ARTIGO DE MONOGRAFIA APRESENTADO AO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM PEDIATRIA DO HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA HMIB/SES/DF Descrição do Projeto Piloto de uma Nova Técnica de Exsanguineotransfusão Marcela Santos Corrêa da Costa Orientador: Carlos Moreno Zaconeta www.paulomargotto.com.BR Brasília, 28 de novembro de 2014 Introdução Exsanguineotransfusão (EST): ◦ Desenvolvida nos anos 40 e aprimorada por Diamond e col. em 1948 ◦ Retirada do sangue para substituição de um doador ◦ Principal indicação: Hiperbilirrubinemia Neonatal ◦ Bhutani e col. (2010): Encefalopatia Bilirrubínica: - 100.000 mortes ao redor do mundo - 83% dos pacientes apresentavam sequela Introdução EST: ◦ Realizada manualmente através da retirada - e posterior transfusão - de múltiplas alíquotas de sangue por um acesso venoso profundo, utilizando um cateter central conectado a duas torneiras de três entradas Fonte: www.paulomargotto.com.br Introdução O pesquisadores deste estudo formularam uma técnica alternativa de EST automatizada Modelo Teórico: ◦ Punção de uma veia central com cateter duplo lúmen ◦ Extração e infusão de sangue realizadas de maneira simultânea através de duas bombas de infusão ◦ Mesma velocidade de infusão/extração ◦ Aferição da PAI para demonstrar estabilidade do processo Introdução Técnica inicialmente deve ser testada em modelos animais Optou-se pela espécie ovina: modelo ideal em estudos em neonatologia Estudo piloto: verificar a viabilidade do processo e identificar empecilhos na técnica Objetivos Objetivo geral: ◦ Descrever a realização do projeto piloto da linha de pesquisa vigente Objetivos específicos: ◦ Descrever todas as dificuldades encontradas no processo. ◦ Sugerir possíveis soluções para os problemas encontrados Métodos Estudo realizado no Hospital Veterinário Escola de Grandes Animais da Granja do Torto da Universidade de Brasília (HVET/UnB) Aprovado pela Comissão de Ética em Uso Animal (CEUA/UnB), sob o protocolo: 102279/2014 Métodos Modelo experimental: ◦ ◦ ◦ ◦ Espécie: ovina Raça: Santa Inês Fêmea, 6 meses Peso: 14,5 kg ◦ Procedência: Fazenda Água Limpa (UnB). Mantido em baia apropriada para a espécie no HVET/UnB Fornecidos ração comercial para ovinos (2x/dia), sal mineral específico para ovinos e água à vontade Acompanhado por veterinários durante todo período experimental Anestesia e Monitorização: Métodos ◦ Jejum alimentar por 18 horas e hídrico por 2 horas ◦ Tricotomia nos locais de punção dos acessos ◦ Punção em veia cefálica em membro torácico esquerdo (jelco nº 22) e iniciado infusão com SF 0,9% (10 mL/kg/h) ◦ A anestesia induzida com propofol (10 mg/kg) ◦ Submetido à IOT - lâmina reta nº 04, tubo nº 5,5 ◦ TOT conectado a um circuito anestésico valvular semifechado - animal permaneceu sob ventilação espontânea. ◦ Anestesia mantida com isofluorano inalatório em oxigênio 100% ◦ Monitor multiparamétrico Dixtal avaliou FC e SatO2 ◦ Registradas a PA não invasiva e a temperatura retal ◦ Os sinais vitais aferidos a cada 15 minutos ◦ Plano anestésico foi mantido de acordo com os sinais clínicos. Métodos Diversas tentativas de punção de artéria periférica para aferição da PAI: sem resultados satisfatórios Punção de artéria auricular média E com jelcos nº 22 e 24 - sem sucesso Dissecção da artéria femoral direita - sem sucesso. Exsanguineotransfusão Punção de acesso central em VJE com cateter duplo lúmen - fixado com cola instantânea (Super Bonder®) - rotina do HVET Esperava-se extração /transfusão de 1000 mL de sangue de um doador – calculado vazão para 2h (500mL/h) Equipo para transfusão de hemoderivados não estava disponível - vazão da transfusão controlada pelo gotejamento (276mL/h), bolsa de sangue conectado ao lúmen distal do catater Conectado um equipo preenchido com SF 0,9% no lúmen proximal do cateter - acoplado à bomba de infusão volumétrica (marca B.Braun, modelo: Infusomat Compact) Bomba de infusão foi montada invertida, de forma a extrair o sangue do paciente, na vazão de 500 mL/h, conectado a uma bolsa de sangue vazia. Resultados Extração de sangue iniciou com bom fluxo, porém perdeu a velocidade até cessar - trocado o equipo por preenchido com solução heparinizada (500ml SF 0,9% : 1 mL heparina) – melhora do fluxo Novamente fluxo baixo: trocada a posição dos equipos 20min: coágulos no sistema - necessário cortar a ampulheta do equipo - sangue extraído passou a ser direcionado para um recipiente de forma a poder contabilizar a quantidade de sangue extraído Transfusão sanguínea: diminuição do fluxo para 74gotas/minuto (222 mL/h) Resultados Lavagem do sistema de extração com solução heparinizada (2x) e do cateter (4x) Conectado three-way para facilitar a lavagem do equipo- extração diminuiu – retirado Superficialização do plano anestésico: administrado 1,0 mL de propofol IV (2x) Sinais vitais mantiveram-se estáveis - exceto por hipotermia - melhora após medidas de controle do ambiente e compressas mornas Ao