O PROJOVEM E O NOVO DINAMISMO ECONOMICO: desafios da qualificação profissional1 Eliana Monteiro Moreira Professora Doutora /Universidade Federal da Paraíba/Brasil. [email protected] Maria da Salete Barboza de Farias Professora Doutora /Universidade Federal da Paraíba/Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO: O texto reflete as implicações da retomada da agenda desenvolvimentista no Brasil sobre as políticas de qualificação e formação profissional, com foco no PROJOVEM. O estudo se situa no Nordeste brasileiro tendo como espaço o estado de Pernambuco e nele, o Complexo Industrial Portuário de SUAPE/PE. O Complexo constitui o carro chefe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que expressa a nova agenda de desenvolvimento do governo de Luis Inácio Lula da Silva (20072010) e tendo continuidade com o PAC2 no governo de Dilma Rousseff (2011-2014). Pretendemos conhecer o desempenho do PROJOVEM na região, e em que medida este Programa vem atendendo em nível local as novas demandas do setor empresarial, assim como às necessidades dos trabalhadores tornando-o mais apto a se reposicionar diante da vida, do seu trabalho e da realidade. Palavras chave: PROJOVEM; Qualificação Profissional; Desenvolvimento Introdução As políticas públicas de qualificação do segmento jovem já têm uma trajetória que se faz longa no tempo. Com um breve recuo podemos acompanhar os seus momentos de inflexão e retrocesso com características diversificadas. Faremos uma passagem pelas gestões de Fernando Henrique Cardoso para localizar o enfoque dado neste governo às questões da educação terminando por nos centralizar nestas duas últimas décadas quando assume o poder Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Com a chegada de Lula ao poder em 2003 volta-se para se recolocar o debate sobre a questão da pobreza passando a partir de então a criar um ambiente público de debates para buscar saídas para a superação da pobreza. Várias foram as conferências nacionais sobre trabalho e emprego, saúde, assistência social, a questão da mulher entre outros. Foi constituída também a constituição do Conselho Econômico e Social – CDES 1 Este texto parte das reflexões de um projeto integrado de pesquisa elaborado e coordenado por Roberto Véras de Oliveira e demais integrantes do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Trabalho – LAEPT/UFPB (2012), intitulado: ”O novo desenvolvimentismo no Brasil visto a partir de suas implicações sociais no Nordeste”. e do Fórum Nacional do Trabalho – FMT, além de outras iniciativas. A educação passa a ser alvo de expressivos investimentos. A redução do Estado proposto pelo governo anterior neste momento, ao contrário, entra como indutor e balisador do processo de desenvolvimento econômico e social. Várias foram as políticas públicas voltadas para o segmento de jovens quebrando a imagem negativa a ele atribuída como elemento desviante associado muitas vezes ao mundo da criminalidade, da violência e da droga. Em 2007 se acentua a retomada da agenda desenvolvimentista, e nas orientações dela advindas busca criar mecanismos para tentar resolver os graves problemas sociais que o país vinha vivenciando, principalmente a superação do desemprego e a construção da cidadania. Com isso, assiste-se a criação de um conjunto de políticas que viabilizasse a proposta desenvolvimentista, tendo como postura a de assegurar também a promoção do desenvolvimento humano como foco nas políticas sobre qualificação e formação profissional. A retomada deste debate, diante da complexidade com que vem se revestindo, nos fizeram revisitar as abordagens teóricas construídas até então e que marcaram as discussões sociológicas do pós guerra até a passagem aos anos 1980 a exemplo de Furtado (1992; 2000); Ridenti (2009); Fiori (2012); Oliveira (1987). O que estes autores vem discutindo agora no inicio do século XXI e com igual força tem girado sobre as novas configurações que a globalização vem imprimindo às sociedades entre as quais a realidade brasileira com suas distintas realidades regionais. Consideramos que a atual agenda desenvolvimentista está inserida no Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – implementada pelo Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010) considerado a figura chave deste novo debate definindo em suas prioridades, investimentos de grande porte voltados para a construção