O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E A ATIVIDADE LÚDICA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA ÁREA TEMÁTICA: TEORIAS E METODOLOGIAS DE ENSINO STEIDEL, Rejane. Mestre em Educação, Coordenadora do Curso Normal Superior EAD da Faculdade Educacional da Lapa– Lapa - Pr e Profª na Faculdade Anchieta de Ensino Superior do Paraná – Curitiba-Pr VICENTINE, Claudia. Doutoranda em Gestão de Marketing, Professora na Faculdade do Litoral Paranaense – Guaratuba-Pr e da Faculdade Camões – Curitiba-Pr BILIK, Aline. Aluna do Instituto Superior de Educação de Guaratuba-Pr SANTOS, Nardine Peppe. Aluna do Instituto Superior de Educação de Guaratuba-Pr SILVA, Fernando dos Santos. Instituto Superior de Educação de Guaratuba-Pr SPECK, Keli Adriana de Souza. Instituto Superior de Educação de Guaratuba-Pr GRABAUSKI, Rosilda da Silva. Instituto Superior de Educação de Guaratuba-Pr RESUMO Ao usar jogos como atividade pedagógica, os professores devem fazer um rigoroso e cuidadoso planejamento, no qual precisará ser marcado pôr etapas que possam acompanhar o progresso dos alunos. Necessitará avaliar a qualidade dos jogos que emprega pesquisa e seleciona. Ao se propor jogos, os professores não devem ressaltar a questão da competitividade, mas sim a questão de que os alunos estarão aprendendo algo através daquele determinado jogo. Para que um jogo, além de divertir e relaxar contribua para educar, é necessário que se preste atenção aos conteúdos existentes e verifique se os mesmos têm uma contribuição positiva e qualitativa. No século XX, o jogo foi uma das atividades humanas sobre as quais mais se escreveu. Apesar de ter sido e continuar sendo ato estudado, muitos discursos que procuram explicar e valorizar essa atividade acabam sendo um tanto quanto contraditórios. Há muitas argumentações explícitas sobre essa atividade como sendo ela indispensável para o desenvolvimento pessoal. É valorizada positivamente e recomendada como sendo prazerosa e formativa, mas vale preocupar-se e pensar sobre os recursos necessários para a realização do jogo e na seleção dos mesmos. No decorrer do século 1398 XX, muitos estudos recomendaram o estímulo do jogo para que o mesmo fosse empregado nas aprendizagens mais formais. A brincadeira traz muitos benefícios, pois a criança desde muito pequena aprende brincando, espontaneamente e com prazer pelo conhecimento. É brincando que a criança exercita suas potencialidades. O desafio que há nas brincadeiras provoca na criança o funcionamento do pensamento e a leva a ter um auto nível de desenvolvimento. Desde os primórdios da educação greco-romana, com base nas idéias de Platão e Aristóteles, já utilizava – se da brincadeira na educação. Isso se dava pelo fato de haver associação entre a idéia de estudo prazeroso. PALAVRAS-CHAVES: Aprendizagem - Lúdico - Brinquedo - Jogo - Desenvolvimento A palavra lúdico vem do latim ludos e significa brincar. O lúdico é uma categoria geral de todas as atividades que tem características de jogo, brinquedo e brincadeira. ... O jogo pressupõe uma regra, o brinquedo é o objeto manipulável e a brincadeira, nada mais que o ato de brincar com o brinquedo ou mesmo com o jogo. Jogar também é brincar com o jogo. O jogo pode existir por meio do brinquedo, se os “brincantes” lhe impuserem regras. Percebese, pois, que jogo brinquedo e brincadeira tem conceitos distintos, todavia estão imbricados; ao passo que o lúdico abarca todos eles. (MIRANDA, 2001) Figura 1: Miranda, 2001. 1399 Independente da época, da cultura e da classe social, os jogos e as brincadeiras fazem parte do processo de desenvolvimento de uma civilização. Na Grécia antiga e Egito as atividades lúdicas fazem parte das atividades cotidianas dos adultos, nesse período à criança não era valorizada, sendo submetida até os sacrifícios religiosos. Com o advento do cristianismo, acontece uma revolução cultural cujo principal fator é o religioso, a criança passa a ser ora valorizada, ora marginalizada, para educá-la eram consideradas as necessidades do mundo adulto que nada tinham a ver como o desejo da criança de brincar. Na idade média a criança era vista como um adulto em miniatura, portanto não havia diferença entre os jogos e brincadeiras destas e dos adultos. No livro História Social da criança, Philippe Áries (1978), aborda a importância das brincadeiras durante o século XVII e XVIII. Ainda nesse século a imagem da criança é modificada, percebe-se que ela é um ser distinto do adulto e que possuem