TEXTO 2 O SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS - SCFV: ESTRATÉGIA DA PREVENÇÃO DE VULNERABILIDADES E RISCOS SOCIAIS Vamos começar nossa conversar apreendendo por que o SCFV é tipificado na Proteção Social Básica - PSB e está referenciado ao Centro de Referência da Assistência Social - CRAS. O foco do Serviço está diretamente relacionado à segurança do convívio, conforme exposto na PNAS/2004: “A segurança da vivência familiar ou a segurança do convívio (...) supõe a não aceitação de situações de reclusão, de situações de perda das relações. (...) A dimensão societária da vida desenvolve potencialidades, subjetividades coletivas, construções culturais, políticas e, sobretudo, os processos civilizatórios. As barreiras relacionais criadas por questões individuais, grupais, sociais por discriminação ou múltiplas inaceitações ou intolerâncias estão no campo o convívio humano. A dimensão multicultural, intergeracional, interterritoriais, intersubjetivas, entre outras, devem ser ressaltadas na perspectiva do direito ao convívio”. (PNAS, 2004, p. 26). É importante lembrar que a proteção social básica tem como objetivo prevenir situações de risco [...]. (PNAS, 2004, p.32). A PNAS define, ainda, que se pode prevenir vulnerabilidades e riscos sociais: [...] por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. (Idem, p.38). Ou seja, o Serviço está tipificado na proteção básica e referenciado ao CRAS por se tratar de uma Ação Preventiva. Prevenir ocorrências que interfiram no exercício da cidadania. Mas o que é prevenir? Prevenir = Preparar; chegar antes; evitar algo, impedir que se realize.Com base neste conceito o SCFV tem como exigência desenvolver uma ação antecipada, baseada no conhecimento do território, dos fenômenos e de suas características especificas culturais, econômicas e sociais. O caráter preventivo requer intervenções orientadas , na perspectiva de evitar a ocorrência ou o agravamento de situações de vulnerabilidades e risco social existentes no 1 Conteudista: Laurisabel TEXTO 02 território. E quem está no território com condições de intervir nestas situações? Os CRAS por conhecer o território e estabelecer um vínculo com a comunidade em que está inserido. Esta intervenção preventiva visa a Ação Protetiva, que se caracteriza pela necessidade de centrar esforços em intervenções que visam amparar, apoiar, auxiliar, resguardar e defender o acesso das famílias e seus membros aos seus direitos. Assim, a PSB incorpora todas as intervenções de caráter protetivo, envidando esforços para defesa da garantia e promoção dos direitos da família. Quando nos antecipamos frente às situações que inviabilizam o acesso a direitos assumimos uma postura proativa, e exercer este papel proativo no âmbito da Proteção Social Básica é imprescindível para materializar a atuação intencional preventiva e protetiva . Neste sentido, ao tipificar o Serviço à PSB esta assume um novo compromisso de prevenir a ruptura de vínculos, influenciar na melhoria da qualidade de vida já que atua no fortal ecendo das relações familiares e comunitárias, estimula o acesso e usufrutos a direitos; além de prever desenvolvimento de potencialidades e aquisições que as famílias não conseguem visualizar por estar vivenciando situações diversas de vulnerabilidades que interferem nos vínculos familiares. A convivência passa a ser reconhecida como direito social já regulamentado na Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, no Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outros marcos legais. Vale salientar que o SCFV deve ser implementado na perspectiva de complementar o trabalho social das famílias executados pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF. Então a que se propõe o Serviço? Propõe-se assegurar espaços de convívio e o desenvolvimento de relações de afetividade e sociabilidade; desenvolve o sentimento de pertença e de identidade; promove a socialização e a convivência comunitária; incentiva a participação comunitária, a apropriação dos espaços públicos e o protagonismo no território, valoriza a cultura de famílias e comunidades locais pelo resgate de suas culturas e a promoção de vivências lúdicas, intervenção social planejada realizada em grupos conforme as especificidades dos ciclos de vida. 2 Conteudista: Laurisabel TEXTO 02 Até agora refletimos sobre a importância do SCFV e porque foi tipificado na Proteção Social Básica e referenciado ao CRAS. Vimos que seu caráter preventivo e protetivo, o caracteriza, mas por que realizar o reordenamento, se a tipificação é um documento recente e já o configura neste cenário? No texto 1, nós iniciamos essa discussão quando apontamos o diagnóstico das dificuldades na implementação do Serviço em virtude das regras de oferta, a lógica do cofinanciamento diferentes para cada faixa etária, a existência