e requalificação da infraestrutura. Esta política vem tendo continuidade através do PAC2 no governo de Dilma Rousseff (2011-2014) que reforça seu discurso desenvolvimentista como saída à crise contrapondo-se assim a perspectiva monetarista que vê no corte dos investimentos estatais, dos gastos públicos, e no aumento dos impostos as medidas adequadas para sua superação. Um dos objetivos fundamentais do PAC foi o de assegurar a superação de um dos gargalos maiores da economia – a questão da infreestrutura – aplicando para isto enormes investimentos, ao lado de procurar aumentar a produtividade das empresas, estimulando capital privado para gerar emprego e renda, e reduzir as desigualdades regionais. O cenário social mais amplo de nossas reflexões e pesquisa se situa no Nordeste brasileiro, tendo como espaço específico o estado de Pernambuco, e nele o Complexo Industrial Portuário de SUAPE, empreendimento situado na Região Metropolitana de Recife – carro chefe do dinamismo econômico e desenvolvimentista da região. O Complexo Portuário Industrial de SUAPE se insere no Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, iniciado, conforme anunciamos acima, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010) e tendo continuidade no Governo Dilma Rousseff (20112014). Neste contexto, um dos focos da recente agenda desenvolvimentista refere-se a qualificação e a formação profissional do jovem trabalhador, alimentando assim a política social do Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária – PROJOVEM. Este Programa é destinado a formação e preparação da juventude para participar ativamente como sujeito social em um momento em que esta participação é reivindicada pelos diversos setores sociais e econômicos da sociedade moderna. A esse respeito Mannheim (1968) assinala que a juventude passa a ser considerada “reserva vital das sociedades modernas; espécie de acúmulo energético, físico e mental somente posto em evidência em circunstâncias singulares, especialmente em situações que reivindicam necessidade de ajustamento a mudanças drásticas e imediatas. Diante da efervescência que a região nordeste, particularmente o Estado de Pernambuco, vem vivenciando nestes últimos anos com a abertura de novas ocupações e com a implementação de políticas públicas para acompanhar este dinamismo desenvolvimentista, pretendemos refletir sobre as seguintes indagações: Que reverberações as transformações econômicas vem produzindo no Estado de Pernambuco nos últimos anos, por conta da ativação do Complexo Industrial Portuário de SUAPE? que impactos, vêm provocando nas políticas sociais implementadas na região, especialmente, no que se refere ao PROJOVEM? Em que a política do PROJOVEM vem contribuindo para a inserção dos jovens trabalhadores de forma a melhorar a sua condição de vida e cidadania? Com o fim de refletirmos sobre estas questões, estruturamos o texto iniciando com breve histórico sobre ‘agenda desenvolvimentista no Brasil e políticas de qualificação’; depois faremos reflexões sobre “qualificação, formação profissional e as ações do PROJOVEM”; e no momento seguinte vamos situar o ‘SUAPE e o PROJOVEM na região metropolitana de Pernambuco’ com a dinamização do Complexo Portuário, para por fim, fazer ‘considerações’ que embasam as nossas reflexões atuais. Agenda desenvolvimentista no Brasil: do PAC às políticas de qualificação Tratar sobre este tema no Brasil nos remete a Bresser Pereira um dos seus estudiosos, que em um dos trabalhos (2003) procurou situar o país na retomada de políticas voltadas para o desenvolvimento, diante do fracasso da “ortodoxia neoliberal”, procurando garantir estabilização macroeconômica e crescimento. O referido autor Bresser Pereira (2003) coloca a possibilidade de se constituir, na América Latina e no Brasil, uma nova política econômica, baseada em uma nova estratégia nacional de desenvolvimento, denominado por ele de um “novo desenvolvimentismo”. Bresser Pereira (2006) sugere a necessidade de uma estratégia nacional de desenvolvimento, mas sem protecionismo e sem transigir com a frouxidão fiscal e com a inflação, devendo estar baseada em uma indústria competitiva voltada à exportação, sob um ambiente de abertura comercial negociada e ancorada em reciprocidades. A sua proposta pressupõe um Estado e Mercado fortes, bem como políticas públicas permanentes e flexibilização das relações de