Mundo Editor // Vinicius Palermo A-8 • Jornal do Commercio • Segunda-feira, 11 de maio de 2015 CUBA Raúl Castro diz ao papa que pode se tornar católico Em audiência no Vaticano, presidente da ilha caribenha promete voltar a rezar se Francisco mantiver conduta e agradece o apoio pela reaproximação com os EUA REUTERS/GREGORIO BORGIA/POOL DA REDAÇÃO “E u retomarei as orações e me voltarei para a Igreja novamente, caso o papa continue nessa linha.” A promessa de Raúl Castro, feita após uma audiência privada com Francisco, mostra como o presidente cubano ficou impressionado com o pontífice. No encontro de 55 minutos – duração maior do que o habitual –, Castro aproveitou para agradecer pessoalmente o empenho do líder católico ao mediar a aproximação entre a ilha caribenha socialista e os Estados Unidos. “Agradeci ao papa por seus esforços na tratativa para a normalização da relação entre Cuba e os Estados Unidos”, afirmou. Pouco mais tarde, durante uma entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, Castro elogiou o argentino e tornou a avisar: “Eu volto a rezar e regresso à Igreja, e não digo isso de brincadeira”. O mandatário anunciou que assistirá a todas as celebrações papais durante a viagem de Francisco a Cuba, na segunda quinzena de setembro. “Eu prometo que irei a todas as missas dele, e com satisfação. Eu deixei o encontro desta manhã muito impressionado por seu conhecimento, sua sabedoria, modéstia, e por todas as virtudes que sabemos que ele tem”, disse. A cordialidade e o bom humor marcaram a reunião entre Francisco e Raúl Castro, a qual teve início às 9h30 (4h30 em Brasília). Georg Giaenwei, prefeito da Casa Pontifícia, recebeu o visitante o conduziu até o anfitrião. Um grupo formado por dez guardas suíços saudaram Castro com o tradicional levantar de lanças. “0Eu arruinei o domingo de vocês”, brincou o papa, depois da audiência, dirigindo-se aos jornalistas. Por sua vez, o cubano citou uma similaridade com o religioso. “O pontífice é [email protected] Pílula dourada O discurso do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que o ajuste fiscal é fundamental para manter os programas sociais, com destaque para o Minha Casa, Minha Vida, foi uma jogada ensaiada com o Planalto para dar a deputados e senadores da base aliada um argumento forte em favor das medidas provisórias em votação no Congresso. A ideia é tirar fôlego da versão oposicionista de que se trata de um pacote de propostas perversas para o trabalhador e fazer respirar a governista de que o remédio é necessário para não comprometer os programas sociais em curso. A iniciativa de dourar a pílula não é nova. Quando da aprovação do Plano Real, na década de 1990, o então presidente, Fernando Henrique Cardoso, deu à desvinculação de receitas orçamentárias o apelido de Fundo Social de Emergência (FSE). Hoje, essa desvinculação atende pelo nome real: DRU (Desvinvulação de Receitas da União). O fato de o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto ter incluído o relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio, no rol das testemunhas de defesa foi visto por muitos como um recado direto de que não pretende responder por tudo sozinho. Lava-Jato e os políticos Francisco e Raúl tiveram um encontro cordial ontem: cubano ficou ‘impressionado’ com o pontífice um jesuita, e eu, de algum modo, também o sou. Eu estudei em escolas jesuítas”, lembrou. No entanto, o cubano fez questão de frisar: “Eu sou comunista do Partido Comunista Cubano, o partido nunca permitiu os crentes; agora, estamos permitindo que os crentes também façam parte, o que é um passo importante”. Francisco teve papel crucial no reatamento das relações diplomáticas entre Washington e Havana. As negociações tiveram início em junho de 2013 e foram facilitadas pelo Canadá e pelo Vaticano, que chegou a sediar um encontro entre delegações