www.rhmjournal.org.uk © 2008 Reproductive Health Matters. All rights reserved. Reproductive Health Matters 2008;16(32):59-66 0968-8080/08 $ – see front matter PII: S09 6 8 - 8 08 0 ( 0 8 ) 32 4 0 5 - 7 QUESTÕES DE ´ SAUDE reprodutiva Uma estratégia da Organização Pan Americana de Saúde para prevenção e controle do câncer cervical na América Latina e Caribe Silvana Luciani,a Jon Kim Andrusb a Gerente de Projeto, Chronic Disease Prevention and Control, Organização Pan Americana de Saúde, Washington DC, EUA. E-mail: [email protected] b Consultor Técnico Chefe, Immunization Project, Organização Pan Americana de Saúde, Washington DC, EUA Resumo: O câncer cervical é a maior causa de mortes por câncer entre mulheres na América Latina e Caribe. As mulheres mais pobres são desproporcionalmente as mais afetadas e as taxas de mortalidade na região são sete vezes maiores do que na América do Norte. Devido à significativa carga da doença para a saúde pública, a Organização Pan Americana de Saúde definiu uma Estratégia Regional para Prevenção e Controle do Câncer Cervical. A Estratégia requer um aumento das ações para fortalecer programas através de um pacote de serviços integrados: informação e educação em saúde; rastreamento e tratamento pré-câncer; tratamento para câncer cervical invasivo e cuidados paliativos; e decisões políticas baseadas em evidência sobre se e como introduzir a vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV). É necessário um plano de ação focado em sete itens fundamentais: conduzir uma análise da situação; intensificar a informação, educação e aconselhamento; ampliar o rastreamento vinculando-o ao tratamento de pré-câncer; fortalecer sistemas de informação e registros de câncer; melhorar o acesso e qualidade do tratamento de câncer e cuidado paliativo; gerar evidências para facilitar o processo decisório sobre a introdução da vacina contra o HPV, e, defender o acesso igualitário e vacinas contra HPV a preços acessíveis. A estratégia proposta foi aprovada pelo Conselho Diretor da OPAS em 1º de Outubro de 2008 e tem a possibilidade de estimular e acelerar a introdução de novas tecnologias de rastreamento e vacinas contra HPV em programas da América Latina e Caribe. Palavras-chave: rastreamento e tratamento de câncer cervical, vírus do papiloma humano e vacinas, América Latina e Caribe O câncer cervical é a maior causa de mortes por câncer entre mulheres na América Latina e Caribe.1 Devido à significativa carga que representa para a saúde pública, e reconhecendo o impacto limitado dos programas de prevenção em localidades com recursos escassos, a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) definiu a Estratégia Regional para Prevenção e Controle do Câncer Cervical. O objetivo é ilustrar para governos e partes interessadas que abordagens custo-efetivo estão disponíveis para a prevenção e controle integral do câncer cervical, que requer um pacote completo de serviços: educação em saúde, rastreamento, diagnóstico e tratamento; e dependendo da disponibilidade financeira, sustentabilidade e preparação do país, a vacinação contra o HPV. A prioridade é fortalecer programas e avaliar 71 S Luciani, J K Andros / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:71-78 se e como as tecnologias recentes, como novas técnicas de rastreamento e vacinas contra HPV, podem ser utilizadas para aumentar a efetividade dos programas em andamento. Para fortalecer o desenvolvimento da Estratégia Regional realizamos uma revisão de literatura em artigos publicados no PubMed de 1991 a 2008, utilizando os termos de busca: câncer cervical na América Lativa, incidência de câncer cervical, mortalidade por câncer cervical, programas de rastreamento de câncer cervical na América Latina e Caribe, tecnologias de rastreamento de câncer cervical, HPV na América Latina e Caribe, vacinas contra HPV e tratamento contra câncer. Além disso, analisamos os dados sobre câncer cervical do banco de dados de mortalidade da OPAS e o banco de dados sobre epidemiologia do câncer da International Agency for Research on Cancer. Representantes dos programas de câncer do Ministério da Saúde de 25 países da América Latina e Caribe foram consultados sobre a estratégia proposta. Em Janeiro de 2008, um questionário padrão com questões fechadas e abertas foi enviado ao representante do escritório regional da