final do procedimento: foi possível extrair /transfundir 300 mL de sangue do ovino Resultados Cessado manutenção anestésica com isofluorano e animal foi extubado Evoluiu com obstrução parcial das vias aéreas superiores - instilação intranasal de solução com efedrina Clinicamente estável - retirados os acessos venosos e o paciente foi levado à sala de recuperação em bom estado geral Discussão Modelo experimental: aferição da PAI para demonstrar a estabilidade do sistema – impossibilitada pela dificuldade de punção de artéria periférica do animal ◦ Realizar cirurgia de transposição de carótida nos animais para subsequente medição da PAI dos ovinos Transfusão e extração não foram mantidas na mesma vazão ◦ A equipe de pesquisa já providenciou os equipos adequados para transfusão de hemoderivados para o próximo teste Equipo para extração foi preenchido inicialmente apenas com soro fisiológico 0,9% ◦ Sistema deve ser heparinizado inicialmente Discussão Diminuição do fluxo do sistema conectado à bomba para extração de sangue ◦ O contato do sangue com material estranho gera ativação da cascata da coagulação e formação de coágulos de fibrina ◦ Lavagem do cateter central com solução salina heparinizada inicialmente, ◦ “Flushes” com a solução conforme a necessidade ◦ Preencher o equipo para extração com solução heparinizada antes de iniciar o procedimento ◦ Manter um fluxo contínuo do sangue no sistema para que não haja estase no circuito, o que contribui para o processo de coagulação Discussão Dificuldades citadas foram avaliadas e aprimoradas para manter um fluxo adequado nos próximos modelos testados O estudo será realizado em cinco ovinos, amostra calculada segundo apuração simples e os resultados serão analisados para avaliar a viabilidade e os riscos da técnica, com a finalidade de realizá-la com segurança em RN. Conclusão No modelo descrito foi possível realizar a exsanguineotransfusão de 300 mL de sangue do ovino através de bomba de infusão. A realização do piloto foi importante na detecção das dificuldades em relação ao material e possíveis problemas com a técnica empregada. Contar com equipo de infusão específico para hemoderivados, além de manter um sistema de extração que evite a coagulação dentro do circuito são necessários. Também devemos recorrer à transposição de carótida nos ovinos, o que permitirá a aferição da pressão arterial invasiva durante a pesquisa. Os resultados deste projeto possibilitaram a implementação da técnica experimental, assim como a perspectiva de aprimoramentos futuros baseados em novas pesquisas em animais, para que, posteriormente, possa ser realizada com segurança em seres humanos Agradecimentos Ao Dr Ricardo Almeida (HVET/Unb) À Dra Cristina (HVET/UnB) Ao Dr Carlos Zaconeta (UTI neo/HMIB) À Dra Gabriela Melara (UTIneo/HMIB) Ao Dr Diogo Pedroso (UTIneo/HMIB) Referências Bibliográficas Tragante CR, Ceccon MEJ, Falcão MC. Desenvolvimento dos cuidados neonatais ao longo do tempo. Revista de Pediatria (São Paulo) 2010;32(2):121-30. 2. Lobo AHG, Ramos JRdM, Moreira MEL, Pessoa MC. O recém-nascido de alto risco: teoria e prática do cuidar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 2004. Available from: http://books.scielo.org/. 3. Diniz EMA, Albiero AL, Ceccon MEJ, Vaz FAC. Uso de sangue, hemocomponentes e hemoderivados no recémnascido. Jornal de Pediatria 2001;77(1):104 -14. 4. American Academy of Pediatrics Subcommittee on H. Management of hyperbilirubinemia in the newborn infant 35 or more weeks of gestation. Pediatrics. 2004;114(1):297-316. 5. Bhutani VK, Zipursky A, Blencowe H, Khanna R, Sgro M, Ebbesen F, et al. Neonatal hyperbilirubinemia and Rhesus disease of the newborn: incidence and impairment estimates for 2010 at regional and global levels. Pediatric research. 2013;74 Suppl 1:86-100. 6. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. Intervenções Comuns, Icterícia e Infecções. Mistério da Saúde. 2011. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1461. 7. Ministério da Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa(Brasil). Resolução Nº196/96 versão 2012. 8. Diretriz Brasileira Para o Cuidado e a Utilização De Animais Para Fins Científicos e Didáticos (Dbca). Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Conselho nacional de controle de experimentação animal - CONCEA. 2013. Disponível em: http://www.cobea.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=20. 9. Gouvêa LV. Surgical Preparation of a Permanent Carotid Transposition in Sheep. Surgical Science. 2011;02(07):402-5. 10. Garcés EO, Victorino JA,Veronese FV. Anticoagulação em terapias contínuas de substituição renal. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(5):451-5. 11. Gaínza FJ. Problemas de coagulación de los circuitos extracorpóreos y estrategias para mejorar la duración de los filtros. Nefrologia.27(3):166-77. 12. Eng J. Sample size estimation: how many individuals should be studied? Radiology. 2003;227(2):309-13. 1.