Motricidade ISSN: 1646-107X [email protected] Desafio Singular - Unipessoal, Lda Portugal Szmuchrowski, L.A.; Claudino, J.G.O.; Albuquerque Neto, S.L.; Menzel, H.J.K.; Couto, B.P. Determinação do número mínimo de saltos verticais para monitorar as respostas ao treinamento pliométrico Motricidade, vol. 8, núm. Supl. 2, 2012, pp. 383-392 Desafio Singular - Unipessoal, Lda Vila Real, Portugal Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273023568046 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Motricidade 2012, vol. 8, n. S2, pp. 383-392 © FTCD/FIP-MOC Suplemento do 1º EIPEPS Determinação do número mínimo de saltos verticais para monitorar as respostas ao treinamento pliométrico Determination of the minimum number of vertical jumps to monitor the responses to plyometric training L.A. Szmuchrowski, J.G.O. Claudino, S.L. Albuquerque Neto, H.J.K. Menzel, B.P. Couto ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE RESUMO O objetivo deste estudo foi identificar o número de saltos necessário para monitoramento das respostas ao treinamento pliométrico. Foram selecionados 44 homens, com idade média de 23.3 ± 3.3 anos, estatura 176.0 ± 7.3 cm e massa corporal 73.7 ± 6.7 kg. Todos os voluntários participaram das etapas de familiarização, confiabilidade e avaliação pré-treinamento. Em seguida os participantes foram aleatoriamente distribuídos nos grupos treino e controle. O grupo treino realizou 6 semanas de treinamento pliométrico monitorado. O monitoramento foi realizado a partir do desempenho em 8 saltos com contramovimentos realizados no início das sessões. Após seis semanas de treinamento, todos os voluntários foram reavaliados na etapa pós-treinamento. Para identificação do número de saltos necessário para monitoramento, os resultados obtidos nos 3, 4, 5, 6 e 7 primeiros saltos foram comparados com os resultados do monitoramento realizado com 8 saltos. A estatística utilizada foi a one-way ANOVA e post hoc de Tuckey. Houve aumento significativo na altura do salto com contramovimento apenas no grupo treino (10.2%). Observa-se que o resultado dos 3 primeiros saltos apresentou diferença significativa em relação às respostas obtidas com 8 saltos. Concluiu-se que são necessários 4 saltos com contramovimentos para monitorar as respostas ao treinamento pliométrico. Palavras-chave: treinamento pliométrico, salto com contramovimento, monitoramento ABSTRACT The aim of this study was to identify the number of jumps needed to monitor the responses to plyometric training. We selected 44 men, mean age 23.3 ± 3.3 years, height 176.0 ± 7.3 cm and weight 73.7 ± 6.7 kg. The volunteers participated in familiarization, reliability and pretraining assessment. Then participants were randomly distributed in training and control groups. The training group performed 6 weeks of monitored plyometric training. The monitoring was carried out from the performance in 8 countermovements jumps performed at the beginning of the sessions. After six weeks of training, all volunteers were reassessed. To identify the number of jumps needed to the monitoring, the results obtained in the 3, 4, 5, 6 and 7 first jumps were compared with the results obtained with 8 jumps. The statistic used was one-way ANOVA and Tukey’s post hoc test. Significant performance enhancements were observed only in the training group (10.2%). Only the results obtained with the 3 first jumps presented significant difference of the responses obtained with 8 jumps. It was concluded that are needed 4 countermovement jumps to monitor the responses to plyometric training. Keywords: pliometric training, countermovement jump, monitoring Submetido: 01.08.2011 | Aceite: 14.09.2011 Leszek Antoni Szmuchrowski, João Gustavo de Oliveira Claudino, Severino Leão de Albuquerque Neto, Bruno Pena Couto. Laboratório de Avaliação da Carga – CENESP / UFMG, Belo Horizonte, Brasil. Hans-Joachim Karl Menzel. Laboratório de Biomecânica – CENESP / UFMG, Belo Horizonte, Brasil. Endereço para correspondência: Leszek Antoni Szmuchrowski, Laboratório de Avaliação da Carga – CENESP / UFMG, Rua Marcos Antônio Cavanis, 283 - Bairro Braúnas, CEP 31370-340 Belo Horizonte/MG, Brasil. E-mail: [email protected] 384 | L.A. Szmuchrowski, J.G.O. Claudino, S.L. Albuquerque Neto, H.J.K. Menzel, B.P. Couto Para que um indivíduo alcance um elevado nível de desempenho esportivo é necessário submetê-lo a situações rigorosas de treinamento. No entanto, a adequada recuperação entre as sessões deve ser respeitada, pois, caso isso não ocorra, o processo de treinamento pode tornar-se imperfeito (Fowles, 2006). Segundo Gabbett (2010), o monitoramento e a regulação das cargas de treinamento são determinantes para assegurar que os atletas recebam a devida progressão de sobrecarga e tenham garantida a adequada recuperação entre as sessões de treinamento. A regulação implica no monitoramento das respostas ao treinamento e no ajuste das cargas planejadas em função destas respostas. Uma aplicação inadequada das cargas de treinamento pode trazer várias consequências negativas, como por exemplo, o aumento da probabilidade de lesão (Gabbett & Domrow, 2007; Gabbett & Jenkins, 2011). Estas consequências negativas podem ser minimizadas a partir da identificação do estado do indivíduo e da consequente diminuição da sobrecarga. Por outro lado, o aumento da sobrecarga se faz necessário quando ocorrem respostas positivas ao treinamento (Kentta & Hassmén, 1998; Morton, 1997). Um desafio para os treinadores é determinar o momento em que o treino pode tornar-se inadequado e realizar os devidos ajustes, sendo estes os respetivos objetivos do monitoramento (Coutts, Wallace & Slattery, 2007a; Coutts, Wallace & Slattery, 2007b) e da regulação (Céline et al., 2011; Gabbett, 2010). Diferentes variáveis são utilizadas para monitorar as respostas às cargas de treinamento. Contudo, entre os estudos encontrados, somente a FC (Céline et al., 2011), a PSE (Céline et al., 2011; Gabbett, 2010) e o desempenho em saltos (Claudino et al., 2012) foram utilizados como ferramenta de regulação das cargas. O desempenho no salto com contramovimento (SCM) já se mostrou uma ferramenta de monitoramento sensível tanto para verificação do aumento do rendimento esportivo (Gabbett & Domrow, 2007; Wu et al., 2010), quanto para a verificação do nível de fadiga (Cormack et al., 2008; Nicol, Avela & Komi, 2006; Welsh et al., 2008). Apenas no estudo de Claudino et al. (2012) o SCM foi utilizado como ferramenta de regulação das cargas de treinamento. Neste estudo foram utilizados 8 SCM no início de cada sessão de treinamento. Vale destacar que a determinação da variação intrassujeito é imprescindível no monitoramento do desempenho, pois afeta a precisão da estimativa de mudança na variável de um estudo experimental (Atkinson & Nevill, 1998; Hopkins, 2000). Assim, o número de saltos utilizados para o monitoramento das respostas às cargas de treinamento deve ser elevado o suficiente para garantir a confiabilidade da medida (Atkinson & Nevill, 1998; Hopkins, 2000). Por outro lado, este número deve ser baixo o suficiente para não comprometer a rotina dos treinamentos e não ser mais um agente causador de fadiga (Nicol et al., 2006). Entretanto, não foram encontrados estudos que verificassem o número de SCM necessários para o monitoramento e regulação das cargas de treinamento. Diante disso, o objetivo deste estudo foi identificar o número mínimo de saltos verticais necessários para monitorar as respostas às cargas de treinamento pliométrico. MÉTODO Amostra Participaram deste estudo 44 homens jovens, estudantes do curso superior de Educação Física, com idade média de 23.3 ± 3.3 anos, estatura 176.0 ± 7.3 cm, massa corporal 73.7± 6.7 kg e sem histórico de lesões em membros inferiores. Inicialmente todos os voluntários responderam ao questionário ParQ e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Antes da assinatura do termo de consentimento, todos os voluntários foram informados dos propósitos, riscos e benefícios do estudo. Os procedimentos deste estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos da Universidade FUMEC, sob protocolo n. 523/2010. Monitoramento no treinamento pliométrico | 385 Instrumentos e Procedimentos Avaliação Antropométrica A massa corporal e a estatura foram avaliadas em balança digital com estadiômetro (modelo Filizola, Brasil) com precisão de 0.1 kg e 0.01 m, respetivamente. Este procedimento