OPAS/OMS e ao coordenador do programa de câncer do Ministério da Saúde de cada país. As respostas dos questionários foram submetidas ao escritório central da OPAS em Maio de 2008. Contribuições mais amplas para essa Estratégia Regional também foram obtidas durante um encontro com os stakeholders latino americanos sobre o controle e prevenção do câncer cervical, reunidos pela OPAS, OMS, o Instituto Sabin e os Centros Americanos para controle e prevenção de doença de 12 a 14 de maio de 2008 na Cidade do México. O encontro contou com a presença de mais de 160 participantes de 21 países, representando os programas nacionais nas áreas de imunização, saúde do adolescente, saúde sexual e reprodutiva e controle do câncer.1 Foram 72 realizados comentários verbais sobre a Estratégia Regional durante a sessão plenária e também nos grupos de trabalho. A Estratégia Regional foi apresentada ao Conselho Diretor da OPAS em 1º de outubro de 2008, um corpo de governo representado por Ministros da Saúde de todos os países das Américas. Uma resolução foi firmada comprometendo os países a ampliar os programas de câncer cervical com aumento da cooperação técnica da OPAS. Mortes evitáveis Estima-se que aconteçam anualmente 72.000 novos casos de câncer cervical e 33.000 mortes na América Latina e Caribe, representando uma perda econômica na produtividade de aproximadamente US$ 3.3 bilhões por ano.2,3 O câncer cervical afeta desproporcionalmente os países mais pobres, e entre esses países, as comunidades mais pobres, devido à falta de programas de prevenção efetivos. As taxas de mortalidade por câncer cervical são sete vezes maiores na América Latina e Caribe do que na América do Norte. A carga de doença mais alta está representada nas mulheres do Caribe e da América Central, com taxas de mortalidade de 16 por 100.000 e 15 por 100.000, respectivamente.2 Conforme ilustrado na Figura 1, Haiti, Bolívia, Paraguai, Peru e Nicarágua estão entre os países com as maiores taxas de mortalidade por câncer cervical da região.2 Nas Américas, a prevalência do vírus do papiloma humano (HPV), principal causa de câncer cervical, é estimada em 15,6% entre a população de mulheres a partir dos 15 anos. Países como Honduras, Costa Rica e Paraguai apresentam uma prevalência muito maior do que a média regional (Tabela 1).4 Como em qualquer parte do mundo, os tipos 16 e 18 de HPV são mais freqüentes nas Américas, e aproximadamente 70% dos casos de câncer cervical invasivo são atribuídos ao HPV 16 e 18.4 S Luciani, J K Andros / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:71-78 Programas, coberturas e tratamentos limitados Até o presente momento, uma forma muito efetiva de prevenir o câncer cervical é o rastreamento das mulheres para lesões pré-cancerígenas cervicais, seguido do tratamento das lesões, prevenindo o progresso para um câncer invasivo. Embora o rastreamento por citologia cervical (usando o Papanicolaou) seja utilizado nas Américas há aproximadamente 30 anos, os países ainda não verificaram o mesmo declínio nas taxas de mortalidade que o observado na América do Norte. Apenas na Costa Rica, Chile e Cuba foram observadas reduções significativas nas taxas de câncer cervical, atribuídas a programas efetivos de rastreamento e tratamento. O principal motivo para essa situação é a dificuldade de organizar e sustentar programas de rastreamento de alta qualidade, principalmente em localidades com poucos recursos, devido a: a) desafios para atingir uma ampla cobertura de rastreamento para mulheres da faixa etária de risco (>30 anos), b) qualidade precária do exame de Papanicolaou, e c) diagnóstico e tratamento incompleto das mulheres diagnosticadas positivo. Por exemplo, estudos no Peru demonstraram que em uma província, a sensibilidade ao Papanicolaou foi de apenas 27%; e entre as mulheres que apresentaram anormalidades nos resultados do exame, 75% não receberam acompanhamento apropriado ou tratamento.5,6 As falhas dos programas de prevenção de câncer cervical da região podem ser caracterizadas não apenas pelos fatores relacionados à tecnologia de rastreamento, como também pelos sistemas de saúde (acesso, organização e qualidade de serviços, incluindo treinamento dos provedores de saúde) e perspectivas da comunidade. O status sociocultural, econômico e educacional das mulheres, além da etnia influencia seu acesso a