dos dois governos em outubro passado. A importância da Santa Sé no processo ficou explícita pelo fato de que 11 autoridades cubanas acompanharam Raúl Castro na visita, incluindo o chanceler, Bruno Rodríguez Parrilla; e o vice-presidente, Ricardo Cabrizas. O padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, considerou a audiência uma “prepara- ção da viagem do pontífice a Cuba”. Ele frisou que a ida do papa a Havana servirá para que a Igreja cubana – a qual mantém laços com a Santa Sé desde a revolução de 1959 – se sinta “muito reconfortada”. Antes da visita oficial a Cuba, Francisco fará um périplo por Equador, Paraguai e Bolívia, entre 5 e 12 de julho. Além de celebrar cinco missas, o argentino vai conversar com grupos sociais e eclesiásticos específicos. “Por exemplo, na Bolívia, ele se dedicará a movimentos populares, de camponeses e de indígenas. No Paraguai, escolheu os doentes, as crianças e os jovens”, disse Eliseu Ariotti, representante do Vaticano em Assunção. Troca de lembranças O drama dos imigrantes que tentam alcançar a Europa por meio do Mar Mediterrâneo foi tema do presente enviado pelo líder cubano ao papa Francisco: um quadro do artista Alexis Le- vya Machado, o Kcho, que mostra uma grande cruz feita com vários barcos e uma criança rezando diante dela. “Que inspiração”, respondeu o pontífice. Raúl Castro também deu ao pontífice uma medalha alusiva ao 200º aniversário da Catedral de Havana – a peça, uma raridade, tem apenas 25 cópias. A retribuição do Vaticano foi um medalhão de San Martín de Tours, patrono de Buenos Aires, além de um exemplar de sua exortação apostólica Evangelii Gaudium. Acordo com a França Cuba e França aumentaram a colaboração em matéria de saúde pública, com um acordo assinado em Havana antes da chegada, na noite de ontem, do presidente francês, François Hollande. O tratado “permitirá aprofundar a cooperação já existente entre os países em termos de vigilância sanitária e da saúde pública”, disse a ministra da Saúde francesa, Marisol Touraine. Plano da UE prevê ataques à Líbia A União Europeia deve apresentar hoje ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, em Nova York, um projeto audacioso com o objetivo de enfrentar o fluxo migratório criminoso no Mar Mediterrâneo. Segundo o jornal britânico The Guardian, a proposta de resolução, preparada pelo Reino Unido, prevê ataques militares aéreos contra alvos na Líbia para conter as redes de tráfico de pessoas. A chefe da política externa europeia, Federica Mogherini, por Denise Rothenburg Além de testemunhas IMIGRAÇÃO DA REDAÇÃO Brasília-DF vai expor a estratégia e pedir a autorização do Conselho para começar colocá-la em prática. A expectativa é que o sinal verde seja dado em até uma semana. O projeto prevê o “uso de todos os meios para destruir o modelo de negócio dos traficantes”. Isso incluiria o deslocamento de navios militares de países europeus para águas líbias e o envio de helicópteros com poder de fogo para frear as embarcações. Pelo projeto, as operações serão comandadas a partir da Itália, país mais afetado pelo drama da imigração e mais pró- ximo da Líbia. Em 2014, aproximadamente 170 mil pessoas chegaram à costa italiana. No total, dez países – entre eles, Espanha, França e o Reino Unido – já teriam confirmado participação na missão. A diplomacia europeia, destacou o Guardian, sabe que os grupos jihadistas e paramilitares ligados ao tráfico de pessoas têm grande arsenal e, desta forma, não descartam mesmo a possibilidade de acionar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para aderir à missão, que não teria, por enquanto, prazo de execu- ção definido. Para obter a aprovação do Conselho de Segurança da ONU, os europeus terão que quebrar resistências da China e da Rússia. Conversas bilaterais já estariam em andamento com esse objetivo. Se não houver uma deliberação