trabalho, mas sem precarização. Muito se tem discutido essa perspectiva desenvolvimentista no sentido de questionar se para levar a frente este projeto haveria uma imperiosa necessidade de fato de se promover uma reestruturação empresarial e uma reforma administrativa do Estado, como ele propõe como condição de tornar a economia mais competitiva. Outros estudiosos têm argumentado que isto só será possível com o fortalecimento do “empresariado nacional” como “núcleo endógeno” do desenvolvimento, associado a um “Estado forte” e a um “pacto nacionalista”, capaz de garantir a defesa dos interesses nacionais. É preciso que o país passe à condição de exportador de manufaturados, dotando-se de capacidade própria de inovação tecnológica e de financiamento. Para isso, a exemplo da Coréia do Sul, necessitará lançar mão de um protecionismo seletivo e realizar fortes investimentos em capital humano. É de se registrar, entretanto que esta perspectiva se afasta da de Bresser Pereira por atribuir uma ênfase maior à dimensão social do desenvolvimento: sob a defesa da compatibilização entre crescimento econômico e equidade social (VÉRAS DE OLIVEIRA, 2012). Importante são as reflexões de Marcio Pochamann (2012), trazendo à discussão a oportunidade criada com a crise global com vistas a um novo impulso desenvolvimentista na América Latina e no Brasil. Para ele no caso no Brasil, o desgaste do neoliberalismo reanimou o compromisso da maioria política emergente com o crescimento da economia. Entretanto, duas alternativas estariam postas: uma mais orientada à exportação de commodities e a outra mais referida a investimentos em valor agregado e em conhecimento. Apenas neste último caso seria possível caminhar na direção da superação do subdesenvolvimento. Para se avançar na segunda direção será preciso: implementar um processo de reorganização do Estado, com a integração das políticas públicas entre si (políticas econômica e social), garantindo uma prioridade para a questão social; um maior apoio às pequenas e médias empresas; a adoção de uma política fortemente redistributiva (reforma tributária). Bielschowsky (2000) retoma as cinco correntes que historicamente disputaram no Brasil a era desenvolvimentista: a liberal (referência principal: Eugênio Gundin); o desenvolvimentismo do setor privado (com Roberto Simonsen à frente); o desenvolvimentismo do setor público não-nacionalista (proposto sobretudo por Roberto Campos); o desenvolvimentismo público nacionalista (expresso no pensamento da Cepal e do Iseb, tendo como principal referência Celso Furtado); e o projeto socialista do PCB. Nos anos 1960 aos 1980, registra-se um processo de críticas ao desenvolvimentismo, produzidas em uma perspectiva de esquerda: de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, passando por Maria da Conceição Tavares, Paul Singer e Francisco de Oliveira, até João Manuel Cardoso de Mello, entre outros. As críticas iam no sentido de mostrar que a perspectiva desenvolvimentista omitiu as contradições de classes, ao priorizar as contradições entre nações. Com o “Milagre”, o tema do desenvolvimento ganhou uma versão de direita (segurança e desenvolvimento), tendo saído gradativamente do foco dos estudiosos da esquerda. Depois veio a onda neoliberal e, mais recentemente, com o seu esgotamento, surgiu um novo espaço para novas elaborações sobre a presença do Estado no planejamento da economia. Recentemente, com a retomada do crescimento econômico e um maior incremento nas políticas sociais, quando se observam modificações nos indicadores sociais e do trabalho, alguns estudos vêm procurando compreender o boom do desenvolvimento atual. Neste sentido, Baltar, Krein e Leone (2009: 44-45) assim se expressam: A reativação da economia brasileira, a partir de 2004, num contexto de manutenção do elevado superávit primário, provocou crescimento das oportunidades de emprego e crescente formalização das relações de trabalho [...] O impacto da retomada da economia em termos de modificar o mercado de trabalho é limitado, exigindo muitos anos de intenso crescimento econômico, mesmo porque deverá continuar a expressiva intensidade da ampliação da população ativa [...] Neste contexto o discurso do governo tem situado este dinamismo econômico como expressão de um novo élan desenvolvimentista. O final do primeiro mandato do governo de Luis Inácio Lula da Silva tem sido referido