informação e o nível da necessidade e utilização dos serviços de prevenção ao câncer cervical.7,8 Outros fatores chave incluem: • Pouca consciência entre homens e mulheres sobre a importância do rastreamento; • Acesso limitado a serviços de diagnóstico e tratamento para pré-câncer; • Capacidade inadequada para tratamento cirúrgico e radioterapia para mulheres diagnosticadas com câncer invasivo.8 Novas tecnologias Métodos alternativos de rastreamento Diversas técnicas de rastreamento do câncer cervical tem sido desenvolvidas, em parte como uma resposta aos desafios do rastreamento por citologia. Essas técnicas incluem inspeção visual com ácido acético (VIA) e testes de DNA para HPV, incluindo um teste rápido e de baixo custo para HPV. O DNA-HPV, na maioria dos casos, tem se mostrado mais sensível do que o Papanicolaou na detecção precisa de lesões précancerígenas; o desempenho do VIA é igual ou melhor do que o Papanicolaou para a detecção de lesões pré-cancerígenas.9 Uma vantagem do rastreamento por VIA é que a mulher pode obter o resultado imediatamente, e se for elegível receber prontamente o tratamento pré-câncer utilizando crioterapia (caso o profissional de saúde seja treinado para isso) em uma única visita a um serviço de atenção básica. O rastreamento por VIA seguido de tratamento imediato com crioterapia para lesões pré-cancerígenas demonstrou uma redução de 35% na mortalidade por câncer cervical em um período de sete anos em um grande ensaio aleatório na Índia, por exemplo.10 Atualmente, diversos países da região, incluindo Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, México e Peru, estão utilizando abordagens alternativas de rastreamento. Dessa forma, é possível que um conjunto de abordagens de rastreamento seja adotado em cada país, dependendo do acesso ao sistema de saúde, disponibilidade de serviços de laboratório 73 S Luciani, J K Andros / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:71-78 e, recursos humanos e financeiros. Essas novas abordagens e tecnologias oferecem oportunidades para o fortalecimento dos serviços de saúde para rastreamento e tratamento. Vacinas contra o HPV Existem duas vacinas para HPV disponíveis no momento: uma quadrivalente contra os genótipos 6, 11, 16 e 18, e outra bivalente contra os genótipos 16 e 18. Em ensaios clínicos, ambas as vacinas demonstraram segurança, alta imunogenicidade e quase 100% de efetividade na prevenção de infecções e lesões pré-cancerígenas de HPV tipos 16 e 18, quando oferecido a garotas adolescentes antes da iniciação sexual.11 Avaliações da custo-efetividade utilizando dados de países latino americanos demonstram que ao preço de US$ 5,00 por dose, a vacinação contra HPV poderia ser altamente custoefetivo, resultando de fato, em uma economia de custos na maioria dos países na região da América Latina e Caribe. A vacinação sozinha, comparando com o estado atual, poderia resultar em uma redução de 40% de mortalidade ao longo da vida da coorte vacinada. Se a vacinação for acompanhada de pelo menos três testes de rastreamento durante a vida da mulher, o risco de câncer cervical durante a vida pode ser reduzido em até 60%, se a cobertura de vacinação e rastreamento alcançarem 70% das mulheres alvo.12,13 Vinte e seis países da América Latina e Caribe têm vacinas contra HPV licenciadas; e a Costa Rica, México e Peru estão testando a vacina em projetos de demonstração ou ensaios clínicos. A acessibilidade econômica das vacinas para o HPV nos programas de saúde pública continua provavelmente sendo o maior obstáculo para sua introdução. Além disso, a vacina necessita de preparações adequadas, tais como condições de cadeia de frio, estratégia e método de distribuição e monitoramento pós-vacinação para abordar as questões programáticas, 74 visando uma introdução sustentável como parte de um amplo programa contra o câncer cervical.14,15 A vacina de HPV está em processo de pré-qualificação da OMS para novas vacinas, o que permitiria que países em desenvolvimento pudessem adquiri-las através das agências das Nações Unidas. Enquanto isso, a OPAS criou um referencial para tomadas de decisão políticas sobre a introdução da nova vacina baseadas no no país, através do Iniciativa ProVac.16 O objetivo dessa iniciativa é desenvolver processos, ferramentas e realizar análises de custo-benefício apoiando o processo decisório