Processo de Formação de Estratégia em Tempos de Crise: O Caso Itamaracá Transportes Autoria: Brigitte Renata Bezerra de Oliveira, Vinícius Farias Moreira, Severino Hélio de Carvalho Filho, Maria Conceição Melo Silva Resumo O propósito central deste artigo é analisar aspectos do processo de formação de estratégias da Itamaracá Transportes, com ênfase às estratégias de recuperação bem sucedidas diante de crises na empresa e no setor, no período compreendido entre os anos de 2000 e 2004. Tem como arcabouço teórico a concepção de estratégias emergentes e deliberadas, bem como estratégias de turnaround, além de noções da Escola do Poder e Incrementalismo Lógico, necessárias à compreensão do fenômeno. Para tanto, a metodologia do estudo de caso qualitativo foi utilizada a fim de captar e entender as diversas facetas pertinentes à formação de estratégias na unidade de análise, utilizando entrevistas e análise documental como técnicas de coleta de dados. Dentre os resultados, verificou-se a presença de estratégias deliberadamente emergentes, a forte influência das forças político-legais e exercício do poder no padrão de formação das estratégias e condução das atividades na empresa, de forma geral e em períodos de crise. 1 Introdução A concepção de estratégia há muito permeia os tomadores de decisão e gestores organizacionais. É considerada o ponto alto da atividade dos executivos ou qualquer daqueles que perseguem razões para o sucesso ou fracasso na competição (RUMELT; SCHENDEL; TEECE, 1994), mesmo que não haja uma definição conceitual uniforme, plenamente aceita na comunidade acadêmica e empresarial (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). As origens do conceito de estratégia sofreram forte influência da visão militar, com princípios atribuídos ao conhecimento de si mesmo e do inimigo para identificar cursos de ação. Para Clausewitz (1996) toda operação militar deve ser dirigida para um objetivo claramente definido por meio de planos diretos e claros. Sun Tzu (1994) argumenta que na arte da guerra não existem regras fixas; elas podem ser apenas determinadas segundo as circunstâncias peculiares vividas, nas quais nenhum exército possui vantagens estratégicas e posições invariáveis. Sob a perspectiva prescritiva, uma analogia com o mundo empresarial explora a habilidade das organizações em compreender como as diversas situações podem ser transformadas em vantagem, conhecendo forças e sanando fraquezas do seu ambiente interno, aproveitando oportunidades e neutralizando ameaças do seu ambiente externo. Como as estratégias são formadas nas organizações? Dentre as decisões estratégicas, aquelas guiadas pelo planejamento fazem uso de análises formais para articular e integrar estratégias com vistas no futuro. Para tal, demanda racionalidade sistemática e indicadores de desempenho, sob a crença de que tais análises poderiam promover entendimento suficiente para influenciar o ambiente (MINTZBERG, 1973). No entanto, o mundo da estratégia é por demais complexo para simplesmente ser traduzido em planos de ação; o processo analítico clássico de estabelecimento de metas de longo prazo e planos de ação há muito se encontra ameaçado, dado o ritmo com que as complexidades sociais impactam as atividades da empresa (MINTZBERG; WATERS, 1985). Voltadas para ações adaptativas, as organizações podem operar em um ambiente hostil, em que não existem direções claras, e soluções reativas se sobrepõem à proatividade na busca por oportunidades. O processo de formação de estratégia é fragmentado e tomado em passos incrementais, influenciados pela velocidade das mudanças, momentos de crise, forças e jogos de interesses (MILES et al., 1978; BOYLE; DESAI, 1991). 1 Os estudos sobre a gestão de transportes com enfoque nas empresas operadoras ainda são raros, estando inseridos em pesquisas que refletem o fenômeno apenas sob dimensões relacionadas ao sistema de transporte, papel dos movimentos sociais e produtividade (GOUVÊA, 1992; CANÇADO, 1996). Percebe-se a carência, especialmente em questões acerca da administração estratégica e como os momentos de crise, originados na empresa ou setor, culminariam em estratégias de recuperação. Diante do cenário descrito, decorre que o propósito central deste artigo é analisar aspectos do processo de formação de estratégias, com ênfase às estratégias de recuperação bem sucedidas diante de crises, no período intencionalmente estabelecido entre os anos de 2000 e 2004. Buscou-se identificar comportamentos diante de reorientações provocadas por agentes no ambiente externo, idiossincrasias internas, bem como implementação e resultados das estratégias. Para tanto, destaca-se que tal objetivo foi alcançado mediante estudo de caso qualitativo realizado na Itamaracá Transportes, empresa tradicional da Região Metropolitana do Recife, no mercado há 48 (quarenta e oito) anos, disponibilizando o perfil e critérios necessários à realização da pesquisa. 2 Estratégias Deliberadas e Emergentes: Extremos de um Continuum Diversos são os autores na literatura que discutem o conceito de estratégia (MINTZBERG, 1973, 2001; ANSOFF, 1973; PORTER, 1986, 1989, 1999; CHANDLER, 1998; HENDERSON, 1998; ANDREWS, 2001; BARNEY, 2002). De caráter claramente deliberado, Chandler (1998, p. 163) afirma que a “estratégia é a definição dos principais objetivos a longo prazo da empresa, bem como a adoção de linhas de ação e alocação de recursos, tendo em vista esses objetivos”. Nesse sentido, a estrutura ou modelo de organização pelo qual se administra a empresa, garantiria a coordenação, a avaliação e a articulação da implementação de metas, políticas básicas e pessoas. Concebendo estratégia como o relacionamento entre a empresa e o ambiente, Ansoff (1973, p. 27) argumenta que gestores cada vez mais devem voltar-se para encontrar maneiras racionais e passíveis de previsibilidade para explorar e ajustar-se às mudanças ambientais, sem desprezar, contudo, a relevância e potencial da criatividade em momentos de reorientação estratégica. Acrescenta ainda que o processo completo de mudança deva ser planejado e guiado pela gestão da empresa. Em linha consonante, Henderson (1998, p. 5) argumenta que a estratégia pode ser vista como um plano de ação deliberado que se desenvolve e ajusta-se à vantagem competitiva de uma empresa, a partir do reconhecimento das capacidades organizacionais e dos objetivos pretendidos. Decorre que a estratégia, sob a perspectiva clássica desses autores, passou a ser então reconhecida como um plano ou um curso de ação conscientemente engendrado em uma diretriz, composta por dois elementos essenciais: (1) preparação prévia; e (2) desenvolvimento consciente e deliberado (MINTZBERG, 2001). O processo de formação de estratégias competitivas pode ser categorizado naqueles deliberados, emergentes ou em uma combinação ótima entre estas duas vertentes (MINTZBERG, 1978, 1998; MINTZBERG; WATERS, 1985, MINTZBERG; MCHUGH, 1985; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000). De fato, estratégias deliberadas e emergentes podem ser concebidas como dois extremos de um continuum onde reside o mundo real das estratégias (MINTZBERG, 1978; MITZBERG; WATERS, 1985). As puramente deliberadas admitem como pressuposto um comportamento pretendido tal como realizado, graças às intenções precisas, estabelecidas previamente pela liderança da organização e realizadas sem maiores interferências ambientais. Por outro lado, estratégias perfeitamente emergentes são aquelas realizadas ausentes de uma intenção explícita. Uma estratégia emergente é essencialmente uma estratégia não planejada (MINTZBERG; 1978), no sentido que determinada ação só é percebida como estratégica pela empresa na medida em que se desenvolve, ou mesmo depois de ter acontecido. 