como o período que marca o início do discurso do Governo Federal sobre o novo desenvolvimentismo tônica esta que vai se manter nas ações que dão suporte ao seu segundo mandato. Trata-se do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) lançado em 2007 - figura chave deste novo desenvolvimentismo definindo em suas prioridades, investimentos de grande porte voltados para a construção e requalificação da infraestrutura. Coube à Ministra da Casa Civil do presidente Lula, Dilma Roussef, a coordenação do Programa, tornando-se também sua principal auxiliar e mais tarde indicada à sua sucessão. Assumindo a presidência, ela continuará a dar ao PAC a centralidade atribuída ainda em campanha e todas as suas ações vão convergir para o seu constante fortalecimento. Reafirmando o discurso desenvolvimentista do segundo governo de Lula, Dilma se volta para ampliar e aprofundar as ações executadas, e no tentar superar a crise financeira internacional de 2009 adota como estratégia aumentar sua atenção ao PAC já que na definição das prioridades havia sido decidido por ações que assegurassem o estímulo aos investimentos em infraestrutura, ao mercado interno, ao setor produtivo e à geração de emprego e renda. Com o êxito dessas ações postas em prática, Dilma reforça seu discurso desenvolvimentista como saída à crise contrapondose assim a perspectiva monetarista que vê no corte dos investimentos estatais dos gastos públicos e no aumento dos impostos, as medidas adequadas para sua superação (OLIVEIRA, 2012). O PAC, em sua primeira versão inaugurada no inicio da segunda gestão de Lula, defendia que os ajustes fiscais e administrativos implementados durante o seu primeiro mandato em um contexto internacional favorável, propiciariam novos estímulos para a retomada do crescimento econômico, desta vez associado a política de distribuição de renda. Este enfoque desenvolvimentista adotado pelo governo vê no Estado o papel de indutor do crescimento econômico, ratificando seu compromisso com a geração de emprego e renda mesmo dentro dos limites ditados pelos compromissos macroeconômicos. Segundo Pêgo & Campos Neto (2008) são acordes em mostrar a relevância do PAC, ao objetivar as seguintes metas: “a) investimento em infraestrutura; b) estímulo ao crédito e ao financiamento; c) melhora do ambiente de investimento; d) desoneração e aperfeiçoamento do sistema tributário; é) medidas fiscais de longo prazo”, (p.07). O Programa vai manter como parâmetro alguns princípios próprios da perspectiva monetarista, como a questão do equilíbrio fiscal amparado no controle do câmbio e dos juros, como forma de assegurar as novas estratégias desenvolvimentistas. Toda a tônica do PAC nesta fase foi a de encontrar meios para superar uma das grandes deficiências da economia brasileira responsáveis pela queda da competitividade – a questão da infraestrutura, ao lado de procurar aumentar a produtividade das empresas, estimulando os investimentos privados para gerar emprego e renda e reduzir as desigualdades regionais. Os documentos oficiais mostram que foram dadas fortes injeções financeiras até o final de 2010 nos setores de energia, transporte, habitação, saneamento e recursos hídricos. Datam deste período a criação das Usinas Hidroelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, da Usina Termelétrica de Pecém, no Ceará, da Transposição do Rio São Francisco e da Ferrovia Transnordestina no Nordeste, e da construção da Refinaria Abreu e Lima da Petrobrás em Pernambuco, além de um leque de programas de grande impacto social como: o “Minha Casa Minha Vida” o “Luz para Todos” voltados para os setores de habitação e de distribuição de energia respectivamente para as camadas mais empobrecidas da população.. Em 2010 o governo lança o PAC 2 que vai reafirmar os eixos estruturantes do Programa: transportes, energia, Cidade Melhor, Comunidade Cidadã, Minha Casa Minha Vida, Água e Luz para Todos. A construção da Usina Hidroelétrica de Belo Monte no Pará, que segundo o governo será a terceira maior do mundo, foi integrada pelo PAC ao setor de energia (BRASIL, 2012). Apesar de toda mobilização da economia provocada pelo PAC, não têm sido poucas as críticas que a ele se dirigem: para alguns, há ações desconectadas de outras ações estratégicas do Governo nos campos econômico e institucional, conferindo, com isso, um caráter mais emergencial do que de longo prazo