foi realizado no início de cada sessão de treinamento e nas etapas de pré e póstreinamento. Teste de Salto Vertical Para avaliação dos saltos verticais foi utilizada a técnica de SCM. Esta técnica foi utilizada nas etapas de familiarização e confiabilidade, no início de cada sessão de treinamento e nas avaliações pré e pós-treinamento. O salto era realizado a partir de um movimento preparatório constituído de uma ação excêntrica, até aproximadamente 90º de flexão de joelhos, seguida por uma ação concêntrica. Os voluntários foram orientados a realizar esforço máximo e manter as mãos na cintura durante todo o salto (Herrero, Izquierdo, Maffiuletti & Garcia-López, 2006). A avaliação pós-treinamento foi realizada no intervalo mínimo de 48 e máximo de 72 horas após a última sessão de treinamento. Os saltos foram realizados no tapete de contato Jumptest (Hidrofit Ltda; Belo Horizonte, Brasil), com precisão de 0.1cm, conectado ao Software Multisprint (Hidrofit Ltda; Belo Horizonte, Brasil). Inicialmente todos os voluntários participaram de um processo de familiarização com o SCM. No início de cada sessão de familiarização foi realizado um aquecimento padrão no qual o indivíduo foi orientado a pedalar no ciclo ergômetro por 3 minutos com carga de 0.5 kg a 60 rpm e, em seguida, foram realizadas 3 séries de 3 SCM, com intervalos de 30 segundos entre as séries. Após o aquecimento padrão foi realizada uma sequência de SCM com intervalo de 1 minuto entre as tentativas, até que o desempenho estabilizasse. O desempenho era considerado estabilizado quando uma sequência de 8 saltos fosse equivalente ao desempenho obtido com a mesma sequência de 8 saltos realizados anteriormente (Claudino et at., 2012). O indivíduo somente era considerado familiarizado quando o desempenho se mantivesse estável entre duas sessões consecutivas. Na semana seguinte foram realizadas 2 sessões de confiabilidade, também com 48 horas de intervalo, nas quais os voluntários realizaram 8 SCM em cada dia. Os desempenhos nos testes foram utilizados para a determinação do coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e do erro padrão de medida (EPM) da amostra. Para verificação dos efeitos crônicos do programa de treinamento, antes e após a realização de 6 semanas de treinamento pliométrico, todos os voluntários foram avaliados nas etapas pré e pós-treinamento. Nestas etapas os saltos foram realizados após o aquecimento padrão, e foram executados 8 SCM, com intervalo de 1 minuto entre cada salto. Protocolo de Treinamento Após distribuição aleatória dos grupos (treino, n = 33; controle, n = 11) os voluntários do grupo treino foram submetidos a um programa de treinamento pliométrico. No início de cada sessão de treinamento os voluntários realizavam saltos verticais para monitoramento das respostas às sessões anteriores. Os voluntários do grupo controle participaram apenas das avaliações pré e pós-treino. Foram realizadas 6 semanas de treinamento pliométrico, com 3 sessões semanais e intervalos que variaram de 48 a 72 horas entre as mesmas. As cargas de treinamento estão descritas no quadro 1. Todos os exercícios utilizados no treinamento pliométrico foram realizados sobre o tapete de contato. Os voluntários do estudo foram orientados a não realizar nenhum outro tipo de treinamento durante a realização do estudo. Monitoramento O monitoramento das respostas às cargas de treinamento foi realizado a partir da realização de 8 SCM no início de cada sessão de treinamento pliométrico. Os voluntários realizavam uma sequência de SCM, precedidos pelo aquecimento padrão. O desempenho médio dos 8 SCM realizados na primeira sessão de 386 | L.A. Szmuchrowski, J.G.O. Claudino, S.L. Albuquerque Neto, H.J.K. Menzel, B.P. Couto Quadro 1. Planejamento das 6 semanas de Treinamento Pliométrico Semana Sessões 1 1–3 2 4–6 3 7–9 4 10 – 12 5 13 – 15 6 16 – 18 Exercício Séries × Repetições Altura de SCM Tempo Máximo (% do máximo) de Contato (ms) Altura de Queda (cm) SAU 1-3×5 100% — — SCM 1 - 3 × 30 60 – 70% — — SCMU 1-3×5 100% — — SCM 1 - 3 × 30 70 – 80% — — SCM 1 - 3 × 30 80 – 90% — — SVM 1 - 3 × 30 80 – 90 % 200 — SVM 1 - 3 × 30 80 – 90% 200 — SCM 1 - 3 × 12 90 - 100% — — SP 1 - 3 × 10 100% 200 45 SCM 