2 No ponto central do continuum, líderes que dispõem apenas de um controle parcial sobre os atores e demais aspectos internos e externos em uma organização podem delinear a chamada estratégia Guarda-Chuva. Esta estratégia é concebida como deliberada em sua perspectiva geral, apesar de emergentes em suas posições especificas (MINTZBERG; WATERS, 1985; MINTZBERG, 1998). Quando o ambiente é complexo, uma variedade de agentes organizacionais pode estar apta a agir. Em outras palavras, o padrão das ações na firma não pode plenamente ser deliberado em seus pormenores, embora os limites da orientação central disponha as margens necessárias, combinando deliberação e controle com flexibilidade e aprendizagem organizacional, típico das perspectivas emergentes. Por essa razão, é permitido que estratégias surjam, ao menos sob a margem estabelecida, disponibilizando um caráter deliberadamente emergente a estas estratégias. No extremo essencialmente emergente, o ambiente pode diretamente forçar o padrão de ações da organização (MINTZBERG; WATERS, 1985), nas chamadas estratégias impostas. No entanto, muitas estratégias planejadas podem apresentar essa concepção determinista e submissa, por considerarem resignadamente a cooperação e aceitação das forças externas; a partir do momento em as intenções são suficientemente maleáveis, todas as estratégias podem ser deliberadas, principalmente quando são internalizadas pela organização. Notadamente um dos defensores desta abordagem emergente, Mintzberg (1998) demonstra que a imagem de uma criação artesanal é a que melhor representa o processo de elaboração de uma estratégia eficaz: formulação e implementação são vistas de modo integrado, contrário à ‘produção’ racional e sistemática de estratégias claras, explícitas e completas. “Nenhum artífice usa alguns dias para pensar e outros para trabalhar. A mente do artífice está sempre em funcionamento” (MINTZBERG, 1998, p. 424). A negação então à clássica dicotomia existente entre formulação e implementação (GRANT, 1995) argumenta que o pensamento estratégico envolve intuição e criatividade, não podendo ser desenvolvido em uma agenda imaculadamente pré-concebida. Mintzberg (1994) afirma que a possibilidade de previsão trata-se de uma falácia. A arena competitiva não pode ser visualizada como em uma fotografia estática, tampouco processos de trabalhos podem ser completamente entendidos antes da implementação. Imaginar estratégia como um plano na verdade é condicioná-la ao papel operacional da programação. O real propósito do planejamento estratégico eficaz, curiosamente, não é, ou não deveria ser, planejar, mas sim transformar os modelos mentais com que os decisores pensam em estratégia (MINTZBERG, 1994). As estratégias emergentes não implicam necessariamente em uma organização ausente de controle e orientação; sim que esta está aberta à flexibilidade e responsividade, disponível ao aprendizado (MINTZBERG; WATERS, 1985). Tal comportamento é especialmente importante quando o ambiente organizacional é muito instável, complexo ou impositivo. A adoção de estratégias emergentes habilita a empresa a agir antes que haja a plena compreensão do fenômeno para responder ao mundo real, melhor que devanear em uma fantasiosa estabilidade. Os autores acrescentam que, enquanto as estratégias mais deliberadas enfatizam a hierarquização e direção central, as emergentes desbravam caminhos para ação coletiva e o comportamento convergente. Diante da consistência na argumentação dos defensores em cada um dos extremos do continuum, seria coerente admitir que as empresas devessem ser menos obedientes às deliberações, no entanto deveriam ser orientadas por objetivos. Quinn (1978) propõe um modelo de formação de estratégias sob uma perspectiva incremental, por acreditar que nem os pressupostos do planejamento racional, nem o aspecto puramente comportamental e processual, de forma excludente, proporcionariam uma estratégia eficaz. A lógica recairia sobre um estilo de formação de estratégia que pairasse entre esses dois extremos. A meta é incrementada pelo processo de aprendizagem; graças à racionalidade limitada e previsão 3 muitas vezes falha ou incompleta, é disponibilizado à estratégia um caráter flexível, inviabilizando a análise puramente sistemática. Daí advém o fato de o incrementalismo lógico refutar estilos de liderança mais deterministas, posto que, mesmo visualizando um objetivo, este tem no cerne a cultura organizacional, abordagem do poder, habilidade de negociação, estabelecimento de políticas de relacionamento com agentes internos e externos, entre outros (QUINN, 1978). A organização é constituída de subsistemas; o inter-relacionamento entre estes faz com que a estratégia surja; mesmo que a direção orientadora seja única, a forma de articulação ou processo a partir da perspectiva e experiência dos subsistemas é presente, além do estímulo contínuo do aprendizado e construção da realidade coletiva. A palavra estratégia, portanto, tem sido utilizada no meio empresarial de muitas maneiras distintas, de modo que múltiplas definições podem coerentemente auxiliar os executivos na articulação dos pensamentos nesse campo (MINTZBERG, 2001). Dos cinco P’s sumarizados por Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) e Mintzberg (2001), para o que pode ser estratégia, quais sejam: (1) plano ou direção, (ex-ante facto); (2) padrão ou consistência de comportamento ao longo do tempo (ex-post facto); (3) posição; (4) perspectiva; e (5) truque (do inglês ploy), inicialmente, o conceito de estratégia neste estudo é tido como o relacionamento entre os planos e intenções da liderança e o efetivo padrão da organização, quer seja pretendido ou não. A análise histórica das empresas requer a concepção de estratégia como um padrão em um fluxo de ações (MINTZBERG, 2001). Por essa razão, o autor justifica que definir estratégia como um plano seria insuficiente; é preciso uma definição que abranja o comportamento resultante. As concepções de estratégia como plano ou padrão podem ser independentes: planos podem não ser atingidos e padrões podem surgir sem intenção declarada da organização. Diante do exposto, “as estratégias aparecem primeiro como padrões do passado; mais tarde, talvez, como planos para o futuro e, finalmente, como perspectiva para guiar o comportamento geral” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 135). De acordo com os objetivos deste trabalho, a estratégia é concebida como um padrão ou consistência de comportamento ao longo do tempo (ex-post facto) (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 27; MINTZBERG, 2001). Vale ressaltar que este padrão é composto pelas estratégias que efetivamente foram realizadas, a partir dos fluxos de decisões e ações observadas no tempo, que tanto podem ter sido deliberadas ou emergentes (MINTZBERG; MCHUGH, 1985). Com vistas a aprofundar a concepção de estratégia necessária à realização deste trabalho, serão ainda discutidos preceitos acerca de gestão da recuperação, mudanças estratégicas e escola do poder. 