às medidas; outros colocam que as obras de infraestrutura se voltam mais para reforçar o setor de exportação de commodities,contribuindo para agravar a dependência externa, especialmente quanto ao papel econômico das regiões periféricas, como é o caso da Amazônia (KUPFER, 2007). Embora enfrentando todas essas críticas, o PAC tem mantido uma dinâmica constante de expansão. Os sucessivos recordes de arrecadação fiscal, o aumento do consumo, o conseqüente aquecimento do mercado interno, a ampliação do trabalho formal, respondem por esta expansão. Os investimentos privilegiados pelo PAC, se tem favorecido a competitividade da economia nacional, tem também aplicado recursos expressivos em saneamento básico, tratamento de água e esgoto, habitação popular e, ao lado de um conjunto de outras políticas, como a capitaneada pela Bolsa Família, vem assegurando uma melhor distribuição de renda e elevado significativamente o nível de consumo dos segmentos mais pobres da população. Mesmo reconhecendo os avanços que a realidade vem conhecendo com a aceleração da economia que o país vem vivenciando nessas últimas décadas, tornam cada vez mais evidentes os desafios e as dificuldades que envolvem a construção de uma agenda desenvolvimentista no sentido de conseguir assegurar de forma adequada o crescimento econômico as questões da equidade social e regional e as questões educacionais, sobretudo aquelas relacionadas as questões de formação e qualificação. Este é um dos impasses que o debate sobre o desenvolvimento continua a expressar e se mantém em aberto e cada vez mais central nas agendas social, política, econômica e educacional, sobretudo quando sabemos que a educação e um dos elementos fundamentais para o desenvolvimento satisfatório e equilibrado de um pais. Dentro desta preocupação com a formação e a qualificação o PAC reservou um investimento significativo para a criação de política pública voltada para jovens em situação de vulnerabilidade social - PROJOVEM que, com seus cursos e ações vem viabilizando a inserção no mercado de trabalho desses jovens, capacitando-os ao enfrentamento dos novos desafios do mercado de trabalho. Conforme anunciamos aqui se situa o foco de nosso interesse – o PROJOVEM. O recorte deste tema tem também o seu recorte espacial - o cenário do Complexo Industrial e Portuário de SUAPE, enquanto empreendimento que vem dinamizando a agenda desenvolvimentista do Estado de Pernambuco em sua fase atual e, conseqüentemente, vem trazendo desdobramentos nos diversos setores -econômicos, sociais, culturais e educacionais - não só para o município sede, como para os municípios do entorno do Complexo, particularmente Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, que formam o chão mais direto de nossas investigações. Vale ainda salientar que em ação conjunta com o governo federal o Governo de Pernambuco instalou escolas técnicas em vários municípios de SUAPE, além de ter criado uma unidade do SENAI dentro do próprio Complexo. Junta-se a estas iniciativas a implementação de ações/programas do governo federal, a exemplo do PROJOVEM, em parceria com a Secretaria da Educação e instituições da sociedade civil, com o objetivo de promover e assegurar a capacitação/formação da mão de obra, com especial atenção aos segmentos jovens da região. Qualificação e formação profissional: o PROJOVEM em ação O programa de qualificação profissional tem se constituído em importante estratégia de ação do Estado. Ele tem como principal preocupação aliar à superação do desemprego a introdução também do debate voltado para a contribuição da construção social da cidadania. Neste particular destacamos a política de formação profissional com o intuito de propiciar a participação qualitativa dos sujeitos na dinâmica da sociedade. Vale registrar que com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394/1996, a sua regulamentação data especialmente com o Decreto n. 2.208/97 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino técnico e o ensino médio (BRASIL, CNE, 1998a, 1998b, 1999a, 1999b). O conteúdo deste Decreto foi objeto de discussão pelos mais diversos setores da sociedade brasileira, principalmente da ala progressista tendo como argumento que com esta formulação a formação profissional não contribuiria para a democratização do ensino e nem para a sua qualidade. Na verdade parte da política de educação profissional