Aula 1: Acessos e Portos Membro: George Felipe • O acesso ao sistema vascular é necessário para o tratamento de condições patológicas complexas que ocorrem em vários pacientes, tendo como exemplos mais comuns o uso da via parenteral para nutrição, ou tratamento por quimioterapia ou por diálise. • A hemodiálise teve condição de se estabelecer como procedimento a partir do aperfeiçoamento das técnicas de acesso vascular, que evoluíram desde o século XIX com Thomas Graham, tendo Brescia desenvolvido, em 1966, a técnica até hoje considerada o ‘’padrão-ouro’’ para diálise, sendo ela conhecida como fístula de Brescia-Cimino. • Outro fator para o estudo do acesso vascular foi a necessidade de se infundir substâncias em um paciente, que desde 1952, com Aubaniac, já se destacava a veia subclávia para essa função, visto seu alto fluxo de sangue e sua facilidade de acesso. Hoje é usado os cateteres de duplo ou triplo lúmen que permitem que os acessos vasculares sejam usados na monitorização, diálise, nutrição, entre outras. • Indicações • Tipos de acessos vasculares Quando necessário: • Administração de medicamentos e soluções; • Monitorização hemodinâmica invasiva; • Realização de exames (angiografia, angioplastia, septostomia com balão, estimulação cardíaca artificial temporária, etc); • Hemodiálise; • Hemofiltração (plasmaferese); • Nutrição parenteral total • Acesso vascular externo • Acesso vascular interno • Enxertos sintéticos Caracteriza-se pela manutenção do acesso através de cateteres, tendo funções na diálise, nutrição e quimioterapia. • Deve primeiramente ser diferenciado o provável tempo de permanência do cateter. - Se por um curto período, pode ser feito por um cateter nãotunelizado dentro das veias subclávia, jugular interna, jugular externa ou femoral. • É indicado uso de doppler para visualização da condição do lúmen venoso, sendo padrão-ouro a venografia. • Os cateteres mais usados hoje são os de silicone ou poliuretano, e de luz dupla, que tem menor incidência de recirculação. A consistência também inibe lesões endoteliais. - Se de longa duração, faz-se necessário um cateter tunelizado. O uso de cateter com o manguito de dacron influência reduzindo risco de infecções. - É usado também o cateter de Tesio, que cursa como dois cateteres separados, permitindo um alto fluxo, maior que 400 mL/min. • Complicações - Secundárias à introdução do cateter - Pneumotórax - Lesão arterial - Lesão do ducto torácico - Embolia gasosa - Hemorragia - Lesão nervosa - - Posteriormente à colocação do cateter - Trombóticas - Infecciosas • Caracteriza-se pelo desenvolvimento de fístulas arteriovenosas naturais, sendo o padrão ouro a de Brescia-Cimino (rádiocefálica direta no punho). Este tipo destaca-se pelo fato de não importando o tipo de material sintético usado nos outros tipos, o índice de trombose é menor. • Os tipos básicos são: - látero-lateral, associado hipertensão venosa da mão - término-lateral - término-terminal, associado a elevadas taxas de trombose • Durante a investigação física do sistema arterial é fundamental a observância das características dos pulsos periféricos e resultado do teste de Allen. • A primeira escolha recai sobre a fístula radialcefálica por se tratar de uma via simples de ser criada, apresentar uma excelente perviedade após estabelecida, baixa morbidade, preservar um grande segmento de veia a ser puncionado ou para criação de outros acessos e apresenta poucas complicações quando comparada às demais. A maior desvantagem é um possível baixo fluxo, em comparação aos outros tipos de fístulas. • Quando não for possível confeccionar uma fistula no nível do punho, optamos por uma fistula braquial-cefálica no cotovelo. Sua vantagem é alto fluxo quando comparada a fistula no punho e a veia cefálica é uma veia fácil de puncionar e de se ocultar, o que garante um melhor efeito cosmético. As desvantagens da fistula