ainda dos programas PETI e Projovem, a ausência de flexibilidade para utilização dos recursos dos pisos, entre outras. Além deste diagnóstico observou-se que: um número significativo de atendimento do nosso público já estava contemplado no PETI e Projovem, então o SCFV “disputava” o mesmo us uário; parte dos municípios não estava atendendo o público prioritário já que a não flexibilização dos recursos e perfil do público inviabilizava o redirecionamento do público, afora o cofinanciamento do governo federal ser insuficiente para o atendimento das demandas identificadas. Assim, após a avaliação da conjuntura no âmbito dos municípios, com base no Pacto de Aprimoramento do SUAS estabelecido na NOB/SUAS 2012, a solução encontrada foi a unificação do serviço com a garantia do atendimento do público prioritário. Com este reordenamento pretende-se: Dar materialidade ao SCFV tipificado; Garantir serviços socioassistencial continuados; Garantir a lógica de serviços no atendimento de todas as faixas etárias previstas e consequentemente o processo de continuidade; Potencializar a inclusão dos usuários identificados nas situações prioritárias, que estavam invisíveis nas nossas atividades coletivas com foco no convívio e fortalecimento de vínculos ; Planejar e incentivar a oferta do SCFV considerando a realidade t erritorial de cada município; Fortalecer a gestão a partir do conhecimento de demanda local; Unificar a lógica de cofinanciamento, independente da faixa etária; Facilitar a execução do SCFV. 3 Conteudista: Laurisabel TEXTO 02 Com este processo de reordenamento pode-se prever os seguintes ganhos: A Flexibilidade e autonomia do município e DF na organização da oferta do SCFV de acordo com as características locais de vulnerabilidade e risco e situações prioritárias; A Qualificação do Serviço Ampliação da interlocução entre os níveis de proteções permitindo a integralidade das ações Registro da participação dos usuários no Serviço em sistema de informações e não mais a utilização de frequência obrigatória (permite que o usuário participe de acordo com sua necessidade e interesse), com base no estudo social da equipe técnica e disponibilidade dos usuários; A Flexibilidade na composição dos grupos por faixa etária: várias possibilidades de composição dos grupos, de acordo com os ciclos de vida, com ênfase aos grupos intergeracionais (tipificação e orientações técnicas); Ganhos na cobertura do SCFV, pois amplia as possibilidades de atendimento aos diversos segmentos e faixas etárias. 4 Conteudista: Laurisabel TEXTO 02 No que se refere ao reconhecimento que parte dos municípios não estava atendendo o público prioritário, com o reordenamento passa a existir a definição de qual é o público prioritário para o SUAS, além de definir a existência de incentivos financeiros para os municípios que conseguirem atingir 50% do público atendido nas situações consideradas prioritárias, a saber: Em situação de isolamento Trabalho infantil Vivência de violência e, ou negligência Fora da escola ou com defasagem escolar superior a 2 anos Em situação de acolhimento Em cumprimento de MSE Egressos de medidas socioeducativas Situação de abuso e/ ou exploração sexual Com medidas de proteção do ECA Crianças e adolescentes em situação de rua Vulnerabilidade que diz respeito às pessoas com deficiência Com estas considerações concluímos o estudo do nosso segundo texto, porém vocês devem ter observado que algumas questões levantadas no Texto 1 ainda não foram respondidas, então vamos aguardar o conteúdo dos Textos 3 e 4 para tentarmos responder estes e outros questionamentos. Boa leitura e Bom estudo. 5 Conteudista: Laurisabel TEXTO 02 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO, Maria Lúcia M. & Abade, Flávia Para reinventar as Rodas / Lúcia Afonso & Flávia Lemos Abade. Belo Horizonte: Rede de Cidadania Mateus Afonso Medeiros (RECIMAM), 2008. Publicação eletrônica. AFONSO, L. Metodologia de trabalho - Intervenção psicossocial. Revista Criança Pequena, PBH, nov. 2002, p26-30. AFONSO, Lúcia (Org). Ofici nas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. Belo Horizonte: Edições do Campo Social, 2000. AFONSO, M. L. M. O trabalho social com famílias – entrelaçamentos com os Direitos Humanos. Rev. da Coordenadoria Municipal de Direitos Humanos, Belo Horizonte, vol. III, 2006. AGUILAR, Maria José e ANDER-EGG, Ezequiel. Avaliação de serviços e programas sociais. Petrópolis: Vozes, 1994. AVRITZER, Leonardo (Org). Cadernos de assistência social. Belo Horizonte: Núcleo de Apoio à Assistência Social (NUPASS), UFMG, 2006. BRASIL, Constituição Federal de 1988. 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TIPIFICAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social, por intermédio da Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009. 6 Conteudista: Laurisabel TEXTO 02