tinha como objetivo atender a demandas por qualificação e requalificação profissional da população adulta de baixa escolaridade mediante a oferta de cursos de curta duração, a nosso ver de forma aligeirada e fragmentária, dissociados da educação básica e de um plano de formação continuada. Desde a promulgação da LDB que a sociedade em suas instâncias organizativas luta pela construção de uma regulamentação que de fato atenda aos desejos e necessidades sociais e culturais da classe trabalhadora. Em 2004 mais um Decreto regulamenta a Educação Profissional. Trata-se do Decreto n. 5.154/2004 que de acordo com as observações de Frigotto (2005) “De uma política consistente de integração entre educação básica e profissional, articulando-se os sistemas de ensino federal e estaduais, passou-se à fragmentação iniciada internamente, no próprio Ministério da Educação”. Em sua análise Frigotto continua Com efeito, a partir de 28 de julho de 2004, três dias após o Decreto n. 5.154/2004 ser exarado, foi anunciado o Programa Escola de Fábrica com um modelo restrito à aprendizagem profissional. Além disso, passou-se a enfrentar uma nova e complicada conjuntura: a reestruturação do MEC colocou a política do ensino médio na Secretaria de Educação Básica, separando-a da política de educação profissional. Neste contexto, a política de educação profissional compõe uma série de programas focais, a exemplo do já citado Escola de Fábrica, Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) e do Inclusão de Jovens (PROJOVEM). O PROJOVEM foi instituído pelo governo Lula com a Lei 11.129/2005 de 30 de Junho de 2005 - elaborado em substituição ao Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego para Jovens (PNPE), em que a faixa etária dos jovens era menos abrangente - que em seu formato original diz: Art. 1º - Fica instituído, no âmbito da Secretaria Geral da Presidência da República, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM, programa emergencial e experimental, destinado a executar ações integradas que propiciem aos jovens brasileiros, na forma de curso previsto no art. 81 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, elevação do grau de escolaridade visando a conclusão do ensino fundamental, qualificação profissional voltada a estimular a inserção produtiva cidadã e o desenvolvimento de ações comunitárias com práticas de solidariedade, exercício da cidadania e intervenção na realidade local (BRASIL, 2005). Este programa também tem uma outra particularidade que é a atenção dada a juventude, ou seja ele foi pensado como parte da Política Nacional de Juventude apresentada em 2005 pelo governo Lula da Silva (conforme dito) sendo logo em seguida institucionalizado através de Decreto 11.629 de 04/11/2008, apresentando como finalidade “executar ações integradas que propiciem aos jovens brasileiros reintegração ao processo educacional, qualificação profissional em nível de formação inicial e desenvolvimento humano”. Conhecido ou renomeado como novo PROJOVEM integrado abrange quatro linhas de atuação distintas: PROJOVEM Urbano, sob responsabilidade da Secretaria-Geral da Presidência da República; PROJOVEM Campo – Saberes da Terra, sob responsabilidade do Ministério da Educação; PROJOVEM Trabalhador, sob responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE; e PROJOVEM Adolescente – Serviço Socioeducativo, sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. De acordo com o MTE, o PROJOVEM Adolescente tem como finalidade o serviço socioeducativo de jovens de 15 a 17 anos pertencentes ao Programa Bolsa Família, egressos de medida socioeducativa, reclusos ou em meio aberto, em medida de proteção, vinculados ao Programa de Erradicação da Pobreza ou de Combate ao abuso e a exploração sexual; O PROJOVEM Urbano - tem o objetivo elevar a escolaridade dos jovens possibilitando-os à conclusão do ensino fundamental, à sua qualificação profissional e ao desenvolvimento de ações comunitárias como exercício da cidadania, na forma de curso; PROJOVEM Campo (ou Saberes da Terra) - é destinado a jovens com idade entre 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, residentes no campo, que saibam ler, escrever e que não tenham concluído o ensino fundamental. O objetivo é elevar a escolaridade dos jovens da agricultura familiar, integrar a qualificação social e formação profissional, estimular a conclusão do ensino