valores próprios como à fantasia, a ingenuidade, a comunicação a igualdade. Descoberta como ser individualizado, percebe-se que é necessária uma educação diferenciada que utilize atividades lúdicas e jogos educativos que possam servir de suporte para a didática. Hoje a ludicidade tem uma conotação diferente daquela que considerava o brincar como algo pejorativo, para transformar-se num tema de real significação para todas as pessoas. A ludicidade já é utilizada na terapia corporal, na capacitação de profissionais para o desenvolvimento das atividades lúdicas nas áreas da saúde e educação, envolvendo o ser humano em diferentes fases geracional. Diversos estudiosos da educação trazem em sua obra abordagem relacionada à idéia do lúdico. Froebel apud Ramos evidencia o papel do jogo como revelador das tendências infantis, este jogo por sua vez deve ser espontâneo. Vygotsky apud Ramos e Piaget apud Ramos, em seus estudos falam da importância da participação ativa do sujeito na aprendizagem. As crianças em interação com o meio constroem conhecimento, desse jeito as atividades lúdicas vão permitir a manipulação dos dados da realidade reelaborando-os e transformando-os. A criança envolve-se com o jogo, com a brincadeira de forma prazerosa. Quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de uma forma. Pode-se estar falando de jogos políticos, de adultos, 1400 crianças, animais ou amarelinhas, xadrez, adivinhas, contar histórias, brincar de mamãe e filhinho, futebol, dominó, quebra cabeça, construir brinquedos, brincar na areia e uma infinidade de outros. Tais jogos, embora recebam a mesma denominação tem suas especificidades. Se o brincar é instrumento importante para desenvolver a criança, é também instrumento para a construção de toda a sua vida. A palavra lúdico significa brincar. Neste brincar estão incluídos jogos, brinquedos e brincadeiras, e é relativo também a conduta daquele que joga, que brinca, que se diverte. As atividades lúdicas fazem parte da vida do ser humano e, em especial, da vida da criança, desde o início da humanidade. Entretanto, essas atividades, pôr muitos séculos, foram vistas como sendo sem importância e tendo conotação pejorativa. Culturalmente somos programados para não sermos lúdicos. Somente a partir dos anos 50 de nosso século é que o brinquedo e o jogo começaram a ser valorizados. Tal mudança de enfoque se deu principalmente pelo avanço dos estudos da psicologia sobre a criança pequena, que colocou as atividades lúdicas em destaque, por ser o brinquedo a essência da infância. (SANTOS, 2000, p. 57) Desse modo os elementos lúdicos passaram a articular em interações humanas e não humanas, alterando as estruturas de ação, individuais e sociais através de sua própria lógica, redimensionado a postura do sujeito e a qualidade de sua atividade. A atividade é aquela na qual a motivação está na própria ação do sujeito e não em seus efeitos utilitários ou resultados externos. Sua finalidade real encontra-se nas vivências de diversos aspectos da realidade, que são significativos para o sujeito que age ludicamente. Os objetos lúdicos (brinquedos) são instrumentos matérias mediadoras da atividade lúdica que se interagem numa dimensão imaginária, porém, não são apenas objetos industrializados ou artesanais que podem ser chamados de brinquedos, mas sim todo e qualquer instrumento material que se transforme em objeto lúdico. Em razão disso, os brinquedos mais interessantes, de modo geral, são aqueles de grande plasticidade, que instigam a atividade criadora e que são afetivamente significativos. Assim, a atividade lúdica é especificamente humana, mediada pela linguagem e por instrumentos materiais, sendo social por natureza, pois somente existe 1401 na condição de interação social. Através dela a criança conhece e transforma os modos simbólicos, material e humano criativamente. Segundo KAMII, "a interação de fatores internos e externos ao sujeito constituem 3 tipos de conhecimento: físico, social ou convencional e lógico matemático" (1985, p.98). O conhecimento físico se refere a dados da realidade externa do objeto (propriedades físicas) que pode ser constatado pelos órgãos dos sentidos. O conhecimento social abrange as convenções sendo, portanto, arbitrário e originado em fontes externas ao sujeito, podendo torna-se significativo ao mesmo. Em contrapartida, as relações lógico-matemática encontram-se no próprio sujeito, na capacidade de coordenar ações mentais como relações de classificação, ordenação