2.1 Estratégias de Recuperação e Mudanças Estratégicas A partir do final dos anos 70, vários fluxos de pesquisa foram iniciados a fim de entender como as organizações revertem ameaças e declínio no desempenho (SCHENDEL; PATTON, 1976). Gestão de turnaround, ou a atuação da empresa em momentos de crise, é um processo que envolve análises ambientais, adequação dos sistemas de informação, preparação de planos de ação, execução e avaliação dos resultados (BOYLE; DESAI, 1991). Os processos de recuperação são amplamente concebidos nas esferas econômicas de reestruturação de custos e corte de pessoal (ROBBINS; PEARCE II, 1992), ligadas aos declínios na performance financeira. A mudança estratégica advém especialmente da severidade com que a situação desfavorável impacta nos resultados da empresa, simbolizada por prejuízos crescentes ou ameaça à sobrevivência. Os critérios e circunstâncias necessários ao deslocamento da firma são definidos pela percepção dos executivos, ou demais stakeholders, ou por indicadores de desempenho. Respostas bem sucedidas em momentos de 4 turnaround exigem uma combinação de atividades que percorrem desde a ênfase mais operacional, com reajustes nas planilhas de custos e ativos, até às mercadológicas, diante de um reposicionamento estratégico face às dinâmicas ambientais, por exemplo. Robbins e Pearce II (1998) argumentam ainda que os objetivos principais desse primeiro estágio (operacional) são a sobrevivência e o alcance de fluxos de caixa positivos: as principais linhas de ação dedicam-se a índices de liquidez, melhoria na produtividade ou eliminação de produtos deficitários. Por outro lado, o segundo estágio (mercadológico) tem como principais metas a lucratividade em longo prazo, crescimento de mercado, adotando estratégias de segmentação, aquisições, novos produtos, entre outras. Uma assertiva considerada na construção de teorias de turnaround é a idéia que a mudança estratégica é adaptativa para firmas que sofreram quedas no desempenho (BARKER III; DUHAIME, 1997), muito embora o aparente caráter emergente não implique na ausência de uma sistemática racional para reverter o quadro. A efetividade da estratégia dependerá de quão direcionadas estão as ações para o núcleo do problema, seja este operacional ou estratégico (posição em relação aos concorrentes); daí a necessidade do diagnóstico eficaz e adequado escaneamento de variáveis internas e externas à organização acerca da fonte do problema. Um outro ponto de vista (HEDBERG; NYZTRON; STARBUCK, 1976 apud BARKER III; DUHAIME, 1997) modela o declínio como uma patologia nos processos decisórios da firma e natural adaptação. Os autores defendem que crises na organização são conseqüências inevitáveis da estagnação ao longo do tempo como falhas gerenciais em manter o alinhamento entre a estratégia, estrutura e ideologia da empresa com as demandas de um ambiente em mudanças. De acordo com essa linha de raciocínio, turnarounds bem sucedidos envolvem uma metamorfose evolutiva da organização em metas e operações. Ainda que sob diferentes perspectivas, as duas abordagens apresentadas compartilham conceitos ao associar mudança estratégica e adaptação em períodos de desempenho declinante e que falhas na habilitação da mudança, frequentemente são explicadas pela inabilidade das organizações em se deslocarem, dada rigidez ou inércia excessiva e não sintonia com as variáveis ambientais (BARKER III; DUHAIME, 1997). Aspectos que permeiam a ação referem-se ainda às variáveis idiossincráticas como história, cultura, modelo de gestão e estrutura da governança como importantes influências para implementar mudanças. Por essa razão, o nível de mudança estratégica durante períodos de crise varia diretamente de acordo com as capacidades da firma para implementação (BARKER III; DUHAIME, 1997).Contudo, a exemplo de Hannan e Freeman (1984), teóricos em turnaround reconhecem que a reorientação não é, obviamente, ausente de custos para firmas que têm alteração nas rotinas e relacionamento de trabalhos em momentos de ruptura. No entanto, o impacto amplo positivo, especialmente no longo prazo, da reorientação estratégica em momentos de crise é geralmente menor que o custo da inércia quando a firma está desconectada das demandas ambientais. Decorre que necessidades de reorientação precisam ser adequadamente identificadas, remetendo o pensamento para o salto quântico de mudança estratégica (MINTZBERG, 1998, p. 429-430): Embora seja verdade que determinadas estratégias possam estar constantemente se alterando, parece igualmente verdadeiro que grandes mudanças estratégicas ocorram apenas raramente. [...] O ponto básico dessa teoria é que as organizações adotam dois modos completamente distintos de comportamento, em tempos diferentes. Na maior parte do tempo buscam uma determinada orientação estratégica. [...] gradualmente ou repentinamente a orientação estratégica da organização perde a sincronia com o ambiente. [...] Esse longo período de mudança evolutiva é repentinamente marcado por breve período de tumulto revolucionário, durante o qual a organização, rapidamente, altera vários de seus padrões estabelecidos. 5 Diante do exposto, o verdadeiro desafio parece ser a detecção prévia de descontinuidades sutis que podem corroer um negócio no futuro, para não ser surpreendido pela necessidade de reorientação (MINTZBERG, 1998). Uma analogia com a estratégia deliberadamente emergente permite inferir que quando atores posicionam-se fora dos limites da estratégia guarda-chuva, a empresa pode trazê-los de volta ou simplesmente deslocar os limites para alcançar nova adequação (MINZTBERG; WATERS, 1985). A ação gerencial segura em conhecimentos e habilidades organizacionais constitui em um passo necessário para otimizar o valor para os agentes, e acelerar a movimentação da empresa para além da situação desfavorável (CLAUSEN, 1990). 