no cotovelo quando comparada às fistulas no punho são a dificuldade de confecção, edema de membro superior e fenômeno do roubo. • Complicações - A mais comum se refere falência da maturação, seguida da estenose da extremidade venosa proximal, de aneurismas e tromboses. - Outros são a síndrome de roubo arterial e isquemia A fistula arteriovenosa com prótese de PTFE apresenta como vantagem uma larga superfície de punção, tecnicamente fácil de puncionar, curto período de maturação (não menos que 14 dias, idealmente entre 3 e 6 semanas), possibilidade de adequar a forma de construção da fístula, fácil de se construir. Desvantagens: custo, maior possibilidade de infecção, maior morbidade quando comparado aos demais, possibilidade de saturação do material que compõe a prótese. Uma adequada fístula com prótese de PTFE pode ter uma durabilidade de 3 a 5 anos. O material mais usado hoje é o PTFE, pois permite o crescimento de tecido endotelial no enxerto, o que reduz a incidência de trombose e infecção. Também apresenta menor incidência de aneurismas em relação a enxertos bovinos. Complicações - Hemorragia precoce - Hemorragia Tardia - Trombose precoce - Trombose tardia - Infecção • • • • Anatomia das veias superficiais Anatomia das veias profundas Vias de acesso percutâneo Vias de acesso venoso profundo Membro superior • As principais veias de punção para o acesso venoso percutâneo superficial, são as veias da fossa antecubital, mediana do antebraço, mediana do cotovelo, basílica e cefálica. Região Cervical Veia jugular externa • A veia jugular externa se extende do ângulo da mandíbula, cruzando por sobre o esterno-cleidomastóideo e ao nível do terço médio da clavícula desemboca na junção da veia subclávia com a veia jugular interna . Veia jugular interna • A veia jugular interna situa-se ântero-lateralmente à artéria carótida interna, na sua metade proximal sob o músculo esternocleidomastóideo e sua metade distal no triângulo formado pelas porções clavicular e esternal do músculo esternocleidomastóideo, e pela clavícula. Une-se com a veia subclávia sob o terço proximal da clavícula. Veia subclávia A veia subclávia é a continuação da veia axilar. Encontra-se inferiomente no triângulo escaleno-costoclavicular, formado anteriomente pelo terço medial da clavícula, posteriormente pelo músculo escaleno anterior e inferiormente pela primeira costela. A artéria subclávia e o plexo braquial encontram-se respectivamente superior e posterior a veia, sendo porém separados pelo escaleno anterior. Na metade inferior direita do manúbrio esternal, o tronco braquiocefálico direito é formado pela junção da veia jugular interna e subclávia direitas. Juntam-se ao tronco braquiocefálico contra-lateral para formar a veia cava superior. • As principais vias de acesso superficial por punção percutânea, são através das veias periféricas do antebraço e braço (veia mediana do antebraço, mediana do cotovelo, basílica, cefálica). • O acesso profundo é feito através das veias subclávia, jugular interna e femoral. • Krantz preconiza no atendimento inicial ao traumatizado inicialmente as veias periféricas do membro superior (fossa antecubital) e veia safena magna na região ântero-superior ao maléolo medial da tíbia. Seguindo-se das veias profundas subclávia, jugular e femoral. TÉCNICA DE ACESSO ÀS VEIAS SUPERFICIAIS - Paciente em decúbito dorsal, membro superior em extensão com rotação lateral (veias mediana do antebraço e cotovelo, basílica e cefálica). - Paciente em posição de Trendelemburg, rotação da cabeça para o lado contralateral da punção e leve pressão digital sobre a veia acima da clavícula (veia jugular externa). - Uso de garrote ou torniquete em porção proximal do local da punção no membro superior. - Remove-se a gordura com resina ou éter. - Antissepsia com álcool iodado ou iodopovidine no local da punção. - Pode-se realizar anestesia local com