baseado em evidências na introdução de novas vacinas, incluindo a vacina contra o HPV. Estratégia regional da OPAS A Estratégia Regional para Prevenção e Controle do Câncer Cervical propõe melhorar a capacidade do país para a implementação sustentável de programas integrais de prevenção e controle contra o câncer cervical com a meta de reduzir a incidência e a mortalidade. A estratégia promove um pacote de serviços integrados de: informação e educação em saúde; rastreamento de mulheres assintomáticas e tratamento de pré-câncer; tratamento e cuidado paliativo de câncer cervical invasivo; e decisões políticas baseadas em evidência sobre se e como introduzir as vacinas contra HPV. É recomendado um plano de ação composto por sete pontos principais, com prioridade imediata para o fortalecimento dos atuais serviços de saúde, considerando a introdução de novas abordagens e tecnologias para melhorar a cobertura, qualidade e efetividade. O plano inclui os seguintes pontos: Conduzir uma análise da situação Na ausência de informação estratégica atualizada, coletar informações sobre saúde sexual; avaliar os investimentos e cobertura atuais, acompanhamento e qualidade do programa S Luciani, J K Andros / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:71-78 de rastreamento; avaliar a carga do HPV, précâncer e câncer no país; e examinar as perspectivas, crenças e necessidades relacionados à prevenção e controle do câncer cervical. Essa informação ajuda a apoiar decisões sobre se e como modificar as políticas e práticas relacionadas ao câncer cervical. Além disso, serve como linha de base para o monitoramento do impacto do programa. acompanhamento apropriado em tempo hábil, é fortemente recomendado considerar a incorporação do VIA ou testagem rápida de HPV, utilizando uma única visita com a abordagem rastreamento-e-tratamento, e assegurando treinamento e supervisão apropriados aos provedores de saúde. Intensificar a informação, educação e aconselhamento O estabelecimento de um sistema de informação e vigilância é essencial para o monitoramento contínuo do desempenho do programa de câncer cervical, incluindo cobertura, resultado dos testes de rastreamento e acompanhamento do diagnóstico e tratamento. O sistema avalia a magnitude pré-vacina do HPV, do pré-câncer e do câncer cervical e monitora o impacto, segurança e efetividade das vacinas de HPV. Aumentar a conscientização sobre o câncer cervical e a prevenção da infecção pelo HPV, além de promover um comportamento sexual saudável entre as populações de adolescentes, homens e mulheres e profissionais de saúde. Envolver as comunidades nos serviços de prevenção, focando nas mulheres mais excluídas grupos vulneráveis, incluindo mulheres vivendo em áreas rurais e indígenas. Fortalecer os programas de rastreamento e tratamento pré-câncer Em localidades com recursos suficientes para sustentar um rastreamento de qualidade utilizando o Papanicolaou e que garantem um acompanhamento apropriado e em tempo hábil para mulheres com resultado positivo, é possível fortalecer os programas de rastreamento: (i) melhorando a qualidade dos testes de rastreamento; (ii) considerando a introdução do teste de DNA-HPV selecionando as mulheres HPV-positivo para posterior testagem; (iii) ampliando a cobertura do rastreamento para mulheres do grupo de idade de risco (>30 anos); e (iv) aumentando a proporção de cuidados de acompanhamento apropriado e em tempo hábil para mulheres com resultado anormal do teste de rastreamento. Em localidades onde os recursos não são suficientes para sustentar o Papanicolaou, e onde existem altas taxas de mulheres sem acesso e Estabelecer ou fortalecer os sistemas de informação e registros de câncer Melhorar o acesso e qualidade do tratamento de câncer e dos cuidados paliativos Cirurgia e radioterapia são as duas modalidades de tratamento recomendadas para câncer cervical invasivo, resultando em taxas de cura de 85-90% nos estágios iniciais.17,18 São necessários mais investimentos para assegurar que a radioterapia e a cirurgia estejam disponíveis e acessíveis, e ligadas aos programas de rastreamento, para que as mulheres que tenham sido detectadas com câncer sejam tratadas adequadamente e curadas. Gerar evidências para facilitar o processo decisório em relação à introdução da vacina HPV Conforme os países decidem se e como introduzir a