O CRACK E ABUSO DE DROGAS
Marília Z. P. Guimarães
Programa de Farmacologia Celular e Molecular
Instituto de Ciências Biomédicas/UFRJ
Ao contrario do que Aristóteles dizia, as nossas sensações e sentimentos são
atribuições do cérebro e não do coração. Nosso cérebro, com quase 100 bilhões de
neurônios, cada um com quase 10 mil conexões com outros neurônios, as chamadas
sinapses, é o que nos torna humanos e nos diferencia enormemente de outros primatas.
Nas sinapses, a porta de comunicação entre os neurônios, ocorre a passagem do
impulso nervoso mediante a liberação de uma substância química, o chamado
neurotransmissor. Um neurotransmissor se destaca quando o assunto é o abuso de
drogas: a dopamina.
O cérebro humano não é uma massa homogênea mas sim composto de regiões
especializadas em determinadas funções. Uma dessas regiões, muito rica em dopamina,
é a mesolímbica. Ali a dopamina é liberada em resposta a situações como ao ingerirmos
alimento ou num orgasmo. Por outro lado, na esquizofrenia, nessa região há um excesso
de dopamina, e esse fenômeno explica os chamados sintomas positivos da
esquizofrenia: alucinações, agitação motora, etc. Portanto, pode-se dizer que a via
dopaminérgica (isto é, que libera dopamina) mesolímbica está envolvida nas sensações
de prazer e motivação, assim como euforia e controle motor.
Mas qual seria a função normal da dopamina ali? A dopamina seria o equivalente
químico da nossa sensação de prazer e satisfação. Ao desempenhar funções essenciais
para a nossa sobrevivência enquanto espécie, somos recompensados com uma
sensação agradável, que devemos à dopamina. Assim, alimento, água, sexo, entre
outras coisas, nos trazem essa sensação prazerosa em diferentes escalas. Outras nem
tão essenciais à sobrevivência, como assistir à vitória do seu time de futebol ou jogar um
vídeo-game, também nos trazem as mesmas sensações. Naturalmente, por se tratar de
uma sensação agradável, nós, até mesmo inconscientemente, buscamos e desejamos
senti-la sempre que possível. Evolutivamente, essa sensação foi fundamental para a
sobrevivência dos indivíduos e da espécie, uma vez que graças à ela houve motivação
para a alimentação e a reprodução. Por outro lado, sabemos hoje que nosso cérebro
aprende a esperar uma determinada sensação prazerosa e que se ela não vem,
sentimos não apenas a ausência dela, mas sim uma sensação disfórica.
Todas as drogas de abuso têm em comum aumentar direta ou indiretamente a
quantidade de dopamina liberada, em diferentes graus, naquela região mesencefálica
mencionada acima. A propensão ao abuso de uma droga está estreitamente ligada a
esse fenômeno. Isso porque, ao utilizar a droga, há liberação de dopamina ou aumento
de, e isso nos dá aquela sensação de prazer e motivação. Trata-se da mesma sensação
que ocorre naturalmente, porém mais intensa ou rápida com a droga. Assim, a sensação
com a droga pode ser muito superior à natural, o que leva à pessoa a desejá-la mais
ainda. E, na ausência da droga, o indivíduo sente falta daquela grande quantidade de
dopamina, e isso se traduz em uma disforia.
A neurotransmissão, ou seja, a comunicação entre um neurônio e outro, se dá de
uma forma temporal e espacialmente controlada. Para que assim ocorra, todas as
atividades celulares que antecedem e sucedem a liberação do neurotransmissor são
estreitamente reguladas. Por exemplo, ao se liberar o neurotransmissor no espaço da
sinapse, é interessante que ele seja rapidamente removido ou degradado tão logo a
liberação cesse. Se o neurotransmissor permanece mais tempo ali do que o necessário,
o sinal detectado pelo neurônio seguinte será diferente. Uma maneira importante de
remover o neurotransmissor do espaço sináptico, chamado fenda sináptica, é a
recaptação. Através de uma proteína que fica na superfície do neurônio, o
neurotransmissor como a dopamina é jogado de volta para dentro, deixando a fenda
sináptica e assim deixando de exercer sua função ali.
A cocaína e o crack
A cocaína está entre as drogas com maior potencial de abuso. Isso porque ela
funciona impedindo a recaptação de dopamina ou até mesmo jogando mais dopamina
para fora, diretamente na região mesencefálica. Portanto, a cocaína causa um aumento
de dopamina repentino e intenso que se traduz numa enorme sensação de prazer. Ao
usar a cocaína pela primeira vez, um indivíduo poderá ter uma sensação como jamais
sentida. E muitos indivíduos reportam que, embora tentem, nunca conseguem repetir
aquela primeira sensação com a cocaína.