2.2 Escola do Poder: A Estratégia como um Processo de Negociação As organizações são mutuamente dependentes por estarem na mesma arena competitiva (PORTER, 1986). A escola do poder percebe a formação da estratégia como um processo de negociação, ou seja, “aberto de influência, enfatizando o uso de poder e política para negociar estratégias favoráveis a determinados interesses” (MINTZBERG, AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 174). Nesse sentido, os autores descrevem o poder como o exercício da influência, por meio de dois construtos, quais sejam macro e micro. Este último diz respeito aos grupos de interesse internos à organização, remetendo o pensamento à coalizão do poder (CHILD, 1972) e jogo político entre os membros da empresa. A noção da coalizão é vantajosa e relevante, na medida em que destaca a fonte imediata da principal variação estrutural nas organizações, não sendo necessariamente formalizada, tampouco implicando em que os membros não tenham poder de modificar os planos formulados. Quanto mais importante a estratégia e descentralizada a organização, mais provável a existência de manobras políticas. [...]Estratégia deliberada significa a realização coletiva de intenções – pela organização como um todo. Mas como isso pode acontecer quando percepções e interesses são disputados ao invés de compartilhados? Quanto à estratégia emergente, como pode haver consistência nas ações quando os acasos da barganha assumem o processo de formação de estratégia? (MINTZBERG, AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 178). Acerca da alocação de recursos escassos, da administração de conflitos e da concepção de que as metas, decisões e estratégias emergem de negociações e manobras, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) argumentam que a escola do poder pressiona pela melhor compreensão do papel de indivíduos organizados ou não na formulação ou reformulação de comportamentos. A estratégia refletiria, então, os interesses de grupos. Quanto ao poder macro, este pode ser visto como adaptação e mudança para cumprir os requisitos ambientais e mais, influenciar e negociar com forças externas aos limites da empresa. O ponto central da escola do poder é a idéia de que as organizações têm de ser sensíveis às conseqüências políticas dos movimentos econômicos (MINTZBERG, AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 191); como premissa, têm-se que a “formação da estratégia é moldada por poder e política, seja como um processo dentro da organização ou como o comportamento da própria organização em seu ambiente externo”. Nesse contexto, o poder micro vê a formação de estratégia como a interação entre interesses e coalizões internas e o poder macro como promovendo o seu bem-estar por meio de controle ou cooperação, manobras e estratégias coletivas com outras organizações. Por essa razão, estratégias resultantes desse processo de negociação tendem a ser mais emergentes. A exemplo, dentre as organizações externas têm-se fornecedores, grupos de clientes, agentes governamentais, associações políticas, sindicatos dentre outras. 6 3 Aspectos Metodológicos Estudos que retratam a prática da estratégia estão sendo estimulados na tentativa de trazer a tona uma série de métodos gerenciais que são utilizados pelos executivos (WITTINGTON, 2004). Os estudos sobre a prática gerencial têm demonstrado ser eficazes para a dinâmica organizacional, e a sua compreensão tende a possibilitar um crescimento sustentável a partir das suas lições e aprendizados. Esta pesquisa tem como objetivo central analisar aspectos do processo de formação de estratégias da Itamaracá Transportes, com ênfase às estratégias de recuperação bem sucedidas diante de crises, no período intencionalmente estabelecido entre os anos de 2000 e 2004. Trata-se, portanto, de uma pesquisa do tipo ex-post facto, em que foram investigadas variáveis que se formam espontaneamente, em determinado contexto histórico, sem a intervenção do pesquisador (MATOS; VIEIRA, 2001, p. 44). Optou-se pelo desenvolvimento de um estudo de caso qualitativo, acreditando-se que este seja o caminho para obter a essência do fenômeno social com a menor quebra possível do ambiente natural (MERRIAM, 1998, p. 5). Por meio da realização de um estudo de caso qualitativo será possível realizar uma análise intensiva, empreendida numa única ou em algumas organizações reais (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1977, p.224), que representam a unidade de análise, o objeto a ser estudado (STAKE, 1994). Trata-se, portanto, de uma investigação intensa, com descrição holística e cuja análise ocorre em simples instância de um fenômeno ou unidade social (MERRIAM, 1998, p. 27). Dentre os critérios para seleção da organização, estão as possibilidades de aprendizado, a identificação de uma firma que tenha vivido momentos desfavoráveis dentro do período estabelecido, apresentado padrões de estratégia bem sucedidos dada necessidade de reorientação, e facilidade de acesso aos dados relevantes para a pesquisa. Atendendo a estes critérios, a pesquisa fez a opção pelo estudo da Itamaracá Transportes, procurando responder à seguinte pergunta de pesquisa: Como caracterizar o processo de formação de estratégias da Itamaracá Transportes, no período de 2000 a 2004, com ênfase em momentos de crise? Ressalta-se que o estudo de caso tem se tornado a estratégia mais utilizada quando os pesquisadores procuram responder questões do tipo “como” e “por que” (YIN, 1981; MERRIAM, 1998). A coleta dos dados foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas e análise documental. As entrevistas semi-estruturadas representam um mix entre padronização e liberdade de condução, o que possibilitou com que os entrevistadores buscassem aprofundar novas informações que ultrapassassem os limites de um roteiro de entrevista previamente estabelecido. A seleção da amostra dos entrevistados é do tipo não-probabilística intencional por conveniência, adotando critérios de disponibilidade das informações, acessibilidade e disponibilidade de tempo dos executivos, cujos perfis estão expressos no quadro 1 (3). Pseudônimo Francisco Beltrão Jorge Lima Paulo Torres Formação Cargo Ocupado Administração e Ciências Gerente AdministrativoContábeis Financeiro Administração e Gerente de Operações Engenharia Civil Técnico em programação Gerente de Tecnologia da e suporte Informação Quadro 1 (3) – Perfil dos entrevistados. Tempo na Empresa 4 (quatro) anos 8 (oito) anos 10 (dez) anos Foram realizadas quatro entrevistas (com duração aproximada de 60 minutos), sendo duas com o Senhor Francisco Beltrão e 1 (uma) com os demais. As entrevistas foram categorizadas nos seguintes blocos: relação com a empresa, caracterização do padrão de formação de estratégias no período compreendido entre os anos de 2000 e 2004, identificação 7 dos incidentes críticos ou crises que culminaram em estratégias de turnaround, análise da situação e políticas de negociação, definição de objetivos, implementação das estratégias e resultados, elaboração de programas de controle e considerações finais. É prudente mencionar que, a pedido dos entrevistados, nos depoimentos apresentados na seção referente à análise dos dados não será feita alusão direta ao responsável pela informação. Quanto aos documentos, mesmo que não tenham sido desenvolvidos para o propósito da pesquisa (MERRIAM, 1998), foram de grande valia para a análise dos dados. Dentre as categorias utilizadas, estão registros majoritariamente escritos, provenientes de documentos internos da empresa, como planilhas de análise de participação de mercado, monitoramento do planejamento estratégico e indicadores de desempenho, e folders, datados no período de 2000 a 2004. Além destes, os dados on-line, coletados no website da Itamaracá Transportes. Merriam (1998) argumenta ainda que na pesquisa qualitativa, a coleta e análise de dados deve acontecer de forma simultânea, seja dentro ou fora do campo. Por essa razão, houve a necessidade de consultar e reforçar o arcabouço teórico no curso da coleta, a fim de viabilizar a compreensão do fenômeno. Ressalta-se que a análise dos dados deste trabalho é considerada interpretativista e indutiva (COOPER; SCHINDLER, 2003). As limitações metodológicas estão ligadas ao delineamento do estudo. Estudos de caso qualitativos, por dedicarem-se ao entendimento particularista de um fenômeno, não permitem generalizações estatísticas (MALHOTRA, 2004) e os dados provenientes são considerados não conclusivos, sendo ratificados pelo interesse no processo pelo qual se dá o fenômeno e não unicamente nos resultados. 