Nº 194 Taguatinga/DF, 13 de outubro de 2011. Evangelho de Mt. 22, 15-21 A Boa Nova em Nossas Vidas Pe. Tininho Queridos irmãos e queridas irmãs, podemos perceber, a partir desse fato acontecido com Jesus e relatado pelo evangelista São Mateus, que a fé está intimamente ligada à vida social e política. As pessoas vivem numa sociedade e precisam agir como cidadãos e cidadãs. A fé não pode ser vivida de uma maneira desligada da realidade desse mundo; não pode ser praticada em segredo, no próprio quarto, ou na Igreja durante quarenta e cinco minutos por semana. A religião condiciona todas as escolhas das pessoas em todas as horas da sua vida. Portanto, não pode deixar de influir também sobre as opções políticas e sobre o cumprimento dos deveres dos cidadãos e cidadãs. Vamos buscar entender a pergunta maliciosa dos judeus a Jesus. Primeiro eles fazem um elogio e reconhecem que Jesus é de fato um homem integro: “sabemos que tu és verdadeiro porque não dás preferência a ninguém. Com efeito, não levas em conta as aparências e ensinas de verdade o caminho de Deus”. Se têm consciência do que constataram em Jesus, porque não se convertem? Mas, como estavam procurando um álibi para levar Jesus à morte, seus olhos estavam cegos pelo ódio contra aquele que veio da parte do Pai inaugurar para a humanidade inteira um novo mundo. Então a pergunta que fazem a Jesus é para levá-lo à contradição e, com isso, terem motivos para sua condenação. A pergunta é capciosa. Não há saída. Seja qual for a resposta, Jesus cairá na armadilha feita por eles. Se Jesus se pronuncia contra o pagamento dos impostos, pode ser denunciado às autoridades romanas como subversivo; se ele se declara favorável ao pagamento, atrai sobre si a antipatia do povo que odiava os romanos. Como sair dessa cilada? Jesus pede que lhe seja mostrada a moeda. Vira-a nas mãos, observa e depois pergunta: de quem é esta imagem? É a imagem do imperador romano. Os judeus entenderam o que Jesus quis dizer com a pergunta. E Ele acrescenta: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E o que quer dizer: “e a Deus o que é de Deus”? É que não podemos e não devemos nunca esquecer de pagar os impostos, pois é através deles que teremos uma sociedade que satisfaça o desejo comum de todos na saúde, na educação, no saneamento básico, nos transportes, nas melhorias das cidades etc. É uma obrigação moral, além de civil, contribuir para o bem comum. Não há razão que possa justificar a sabotagem e roubo dos bens do Estado. Em qualquer tipo de sociedade, seja qual for a linha política e econômica escolhida, o seguidor de Cristo deve sempre ser um cidadão exemplar. Sonegar os impostos é impedir que os mais pobres tenham seus direitos garantidos. Sabemos que essa prática é muito corrente entre nós. Cada dia vemos operações policiais e do fisco apresentando grandes sonegadores. Se achamos que nossa carga tributária é extorsiva, vamos ao judiciário e ao parlamento buscar meios para que ela seja melhor aplicada e com justiça. Pela sonegação poderemos resolver egoisticamente os nossos problemas, enquanto que a maioria será prejudicada. Jesus vai além da pergunta dos judeus e acrescenta algo novo: se deve restituir a Deus o que lhe pertence. E o que pertence a Deus? No livro de Gênesis temos a resposta: “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou (Gen. 1,27). Aí está a criatura que não pode pertencer a mais ninguém, senão a Deus: o homem e a mulher ninguém poderá dominálos, escravizá-los, oprimi-los, aproveitar-se deles, como se fossem objetos de sua propriedade. São sagrados, e de Deus. Trata o homem e a mulher como objeto quem se aproveita do operário, não concedendo salário digno, saúde decente etc. E não é o que vemos por todos os cantos de nossa cidade? Homens e mulheres desfigurados pelo sofrimento e pela dor, pelo abandono e pelo descaso dos poderes públicos. Também quando há preconceitos contra as mulheres, quando as submetemos a humilhações, quer no lar, no trabalho ou na sociedade, impedindo-as de ter os mesmos direitos concedidos aos homens. Fruto do machismo que é imoral, indecente e pecaminoso. Por isso, irmãos e irmãs, Jesus nos convoca a estarmos sempre atentos, a vigiar o comportamento de qualquer autoridade, a estar de prontidão, se necessário, para contestar, para criticar, para colocar em discussão qualquer um que não respeita a imagem de Deus que está impressa no rosto de cada pessoa. E que cada um de nós, através de nossas ações e atitudes possamos, como um artista, restaurar a beleza original de cada pessoa. E fazendo isso estaremos também restituindo a cada um de nós a dignidade e humanidade. Não esqueçamos daquelas pessoas que, a cada dia, se colocam na missão de trabalhar pelos mais excluídos de nossa sociedade, os preferidos e preferidas de Deus, quer nas clínica de repouso, nos asilos, nas casas recuperação dos dependentes químicos, das pessoas com deficiência etc. Já que imagem de Deus está gravada em nós, devemos “devolver” nossa vida em adoração a Ele, cumprindo a sua soberana vontade. Assim, a prática de devolver a Deus o que é de Deus destrói toda idolatria. Rezemos então: Mestre, que tua Palavra leve cada um e cada uma a ser, de fato, comprometido com a realidade econômica e social, tornando-se restauradores e restauradoras da beleza original daqueles e daquelas que tem suas vidas desfiguradas pelo sofrimento e pela dor. Amém!