A experiência sonora que nos leva pra dentro do mundo: ouvir, nos torna participantes envolvidos O som que podemos ouvir é resultado de uma energia que se propaga em ondas, proveniente das vibrações de corpos elásticos. Estes são gerados por instrumentos que possam vibrar (movimento de “vai e vem”) como, por exemplo, uma corda, uma pele, uma coluna de ar. As vibrações destes materiais são transmitidas através de meios elásticos, chamados assim porque se deformam com a passagem da onda sonora. Após, então, restauram-se e voltam a sua forma original. Quando um objeto vibra na atmosfera, movimenta partículas de ar ao seu redor. O ar, então, leva estas vibrações através de ondas sonoras, dispersando-as em todas as direções. As partículas de ar se espalham e vão colidir com outras que estão próximas empurrando-as e, assim sucessivamente, produzindo a propagação sonora. Quando chegam até nós, causam variações no ouvido, estimulando determinados nervos a transmitirem impulsos elétricos que são interpretados pelo cérebro como som. Portanto, os sons são sensações que chegam aos nossos ouvidos através de ondas sonoras. A única proteção para os ouvidos é um elaborado mecanismo psicológico que filtra os sons indesejáveis, para se concentrar no que é desejável (Wisnik, p.29). Os olhos apontam para fora; os ouvidos, para dentro. Eles absorvem informações. Wagner (apud Schafer, 29) disse: “o homem voltado para o exterior apela para o olho, o homem interiorizado, para o ouvido”. Assim também Stephen Handel (1989, apud David J. Elliot, p.28) afirma que existe uma profunda diferença entre ouvir e olhar: “ouvir é centrípeto, te leva para dentro do mundo. Olhar é centrífugo: te separa do mundo”. A visão tende a nos distanciarmos dos objetos e os eventos que esta separa, fixa e distribui no espaço. A sensação que desperta é que as coisas do mundo estão “aí fora”, como objetos separados e distanciados. Ao contrário, o ouvir tende a favorecer a intimidade com o mundo, pois “olhar transforma a cada um de nós num observador concentrado; ouvir nos torna participantes envolvidos.” (Handel, 1989, apud Elliot, p.28). Também Bowman (1992, p.6, apud Elliot, p.28) referese a “experiência visual como pertencente às coisas de fora e a experiência sonora pertence aos eventos de dentro”. O som tem um potencial enorme para tranquilizar ou assustar, acalmar ou tencionar, para informar ou confundir. Na visão de Burrows (1990, p.21, apud Elliot) a visão nos faz sair e o som nos encontra aqui. Katia Klar Renner Fev. 14 Referências: ELLIOT, David J. Música, educação e valores musicais. In La transformación de la educación musical a las puertas del siglo XXI. Sociedad Internacional de Educación Musical Violeta Hemsy de Gainza (Editora). Buenos Aires: Editorial Guadalupe (s/d). SCHAFER, R. Murray. A afinação do mundo. Tradução Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Editora UNESP; 2001. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.