1-4×6 100% — — SP 1 - 3 × 10 100% 200 45 SCM 1-3×4 100% — — Nota: SAU = Salto Agachado Unilateral; SCM = Salto com Contramovimento; SCMU = Salto com Contramovimento Unilateral; SVM = Saltos Verticais Múltiplos; SP = Saltos em Profundidade (Wu et al., 2010). cada semana foi utilizado como referência para as demais sessões da mesma semana e para a primeira sessão da semana seguinte. O quantitativo de 8 saltos foi definido a partir do estudo de Claudino et al. (2012) que utilizaram este mesmo número de saltos e verificaram efeitos positivos da regulação das cargas de treinamento pliométrico a partir da realização dos SCM no início de cada sessão. Como no presente trabalho foram realizadas 18 sessões de treinamento pliométrico, a primeira sessão não sofria efeito de nenhuma sessão anterior. Assim, nas 17 sessões seguintes o desempenho obtido nos SCM, realizados no início destas sessões, foi utilizado para monitorar as respostas momentâneas às cargas de treinamento pliométrico das sessões anteriores. Deste modo, para cada voluntário foram obtidas 17 respostas durante o programa de treinamento. Eram esperados 3 tipos de respostas: a) manutenção do desempenho; b) melhora no desempenho; c) redução do desempenho. Caso se obtivesse uma resposta de manutenção do desempenho, esta informação era entendida como uma recuperação completa do indivíduo, e desta feita, uma indicação de manutenção das cargas planejadas. Caso a resposta fosse uma redução do desempenho, entendia-se que o indivíduo não sofrera a devida recuperação e, sendo assim, uma redução das cargas de treinamento era sugerida. A identificação de um aumento no desempenho era interpretada como a necessidade de um aumento das cargas de treinamento. Para interpretar a variação de desempenho em saltos verticais dos voluntários foi determinada a diferença mínima individual (DMI). Segundo Weir (2005), a diferença mínima representa a variação máxima de erros aleatórios. Assim, somente foi considerada uma alteração real de desempenho quando observada uma diferença modular entre duas medidas superiores ao valor da DMI, que foi obtida com os valores de SCM realizados nas sessões de confiabilidade, como se observa na equação seguinte. DMI = EPM × 2.145 × 2 EPM= quadrado médio do erro (QMerro) 2.145= t(14), p < .05 (IC de 95%) Monitoramento no treinamento pliométrico | 387 Conforme ilustrado na figura 1, a evolução do desempenho somente era considerada real quando a diferença entre o desempenho obtido no início da sessão (média ± desvio padrão) e o desempenho na primeira sessão da semana fosse positiva e superior ao valor da DMI (e.g.: desempenho do início da sessão = 32.8 ± 0.6 cm; desempenho na primeira sessão semanal = 30 cm; DMI = 2.0 cm). Caso esta diferença fosse inferior ao valor de DMI, o desempenho seria considerado estável (e.g: desempenho do início da sessão = 32.2 ± 0.6 cm; desempenho na primeira sessão semanal = 30 cm; DMI = 2.0 cm). O indivíduo era considerado fadigado quando a diferença entre o desempenho obtido no início da sessão (média ± desvio padrão) e o desempenho na primeira sessão da semana fosse negativa e superior ao valor da DMI (e.g.: desempenho do início da sessão = 27.0 ± 0.6 cm; desempenho na primeira sessão semanal = 30 cm; DMI = 2.0 cm). Com o intuito de identificar o número mínimo de saltos necessários para efetuar o monitoramento adequado, esta mesma análise foi realizada separadamente a partir da média e desvio padrão dos 3, 4, 5, 6 e 7 primeiros saltos da sequência de 8 SCM realizados no início da de cada sessão. Determinação do Número de Saltos Para identificação do número mínimo de saltos necessários para o monitoramento das respostas ao treinamento pliométrico, o desempenho médio obtido nos 3, 4, 5, 6 e 7 primeiros SCM também foi analisado. Para que o número de saltos fosse considerado válido na realização do monitoramento, três pré-requisitos deveriam ser atendidos (1º pré-requisito obtenção de bons valores de consistência; 2º pré-requisito - desempenho semelhante ao encontrado com 8 SCM; 3º pré-requisito - respostas semelhantes às encontradas com 8 SCM). Para atender ao primeiro pré-requisito bons valores de consistência absoluta (CCI ≥ 0. 