Biologia
Cláudio Góes
Conexões bioquímicas
Anticorpos catalíticos contra a cocaína
Diversas drogas viciantes, como a heroína, operam ligando-se a um receptor em particular nos
neurônios, mimetizando a ação de um neurotransmissor. Quando uma pessoa é viciada em tal droga,
uma forma comum de tratamento consiste na utilização de um composto para bloquear o receptor,
negando, dessa forma, o acesso da droga a ele. O vício em cocaína sempre foi de difícil tratamento,
principalmente devido ao seu modus operandi peculiar. Como mostrado, a cocaína bloqueia a
reabsorção do neurotransmissor dopamina. Assim, a dopamina fica no sistema por mais tempo,
estimulando de forma intensa e prolongada o neurônio e conduzindo aos sinais de recompensa no
cérebro, que levam ao vício. Utilizar uma droga para bloquear um receptor seria inútil nesse vício, e
talvez tornasse a remoção de dopamina ainda mais difícil. A cocaína pode ser degradada por uma
esterase específica, uma enzima que hidrolisa uma ligação éster que faz parte da estrutura da
cocaína. No processo dessa hidrólise, a cocaína deve passar por um estado de transição que muda seu
formato. Foram criados anticorpos catalíticos para o estado de transição da hidrólise da cocaína.
Quando administrados a pacientes viciados em cocaína, os anticorpos hidrolisam com sucesso a
cocaína em dois produtos inofensivos da degradação – ácido benzóico e ecgonina metil éster. Quando
degradada, a cocaína não pode bloquear a reabsorção de dopamina. Não ocorre nenhum
prolongamento do estímulo neural e os efeitos viciantes da droga desaparecem com o tempo.
(a)
(b)
(a) Mecanismo de ação da cocaína. A dopamina age como um neurotransmissor. Ela é liberada a partir
do neurônio pré-sináptico, desloca-se através da fenda sináptica e se liga aos receptores específicos
para dopamina situados no neurônio pós-sináptico. Mais tarde é liberada e absorvida por vesículas no
neurônio pré-sináptico (recaptação de neurotransmissor).
(b) A cocaína aumenta a quantidade de tempo em que a dopamina fica disponível para os receptores de
dopamina ao bloquear a sua absorção (Scientific American, vol.276 (2), p.42-45)
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Degradação da cocaína por esterases ou anticorpos catalíticos. A cocaína (a) passa por um estado de
transição (b) até ser hidrolisada em ácido benzóico e ecgonina metil éster (c). Análogos do sítio de
transição são utilizados para gerar anticorpos catalíticos para essa reação (Scientific American, v.276 (2),
p.42-45.)
Campbell, Mary K.; Farrell Shawn O. – Bioquímica – Tradução da quinta edição norte-americana - Thomsom
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