UM MÉTODO NÃO-PERTURBATIVO PARA DETERMINAÇÃO DA DENSIDADE DE ESTADOS DE POLARONS EM PONTOS QUÂNTICOS SEMICONDUTORES Solemar Silva Oliveira1 1 Pesquisador, docente do Curso de Licenciatura em Física, UnUCET – UEG. RESUMO Estudamos um método de não-perturbativo para avaliar o espectro de energia e a densidade de estados de um elétron interagindo com os fônons longitudinais ópticos (LO), conhecido como efeito polarônico, presentes em um ponto quântico semicondutor composto de GaAs-AlGaAs. O método, que utiliza a um procedimento matemático eficaz baseado na ortogonalização de Gram-Schmidt, apresenta um mecanismo coerente para a obtenção da densidade de estados. Realizamos cálculos utilizando vários valores de temperatura. Avaliamos o efeito da interação elétron-fônons LO na estrutura dos níveis e na densidade de estados eletrônicos. Verificamos o efeito do potencial químico na função densidade de estados e tecemos observações sobre a natureza física desta função. Palavras-chave: fônons, densidade de estados, potencial químico. Introdução A densidade de estados, também conhecida com função densidade espectral, do polaron (acoplamento elétron-fônon LO) em sistema semicondutores zero-dimensionais (pontos quânticos) (Bimberg et al., 1999), (Mukhopadhyay et al., 2002), (Hai & Oliveira, 2005), e comumente obtida usando o formalismo das funções de Green (Král & Khás, 1998). Obtida por este método a densidade de estados é uma função contínua com a energia, para uma dada temperatura. Sugerimos neste trabalho um método não-perturbativo onde a densidade de estados resulta em um espectro discreto composto por uma série de funções delta de Dirac (Stauber et al., 2000). O principal argumento é o seguinte: visto que nos pontos quânticos os estados eletrônicos são discretos, a densidade de estados do sistema composto pelo elétron interagido com os fônons-LO, com freqüência constante (modelo de Einstein), deve possuir uma estrutura similar. Assim, o espectro de energia para o polaron em pontos quânticos resultaria também em uma série de funções delta de Dirac (Mahan, 1981). 1 Estudaremos os níveis de energia e a densidade de estados de um elétron acoplado com os fônons LO em um ponto quântico. Nós descrevemos o ponto quântico teoricamente por dois potenciais parabólicos, com diferentes confinamentos para as direções x e y e um potencial de um poço quântico simples na direção z. Material e Métodos O Hamiltoniano do sistema para dois estados eletrônicos discretos com energias ε0=0 e ε1=Ωx, acoplados com M modos de fônons LO com vetores de onda q1,...qM e com energia igual a hωLO é dado por (1) onde ci+ e cj são respectivamente os operadores de criação e destruição de elétrons e bq+ e bq são os operadores de criação de destruição de fônons. A matriz de interação elétron-fônon LO é dada . Onde V(q) é o potencial de acoplamento da interação elétron-fônon LO. Com base no procedimento de ortogonalização de Gram-Schmidt (Coimbra, 1994) utiliza-se uma combinação linear de operadores escritos como assim temos , onde , Escolhendo a combinação , onde ξ(i,j) representa o índice de soma sobre os N(N+1)/2 linear pares (i,j) com i≥j com N estados fermiônicos no espaço de Hilbert. O Hamiltoniano pode ser escrito da seguinte forma (Stauber, 2000) (2) onde e , com o operador número de partículas. As constantes nas equações acima são dadas por: e . As constantes , estão relacionadas ao acoplamento elétron-fônon LO, obtidas a partir do elemento de matriz desta interação. As energias presentes na expressão (2) são dadas por e . (3) 2 A primeira expressão em (3) é o primeiro nível de energia renormalizado e depende do número de partículas e a segunda expressão em (3) é a energia devido ao efeito polarônico. Os auto-estados dos fônons são representados pelos operadores de oscilador harmônico deslocados (denominados estados coerentes) onde o vácuo dos fônons é definido por , com . O Hamiltoniano apresentado em (2) será resolvido exatamente. Usamos as seguintes bases para os estados eletrônicos e , onde , elétron e , , é o vácuo de elétrons. E para os fônons, usamos as bases e para os três modos considerados. A base completa, combinando fônons, pode ser escrita como onde N0,N1=0,1 e n1,n2,n3=0,1,2,...,nmáx com nmáx o número de fônons suficiente para fazer convergir os cálculos numéricos e e são os deslocamentos do oscilador harmônico para n2 e n3. Nos sub-espaços de Hilbert de N=0 e N=2, as energias são + e .. No sub-espaço de N=1, a solução é mais complicada pois envolve termos cruzados que relacionam transições entre os dois níveis eletrônicos de energia e adiciona um acoplamento ressonante do polaron. Para N=1, o Hamiltoniano pode ser escrito de tal forma que apareçam apenas as transições ressonantes 0→1 com absorção de um fônon e 1→0 com a emissão de um fônon, o Hamiltoniano fica (4) obtido da aproximação conhecida como “rotantig-wave (RW) approximation” como no modelo óptico de Jaynes-Cummings (Jaynes & Cummings, 1963). Os autovalores de energia , onde o relacionados ao Hamiltoniano acima são termo = está relacionado ao acoplamento elétron-fônon LO e é conhecido como deslocamento de Rabi. A função densidade espectral do elétron é definida por (5) onde ρ é a matriz densidade dada por com constante de Boltzmann, µ é o potencial químico do sistema, , onde kB é a é a 3 normalização da