Papa visita sinagoga de Roma em meio a polêmica
sobre Pio XII
ROMA — O Papa Bento XVI visitou neste domingo, em um ato histórico, a principal
sinagoga de Roma, com uma homenagem diante da placa que lembra a deportação de
milhares de judeus da Itália aos campos de extermínio nazistas durante a Segunda
Guerra Mundial.
A presença de Bento XVI acontece 24 anos depois de uma visita de João Paulo II à
Grande Sinagoga de Roma, e sob a sombra de Pio XII, o pontífice acusado de manter
silêncio diante do Holocausto nazista.
Uma coroa de flores foi depositada em nome do pontífice por um de seus assistentes
diante da placa que recorda a deportação de mais de mil judeus do "gueto" de Roma em
16 de outubro de 1943 para os campos concentração.
Este foi um gesto simbólico, já que alguns historiadores, muitos deles judeus, acusam o
pontífice da época, Pio XII, de ter ficado silêncio durante o Holocausto nazista e
criticam o desejo do Papa alemão de beatificá-lo.
Vários líderes religiosos judeus já pediram a interrupção do processo de beatificação de
Pio XII, pelo menos por uma geração, por ferir os sobreviventes dos campos de
concentração ainda vivos.
O presidente das Comunidades Judaicas de Roma, Riccardo Pacifici, aproveitou a visita
para pedir a Bento XVI a abertura dos arquivos sobre o controverso Papa Pio XII.
"O silêncio de Pio XII diante do Holocausto ainda nos machuca, é algo que ainda falta",
disse Pacifici, ao abordar um dos temas de maior divergência entre católicos e judeus.
"Talvez (a palavra do Papa) não tivesse servido para interromper os trens da morte, mas
teria sido um sinal, uma palavra de alívio, de solidariedade humana, para nossos irmãos
que eram transportados para o campo de Auschwitz", acrescentou diante do pontífice
alemão.
"Com a esperança de alcançar um ponto de vista compartilhado, desejamos com todo
respeito que os historiadores tenham acesso aos arquivos do Vaticano sobre este período
e sobre os eventos posteriores à queda da Alemanha nazista".
Mas Bento XVI afirmou em seguida que o Vaticano "também socorreu, com frequência
de maneira oculta e discreta", os judeus durante o nazismo, em uma respostas às críticas
ao silêncio de Pio XII.
No discurso, o Papa recordou a deportação de milhares de judeus da capital e "a
horrenda agonia dos que foram assassinados no campo de extermínio de Auschwitz".
"Como esquecer seus rostos, suas lágrimas, o desespero de homens, mulheres e
crianças?".
"A Sede Apostólica também socorreu, com frequência de maneira oculta e discreta",
disse.
"Infelizmente muitos foram indiferentes, mas muitos outros, entre eles numerosos
católicos italianos, sustentados pela fé e os ensinamentos cristãos, com coragem abriram
os braços para socorrer os judeus perseguidos e que fugiam, mesmo sob risco de perder
a própria vida", completou o Papa, que foi aplaudido várias vezes.
"A memória destes eventos deve nos obrigar a reforçar os laços que nos unem, para que
cresça a compreensão, o respeito e a aceitação", concluiu.
No início da visita, Pacifici pediu o respeito a um minuto de silêncio em memória das
vítimas do terremoto no Haiti.
O líder judeu, que recebeu ao lado de outras personalidades religiosas judaicas o Papa
Bento XVI em sua primeira visita à sinagoga da capital, fez um pedido de solidariedade
a todos, judeus ou não.
"É preciso ajudar a população do Haiti e as milhares de vítimas e pessoas que ficaram
desabrigadas", disse.
Durante a bênção do Angelus deste domingo, Bento XVI falou sobre o Haiti e disse que
acompanha e estimula os esforços das organizações de caridade no país.
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