xylocaína 1% sem vasoconstrictor. - Introdução da agulha de punção percutânea formando com a pele um ângulo aproximado de 30 graus. Após puncionar-se a veia, prossegue-se introduzindo o cateter plástico no interior da veia e retirando-se progressivamente a agulha de punção. - Após a verificação do retorno sanguíneo no interior do cateter, fixamos o mesmo com fita adesiva e conectamos o equipo de soro. Cuidados gerais - Evitar o uso de substâncias hipertônicas (nutrição parenteral, cloreto de potássio e glicose). - Em caso de hematoma no local de punção, retirar a mesma e compressão local por 05 a 10 minutos. - Retirar a punção em caso de extravasamento de substância no subcutâneo, flebite e celulite. Complicações - Hematoma - Extravasamento de substâncias no subcutâneo - Flebite - Celulite • Punção percutânea da veia subclávia - acesso infraclavicular • Punção percutânea da veia jugular interna • Punção da veia femural Indicações: - Via de acesso venoso central para a infusão rápida de drogas - Monitorização da pressão venosa central - Nutrição parenteral - Administração de drogas hipertônicas - Passagem de cateter de artéria pulmonar (Swan-Ganz) e de marcapasso cardíaco Contra-indicações: -Distúrbios severos da coagulação (plaquetas menor que 50.000 e atividade de protombina menor que 50%) -Deformidades no local da punção (queimaduras, traumas, cirurgias e fraturas) -Pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica -Pacientes com terapêutica com anticoagulante oral COMPLICAÇÕES: Específicas da cateterização Pneumotórax Hemotórax Punção arterial Arritmia cardíaca Lesão do ducto torácico Inespecíficas da cateterização Infecção Trombose venosa profunda Embolia gasosa Secção do cateter TÉCNICA - Colocar o paciente em posição de Trendelemburg. - Hiperextensão do pescoço, colocando coxins por sob os ombros. - Rotação contra-lateral da cabeça ao lado da punção. - Remove-se a gordura com resina ou éter. - Antissepsia com álcool iodado ou iodopovidine. - Colocação de campos estéreis. - Vestir máscara, gorro, avental e luvas estéreis. - Anestesia local com xylocaína 1% sem vasoconstrictor. - Punção infra-clavicular na junção do terço proximal com o terço médio da clavícula, em direção a fúrcula esternal. - Introduzir lentamente a agulha de punção, exercendo discreta aspiração, até o momento do refluxo de sangue. - Desconectar a seringa da agulha de punção e introduzir o cateter até ao nível do átrio direito. - Retirar a agulha de punção da veia puncionada e conectar o cateter com o equipo de soro. - Fixação do cateter na pele com fio inabsorvível. - Curativo. Cuidados gerais pós-procedimento - Auscultar ambos os pulmões, verificando se os ruídos respiratórios são simétricos. - Exame radiológico do tórax, para a confirmação da posição do cateter e para excluir alterações pulmonares. - Examinar e trocar diariamente o curativo. COMPLICAÇÕES Oscilam de 0,4 a 22%. O domínio da técnica reduz para níveis mínimos. Específicas da cateterização - Pneumo/ ou hemotórax - O pneumotórax incide entre 0,5% e 10%, nas punções de subclávia e é sua complicação mais frequente. Igualmente na punção de jugular interna, segundo algumas casuísticas. Punções infraclaviculares em direção à fúrcula esternal com direção ascendente, costumam evitá-la. Em ambos, pneumo ou hemotórax, realiza-se drenagem torácica fechada. - Punção arterial - Retira-se a agulha de punção e realiza-se compressão digital por 10 minutos. - Arritmia cardíaca - Evitar a progressão rápida do cateter através da veia cava superior, átrio direito e ventrículo direito pois pode haver estimulação cardíaca. - Lesão do ducto torácico - Pouco frequente, ocorre quando realiza-se a punção na subclávia esquerda. Inespecíficas da cateterização - Infecção A infecção é decorrente de contaminação durante a punção venosa. Ferro e cols. obtiveram um índice global de infecção de 34%, sendo os