matriz densidade e ci(t) é o operador de destruição de férmions dependente do tempo, dado por . Resultados e Discussão A interação elétron-fônon modifica os níveis de energia do elétron. O estado fundamental e o primeiro estado excitado do sistema sofrem correção devido à renormalização causada pelo efeito polarônico. O estado fundamental do elétron sofre uma redução do seu valor original, no sub-espaço N=1, por uma quantidade igual ao deslocamento de energia de um elétron confinado em um ponto quântico simples. Considerando um confinamento parabólico nas direções x e y com freqüências de confinamento Ωx e Ω y (considerando Ωy=1,5Ωx) e um poço simples com largura W (considerando W=100Å) na direção z num ponto quântico composto de GaAs-AlGaAs, onde a constante adimensional de acoplamento de Fröhlich é igual a 0,07. Para o GaAs a constante de temperatura T0 é aproximadamente igual a 420K. A figura 1 mostra a energia obtida para o elétron. O desdobramento dos níveis de energia está relacionado ao termo B1 do Hamiltoniano. A intensidade do deslocamento é proporcional à constante e aos modos n1 de fônons. O modo n2 de fônons fornece um peso para o desdobramento dos níveis de energia. Os modos n2 e n3 fornecem acréscimos aos dois níveis de energia do elétron. O número de níveis do sistema está relacionado à quantidade de fônons que é adicionada. Observando a figura verificamos que o estado fundamental permanece praticamente fixo com energia igual a ε0-Ep(1), para o GaAs Ep(1)≈-0,06. Incluindo um grande número de fônons no sistema, as energias que surgem devido a estes fônons desdobram os níveis superiores mais vezes. Mas como existem mais de um modo de fônons, n2 e n3, os níveis desdobram mais à medida que mais fônons são adicionados. 2,5 Energia [hωLO] 2,0 1,5 1,0 0,5 α= 0.07 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Ωx 4 Figura 1 Níveis de energia do elétron acoplado com os fônons LO em função do confinamento lateral para um ponto quântico. O potencial químico afeta fortemente a função espectral. Nos cálculos, podemos considerar o potencial químico como um parâmetro. Quando µ é menor que o estado fundamental (que corresponde a um sistema sem elétron), identificamos que a expressão (5) fornece a densidade de estados do estado fundamental e do primeiro estado excitado, respectivamente como mostrado na figura 2(a) para vários valores de temperatura. Quando µ=(ε0+ε1)/2 o sistema está aproximadamente ocupado com um elétron. Este resultado é mostrado na figura 2(b). Para um sistema exatamente ocupado por um elétron, precisamos fazer cálculos auto-consistentes incluindo o potencial químico. A expressão para a função densidade espectral é um conjunto de funções delta. Incluímos uma largura fictícia para os picos e para isso escolhemos uma expressão gaussiana para a função delta de Dirac. Os picos da densidade de estados na figura 2(b) estão coerentes com o espectro de energia da figura 1. O estado fundamental tem seu valor renormalizado para ε0-Ep(1) enquanto o primeiro estado excitado sofre um deslocamento em dois estados bem definidos devido à interação elétron-fônon LO. Mas, à medida que a temperatura aumenta, como podemos ver na outras curvas da figura 2(a) e 2(b), o potencial químico não representa mais um fator determinante e as duas situações, com os dois diferentes parâmetros para µ, coincidem para temperaturas altas. Para temperaturas altas existe a possibilidade do elétron absorver um fônon e saltar para o primeiro estado excitado, desde que a energia do fônon seja coerente com a separação energética entre os dois níveis de energia. (a) (b) A0 T=T0 A1 T=T 0 T=3T0/4 Ai(ω) Ai(ω) T=3T0/4 T=T0/2 T=T0/2 T=T 0/4 T=T0/4 T=T0/10 T=T0/10 T=T0/100 -0,3 0,0 0,3 0,6 E 0,9 1,2 1,5 T=T0/100 -0,3 0,0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 E Figura 2 (a) Densidade espectral considerando o potencial químico igual a µ=(ε0+ε1)/2 e (b) Densidade de estados possíveis quando o potencial químico está abaixo do estado fundamental renormalizado. 5 Conclusões Fizemos cálculos para a função densidade espectral utilizando um modelo nãoperturbativo em um ponto quântico simples composto de GaAs-AlGaAs. Verificamos que o modelo produz uma estrutura de picos determinados por funções delta de Dirac para a função densidade espectral. Tratamos o potencial químico µ como um parâmetro de ajuste do sistema. Mostramos a densidade de estados do sistema quando o valor µ é menor que o valor da energia do estado fundamental e a distribuição de estados eletrônicos em função da energia quando um elétron está presente no sistema no caso de µ=(ε0+ε1)/2. Referências Bibliográficas BIMBERG, D.; GRUNDMANN, M.; IEDENTSOV, N.N. Quantum Dot Heterostructures. John Wiley and Sons Ltd., 1999. COIMBRA, A.L. Espaços vetoriais – Lições e exemplos. Editora Edgard Blücher LTDA, 1994. JAYNES, E.T.; CUMMINGS, F.W. Proc. IEEE 51. P. 89, 1963. KRÁL, K.; KHÁS, Z. Phys. Rev. B 57, P. R2061, 1998. MAHAN, G. Many-particle Physics. New York: Plenum, 1981. MUKHOPADHYAY, S.; PEETERS, F.M. J. Phys. Condens. Matter 14, p. 8005-8010, 2002. OLIVEIRA, S. S.; LOPEZ-RICHARD, V.; HAI, G. Phonon-assisted tunneling in coupled semiconductor quantum dots. Physical Review B, The American Physical Society, v. 71, p. 75329, 2005. STAUBER, T.; ZIMMERMAN, R.; CASTELLA, H. Phys. Rev. B 62, p. 7336, 2000. 6