A hospitalidade saiu à rua! Fugiu e foi dar um passeio! Levava consigo perto de 50 reféns voluntários – alguns eram velhos amigos com quem caminhava já há muito; outros amigos recentes, mas nem por isso menos íntimos; trazia família também, daquela muito querida; e ainda um grupo de conhecidos, colegas de local de trabalho, que arrastados pela curiosidade se deixaram raptar. Grupo sui generis, não diriam? Eu sou uma das vítimas deste ataque hospitaleiro e estou aqui para vos falar da experiência de 5 dias de cativeiro. Aviso desde já a todos para terem cuidado, os mais susceptíveis ou não, pois o tema a tratar contagia com alguma facilidade! Os sítios por onde nos mantiveram em cativeiro? Em alguns dos lugares mais bonitos e intensos que já conheci – cheios de história, alma, espiritualidade e encanto. Começaram por nos levar a Montemor-O-Novo, onde S. João de Deus nasceu. Nesse preciso local existe agora uma modesta (e já desgastada pelo tempo) igreja onde se respira algo que nos faz arrepiar e sentir uma paz imensa. Já em Granada levaram-nos ao Sacromonte, a percorrer o caminho de Maria Josefa e Maria Angustias – um caminho de silêncio e reflexão. Fizeram-nos visitar todos aqueles locais emblemáticos relacionados com S. João de Deus – destaco a Casa dos Pisa (onde morreu S. João de Deus: a energia daquele quarto é indescritível, deixa-nos “de rastos”); a Basílica de S. João de Deus (onde estão os seus restos mortais; um local belo e luxuoso, demonstrativo da admiração pelo Santo, que contrasta um pouco com a simplicidade de que é sinónimo); a cela onde esteve quando foi considerado louco; o local onde vendia livros; e o primeiro hospital que mandou construir. Arrastaram-nos ainda para Alhambra, com muita chuva – o paraíso fisicamente deve ser mais ou menos assim. E, para terminar, prenderam-nos só uma manhã num Castelo cheio de Princesas, em Assumar. As coisas que nos obrigaram a fazer? Obrigaram-nos a conhecer as pessoas de Montemor-O-Novo, a perguntar-lhes descaradamente pelas ruas quem era São João de Deus e o que fez ele, fizeram-nos convida-las para vir festejar os 25 anos da JH connosco numa vigília. E não é que algumas vieram? Obrigaram-nos a cantar com mais alegria e fulgor do que alguma vez o tínhamos feito! Melodias orgulhosas de quem somos, em nome de Quem estamos e o que Ele nos leva a fazer. Melodias provocadoras de uma forma de estar na vida muito diferente. Obrigaram-nos a comer numa cantina social – uma das provas mais fortes desta jornada – ao lado daqueles de quem normalmente desviamos os olhos na rua. Fizeram com que nos puséssemos no lugar deles, sentíssemos um bocadinho como eles… a experiência de sermos forasteiros, de nos sentirmos desconfortáveis (com o que somos, pensamos e como agimos) e sem chão. Questões a jorrar na nossa mente, resposta a escassear e a janela da fé a surgir como única saída e solução. Obrigaram-nos a conviver cinco dias com pessoas extraordinárias que nos fizeram recordar ou perceber que é possível ser diferente e acreditar; que é possível nos surpreendermos e dar connosco numa conversa de café de final de dia a discutir a hospitalidade, a fé e outras coisas humanas tão importantes. Obrigaram-nos a sentir que a igreja, a eucaristia e a oração podem ser a nossa casa; que todos aqueles rituais são nossos, que os podemos tratar por tu; que podem ser o nosso espelho e que isso nos pode trazer uma tranquilidade infinita. Obrigaram-nos a suportar uma quantidade escandalosa de beijinhos, abraços e mimos das pequenas Princesas de Assumar e ficar a desejar outro tanto. A hospitalidade saiu à rua e anda solta por aí. Procura-a, deixa-te ser levado e depois conserva-a em ti. As garantias que te posso dar? Apenas uma: a de seres feliz! Cátia Soares – Tour a Granada Setembro de 2013