4 A Organização em Estudo A Itamaracá Transportes é uma empresa de origem familiar, fundada em 1958. A partir da década de 90 (noventa), foi intensificado o processo de profissionalização e início da democratização da gestão; a partir de 1995 houve um maior investimento nas relações empresariais, desenvolvimento de pessoas, comunicação e responsabilidade social. O principal ramo de negócios consiste na prestação de serviços essenciais à população no transporte público de passageiros. Atende à Região Metropolitana Norte do Recife, ligando esta capital aos municípios de Olinda, Paulista, Abreu e Lima, Araçoiaba, Igarassu, Itapissuma, e Ilha de Itamaracá. Dispõe de 36 (trinta e seis) linhas em operação, sendo 26 (vinte e seis) destas componentes do Sistema Estrutural Integrado (SEI). Sua frota é de de 220 (duzentos e vinte) veículos, transportando 160 (cento e sessenta) mil pessoas por dia. Conta atualmente com 9% (nove por cento) de participação no mercado, ocupando o terceiro lugar no setor. Vale ressaltar que a primeira e segunda detêm parcelas equivalentes a 18% (dezoito por cento) e 11% (onze por cento) respectivamente. A empresa tem como missão, transportar pessoas com segurança, conforto, regularidade, pontualidade e cordialidade. Como visão, ser uma empresa moderna, socialmente responsável, com resultados que assegurem seu crescimento; satisfação pessoal e profissional, garantindo a excelência dos serviços para os clientes. A empresa adota um modelo de gestão colegiada em cinco níveis, sendo: (1) Direção, com reuniões mensais entre diretores para balanço estratégico da empresa; (2) Gerentes, com reuniões semanais entre diretores e gerentes para acompanhamento e encaminhamento de ações; (3) Equipes, com reuniões semanais entre gerentes e líderes de equipes para acompanhamento e encaminhamento de ações; (4) Operacional, com reuniões mensais entre líderes de equipes para integração e desenvolvimento gerencial; e (5) Estratégico, com reuniões mensais para avaliação e monitoração de resultados a partir do planejamento estratégico. Dentre as políticas de gestão mais fortemente presentes, destacam-se Recursos Humanos, Marketing e Comunicação e Responsabilidade Social. Ao público interno, programas de capacitação permanente, com cursos e oficinas regulares, escolas profissionais, R.H. Estratégico e 8 preocupação com o clima interno, simbolizada nos investimentos permanentes em aspectos como massoterapia e ginástica laboral, campos de futebol e espaços de convivência (ITAMARACÁ TRANSPORTES, 2005, 2006). 5 Análise e Discussão dos Resultados A partir da opinião de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 147), em que afirmam que “somente colocando um do lado do outro é que fica claro que todo comportamento estratégico real precisa combinar controle deliberado com aprendizado emergente”, este trabalho procurou encontrar tendências na direção de estratégias deliberadas e emergentes, com ênfase nos momentos de turnaround vividos pela Itamaracá Transportes entre 2000 e 2004. Contudo, para aprimorar o entendimento do fenômeno, buscou-se também permear o padrão de formação de estratégias da empresa de forma ampla. Princípios apregoados pela Escola do Poder foram amplamente utilizados para a compreensão do caso, bem como variáveis do Incrementalismo Lógico. Ao serem questionados sobre antecipação a eventos futuros e possibilidade de sistematizar o ambiente em planos de ação, os entrevistados, em um primeiro momento, demonstraram descrença quanto à eficácia dessa possibilidade. A dinamicidade das mudanças e ausência de um padrão uniforme, além da forte intervenção governamental põe em cheque a consistência plena das estratégias planejadas. Como revisto na literatura apresentada, é improvável que as organizações sejam capazes de decidir acerca de eventos que não estão sob controle direto. Corroborando, percebeu-se pelos depoimentos coletados, que as ações praticadas muitas vezes são de sobrevivência, “advinhação” e criação de conjunturas para minimizar a surpresa com que os efeitos ambientais interferem na empresa. Criação de conjunturas denota tentativas de sistematizar a complexidade, mesmo afirmando que se traçam uma boa estratégia, capaz de gerar resultados robustos, pode vir um fator externo e mudar completamente o cenário. As pessoas que têm a capacidade de fazer isso (previsão e criação de cenários) muitas vezes estão tão envolvidas em resolver os problemas passados e atuais, que já demandam muito tempo, e realmente não se preocupam muito com isso, e, às vezes, acabam sendo surpreendidos com algumas coisas. Realmente, podem acontecer situações que vão provocar grandes transformações na empresa e que deveríamos estar nos planejando melhor. Além disso, um outro motivo é o fato de estarmos suscetíveis a tantas mudanças que é difícil estabelecer um padrão, eu não sei de onde virá a próxima mudança, se ela vai ser boa ou ruim, se será uma oportunidade ou uma ameaça, se daqui a um mês ou daqui a um ano. Como é que funciona um trabalho desses de previsão? Creio que você deve levar em consideração um padrão passado do que vem acontecendo. O nosso padrão, por exemplo, é uma loucura, então, principalmente, porque o histórico de empresas de transporte aqui em Recife sem a atuação clandestina é muito recente, apenas dois anos. Se for olhar de 2003 para trás, é um cenário completamente diferente, porque você tinha a atuação clandestina atuando numa concorrência desleal, então, de dois anos para cá, tudo mudou. Essas mudanças de modelo de remuneração, [...] de diminuição de linha, criação de novas linhas são todas decorrentes do fato de estarmos conhecendo o mercado sem o clandestino, ainda estamos conhecendo o setor (Respondente). No entanto, a influência política da empresa junto aos órgãos externos, como será destacada nas variáveis categorizadas sobre a Escola do Poder, permitem que determinados sinais na arena competitiva sejam percebidos. O contato com o poder público, associações e outras empresas fornecem uma leve indicação dos movimentos das instituições que impactam nas atividades da Itamaracá. 