fundamental e proporcionar a integração do jovem, na modalidade educação de jovens e adultos, em regime de alternância; e por fim o PROJOVEM Trabalhador - é destinado a jovens com idade entre 18 (dezoito) a 29 (vinte e nove) anos, em situação de desemprego e que sejam membros de famílias com renda mensal per capita de até 1 (um) salário-mínimo. O objetivo é preparar o jovem para o mercado de trabalho e ocupações alternativas geradoras de renda, por meio da qualificação social e profissional e do estímulo à sua inserção. Como se observa o PROJOVEM surge no conjunto da política de formação e qualificação profissional de âmbito nacional, com caráter experimental, emergencial devendo funcionar de maneira integrada na modalidade presencial assegurando ao aluno a perspectiva de conclusão do ensino fundamental, conhecimentos vinculados ao campo profissional e social mediante a realização de ações de interesse público e com acesso aos recursos tecnológicos. Dentre as modalidades do PROJOVEM o nosso interesse se centraliza no PROJOVEM trabalhador para vermos exatamente o alcance de seu desempenho nesta dinâmica oferecida pelo complexo portuário de SUAPE. Procuramos apreender em que medida a freqüência nesses cursos tem contribuído para ampliar o leque de oportunidades de inserção no trabalho para esses jovens, e em que medida tem contribuído para melhoria de suas condições de vida, de felicidade pelos acessos obtidos. SUAPE e PROJOVEM: encontro de agendas Data de 28 de janeiro de 2007, o lançamento pelo governo federal do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – programa econômico que se propõe a resgatar o Estado como dinamizador das condições estruturais para o crescimento econômico. O discurso do governo aponta que com este programa promoverá o crescimento econômico. Para tanto lança um conjunto de medidas “destinadas a incentivar o investimento privado, aumentar o investimento público em infra-estrutura e remover os obstáculos burocráticos, administrativos, normativos, jurídicos, legislativos” que vem impedindo o crescimento, esperando com isso aumentar o emprego e dar condições de melhoria de vida da população brasileira. Mesmo diante dos avanços que a realidade apresenta com a aceleração da economia nessas últimas décadas, reafirmamos a necessidade da construção de uma agenda desenvolvimentista no sentido de conseguir assegurar de forma adequada o crescimento econômico com as questões da equidade social e regional e as questões educacionais, de formação e qualificação. As nossas inquietações vão no sentido de investigar como vem se efetivando no complexo portuário do SUAPE esta política de formação e qualificação dos jovens como proposta central do Programa inserido na agenda desenvolvimentista lançada pelo PAC com a política pública de formação e qualificação profissional voltada para os segmentos jovens, o PROJOVEM, A realização do Complexo Industrial Portuário de SUAPE remonta à década de 1950 ocasião em que um economista e engenheiro especialista em portos em visita ao Recife, o padre francês Louis Joseph Lebret, identificou nesta localidade condições favoráveis para a implantação de um porto, e, nas suas proximidades uma refinaria de petróleo. Nas palavras do economista Valdeci Monteiro dos Santos um dos integrantes da equipe do consórcio Planave-Projetec que elaborou o Novo Plano Diretor de SUAPE (2010), numa entrevista concedida a revista do Instituto Humanista Unisinos - IHU OnLine, em 24/04/2012, em 1974 começa a ganhar corpo com a desapropriação de uma área de 13,500 milhões de hectares de terras de antigos engenhos, usinas e de áreas destinadas à reforma agrária e ocupadas por pequenos produtores rurais (BARROS; SILVEIRA, 2010), no litoral sul, entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, há 40 km da cidade do Recife (VERAS de OLIVEIRA, 2012). Essa região se apresentava como as condições das mais favoráveis à implantação do empreendimento: águas de profundidade (17 metros), adequadas, portanto a atracagem de navios de grande calado, uma formação de 1,2 quilômetros de arrecifes ao longo da costa, assegurando proteção de quebra-mar, além de uma localização estratégica em relação às rotas internacionais da África, Europa, Estados Unidos. Apesar de certo silenciamento sobre o avanço do empreendimento, dado ao cenário adverso tanto nos planos mundial (crise econômica, por conta do primeiro