vacina nos programas de saúde pública, as evidências para informar tais decisões necessitam ser colhidas e diversas questões devem ser levadas em conta. A OPAS, através da Iniciativa ProVac, irá trabalhar com os países melhorando a capacidade nacional para tomarem decisões sobre a introdução da vacina 75 S Luciani, J K Andros / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:71-78 com base em evidências, através de um programa ampliado de cinco anos de trabalho. Promoção do acesso equitativo e vacinas de HPV acessíveis O amplo acesso à vacina contra o HPV irá depender desta ter um preço acessível, e da garantia dos preparativos necessários para a introdução da vacina como parte de um programa integral de câncer cervical. Uma vez que as mulheres pobres estão em maior risco, acesso e equidade são questões críticas que necessitam ser abordadas para a introdução da vacina,19 especialmente a acessibilidade econômica das vacinas de HPV. São necessárias parcerias e colaboração entre grupos multidisciplinares de profissionais de saúde para fortalecer os serviços de atenção primária e programas de imunização, para preparar a introdução da vacina de HPV e para assegurar uma abordagem integral do câncer cervical. Discussão A prevenção do câncer cervical está mudando rapidamente, com potencial para reduzir de forma drástica a mortalidade dessa doença evitável. Como uma agência de cooperação técnica, a OPAS está em posição de auxiliar os países em seus processos decisórios com relação às políticas para introdução de tecnologias mais novas, e no fortalecimento de seus programas de saúde pública para conseguirem oferecê-los. A experiência da OPAS na implementação de estratégias regionais que priorizem o apoio ao país deve contribuir para a aceleração da prevenção e controle do câncer cervical nos países da América Latina e Caribe.20 Os desafios inerentes à manutenção de programas de rastreamento efetivos em localidades com recursos escassos estão bem reconhecidas. O acesso limitado a serviços de rastreamento e cobertura precária são questões críticas em muitos países da região, em especial entre as 76 mulheres indígenas. Por exemplo, no Equador e Guatemala, 70% e 58% respectivamente das mulheres indígenas relataram nunca terem sido submetidas a um Papanicolaou.21,22 Isso ilustra a necessidade de direcionar recursos para mulheres que nunca foram testadas anteriormente, principalmente aquelas de grupos vulneráveis e mais excluídos; e a importância das parcerias com grupos de defesa das mulheres, para fornecer informações que empoderem as mulheres e aumentem sua participação em programas de rastreamento. A vacinação contra o HPV poderá prevenir, no máximo, 70% da carga da doença. Dessa forma, é preciso formar um pacote de intervenções. A diminuição da incidência pela vacinação em coortes de pré-adolescentes permitiria aos países focar em melhorar a cobertura e qualidade do rastreamento, com 2-3 visitas durante a vida da mulher. Finalmente, o processo de desenvolvimento de políticas para introdução da vacinação contra HPV pode promover uma estratégia ampla e mais custo-efetiva para o país. Em um recente encontro regional sobre atenção integral ao câncer cervical na região acima mencionado, profissionais de saúde pública de programas nacionais de saúde sexual e reprodutiva, saúde do adolescente, imunização e controle de câncer de todos os países indicaram que introduziriam a vacina contra HPV em seus programas se o preço fosse acessível, se houvesse financiamento disponível para assegurar sua sustentabilidade e se os critérios para introdução de novas vacinas fossem atendidos.1 Além disso, quase todos os países disseram que mesmo que continuem utilizando o Papanicolaou, estão dispostos a introduzir abordagens alternativas de rastreamento como o VIA e o teste HPV DNA, principalmente em localidades onde a efetividade do Papanicolaou seja limitada. Os representantes dos países demonstraram suas preocupações sobre os desafios e S Luciani, J K Andros / Questões de Saúde Reprodutiva 2009;4:71-78 limitações de seus atuais programas de rastreamento de câncer cervical, e adotaram uma declaração para fortalecer programas integrais de prevenção e controle do câncer cervical. A declaração clama por aumento de recursos e melhorias no sistema de saúde para ampliar a qualidade e cobertura dos programas de