9 Nas reuniões de planejamento estratégico, os diretores participam dando a visão deles de mercado; o foco é saber como está a conversa política nesse meio. Até porque, para o nosso mercado crescer, por exemplo, tem que ter licitação de linhas. Daí se não houver, é melhor adotar uma estratégia de contenção, melhorando isso ou aquilo, para não perder o espaço que eu tenho. Estratégias macro mudam muito de uma hora pra outra (Respondente). Quanto ao clima de trabalho, pesquisas internas realizadas (ITAMARACÁ, 2005) demonstram que, sob a perspectiva do funcionário, a Itamaracá é melhor de se trabalhar, quando comparada a outras no setor. O sentimento de permanecer na equipe, e consequentemente os esforços para fazer com que a organização gere bons resultados consistem em poderosos insumos para formação de estratégias. Não se percebe a dicotomia pensamento e execução na condução das atividades; a flexibilidade e a freqüente revisão de objetivos e estratégias, alcançando os cinco níveis do colegiado gestor, permitem que as mudanças sejam rapidamente detectadas e o fluxo de informações transite sem maiores barreiras. E com isso, é possível visualizar que a decorrente coalizão do poder, então considerada o colegiado gerencial e estratégico da organização, transita por entre os jogos políticos internos; percebe-se uma fragmentação de interesses permeando a Itamaracá, a partir do momento que variáveis como aprendizado, cultura, coletividade e construtivismo estão presentes no pensamento estratégico. Decorre que há uma negação da visão clássica da administração estratégica: ...a gente monta nossas estratégias em conluio com o funcionário, baseados nas informações diretas ou pesquisas internas. [...] esse ano, tivemos resultados muito bons na satisfação, mas menor que no ano passado. Opa, acendeu o sinal de alerta! Nos reunimos com grupos estratégicos de funcionários dentro da empresa, elencamos alguns pontos-chave de interesse e isso certamente vai estar com peso preponderante no planejamento do ano que vem (Respondente). Acerca do setor de transportes urbanos, é latente no depoimento dos entrevistados o quão esse é deficitário. No momento que os pesquisadores solicitaram que alguns incidentes críticos ocorridos entre 2000 e 2004 na empresa, foi unânime a idéia de que “inclusive, a gente até tenta difundir no funcionário a idéia de que a gente não está passando por crises, apesar do setor notadamente deficitário” (Respondente). Dentre os períodos de crise citados pelos entrevistados, três padrões emergiram como sendo mais evidentes, decorrendo em uma mudança na postura estratégica na empresa. O primeiro deles, ocorreu em 2001; tratou-se de uma época de forte insatisfação interna, culminado em uma greve dos funcionários. Os entrevistados argumentaram que a principal diferença desta para as demais greves, é que não houve interferência governamental no que tange às políticas de remuneração e incentivos, afetando todas as empresas. Foi um caso específico na Itamaracá (no setor de transportes urbanos, apenas ela parou as atividades), com o pleito de algumas coisas pontuais dos funcionários para com a empresa, como o término da cobrança pelas avarias, por exemplo, e a demonstração de revolta pela demissão de um funcionário, mesmo que por justa causa, já que ele estava comercializando ilegalmente vales transporte. Os efeitos desse período relatado permitem inferir o quanto a organização valorizou o aprendizado e abriu margem para que estratégias emergentes corrigissem a rota ora tomada, com implementação de fortes sistemas de comunicação internos, a exemplo de um programa de integração chamado Gestão Aberta e institucionalização de um setor staff de Recursos Humanos e a atual política de valorização dos colaboradores. A empresa sentia à época que a estratégia planejada não estava sendo eficaz, no entanto, poucas atitudes haviam sido tomadas para mudar a situação. Desde aquele momento, a relação da gente com os funcionários mudou bastante, porque os motivos podem ter sido errados na greve, mas a gente viu que estava 10 havendo uma mudança grande entre a empresa e os funcionários, a ponto de você ter que deflagrar uma greve para ser escutado. [...] A partir daí, temos nos aproximado mais deles e percebemos o quanto isso traz vantagens para ambos os lados (Respondente). Outro momento marcante ocorreu em 2003, com uma grave crise financeira, corroborando com os teóricos da turnaround acerca de declínio no desempenho. Mas antes de detalhar tal momento, é necessário chamar atenção mais profundamente para as políticas de negociação e jogos de interesses que envolvem as operações da empresa. Por se tratar de um serviço de concessão pública, alguns indícios demonstram claramente os princípios apregoados pela Escola do Poder. A exemplo, cabe à Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) a criação e programação das linhas e itinerários, bem como o número de veículos, horário das viagens, estabelecimento dos pontos de parada e remuneração das empresas. Às empresas operadoras, são cobradas regularidade e pontualidade da linha, qualidade do atendimento e gerenciamento das reclamações, manutenção e renovação da frota (ITAMARACÁ TRANSPORTES, 2005). É possível perceber o caráter determinista com que o ambiente por vezes impera sobre as ações da empresa. Ademais, o fato de ser uma empresa privada prestando serviço público faz com que fique a imagem de “carrasca” da população, com o decorrente aumento de tarifas necessário para que os custos sejam cobertos. Existem muitos grupos de interesse na formulação da estratégia da Itamaracá: o governo, a sociedade em geral, os acionistas e funcionários, que percebem diretamente os efeitos das ações da empresa; também os sindicatos, associações e representantes sociais, cujas negociações muitas vezes determinam o curso de ação da firma. A gente sabe que a população não pode pagar, inclusive a gente passa muito tempo do nosso planejamento (preparação) analisando nossa influência externa, possibilidades de incentivos, subsídio governamental, menos impostos. [...]como é que a gente dá um serviço público, presta um serviço de caráter constitucional que quem tem que dar é o Estado e ainda paga pra ele? Transporte público não é grátis, é pago e caro (Respondente). A situação era desfavorável e os custos crescentes: a estratégia adotada diante desse cenário, em 2003, foi a clássica turnaround de corte de pessoal, estendendo os efeitos para redução da frota em circulação. A dificuldade em ajustar interesses por entre os grupos, interferência de variáveis externas como o aumento do óleo diesel à época, sob o ponto de vista dos entrevistados, não deixou alternativas para a empresa. O terceiro momento elencado diz respeito ao transporte clandestino e sua retirada de circulação na Região Metropolitana do Recife, no início de 2004. Novamente, as ações geradas na empresa partiram de agentes externos: Kombi e Van eram um problema de poder, porque eles não pagavam tributo nem encargo, não registram o funcionário, e outra: só circulavam onde dá dinheiro, nos horários de pico. Ônibus não pode fazer isso. Então, era fácil para a Kombi ganhar dinheiro, puxando a tarifa lá para baixo. [...] A prefeitura de Recife, em conjunto com o governo do Estado tiveram que se posicionar firmemente, pois