90) e relativa (EPM≤ 5 .0%) deveriam ser encontrados. Para tal, os valores obtidos nos 3, 4, 5, 6 e 7 primeiros saltos das sessões de confiabilidade foram utilizados para verificação dos valores de ICC e EPM. Para que o segundo prérequisito fosse atendido o desempenho encontrado não poderia ser estatisticamente diferente do valor obtido a partir de 8 SCM (p > .05). Neste caso, as médias de desempenho obtidas nos 3, 4, 5, 6 e 7 primeiros saltos da última sessão de confiabilidade foram comparadas com o desempenho médio obtido nos 8 saltos. Para atender ao terceiro pré-requisito as respostas obtidas durante o monitoramento (manutenção do desempenho, melhora no desempenho ou redução do desempenho), no início de cada sessão de treinamento, não poderiam ser diferentes estatisticamente das encontradas a partir do monitoramento realizado com 8 saltos. Para esta análise as respostas obtidas a partir do desempenho médio em 8 saltos foram consideradas corretas e, por isso, a partir da análise de 8 SCM foram obti- Figura 1. Análises das variações de desempenho no SCM a partir da DMI 388 | L.A. Szmuchrowski, J.G.O. Claudino, S.L. Albuquerque Neto, H.J.K. Menzel, B.P. Couto das 17.0 ± 0.0 respostas idênticas. Foi considerado como número mínimo de saltos para monitoramento o menor número de tentativas que apresentasse, nas 17 sessões de treinamento, um número de respostas idênticas às obtidas a partir dos 8 SCM estatisticamente semelhante à 17.0 ± 0.0 (e.g: caso um voluntário obtivesse na segunda sessão de treinamento uma resposta que apontasse redução no desempenho a partir da média dos 8 SCM, e a média dos 3 primeiros saltos também apontasse esta redução, era computada uma resposta idêntica ao monitoramento por 8 saltos). Esta análise foi realizada para todos os voluntários do grupo treino, nas 17 sessões de treinamento, e separadamente para os 3, 4, 5, 6 e 7 primeiros saltos. Análise Estatística A normalidade dos dados foi verificada através do teste de Kolmogorov-Smirnov. Para avaliar a diferença de desempenho nos saltos verticais pré e pós-treinamento foi realizado o teste t-Student pareado. Para avaliar alterações de massa corporal durante a pesquisa foi realizada ANOVA two-way com medidas repetidas e post hoc de Tuckey. Para identificar o número mínino de saltos necessários para o monitoramento foi realizada ANOVA one-way e post hoc de Tuckey, sendo definido como o menor número de saltos o escore mínimo encontrado entre o 3º e o 7º salto, que não repercutisse em um número estatisticamente diferente de respostas às cargas de treinamento (ajuste ou manutenção da carga) em comparação com o número de 8 SCM (p > .05). O teste Z, com intervalo de confiança de 95%, foi utilizado para verificar o nível de estabilização do desempenho em cada técnica nas sessões de familiarização (Rogers, Howard & Vessey, 1993). Além da estatística inferencial, foi realizada a análise descritiva dos dados. A significância foi estabelecida em p < .05. Para a análise estatística dos dados foi utilizado o software Sigma Stat 3.5. RESULTADOS Não houve alteração na massa corporal antes e após o treinamento pliométrico (p = .066) e durante as 18 sessões de treinamento (p = .650). Quando comparados os resultados das etapas de pré e pós-treinamento, foi encontrado um aumento significativo de 10.2 % na altura do SCM no grupo treinamento. A altura do SCM do grupo controle não sofreu alterações significativas (ver Figura 2). Figura 2. Alteração percentual do desempenho no SCM da etapa pré-treinamento para a etapa póstreinamento; * Diferença significativa (p < .05) Os valores de consistência relativa (CCI, 3.1) e absoluta (EPM) de 8 SCM realizados na etapa de confiabilidade foram respetivamente, 0.97 e 2.7%. Sendo encontrados os mesmos valores para os 5, 6 e 7 primeiros saltos da sequência de 8 SCM. Os valores de consistência dos 4 primeiros SCM foram 0.97 (ICC, 3.1) e 3.0% (EPM) e para os 3 primeiros saltos foram 0.98 (ICC, 3.1) e 2.7% (EPM). Conforme demonstrado no quadro 2, os desempenhos médios nos 3, 4, 5, 6 e 7 primeiros saltos da última sessão de confiabilidade não foram diferentes estatisticamente do desempenho médio encontrado nos 8 saltos. Foi encontrada diferença significativa entre o número de