ou medidas. Não são arbitrárias, pois são geradas no próprio sujeito e seu processo de construção. Segundo Wajskop: ... A criança se desenvolve pela experiência social, nas interações que estabelece, com a experiência histórica dos adultos e do mundo. Nesse sentido, a brincadeira é uma atividade humana na quais as crianças são introduzidas constituindo se em um modo de assimilar e recriar experiências dos adultos. Essa definição de brincadeira, como atividade social específica e fundamental que garante a interação e construção de conhecimentos da realidade pelas crianças, é que nos faz estabelecer um vínculo com sua função pedagógica. (2001 p.25) Dessa forma, a criança se apropria do universo explorando os elementos vitais, como a água, o ar, o fogo e a terra que apresentam uma conotação arquetípica, de imagem ancestral nivelando o humano ao mundo natural. O desenvolvimento da ação corporal lúdica e a vivência familiar proporcionam a aquisição de conhecimento simbólicos e sociais, historicamente determinados, influenciando o conhecimento individual, a consciência de si e do mundo. O jogo foi uma característica do ser humano, dessa forma deve fazer parte de suas atividades educativas. 1402 Sua importância e utilização na educação das crianças dão-se historicamente desde a Grécia Antiga com o pensador Platão, e depois daí com os egípcios, romanos, Maias e mais tarde com os humanistas (século XVI), teóricos da educação e estudiosos de pedagogia como DEMEY, MONTESSORI, ROSSEAU, FROEBEL, etc. Portanto, através do jogo, a criança busca o prazer, por que através da ilusão, satisfaz imediatamente os desejos infantis. Ele permite esforço, conquista e predispõe a desenvolver sentimentos de liberdade e satisfação. Segundo ARAÚJO "jogo é uma atividade espontânea e desinteressada, admitindo uma regra livremente escolhida que deve ser observada ou, um obstáculo deliberadamente estabelecido, que deve ser superado” (1992, p. 64). No jogo individual e coletivo a criança ao escolher ou recusar uma atividade, ao decidir qual a forma de realizar essa atividade, ao demonstrar sua capacidade de continuidade e de esforço, estará espelhando sua personalidade. Daí resulta a importância do jogo no processo da formação lúdica dos indivíduos. ALMEIDA faz referência ao brinquedo quando afirma que "o brinquedo faz parte da vida da criança. Ele simboliza a reação pensamento-ação e, sob este ponto, constitui provavelmente a matriz de toda a atividade lingüística, ao tornar possível o uso da fala, do pensamento e da imaginação" (1990, p.08). O brinquedo desempenha importante papel no desenvolvimento de habilidade verbal da criança, já que através dele a criança tanto se comunica com os outros, como tenta se comunicar com seu próprio brinquedo, desenvolvendo pequenos diálogos. E sobre relação brinquedos e palavras, VYGOTSKY faz as seguintes recomendações: “No brinquedo, espontaneamente a criança usa sua capacidade de separar significado de objeto, sem saber o que está fazendo, da mesma forma que ela não sabe estar falando prosa e, no entanto fala sem prestar atenção às palavras. Dessa forma, através do brinquedo a criança atinge uma definição funcional de conceitos de objetos, e as palavras passam a ser tornar parte de algo concreto (1991, p. 92)”. 1403 Segundo OLIVEIRA "todas as vezes que a realidade se torna aos olhos da criança difícil de ser reproduzida, ela a cria, combinando-a de modo a compensar seus aspectos menos assimiláveis” (1993, p. 28). Outro importante aspecto da brincadeira é o fato de possibilitar a criança à satisfação de atuar livremente sobre determinadas situações. Brincando a criança aprende a decidir, ter opinião própria, descobre seu papel e seus limites. Expressa sua necessidade de explorar o mundo, a partir do domínio as habilidades de comunicação, facilitando a auto expressão e também progresso mental. As brincadeiras que através dos jogos ou não, propiciam ainda a socialização, pelo exercício de vários papéis sociais. RIZZY e RAYDAT afirmam: “Jogo supõe relação social, interação, por isso a participação em jogos e brincadeiras contribui para a formação de atitudes sociais, respeito mútuo, solidariedade, iniciativa pessoal e grupal. É jogando e brincando que a criança aprende o valor do grupo como força integradora e o sentido de competição e colaboração consciente e espontânea (1987, p. 15)”. Em suma brincar é viver. Mesmo quando se é adulto, o lúdico não desaparece de nossa experiência. Apresenta-se de formas