muitas empresas estavam ameaçadas de fechar. E se isso acontecesse, como é que a população iria se transportar? Ia ser um caos! (Respondente). Com a retirada, o efeito gerado foi o aumento da demanda, e conseqüente revolta da população, que estava habituada a pagar uma baixa tarifa pelo transporte e dispor de maior velocidade no deslocamento. Maior demanda gerou aumento na receita, tal como a empresa estava esperando; no entanto um aumento nos custos decorrentes da estratégia de turnaround ao disponibilizar mais veículos para circulação (para atender e minimizar a revolta da população) gerou custos totais maiores que a nova receita. E a empresa ainda está vivendo 11 esse momento até os dias atuais, adotando como postura a contínua negociação com órgãos de interesse para articular uma situação favorável, seja para reduzir o lucro das empresas fornecedoras de combustível, incentivos fiscais e outras medidas que venham permitir a contínua qualidade nos serviços que a empresa se propõe a prestar. Trazendo à tona os argumentos discutidos acerca de estratégias de recuperação, foi solicitado que os entrevistados avaliassem a conduta estratégica da empresa, quanto à ruptura e evolução: A primeira (crise), a da greve, certamente foi um momento de ruptura, porque foi um “tapa na cara” para acordarmos, porque a Itamaracá estava andando por um caminho que julgava mais adequado, mas em um dado momento tivemos que dar meia volta, não foi um desvio, tivemos realmente que mudar, já outro, como a crise financeira e o que passamos com os clandestinos, não. Isso foi a evolução natural do negócio já que seguimos o mesmo caminho que vínhamos buscando (Respondente). Como visto na segunda sessão deste artigo, as estratégias emergentes surgem sem que haja uma previsão preliminar, dada a impossibilidade de operacionalizar todas as variáveis necessárias. A primeira vista, estratégias de turnaround estariam ligadas àqueles momentos que surpreendem a empresa porque caso contrário, elas agiriam antes, sem que houvesse prejuízo no desempenho. No entanto, essa premissa não foi observada (tal como destacado na revisão da literatura) no caso ora estudado. Ao serem questionados, se os sinais referentes às crises poderiam ter sido captados de alguma forma e traduzidos em planos de ação: Sim, poderiam ser captados. Principalmente as crises financeiras. A de pessoal, a gente comodamente ‘achava’ que funcionário reclama sempre, mas que ia chegar uma hora que ele ia baixar a cabeça. Não foi o que aconteceu, de fato nos surpreendeu. Quanto às financeiras, a gente sabia, mas ficava sempre esperando que algum fato externo mudasse tudo; resultado, não aconteceu. Agora mesmo, a gente parece estar rumando para uma nova crise financeira. E aí? (Respondente). Analisando os períodos de crise descritos, cabe ainda reforçar a instabilidade da política como complicador do estabelecimento de previsões e estratégias deliberadas. As estratégias impostas exigem que as organizações estejam ‘espertas’ para que as ações adaptativas surtam o efeito desejado. Ações adaptativas remetem o pensamento para flexibilidade e aprendizado contínuo na formação de estratégias. Não se pode deliberar que a organização aprenda com os erros. Para isso, é necessário um padrão que suporte, dê subsídio às ações no presente; o que não significa um comportamento linear, mas um comportamento que prepare as organizações para momentos de reorientação. Acho que a organização tem que se fortalecer com o que tem de bom. No nosso caso, a nossa equipe é boa, temos competência para prestar um serviço de qualidade, nossa empresa é esperta. A gente se considera pronto para enfrentar os problemas. Nossa sobrevivência depende das pessoas, por isso que flexibilidade do planejamento e fortalecimento da equipe são cruciais. Minha estratégia é estar preparado para mudar sempre que for preciso (Respondente, grifo dos pesquisadores). Mesmo diante do cenário social descrito, com ampla abertura para estratégias emergentes especialmente em momentos de crise, os entrevistados ratificaram a importância do planejamento, como difusão de uma intenção, como que, na ausência desta, a organização estivesse acéfala, sem direcionamento e objetivos. No entanto, reconhecem que variáveis subjetivas, comportamentais e ligadas ao aprendizado são amplamente consideradas como insumo para a programação das ações. 12 Gostaria de acrescentar que há um sentimento e uma certeza na empresa da importância do planejamento estratégico. Uma empresa de quarenta e oito anos no mercado, como a nossa é mais fácil medir isso, até seis ou sete anos atrás, não trabalhávamos com esse tipo de ferramenta, a empresa era menor com uma gestão muito familiar, ia bem, mas o padrão de qualidade, de crescimento e de excelência que temos hoje é superior depois que passamos a trabalhar com ferramentas como essa (Respondente). ...quanto à mudança, foi só por causa do planejamento estratégico? Não. Existiu também toda uma mudança cultural, base histórica, aprendizado, informações de todas as áreas, uma mudança de políticas e procedimentos (Respondente). A intenção também fornece pistas que permitem identificar preceitos do Incrementalismo Lógico na Itamaracá. O planejamento estratégico é feito de forma ampla, com as prioridades da empresa, para em seguida, identificar como as áreas podem contribuir para o alcance dos objetivos maiores. Essa identificação ocorre a partir da perspectiva do incrementalismo progressivo, não rompendo bruscamente com as formas de como a organização se adapta ao seu meio ambiente (MOTTA, 2001). As margens, ou limites, são construídos e apresentados formalmente no plano. Cada setor, remetendo o pensamento aos subsistemas revisados na literatura (QUINN, 1978), se articula e inter-relaciona com os demais, permitindo que a empresa reoriente sua meta, alargando ou estreitando suas margens. Os respondentes afirmam que estratégias são formadas também a partir do reconhecimento de idéias e conseqüentes readequações no planejamento. Nessa linha, as áreas que são voltadas mais para o público interno, como a administração, dependem mais da empresa que do setor e há uma facilidade maior em implementação dos planos de ação. Mas aquelas áreas de maior interface com o ambiente, dependem da sistemática da EMTU e outros agentes externos. O monitoramento do planejamento estratégico é uma das prioridades centrais da empresa. Por meio de indicadores de desempenho e cronogramas, a empresa acompanha variáveis que vão desde o consumo médio dos veículos até a satisfação do funcionário. Os sistemas de medida são desenvolvidos internamente e avaliados semestralmente, mesmo havendo flexibilidade para que este seja revisado sempre que a conjuntura apresentar algo novo. Considerando o período de 2000 a 2004, documentos internos demonstram que, estatisticamente, a organização atinge cerca de 50% (cinqüenta por cento) das metas estipuladas, em torno da vigência do planejamento, o que, concebendo estratégia como um plano, já é excelente diante do quadro ambiental hostil e instável traçado pelos entrevistados. As demais estratégias não