unânime, o projeto não poderá ser implementado. Cotas Em outro projeto, a UE pretende estabelecer cotas para acolhimento de imigrantes que pedem asilo nos 28 países que integram o bloco. Os números seriam definidos com base nas condições econômicas de nação, levando em conta fatores como o PIB e o desemprego. Nos últimos anos, os fluxos migratórios explodiram. Diariamente, a guarda-costeira da Itália resgata entre 500 e mil pessoas nas águas do Mediterrâneo. Mas a pressão sobre a UE para enfrentar a crise se intensificou depois de um naufrágio que deixou 800 mortos, no mês passado. O acidente elevou para 1,8 mil o número de mortes este ano – 30 vezes mais do registrado em igual período de 2014. Assim que o ajuste fiscal deixar o salão verde rumo ao Senado, um grupo de deputados vai investir no desfile de políticos envolvidos na Lava-Jato dentro da CPI da Petrobras. Até aqui, só o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, prestou depoimento. Polêmica de gênero A reforma política ganha a cada dia novos entraves. Agora é a bancada feminina. Liderada pela deputada Soraya Santos (aquela que outro dia a coluna chamou de Solange! ops!), do PMDB do Rio, a mulherada pretende separar 30% das vagas para disputa apenas entre as candidatas. Os homens ficariam com o restante: 70%. "É como as cotas das universidades: os afrodescendentes disputam apenas entre eles", comenta ela. Os parlamentares discordam. Moral da história Os petistas não têm mais dúvidas: o ajuste fiscal vai salvar o governo, mas não o PT. O pacote, quando combinado com os problemas de corrupção na Petrobras, promete atrapalhar a eleição de muitos candidatos a prefeito em 2016. O partido agora tenta é preservar 2018. Mas ainda não tem caminho. Até o discurso de Lula é considerado velho. OAB na berlinda Detentor do título Supremo defensor de Brasília, o arquiteto Carlos Magalhães se prepara para ingressar na Justiça contra a direção nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Tudo por causa do polêmico outdoor eletrônico que a entidade mantém no início da Avenida L2 Sul. CURTIDAS Se valesse dinheiro… O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e os líderes do governo, José Guimarães, e do PSD, Rogério Rosso, passam parte das sessões apostando o placar das votações. Na primeira votação, sobre o pedido de retirada de pauta da medida provisória do ajuste fiscal, Cunha cravou: "Rosso, pode apostar o que quiser, vai dar 180 votos para a oposição". Dito e feito. … Um líder estava no sal Na votação da PEC da Bengala, quem acertou o número de votos a favor do texto foi Guimarães: 333. Rosso, em primeiro mandato, ainda não acertou um placar. Falta a experiência de olhar o jeitão do plenário para ter a certeza do resultado. Quem viu, quem vê Sempre ácido com a oposição, o deputado Silvio Costa é agora só elogios à atitude do prefeito de Salvador, ACM Neto, em apoiar o ajuste fiscal. "Ele provou que tem responsabilidade pública. Deixou a arenga política e votou pelo País." Laços refeitos Ex-candidato a governador do Distrito Federal pelo PSDB, Luiz Pitiman retomou o diálogo com o ex-vice-governador Tadeu Filippelli, do PMDB, de quem estava afastado havia mais de três anos. Agora, começam a ensaiar uma coreografia para 2018. Curta JIMMY CARTER INTERROMPE VIAGEM À GUIANA O ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter interrompeu uma viagem à Guiana depois de se sentir mal e está voltando para Atlanta, informou ontem o Carter Center. Carter, de 90 anos, viajou para o país sulamericano para observar as eleições nacionais previstas para ocorrer hoje. Em breve comunicado, o Carter Center informou apenas que o ex-presidente partiu ontem depois de “não se sentir bem”. “A missão de observação do Carter Center na Guiana continua seu trabalho e vai mantê-lo informado sobre os desenvolvimentos”, diz a nota.