especializadas. E enquanto existir vida sempre existirá brincadeira. Assim é que OLIVEIRA afirma: “O lúdico significa a construção criativa da vida enquanto ela é vivida. É um fazer um caminho enquanto se caminha, nem se espera que ele esteja pronto, nem se considera que ele ficou pronto, este caminho criativo foi feito (está sendo feito) com a vida no seu ir e vir, no seu avançar e recuar. O lúdico é vida se construindo no seu movimento (1992, p. 115)”. Em qualquer tempo, em qualquer lugar, a criança brinca, pois o brincar é seu meio de expressão e movimento. As situações lúdicas são contextos favoráveis de aprendizagem, pois permitem o exercício de sua ampla gama de movimentos que 1404 solicitam a atenção do aluno na tentativa de executá-la de forma satisfatória e adequada. Os jogos, brinquedos e brincadeiras se constituem em meios eficazes para o desenvolvimento global dos alunos. O brinquedo é a oportunidade de desenvolvimento psicomotor. Brincando a criança experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades. A brincadeira e o jogo são situações em que a criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira. É também um espaço onde a criança pode expressar, de modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos agressivos e os conhecimentos que vai construindo a partir das experiências que vivem. Portanto, o jogo possibilita a percepção total da criança, em seus aspectos motores, afetivos, sociais ou morais, revelando também muito das estruturas mentais sucessivas da criança. Segundo VIGOTSKY “O brinquedo simbólico da criança pode ser entendido como um sistema muito complexo da fala através dos gestos que comunicam e indicam os significados dos objetos para brincar”. (1984, p.123) Os jogos e as brincadeiras têm um caráter coletivo e permitem que todo o grupo possa se estruturar. As próprias crianças podem estabelecer relações de troca, elas aprendem a lidar com regras observando que poderão algumas vezes ganhar, outras perder. Além disso, o brincar na escola não é igual ao brincar em outras ocasiões, pois nela a criança deve compreender e seguir algumas regras institucionais. No ato de brincar, todo o espaço, gestos e sinais que as crianças utilizam, significa outra coisa em relação ao que aparentava ser anteriormente. Nesse momento elas recriam e repensam os acontecimentos anteriores, mas tendo consciência de que estão brincando. Santos explica sobre os motivos que levam a criança a brincar, diz que: Toda criança vive agitada e em intenso processo de desenvolvimento corporal e mental. Nesse desenvolvimento se expressa a própria natureza da evolução e esta exige a cada instante uma nova função e a exploração de nova habilidade. Essas funções e essas novas habilidades, ao entrarem em ação impelem a criança a buscar um tipo de atividade que lhe permita manifestar-se de forma mais completa. A 1405 imprescindível ”linguagem” dessa atividade é brincar, é o jogar. Portanto, a brincadeira infantil está muito mais relacionada a estímulos internos do que a contingências exteriores. A criança não é atraída por algum jogo por forças externas inerentes a ele, mas sim por uma força interna, pela chama acesa de sua evolução. É por essa chama que busca no meio exterior os jogos que lhe permitam satisfazer a necessidade imperiosa posta por seu crescimento. (2000, p.38), Elas assumem um novo papel utilizando elementos substitutos. “É brincando que a criança pode ser chefe, pai, professor e general”. (VELASCO, 1996 p. 32). A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui assim, para a interiorizarão de determinados modelos de adultos, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil. O brincar é, portanto, é uma atividade natural, expontânea e necessária para a criança, constituindo-se por isso, em peça importantíssima na sua formação. Seu papel transcende o mero controle de habilidades. É muito mais abrangente. Sua importância é notável, já que através dessas atividades a criança constrói seu próprio mundo (SANTOS, 1995, p. 04). Santos coloca alguns aspectos para que se possa usar o jogo como estratégia de aprendizagem significativa: Existem dois aspectos cruciais no emprego dos jogos como instrumentos de aprendizagem significativa. Em primeiro lugar, o jogo ocasional, distante de uma cuidadosa e planejada programação, é tão ineficaz quanto um único momento de exercício aeróbico para quem pretende ganhar maior mobilidade física. E, em segundo lugar, certa quantidade de jogos incorporados a