realizadas são atribuídas às causas internas e às externas, com esta última superando a primeira. Quanto à avaliação dos resultados associada à origem das estratégias (se majoritariamente deliberadas ou emergentes), os entrevistados discorreram amplamente acerca de variações no contínuo discutido na sessão dois deste artigo. O padrão de formação de estratégias da Itamaracá Transportes, entre 2000 e 2004, é largamente disforme, quanto à consistência homogênea das ações. Lembro dos casos em que não havia um planejamento estratégico e a gente teve que agir de forma estratégica, teve que fazer um projeto, dando um resultado bom ou ruim. Teve casos em que tava tudo planejado e que mesmo assim a gente não conseguiu um resultado. [...] é muito comum termos ações, termos projetos que não entraram no planejamento estratégico, pela emergência da atividade (Respondente). Durante a coleta e a análise dos dados, foi possível perceber a ocorrência freqüente de ações adaptativas, apregoadas pelos preceitos emergentes na Itamaracá Transportes. Bem é verdade que isso foi mais evidente nos períodos de crise e reorientação; contudo, mesmo 13 diante disso, a intenção sempre esteve presente. O planejamento estratégico, por natureza deliberado, forneceu as margens necessárias para que os processos incrementais fossem desenvolvidos. O aprendizado é constante e guiado na organização. Por haver notável valorização cultural e do funcionário, a partir do momento em que características comportamentais são consideradas no estabelecimento das diretrizes, pode-se afirmar que o padrão de formação de estratégias da empresa é deliberadamente emergente, com oscilações entre estratégias impostas e frutos de processos de negociação. A clássica dicotomia entre pensamento e ação não foi evidenciada no caso e nem poderia; mesmo sob tentativas de estabelecer um planejamento racional, a emergência das situações e imprevisibilidade ambiental mesmo durante a vigência do plano impediam que as intenções fossem plenamente traduzidas em planos de ação; e se o fossem, poderiam não ser eficazes. É interessante ainda resgatar o conceito de estratégia guarda-chuva, sendo esta deliberada na perspectiva geral e emergente em suas posições específicas, alinhada a princípios do incrementalismo lógico. Tanto no padrão de formação de estratégias de modo amplo, quanto em momentos específicos de crise, crê-se que o fenômeno pode ser interpretado sob essa perspectiva, mesmo que estratégias impostas e planejadas coexistam na realidade da empresa. Ressalta-se a forte presença de processos de negociação, sendo estes internos e externos, imbuídos de influência política e jogos de interesses. Por fim, não se percebeu a separação entre o foco no controle e foco no aprendizado; os dois construtos, segundo a perspectiva dos entrevistados, se alimentavam mutuamente: processos de aprendizado demonstravam como os indicadores poderiam ser estabelecidos e estes indicavam, dada alguma inadequação, o que a organização precisaria fazer para reverter o quadro, recaindo sobre métodos de tentativa e erro. 6 Reflexões Finais De acordo com os resultados, o processo de formação de estratégia foi tido então como multidimensional, envolvendo ambas as análises intuitivas e racionais. Por essa razão, ao passo que o caráter emergente deva fazer parte do cotidiano das empresas, não se pode deixar de lado a importância do guia e da sistematização de objetivos apregoada pela concepção deliberada; o que varia em momentos específicos é o grau de engessamento e rigidez. É difícil imaginar estratégias posicionadas como plenamente deliberadas ou emergentes, dado que a previsão acurada e a ausência total de intenções não são padrões frequentemente percebidos no cotidiano das empresas. Estas estratégias combinam várias dimensões como precisão das intenções da liderança, graus de controle e persuasão sobre as ações, previsibilidade do ambiente, entre outros. O princípio básico defendido aqui é que não existe uma taxonomia rígida, afirmando que a estratégia deva ser totalmente deliberada ou totalmente emergente (BORGES JR.; LUCE, 2000) em períodos de crise. O planejamento a longo prazo é assaz difícil; a ausência de um equilíbrio estável faz com que os sistemas organizacionais sejam por demais sensíveis aos movimentos dos agentes externos. No entanto, a possibilidade de mudanças drásticas provenientes do inesperado não impedem as previsões a curto prazo e o estabelecimento de diretrizes para se lidar com a complexidade e incerteza. O fenômeno aqui descrito demonstrou que a verdade para a empresa é então temporal e condicionada pelas mudanças, considerando o setor de transportes urbanos da Região Metropolitana do Recife (RMR) e sua influência no processo de formação de estratégias da Itamaracá. Vale ressaltar, no entanto, que este foi um trabalho exploratório inicial; pouco se conhecia sobre a unidade de análise e a sondagem deu-se em um nível preliminar. Crê-se que o objetivo central proposto foi alcançado, suscitando a possibilidade de um maior aprofundamento em aspectos referentes à escola do poder, na consulta aos outros agentes externos ou grupos de interesse, como os clientes, agentes governamentais, fornecedores, 14 sindicatos, demais empresas, além de captar perspectivas em todo o âmbito organizacional, com demais membros do colegiado de gestão. Ademais, como sugestão para pesquisas futuras está a elaboração de um estudo de múltiplos casos, para confrontar os padrões de formação de estratégia nas empresas de transporte urbano da RMR e as influências de um setor externo em comum: Dado que várias estratégias da Itamaracá Transportes são categorizadas como emergentes e impostas, como se comportam as demais empresas do setor quanto ao padrão de formação de estratégias, com ênfase em momentos de crise? Vale ainda mencionar a contribuição significativa desse trabalho para um maior entendimento empírico acerca de formação de estratégias e gestão de transportes urbanos, considerando peculiaridades de uma empresa de grande relevância para sociedade local. A parte conceitual consistiu em um esforço na aproximação de teorias e concepções, relacionando sob um mesmo fenômeno, escola do poder e políticas de negociação e estratégias de turnaround, embasadas pelo amplo lastro já desenvolvido na literatura quanto estratégias deliberadas e emergentes. Referências ANDREWS, K. O. O Conceito de Estratégia Empresarial. In: MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. O Processo da Estratégia. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001, p. 58.64. ANSOFF, H. Igor. Business Strategy. Great Britain: Perguin Books, 1973. BARNEY, J. Gaining and Sustaining Competitive Advantage. New Jersey: Prentice Hall, 2002. BARKER III, V. L.; DUHAIME, I. M. Strategic Change in the Turnaround Process: Theory and Empirical Evidence. Strategic Management Journal, v. 18, n. 1, jan.1997. BRUYNE, P.; HERMAN, J.; SCHOUTHEETE, M. Dinâmica da Pesquisa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977. BORGES JR., Adilson Adão; LUCE, Fernando Bins. 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