Estafilococus e as Pseudomonas os germes mais frequentes, resultados que se superpõem à literatura7,8. Novos tipos de catéteres têm sido propostos na tentativa de prevenir esta complicação10. - Trombose venosa profunda A ocorrência de trombose venosa profunda de veia subclávia não é comum, havendo trombose retira-se o cateter e realiza-se heparinização sistêmica. - Embolia gasosa De incidência rara, previni-se colocando-se o paciente em posição de trendelemburg e evitando-se a aspiração de ar através da agulha de punção. - Secção do cateter Nestes tipos de cateter que são introduzidos através da agulha de punção, evita-se a retirada do cateter através da agulha, pelo risco de secção do mesmo. Se necessário, retira-se todo o conjunto, cateter e agulha. Indicações Semelhantes ao acesso de veia subclávia infra-clavicular. - Pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica. Contra-indicações - Semelhantes ao acesso da veia subclávia infra-clavicular. - Lesões traumáticas e queimaduras cervicais. TÉCNICA - Colocar o paciente em posição de Trendelemburg - Hiperextensão do pescoço, colocando coxins sob os ombros - Rotação contra-lateral da cabeça ao lado da punção - Remove-se a gordura com resina ou éter - Antissepsia com álcool iodado ou iodopolvidine - Colocação de campos estéreis - Vestir máscara, gorro, avental e luvas estéreis - Anestesia local com xylocaína 1% sem vasoconstrictor - Palpar e desviar medialmente a artéria carótida comum - Puncionar a veia jugular interna, no ápice do triângulo formado pelas porções esternal e clavicular do esternocleidomastoideo, tendo como base a clavícula. - Introduzir lentamente a agulha de punção, excendo discreta aspiração, até o momento do refluxo de sangue - Desconectar a seringa da agulha de punção e introduzir o cateter até ao nível do átrio direito - Retirar a agulha de punção da veia puncionada e conectar o cateter com o equipo de soro - Fixação do cateter na pele com fio inabsorvível - Curativo O auxílio com ultra-som, tem sido empregado para facilitar esse tipo de punção. COMPLICAÇÕES Específicas da cateterização - Punção arterial É a punção da artéria carótida comum é a complicação mais frequente, retira-se a punção e realiza-se compressão digital por 10 minutos. - Punção de outras estruturas Punção de traquéia, tireóide e timo, realiza-se a retirada da punção sem maiores consequências - Hematomas cervicais Principalmente em pacientes com distúrbios de coagulação e renais crônicos, devemos ter mais cuidado com punção inadvertida de artérias, retirando-se a agulha de punção e compressão digital mais demorada e controle adequado da pressão arterial. Inespecíficas da cateterização Semelhantes as do acesso à veia subclávia. Indicação Impossibilidade de acesso subclávio e jugular interno. Contra-indicações Semelhante ao acesso da veia jugular interna. TÉCNICA - Colocar o paciente em posição de decúbito dorsal. - Remove-se a gordura com resina ou éter. - Antissepsia com álcool iodado ou iodopolvidine. - Colocação de campos estéreis. - Vestir máscara, gorro, avental e luvas estéreis. - Anestesia local com xylocaína 1% sem vasoconstrictor. - Palpar e desviar medialmente a artéria femoral comum. - Puncionar a veia femoral comum, lateramente a artéria femoral comum a 1 centímetro abaixo do ligamento inguinal. - Introduzir lentamente a agulha de punção, exercendo discreta aspiração, até o momento do refluxo de sangue. - Desconectar a seringa da agulha de punção e introduzir o cateter até ao nível do átrio direito. - Retirar a agulha de punção da veia puncionada e conectar o cateter com o equipo de soro. - Fixação do cateter na pele com fio inabsorvível. - Curativo. COMPLICAÇÕES Específicas da cateterização Punção de artéria femoral comum. Retira-se a agulha de punção e compressão digital por 10 minutos. • Inespecíficas da cateterização Semelhante ao acesso da veia jugular interna