diálogos inter-regionais como forma de manter contatos com o mundo em desenvolvimento, com uma cara própria diferente da do padrão norteamericano. Em terceiro lugar, a União Europeia (EU) experimentou, durante o período, dois processos simultâneos. Por um lado, viveu um aprofundamento da integração com o Tratado de Maastricht e, por outro, experimentou dois momentos de expansão do bloco incorporando novos Estados, o que mobilizou recursos diplomáticos europeus muito grandes. Desde a perspectiva brasileira, o Brasil teve durante o período de 1990 a 2004 quatro presidentes e um ritmo não uniforme na estruturação do modelo econômico, que tiveram impactos na área política da política externa. Durante o governo de Collor de Mello, a diplomacia brasileira buscou se aproximar do espectro liberado pelos Estados Unidos e abandonar o perfil terceiro-mundista. Na administração de Itamar Franco, mais desenvolvimentista, a diplomacia adere à ideia das polaridades indefinidas; ordem instável em que não estava pré-definido o lugar que cada um dos principais atores viria a ocupar. Com a ascensão de Fernando Henrique Cardoso, as ideias mais marcantes são a percepção da existência de um concerto internacional. O novo conceito de soberania compartilhada; e a ideia de autonomia pela integração. A adesão dos regimes internacionais é visto como um elemento importante. Por fim, com o início do governo de Lula, a diplomacia passou a dar mais prioridades para questões politico-estratégicas que se traduziram em um movimento mais proativo no campo comercial e, no campo político, a busca de forma mais incisiva no sentido de ampliar o papel do país na política internacional. No que diz respeito às relações do Brasil com a Europa, cabe destacar inicialmente que a evolução do MERCOSUL por um lado e, por outro, do processo de integração nos marcos da União Europeia, condicionou as relações bilaterais do período, transferindo uma quantidade cada vez maior de temas para a dimensão regional. Referências SARAIVA, Miriam Gomes. As relações Brasil-Europa de 1990 a 2004: entre o inter-regionalismo e o bilateralismo. In: OLIVEIRA, Henrique Altemani de; LESSA, Antônio Carlos (Orgs.). Relações internacionais do Brasil: temas e agendas. vol nº 1. São Paulo: Saraiva, 2008. pp. 129-168.