A cocaína é um alcalóide presente nas folhas de coca (Erythroxylum coca), planta
utilizada há milhares de anos para fins religiosos e medicinais. Ao ser isolada no século
19, descobriu-se também suas propriedades anestésicas. No mesmo século, foi utilizada
para tratar pacientes viciados em morfina. Sigmund Freud, em seu livro Über Coca,
descreveu suas propriedades euforizantes e ele mesmo a utilizou e prescreveu a seus
pacientes. Freud descreve a sensação do uso de cocaína:
“Júbilo e euforia duradouros, que de modo algum difere da euforia normal de
uma pessoa saudável. Você percebe um aumento de seu auto-controle e possui mais
vitalidade e capacidade para trabalhar. Em outras palavras, você é essencialmente
normal, e é difícil acreditar que está sob a influência de alguma droga. Trabalho físico
longo e intenso é desempenhado sem qualquer sensação de fadiga. Esse resultado é
usufruído sem quaisquer dos desprazeres que se seguem ao júbilo do uso do álcool.”
Naquela época, Freud super-estimou a segurança e as vantagens da cocaína ao
receitá-la para tratamento de viciados em morfina. Um de seus pacientes chegou a
desenvolver uma psicose cocaínica e morreu logo depois.
A cocaína é isolada em forma ácida e é utilizada por via nasal ou injeção. Essa
formulação ácida, isto é, capaz de doar prótons em solução, a torna solúvel em água.
Isto quer dizer que, na sua forma neutra, a cocaína não dissolveria em água, como um
óleo, o que dificulta sua manipulação. Ao “cheirar” o pó ácido da cocaína, essa
substância será absorvida através dos vasos intranasais e cairá na circulação sanguínea.
O sangue proveniente do nariz circula primeiro para o coração e de lá para o pulmão.
Em seguida, é bombeado novamente para o coração e de lá para o restante do corpo,
incluindo o cérebro. Portanto, pela via nasal, cerca de 10 minutos podem se passar sem
que haja algum efeito da cocaína, e tal efeito dura entre 20 e 40 minutos, dependendo
da dose. Na injeção intravenosa, os efeitos são praticamente imediatos visto que o
sangue segue diretamente para o cérebro.
Buscando-se efeitos mais rápidos e intensos, descobriu-se que a forma básica da
cocaína, o crack, pode ser esquentada e fumada. A forma básica de uma substância é
aquela capaz de receber prótons, ao contrário da ácida que doa prótons. E, por razões
outras, essas duas formas da cocaína reagem diferentemente ao serem aquecidas num
cachimbo, por exemplo. Se utilizássemos a forma ácida da cocaína para fumar, esta não
vaporizaria e sim queimaria, dessa forma não atingiria a circulação e consequentemente
não teria efeitos no organismo. Ao ser aquecida, a forma básica da cocaína se torna
vapor que pode ser então inalado. Ao entrar nos pulmões, a cocaína vaporizada é rápida
e eficientemente absorvida, devida à extensa área de superfície (comparada ao interior
das narinas, por exemplo). Uma vez na circulação sanguínea pulmonar, a cocaína é
transportada pelo sangue ao coração e de lá diretamente para o resto do organismo.
Repare então que, pela via intranasal (nariz), a cocaína deve percorrer um “percurso”
maior do que pela via inalatória (pulmão). Somando a isso a questão da rapidez com que
atravessa tecidos para chegar ao sangue, por causa da maior superfície de contato dos
pulmões, temos que os efeitos da cocaína fumada são muito mais rápidos que os da
cheirada. Enquanto os da cocaína cheirada levam em média 14 minutos para
aparecerem, a fumada (crack) leva apenas 1,5 minutos. O efeito desta última dura cerca
de 15 minutos.
Um outro fator também contribui para tornar o crack ainda mais perigoso do
ponto de vista do abuso de drogas. Por causa de sua rapidez de efeito, tem-se que este
é mais eficiente do que a mesma quantidade “cheirada”. Em outras palavras, a mesma
quantidade de cocaína fumada gerará um aumento maior na quantidade de dopamina
liberada no mesencéfalo do que a cocaína cheirada. Para se ter uma ideia, determinouse experimentalmente em macacos que para se obter a mesma quantidade de
dopamina no cérebro seria necessária uma dose 15 vezes maior por via nasal, passando
pelos vasos sanguíneos do nariz, do que pela via inalatória, que vai diretamente ao
pulmão. Portanto, o crack causa mais efeitos por unidade de cocaína e
consequentemente por unidade monetária, tornando-o muito mais barato.