rastreamento, assim como pelo apoio do Fundo Rotativo da OPAS para negociar preços de vacinas acessíveis e facilitar a introdução de vacinas de HPV em programas de imunização nacionais assim que possível.1 Para implementar essa Estratégia Regional, devem ser expandidas parcerias com a comunidade, organizações nacionais e internacionais, inclusive através do sistema das Nações Unidas, para mobilização de recursos, advocacia e colaboração. Os esforços de advocacia incluem aumento da consciência entre legisladores e profissionais de saúde. Os esforços para melhorar a qualidade e cobertura através do fortalecimento dos serviços de saúde e treinamento de provedores enfocarão países com maiores taxas de mortalidade por câncer cervical e onde os programas de rastreamento não foram bem sucedidos, ou onde existe uma alta proporção Referências 1. Pan American Health Organization. Towards comprehensive cervical cancer prevention and control: declaration from the regional meeting. Immunization Newsletter. Washington DC: PAHO; June 2008. 2. Ferlay J, Bray F, Pisani P, et al. GLOBOCAN 2002: cancer incidence, mortality and prevalence worldwide. IARC CancerBase No. 5. Version 2.0. Lyon: IARC Press; 2004. 3. Jara L, Suarez R. Analysis prepared on the economic impact of cervical cancer in Latin America and the Caribbean, de populações vulneráveis e em desvantagem. Nesses locais, a atenção será dada ao fortalecimento dos serviços de cuidados primários para a oferta de prevenção, educação e possibilidade da abordagem de uma única visita, do tipo rastreamento-e-tratamento, utilizando VIA ou teste HPV DNA. A informação, o conhecimento e as ferramentas estão disponíveis para a prevenção do câncer cervical. Nosso desafio agora é assegurar que o ambiente político, a capacidade do sistema de saúde e o apoio da comunidade funcionem para oferecer de modo efetivo os serviços necessários para as mulheres que mais necessitam. Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a todos nossos colegas que nos deram opiniões e informações para o desenvolvimento da Estratégia Regional para Prevenção e Controle do Câncer Cervical: Merle Lewis, Lucimar Coser-Cannon, Pablo Jimenez, Cuauhtemoc Ruiz Matus, Matilde Maddaleno, Ricardo Fescina, Roberto del Aguila, Marijke Velzeboer-Salcedo, James Hospedales, Meghan Blake, Marta Prieto, Gina Tambini e Jarbas Barbosa. 2007. (Não publicado) 4. Castellsagué X, de Sanjosé S, Aguado T, et al. HPV and cervical cancer in the world. Geneva: WHO/ICO Information Centre on HPV and Cervical Cancer; 2007. 5. Luciani S, Winkler J. Cervical cancer prevention in Peru: lessons learned from the TATI demonstration project. Washington: PAHO; 2006. 6. Gage JC, Ferreccio C, Gonzales M, et al. Follow up care of women with abnormal cytology in a low-resource setting. Cancer Detection and Prevention 2003;27:466–71. 7. Agurto I, Arrossi S, White S, et al. Involving the community in cervical cancer prevention programs. International Journal of Gynecology & Obstetrics 2005;89(Suppl 2):S38–S45. 8. World Health Organization. Comprehensive Cervical Cancer Control: A guide to essential practice. Geneva: WHO; 2006. 9. Sankaranarayanan R, Gaffikin L, Jacob M, et al. A critical assessment of screening methods for cervical neoplasia. 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The Strategy calls for increased action to strengthen programmes through an integrated package of services: health information and education; screening and pre-cancer treatment; invasive cervical cancer treatment and palliative care; and evidence-based policy decisions on whether and how to introduce human papillomavirus (HPV) vaccines. It calls for a seven-point plan of action: conduct a situation analysis; intensify information, education and counselling; scale up screening and link to pre-cancer treatment; strengthen information systems and cancer registries; improve access to and quality of cancer treatment and palliative care; generate evidence to facilitate decision-making regarding HPV vaccine introduction; and advocate for equitable access and affordable HPV vaccines. This proposed strategy, approved by the PAHO Directing Council on 1 October 2008, has the possibility of stimulating and accelerating the introduction of new screening technology and HPV vaccines into programmes throughout Latin America and the Caribbean. 78