respostas às cargas de treinamento pliométrico, em relação às respostas obtidas com 8 SCM realizados no início de cada sessão de treinamento, apenas quando foram utilizados 3 SCM. Desta forma, o menor número de saltos encontrado que não apresentou diferença significativa em relação aos resultados obtidos com 8 SCM foi de 4 saltos (Quadro 2). Monitoramento no treinamento pliométrico | 389 Quadro 2. Resultados obtidos a partir dos diferentes números de saltos analisados Variáveis Números de SCM 8 7 6 5 4 3 CCI 0.97 0.97 0.97 0.97 0.97 0.98 EPM 2.7 2.7 2.7 2.7 3.0 2.8 Desempenho 33.9 ± 4.0 33.9 ±4.0 34.0 ± 4.0 33.9 ± 4.0 34.0 ± 4.0 34.1 ± 4.0 Respostas idênticas a 8 SCM 17.0 ± 0.0 16.9 ± 0.3 16.7 ± 0.6 16.5 ± 0.8 16.4 ± 1.0 15.9 ± 1.3* Nota: CCI = coeficiente de correlação intraclasse; EPM = erro padrão de medida. * Diferença significativa em relação à análise de 8 SCM DISCUSSÃO O presente estudo objetivou identificar o número mínimo de SCM necessários para o monitoramento das respostas às cargas de um programa de treinamento pliométrico. No presente estudo, o programa de treinamento aplicado repercutiu em uma melhora crônica na altura do SCM. Este aumento no desempenho do SCM encontrado no grupo treinamento (10.2%) está próximo dos valores geralmente encontrados em estudos que investigam os efeitos crônicos do treinamento pliométrico, que variam entre 7.0 e 10.4% (Markovic, 2007). O desempenho no SCM pode ser utilizado para monitoramento das respostas ao treinamento pliométrico por possibilitar a identificação do nível de fadiga ou das melhoras crônicas provocadas por este tipo de treinamento. A melhora crônica no SCM, a partir do treinamento pliométrico, pode ser explicada através de alguns mecanismos fisiológicos, tais como: a potencialização do reflexo miotático, o aumento da rigidez do tendão e a maior utilização de energia elástica na unidade músculo-tendínea (Wu et al., 2010). O desempenho no SCM pode também ser utilizado para identificar o nível de fadiga de um indivíduo, pois a fadiga gerada pelo treinamento pode afetar o ciclo de alongamento-encurtamento (CAE), e, por consequência, reduzir a altura do salto (Nicol et al., 2006). O padrão básico das respostas de fadiga do CAE mostra um comportamento bimodal, com uma imediata redução no desempenho durante o exercício, uma rápida recuperação dentro de 1-2 horas, seguida de uma redução secundária, que muitas vezes pode mostrar os valores mais baixos no segundo dia após o exercício. Como no presente trabalho o intervalo entre as sessões de treinamento era de 48 horas e o monitoramento era realizado no início de cada sessão, é provável que esta resposta bimodal do CAE à fadiga tenha possibilitado à identificação da fadiga no início da sessão gerada pelo treinamento realizado na sessão anterior. A utilização do desempenho no SCM para verificação do estado de fadiga já foi testada em estudos anteriores (Cormack et al., 2008; Coutts et al., 2007; Welsh et al., 2008). Cormack et al. (2008) verificaram uma redução significativa no desempenho do SCM após uma partida de futebol. Welsh et al. (2008) verificaram redução significativa na altura do SCM de fuzileiros navais submetidos a 8 dias de treinamento militar. No estudo de Coutts et al. (2007), o desempenho no salto vertical foi sensível à fadiga gerada por 6 semanas de treinamento de atletas de rúgbi. O processo de regulação das cargas exige, além do monitoramento das respostas ao treinamento, o ajuste dos estímulos planejados. Deste modo, além do controle das respostas crônicas ao treinamento, a identificação do estado operacional do atleta para a realização da próxima sessão de treinamento deve ser frequentemente realizada (Claudino et al., 2012). Gabbett (2010) desenvolveu um modelo de previsão de lesão que foi aplicado em jogadores de rúgbi profissionais. O modelo permitia o 390 | L.A. Szmuchrowski, J.G.O. Claudino, S.L. Albuquerque Neto, H.J.K. Menzel, B.P. Couto monitoramento e a regulação das cargas, através de um limiar de carga de treinamento, determinado pelo tamanho do efeito. Foi demonstrado que, caso o atleta ultrapassasse este limiar, existia uma probabilidade 70 vezes maior de ocorrência de lesões em tecidos moles. Ainda segundo