CAPÍTULO 1
ALVORECER
N
ão existe nada tão sublime quanto a paz. Não há nada mais
feliz do que a paz.
Paz — eis o primeiro passo fundamental no propósito do
avanço da humanidade.
Dois de outubro de 1960. Shin-iti Yamamoto, 32 anos, estava
preste a partir para o mundo e em seu coração ardia a chama do
juramento pela paz. Passaram-se apenas cinco meses desde sua
posse como terceiro presidente da Soka Gakkai.
Nesse agradável dia de outono em Tóquio, o céu límpido e
cristalino estendia-se por todo o infinito.
Desde cedo, inúmeros companheiros haviam se dirigido ao
Aeroporto Internacional de Tóquio, em Haneda. Por volta das
9h30 os membros já lotavam completamente a sacada do aeroporto. Foram desejar boa viagem ao seu presidente, Shin-iti Yamamoto, que partia para sua primeira viagem ao exterior.
Às 10h10, uma agitação percorreu toda a sacada. Era a comitiva de seis pessoas, incluindo Shin-iti, que surgia no terminal de
embarque. Além dele, a comitiva era composta pelo vice-diretor
APRENDENDO COM A NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
geral Kiyoshi Jujo e pelo diretor Yukio Ishikawa, como também
por Tyuhei Yamadaira, coordenador do Departamento de Estudo do Budismo, Eisuke Akizuki, coordenador da Divisão dos
Jovens, e Katsu Kiyohara, coordenadora da Divisão Feminina.
Antes do embarque, os viajantes ficaram lado a lado na frente
do avião e, com seus chapéus nas mãos, acenaram em direção à
sacada. Vozes de alegria e aplausos elevaram-se ao extenso céu
inteiramente límpido.
Às 10h40, o avião — voo 800 da Japan Air Lines, apelidado
de Fuji — decolou com forte estrondo conduzindo a comitiva
rumo à cidade de Honolulu, no Havaí.
O Fuji foi o primeiro avião a jato de grande porte para passageiros a entrar em operação no Japão, e seu voo inaugural havia
acontecido há apenas algumas semanas, no dia 12 de agosto.
Lá embaixo, Shin-iti pôde avistar o saudoso mar de sua querida Omori, a terra onde nasceu e foi criado. Incontáveis ondas,
banhadas pelos raios de sol, reluziam cintilantes criando uma
superfície prateada. Parecia que se congratulavam com a partida
de Shin-iti, desejando-lhe uma boa viagem.
Silenciosamente, Shin-iti colocou a mão sobre seu peito. No
bolso de seu paletó levava uma foto de seu venerado mestre Jossei
Toda. Ele jamais esqueceu as palavras de Toda quando lhe disse
que havia sonhado que viajara ao México. Toda se encontrava
enfermo e acamado no Templo Principal e isso ocorreu pouco
antes de seu falecimento.
Naquele dia, Toda disse: “Eles estavam esperando. Todos
aguardavam ansiosamente a chegada do Budismo de Nitiren
Daishonin. Como eu quero viajar pelo mundo, para a jornada do
Kossen-rufu... Shin-iti, o mundo é seu desafio, seu verdadeiro palco. E o mundo é imenso e vasto.” Ele tirou as mãos de debaixo
do acolchoado e estendeu a Shin-iti, que a apertou em silêncio.
Então, sério e com olhar fixo no rosto de Shin-iti e usando todas
as forças que ainda lhe restavam, solicitou: “Shin-iti, viva! Você
precisa viver! Viva o máximo que puder e percorra o mundo!”
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A HISTÓRIA DA ATUAÇÃO CONJUNTA DE MESTRE E DISCÍPULO
Seus olhos brilhavam de modo penetrante. Shin-iti gravou profundamente essas palavras em seu peito como um testamento.
No voo era difícil conter a forte emoção que emergia de seu
interior ao pensar que estava registrando o primeiro passo rumo
ao Kossen-rufu mundial como discípulo e em lugar de seu falecido
mestre.
Shin-iti escolheu o dia 2 para a partida desta primeira viagem
ao exterior para coincidir com o dia do falecimento de Toda. Ele
compreendia profundamente o sentimento de Toda ao dizer-lhe:
“Percorra o mundo”.
Havia passado 15 anos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Não obstante, e apesar da aspiração da humanidade pela
paz, a história caminhava em direção ao extenso pântano da
Guerra Fria entre Ocidente e Oriente. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos e a União Soviética, encabeçando os dois blocos,
conduziam o mundo junto com as demais potências para a dramática concorrência no desenvolvimento de armas nucleares.
Em diversas regiões da África, contínuos conflitos insurgiam
na busca pela independência do regime colonial, enquanto disputas raciais e étnicas eram deflagradas em varias outras partes
do mundo.
Em meio a isso tudo, as pessoas permaneciam sob o temor
da ameaça do holocausto nuclear, viviam cercadas pelo fogo dos
conflitos internos e sofriam injustas discriminações e crueldades,
com pobreza e enfermidades. Mesmo assim, todos continuavam
a almejar pelo alvorecer da paz e da felicidade.
Com certeza, as palavras de Toda dirigidas a Shin-iti nada
mais eram do que um brado que surgia pela salvação da humanidade, lançado por um líder budista que discernia sagazmente a
situação do mundo.
Felicidade, eis o objetivo da vida.
Paz, eis o desejo de todas as pessoas.
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APRENDENDO COM A NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
O curso da história da humanidade deve desenrolar-se em
direção a essa paz e felicidade, e o ser humano é um ser que persegue a lei natural que o conduz seguramente a essa direção.
Tanto a ciência e a política como a sociedade e a religião
devem concentrar suas metas nesse ponto básico.
Shin-iti pensou: “Nitiren Daishonin tomou os sofrimentos
da humanidade como seu próprio sofrimento e ergue-se altivamente levantando a bandeira da pacificação da Terra por meio
do budismo. Isso foi de fato a demonstração da lei natural que
direciona o ser humano para a paz e a felicidade. E, prevendo a
propagação mundial de seu ensino nas palavras: ‘[...] pode haver
alguma dúvida de que, [...] a grande Lei pura do Sutra de Lótus
será propagada extensa e amplamente no Japão e em todas as
nações de Jambudvipa?.”1
Trinta e dois anos após ter nascido neste mundo, Shin-iti tomava como missão eterna de sua vida a conclusão do Kossenrufu mundial. Quando imaginava que naquele momento estava
abrindo com suas próprias mãos o portal desse grande empreendimento, seu coração inflamava palpitantemente.
O Budismo de Nitiren Daishonin elucida que todas as pessoas podem evidenciar igualmente a natureza de Buda e que todas são entidades da Lei última da vida. Indica também o caminho para se livrarem de todas as correntes de ferro que as privam
da liberdade.
O ensino de Daishonin, que estabeleceu a dignidade, igualdade e liberdade dos seres humanos, é a religião mundial que
ilumina o futuro do século XXI emitindo a brilhante luz da felicidade universal para a paz de todas a humanidade.
No entanto, esse Budismo de Nitiren jamais havia atravessado os mares até então para se propagar ao mundo. Ou melhor,
nenhum budismo do Japão havia saído do país com o propósito
específico de se difundir no exterior.
1. The Writings of Nichiren Daishonin. Soka Gakkai: Japão, 1999, p. 550.
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