uma programação somente tem validade efetiva quando rigorosamente selecionada e subordinada a aprendizagem que se tem como meta. Em síntese, jamais pense em usar os jogos pedagógico sem rigoroso e cuidadoso planejamento, marcado por etapas muito nítidas e que efetivamente acompanhem o progresso dos alunos, e jamais avalie sua qualidade de professor pela 1406 quantidade de jogos que emprega, mas sim pela qualidade dos jogos que se preocupou em pesquisar e selecionar. Nem todo jogo, portanto, pode ser visto como material pedagógico. Em geral, o elemento que separa um jogo pedagógico de um outro de caráter apenas lúdico é este: desenvolve-se o primeiro com a intenção explícita de provocar aprendizagem significativa, estimular a construção de novo conhecimento e principalmente despertar o desenvolvimento de uma habilidade operatória. (2000, p.39) Podem-se confeccionar jogos já conhecidos ou criar novos jogos. É importante que a criança confeccione os jogos, pois isso lhe proporcionará uma motivação especial, sendo assim é necessário dar lhe várias opções de escolha para a construção. Dessa forma é possível trabalhar diferentes dificuldades em diferentes níveis, obtendo resultados positivos. Através dos jogos, as crianças aprendem a seguir determinadas condutas e também passam a aceitar uma série de normas que permitem que o jogo possa acontecer. Com isso a criança ganha consciência do valor das regras e entendem que há necessidade de normas para se viver em sociedade. É também através dos jogos que se desenvolvem atitudes de colaboração e se aprende a importância do trabalho em grupo. Segundo Rodrigues: “As experiências lúdicas de uma criança, desde bebê, vão lhe sofisticando as representações do universo social. Pelo brinquedo acontecem as adaptações, os acertos e erros, as soluções de problemas que vão torná-lo sujeito autônomo. A natureza da criança é lúdica, de movimento, de curiosidade, de espontaneidade. Negar essa natureza é negar a própria criança. Ao se observar uma criança brincando, verifica-se o quanto se concentra no que está fazendo. Naquele momento, ela incorpora as suas fantasias e reproduz cenas do seu cotidiano, que tanto pode ser violento, tenso e cheio de privações, quanto alegre, terno e prazeroso. Através do faz - de –conta, a criança pode liberar sonhos ou medos, partindo em busca de um lugar de pertinência familiar e social pela construção do seu próprio ego. Uma criança com possibilidades lúdicas variadas terá mais riqueza de criatividade, relacionamentos, capacidade crítica e de opinião. O contato, a exploração do meio ambiente, brinquedos, expressão musical, artes, dança, teatro e vivências corporais ampliam sua visão de mundo na medida em que com ele interage. Assim sendo, ela próprias vão instituindo seus limites, desafios e criando novos brinquedos”. (2000, p. 23) 1407 Para que o professor aplique jogos em sala de aula, é necessário que leve em conta alguns elementos essenciais, que são colocados por Santos: “Capacidade de se constituir em fator de auto - estima do aluno – Jogos extremamente “fáceis” ou cuja solução se coloque acima da capacidade de solução por parte do aluno causam seu desinteresse, e o que é pior , sua baixa estima, associada a uma sensação de incapacidade ou fracasso. Nesse particular é importante que o professor possa organizá-los para simbolizarem desafios intrigantes e estimulantes, mas possíveis de serem concretizados pelos alunos, individualmente ou em grupo. Esse nível de dificuldade ideal não é parte inerente do jogo, mas provém de acuidade e perspicácia de observação do professor, que pode, aqui e ali, dar algumas “dicas” facilitadoras, se julga muito difícil, ou criar estratégias mais complexas, se julga de fácil solução. O reforço positivo expresso em gestos, palavras e outros símbolos sempre deve encerrar a atividade e ser sequido de entusiástico convite para outro jogo, na próxima vez. Condições psicológicas favoráveis – O jogo jamais pode surgir como “trabalho” ou estar associado a alguma forma de sanção. Ao contrário , é essencial que o professor dele se utilize como ferramenta de combate a apatia e como instrumento de inserção e desafios grupais. O entusiasmo do professor e o preparo dos alunos para um “momento especial a ser propiciado pelo jogo” constituem recursos insubstituíveis no estímulo para que o aluno queira jogar. Os jogos devem ser cuidadosamente introduzidos e a posição dos alunos claramente definida. Condições ambientais – A convivência do