Gabbett (2010), alguns treinadores dos atletas envolvidos no estudo negligenciavam estas informações, optando pela sua capacidade intuitiva de manipular as cargas de treinamento. O efeito da regulação das cargas de treinamento também foi estudado a partir da utilização da PSE e da FC em jovens mulheres (Céline et al., 2011). A regulação ocorria quando o esforço percebido era fraco ao final da sessão de treinamento, ocorrendo incrementos da carga na próxima sessão. Este incremento de carga também ocorria em outro grupo quando a FC ao final da sessão obtinha 10 bpm a menos que na sessão anterior. Os resultados apontaram que as duas variáveis investigadas foram eficazes para regular a carga de treinamento. O único estudo encontrado que utilizou uma ferramenta para regulação das cargas de treinamento pliométrico foi realizado por Claudino et al. (2012). Estes autores propuseram um método de regulação das cargas de treinamento pliométrico a partir do monitoramento realizado no início da sessão de treinamento. Para tal, os voluntários realizavam uma sequência de 8 SCM e o resultado médio, caso o indivíduo apresentasse evolução ou redução no desempenho, era utilizado para definir um ajuste nas cargas. Entretanto, a realização de 8 saltos verticais pode ser muito elevada e, por isso, comprometer a rotina dos treinamentos, colaborar com a fadiga do treinamento e dificultar a regulação das cargas. No presente trabalho foram testados números inferiores de SCM para monitorar as respostas ao treinamento pliométrico. O número mínimo de saltos necessário para a realização deste tipo de monitoramento durante o treinamento pliométrico foi de 4 SCM, pois os resultados obtidos a partir da realização de 4 SCM foi o menor número de tentativas que atendeu aos três prérequisitos previamente estipulados. Quais sejam: obtenção de bons valores de consistência, desempenho semelhante ao encontrado com 8 SCM e respostas semelhantes às encontradas com 8 SCM. Esse valor representa a metade do número de saltos proposto por Claudino et al. (2011) e, por isso, pode reduzir a fadiga gerada e diminuir a interferência na rotina de treinamento. O aumento no desempenho esportivo pode ocorrer quando o atleta se adapta às cargas aplicadas, sendo necessária uma adequada progressão do treinamento (Kenttä et al., 1998). Além disso, quando existe uma fadiga acumulada o rendimento pode diminuir e, por consequência, as cargas planejadas podem se tornar inadequadas e aumentar a probabilidade de lesão (Gabbett & Domrow, 2007; Gabbett & Jenkins, 2011). Assim, estas variações de desempenho precisam ser detetadas, para que os devidos ajustes sejam realizados. No entanto, as variações detetadas podem ser variações típicas do indivíduo, não necessitando de ajustes nas cargas. Em contrapartida, pequenas variações de desempenho, que poderiam ser negligenciadas pelos treinadores, podem ser significativas e merecerem uma progressão ou diminuição das cargas de treinamento (Hopkins, 2004). Para Coutts et al. (2007), quando ocorrem variações superiores à variação típica do indivíduo, mesmo que não sejam estatisticamente significativas, existem implicações práticas que devem ser levadas em consideração pelo treinador. No presente estudo os ajustes somente eram realizados quando as alterações no desempenho no SCM eram superiores à DMI. Além disso, os SCM utilizados para o cálculo da DMI foram realizados após um rigoroso processo de familiarização que resultou em bons valores de consistência e permitiu sua aplicação com maior precisão. CONCLUSÕES Diante dos dados analisados foi possível concluir que, quando se realiza o monitoramento no início da sessão de treinamento Monitoramento no treinamento pliométrico | 391 pliométrico, o número mínimo de saltos para a adequada realização do monitoramento das respostas às cargas de treinamento pliométrico é de 4 SCM. Agradecimentos: Nada a declarar. Conflito de Interesses: Nada a declarar. Financiamento: Nada a declarar. REFERÊNCIAS Atkinson, G., & Nevill, A.M. (1998). Statistical methods for assessing measurement error (reliability) in variables relevant to Sports Medicine. Sports Medicine, 26, 217-238. 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