Finalmente, experimentos com macacos mostram que a “fissura” por mais droga
está diretamente relacionada com a dose utilizada e inversamente relacionada com a
duração de seu efeito. Nesses procedimentos experimentais, os animais recebem
cocaína diretamente no cérebro ao aprenderem que apertando uma alavanca isso
acontece. Então observou-se que os animais que receberam do experimentador uma
dose maior de cocaína apertam mais vezes a tal alavanca em seguida. Por outro lado, se
é feita uma infusão intravenosa de cocaína sem variação da dose, mas sim variando-se o
tempo de infusão, temos que os animais cuja dose é infundida mais rapidamente
apertam mais a alavanca do que os que receberam a mesma dose ao longo de um
período maior. Dessa forma, pelo fato do crack exercer efeitos que são mais intensos
em doses relativamente menores, porém mais rápidos no tempo, conclui-se ele causará
uma fissura muito maior que a cocaína cheirada.
Cocaína e efeitos no resto do corpo: intoxicação
Até agora foram apresentados os efeitos da cocaína no cérebro devido a sua
importância para a compreensão do fenômeno de abuso. Porém isso não quer dizer que
não haja outras ações da cocaína no corpo que sejam importantes do ponto de vista da
saúde pública. Nos Estados Unidos, por exemplo, a cocaína é a principal causa de dor no
peito entre jovens e a causa de 25% dos infartos do miocárdio em indivíduos com
menos de 45 anos.
A cocaína, além de impedir a recaptação de dopamina como mencionado,
também atrapalha a recaptação de outros neurotransmissores como a noradrenalina
em doses maiores. A noradrenalina tem um papel fundamental na homeostase, isto é,
manutenção das nossas funções vitais em níveis normais. Por exemplo, ao realizarmos
um exercício físico, sentimos que a nossa respiração e batimentos cardíacos se tornam
mais frequentes. Isso porque nossos músculos estão trabalhando mais e assim
necessitam de maior oxigenação, que é obtida com o aumento da respiração e do
bombeamento do sangue até os músculos. Na respiração temos a passagem do oxigênio
do ar para o sangue e do gás carbônico do sangue para o ar. Pois a noradrenalina é
responsável por esses aumentos na frequência cardíaca e respiratória, assim como da
pressão arterial, entre outras coisas. Se, portanto, a cocaína impede a recaptação da
noradrenalina, temos que ela permanece mais tempo agindo e assim aumenta mais
ainda a pressão arterial.
O aumento da pressão arterial decorre de duas ações principais da
noradrenalina no sistema cardiovascular: a de aumentar o número e a força das
contrações do coração e de causar vaso constrição, isto é, o estreitamento dos vasos
sanguíneos. O usuário freqüente de cocaína, portanto, poderá ter uma pressão arterial
aumentada além de taquicardia, o que aumenta as chances de infarto do miocárdio.
Uma outra ação tóxica importante da cocaína e mais específica para o crack são
as lesões pulmonares (“crack lungs”). Isso decorre da sua via de entrada no organismo,
uma vez que a cocaína atinge altas concentrações ali mesmo nos pulmões. Ali a cocaína
causará intensa vaso-constrição, o que prejudica as trocas gasosas entre o ar e o sangue.
Se o calibre dos vasos está muito reduzido, haverá uma menor superfície de contato
entre o sangue que circula ali e o ar no interior dos pulmões. Além disso, essa vasoconstrição pode ser tão intensa a ponto de causar uma lesão no próprio tecido, pela
grande diminuição do fluxo sanguíneo. Essa lesão pode se desenvolver numa inflamação
e formação de tecido fibroso com cicatrizes, tecido esse que não permite trocas
gasosas. Assim perde-se parte da função pulmonar, tanto agudamente com excesso de
crack numa única utilização como também em indivíduos que fazem uso crônico da
droga.
Na intoxicação aguda por cocaína, o indivíduo pode apresentar vários problemas
que vão variar de acordo com a dose. Os primeiros sinais de intoxicação são tremores,
instabilidade emocional, inquietação, irritabilidade, paranóia, pânico e comportamentos
repetitivos estereotipados, como o estalar dos lábios. Em doses maiores ainda, pode
induzir ansiedade intensa, paranóia e alucinações, juntamente com hipertensão,
taquicardia, hipertermia (aumento de temperatura) e depressão respiratória
(diminuição da função respiratória). Numa overdose, a cocaína pode causar falência do
coração, derrame e convulsões.
Cocaína e o cérebro: efeitos de uso contínuo
O uso repetitivo da cocaína pode causar duas manifestações que decorrem da
tentativa do cérebro de restabelecer seu equilíbrio neuroquímico, a saber tolerância e
sensibilização (ou tolerância reversa). Como mencionado anteriormente, a comunicação
sináptica é muito regulada para que se mantenha relativamente estável. Caso haja uma
quebra nessa estabilidade, como por exemplo um excesso da dopamina liberada,
entrarão em ação mecanismos para que esse excesso seja minimizado. Esses
mecanismos podem demorar algumas horas para aparecer, mas podem perdurar por
anos dependendo do uso.