ambiente é fundamental para o sucesso no uso dos jogos. O espaço necessário a manipulação das peças é sempre imprescindível, assim como sua cuidadosa embalagem, a organização e higiene da mesa ou mesmo do chão em que o aluno usa para essa atividade. Fundamentos técnicos – Um jogo jamais deve ser interrompido e, sempre que possível, o aluno deve ser estimulado para buscar seus próprios caminhos. Além disso, todo jogo sempre precisa ter começo, meio e fim, e não ser programado se existirem dúvidas sobre as possibilidades de sua integral consecução. Considerando todas essas condições, conhecendo diferentes jogos voltados para a construção do conhecimento, sabendo-se as estratégias mobilizadoras de sua atenção e envolvendo-os aos conteúdos curriculares como ferramenta estimuladora, os jogos tornam a aula mais atraente, devolvem ao professor seu papel como agente construtor do crescimento do aluno, eliminam o desinteresse. E, portanto, a indisciplina, devolvendo a escola sua função de agência responsável por pessoas mais completas e, naturalmente, por um amanhã muito melhor. (2000, p.40 - 42) Santos desenvolveu um texto que fala sobre a necessidade de: 1408 ... Implementar medidas institucionais orientadas para a formação de professores que prestigiem a presença e utilização dos jogos na Educação como alternativa de promoção e inclusão social, sob o argumento de que o jogo contribui para o questionamento dos padrões de funcionamento da escola e resgata o prazer de aprender, colaborando assim, com o sucesso escolar. O professor precisa considerar a importância da dimensão lúdica no desenvolvimento e aprendizagem humana na perspectiva da discussão sobre as relações entre lazer e Educação, desde o ponto de vista da necessidade de educar para o lazer até o exame das especificidades e articulações entre ludicidade e Educação. (2001, p.73) Não há dúvidas de que o professor precisa de uma formação para desenvolver a prática da brincadeira e do jogo em sala de aula. Santos coloca alguns princípios sobre como formar o educador para jogar: O caráter teórico – prático – Como fazer com que professores utilizem jogos em sua prática pedagógica diária e, mais do que isto tenham uma compreensão aprofundada da dimensão lúdica no homem, sem que eles mesmos joguem? Daí advém a necessidade de atividades lúdicas como ingrediente constante da disciplina, como advém também à importância de aprender meios de registrar e arquivar jogos interpreta los a partir de objetivos, materiais e condições em que são realizados. Assim, não só observam, jogam ou propõem atividades lúdicas em situações de prática de ensino, como eles mesmos jogam uns com os outros. Tais atividades são acompanhadas de minudente estudo sobre a teoria do jogo, segundo as diversas perspectivas, e seguidas de debate, onde expõem e defendem seu entendimento, num contexto de seriedade e comprometimento. O devaneio sobre a infância como ponto de partida- A disciplina começa com uma atividade de sensibilização desenvolvida através da técnica da Gestalt - terapia denominada “viagem - fantasia”, preconizando o reencontro com sua própria infância e nela localizando o brincar. Segundo Freud, para ser educador é preciso “estar capacitado a penetrar na alma infantil” (1976b), o que implica a reconciliação com a sua própria infância. Tal reconciliação pode ser obtida com o devaneio sobre a própria infância, pela memória e imaginação, como diz Kishimoto (1997:25), citando Bachelard (1988 a). Ainda que a visão por vezes edulcorada da infância corrija a realidade, sua retomada através da viagem - fantasia aproxima o professor em formação da infância de seus alunos, comparando não só as atividades comuns, mas principalmente seu espírito e sua densidade emocional. Apto está a compreender não só intelectualmente, mas com a emoção, a brincadeira. (2000, p. 76,77) 1409 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica. São Paulo: Loyola, 1990. ARAÚJO, Vãnia Carvalho de. O jogo no contexto da educação psicomotora. São Paulo: Cortez, 1992. ARIÉS, Phillipe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zoar editora, 1978. HAYDT, Regina; RIZZY, Leonor. Atividades Lúdicas na educação da criança. São Paulo: Ática, 1987. KAMII, Constance. Piaget para a educação pré-escolar. Porto Alegre; Artes Médicas, 1985. MIRANDA, Simão de. Do fascínio do jogo à alegria do aprender nas séries inicias. São Paulo: Papirus, 2001. OLIVEIRA, Vera Barros de. 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