A tolerância é o fenômeno em que aplicações sucessivas da mesma dose de uma
droga causam efeitos cada vez menores. Isto quer dizer que, para que o primeiro efeito
seja obtido nas aplicações sucessivas, a dose tem que ser aumentada. Isso foi
demonstrado mais uma vez utilizando-se macacos e administração direta de cocaína no
cérebro. Na primeira aplicação, observou-se a elevação nos níveis de dopamina. Após
100 minutos dessa primeira aplicação, tempo suficiente para que o estoque de
dopamina dos neurônios fosse reposto, uma segunda aplicação gerou um aumento da
dopamina cerca de 20% menor. Esse fenômeno de tolerância aguda seria a explicação
para a chamada compulsão periódica (do inglês bingeing). Nessa compulsão, o indivíduo
utiliza cocaína várias vezes sucessivamente de num curto período de tempo, muitas
vezes aumentando a dose à cada utilização.
Já na tolerância reversa, ocorre o oposto. Em comparação com a tolerância, que
ocorre quando as administrações da droga se dão num curto período de tempo, a
sensibilização ocorrerá com o uso intermitente da cocaína. Esse fenômeno parece ser a
base para compreensão da chamada psicose cocaínica, em que doses que causariam
euforia no indivíduo passam a causar sintomas de esquizofrenia. Lembrando que a
esquizofrenia, ou melhor, os seus sintomas positivos, são causados por um excesso de
dopamina na região mesencefálica, essa psicose cocaínica se explica perfeitamente por
um efeito aumentado da cocaína. Isso também foi demonstrado com macacos, onde se
mediu os níveis de dopamina no cérebro ao longo de 25 semanas após a administração
semanal de cocaína (apenas uma vez por semana). Observou-se que entre a primeira
aplicação de cocaína e a última, 25 semanas depois, houve aumento de 60% em média
dos níveis de dopamina no cérebro.
Os mecanismos celulares que explicam esses fenômenos são complexos e
começaram a ser elucidados há 10 anos apenas. Basicamente envolvem processos
semelhantes aos que ocorrem na consolidação e eliminação de memórias. Estamos
longe de compreender totalmente o que é a memória, mas sabemos que para que ela
se forme é necessário que determinadas sinapses se reforcem ou tenham a
comunicação facilitada em detrimento de outras. Esses processos são conhecidos como
plasticidade e envolvem o aparecimento ou desaparecimento de sinapses, produção de
proteínas diferentes, crescimento ou encolhimento de neurônios. Descrever em mais
detalhes o que se sabe sobre isso até agora foge do objetivo desse texto, mas é
importante ressaltar que o cérebro de um viciado em cocaína é um cérebro diferente. E
essas diferenças podem permanecer por meses ou anos.
Cocaína e crise de abstinência
No usuário dependente de cocaína, uma interrupção no acesso à droga significa
precipitar uma crise de abstinência ou de retirada. Logo em seguida ao cessar da euforia
cocaínica, o indivíduo experimentará a fissura por mais cocaína, acompanhada de
agitação e ansiedade. Subsequentemente irá sentir fadiga, depressão, exaustão, excesso
de sono e hiperfagia (excesso de fome). Após alguns dias, se não for tomada uma nova
dose de cocaína, o viciado poderá experimentar outros sintomas de abstinência, como
falta de energia, falta de interesse, anedonia e aumento da fissura.
É claro que experimentar todas essas sensações desagradáveis está na raiz do
problema do vicio, uma vez que, para o usuário, apenas a cocaína o livrará delas. As
sensações decorrem das modificações plásticas mencionadas acima, aquelas que
ocorrem na “tentativa” do cérebro de restabelecer a normalidade da neurotransmissão
dopaminérgica. É como se para o cérebro do cocainômano, a dopamina liberada
normalmente ao desempenhar suas funções diárias não fosse suficiente para motivá-lo.
Por isso ele desenvolve uma anedonia e sintomas de depressão.
Não há um tratamento farmacológico preconizado para usuários dependentes
de cocaína, apenas terapia psicológica. No entanto, as pesquisas apontam para o
desenvolvimento de vacinas que impeçam a entrada da cocaína no cérebro ou então de
substâncias que, ao contrario da cocaína, promovam a entrada da dopamina de volta
para o neurônio.
Referências Utilizadas
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BRADBERRY, CHARLES W. (2002) Dynamics of Extracellular Dopamine in the Acute and
Chronic Actions of Cocaine. NEUROSCIENTIST 8(4):315–322.
DEVLIN, ROBERT J AND HENRY, JOHN A (2008) Clinical review: Major consequences of
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STAHL, S. M. (2002) Essential psychopharmacology : neuroscientific basis and practical
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http://www.erowid.org/chemicals/cocaine/cocaine_basics.shtml
http://www.nida.nih.gov/infofacts/cocaine.html
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