choque do petróleo, impulso da financeirização), como no nacional e local resultante do endividamento externo, proposta de desconcentração produtiva sugerida no II Plano Nacional de Desenvolvimento do governo Geisel sem a resposta esperada na economia de Pernambuco, que vive neste período um forte processo de desindustrialização. Mesmo sem que estivesse no bloco de investimentos do Plano, o governo do estado decide lançar o complexo potuário-industrial cuja estrutura portuária foi sendo construída gradativamente com as obras de infraestrutura como a instalação do sistema viário, abastecimento de água, energia elétrica, telecomunicações. Embora ainda sem grandes impactos na economia regional, documentos oficiais (SUAPE, Governo do Estado de Pernambuco, 2010) mostram ser 1978 o ano em que SUAPE aparece como uma empresa pública estatal criada tendo por objetivo administrar a implantação do distrito industrial, o desenvolvimento das obras, bem como as atividades portuárias. Em 1983 com a chegada da Petrobrás - primeira empresa a se instalar - o Complexo Industrial Portuário começa a operar efetivamente com a instalação de sucessivos empreendimentos atraindo empresas de combustíveis como a BR Distribuidora, Shell, Texaco e Esso, transferidas do Porto de Recife por conta de um incêndio; em 1984 com a construção do Pier de Granéis Líquidos (derivados de petróleo, produtos químicos, óleos vegetais e alcoóis), o embarque de álcool é iniciado; 1987 ocorre a transferência do porto de Recife para SUAPE o Parque de Tacagem de Derivados de Petróleo; início da construção do Cais de Múltiplos Usos que irá assegurar a movimentação de contêineres para granéis sólidos. Em 1991 registra-se o inicio das operações do Cais. Em 1996 o Complexo Portuário Industrial de SUAPE é incluído no programa “Brasil em Ação” do governo federal, o que vai possibilitar aportes de financiamento para infraestrutura ampliando a malha portuária com a construção do “porto interno” que foi inaugurado em 1999 tendo 935 metros de extensão e uma profundidade de 15,5 metros. Cada vez mais SUAPE se consolida passando de “porto industrial”, para “porto concentrador de cargas” se colocando como um dos 11 portos mais atraentes para investimentos públicos do país, apesar das medidas orçamentárias restritivas adotadas no segundo período da gestão de Fernando Henrique Cardoso (1999/2002). A título demonstrativo do que representou esta redução convém lembrar que do montante de R$ 155 milhões aplicados em SUAPE no seu primeiro mandato, este passa para 136 milhões. A recuperação deste quadro se dará ao longo do primeiro governo de Luis Inácio Lula da Silva entre 2003/2006 quando o Complexo recebe nova injeção orçamentária atingindo a cifra de 147,6 milhões. Em 2005, SUAPE começa a conhecer um novo e vigoroso momento de expansão com as primeiras medidas para instalação da refinaria de petróleo General Abreu e Lima, projeto viabilizado, segundo a opinião de Santos (2012), pela convergência de três importantes fatores: I - o ambiente de retomada da economia brasileira em novas bases em que o Nordeste passou a apresentar taxas de crescimento acima da brasileira; II - a decisão do governo federal através da Petrobrás, de construir uma nova refinaria depois de 28 anos no Nordeste e também de reativar a indústria de construção naval a partir da sinalização de encomenda de novos navios e plataformas feitas em estaleiros do Brasil (o que viabilizou a implantação do estaleiro Atlântico Sul em SUAPE); e III a postura e ação proativas do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em termos de política de atração de investimentos, favorecido também pelo seu alinhamento político com o governo federal. Vale colocar que até então as empresas instaladas eram de médio porte e de baixa complexidade tecnológica, perfil este que passará por profundas modificações a partir de então por conta de novas frentes de investimento, atraindo a instalação de novos empreendimentos. Até 2006, SUAPE contava com mais de 80 empresas resultado de aplicações de recursos privados totalizando apenas US$2,2 bilhões, enquanto que entre 2007 e 2010 outras 37 foram implantadas, com investimentos no montante de US$17 bilhões. Esses dados disponibilizados pelos documentos (SUAPE/GOVERNO DO ESTADO de PERNAMBUCO, 2010) só fazem colocar em evidência o poder de atração que SUAPE passou a mobilizar e o boom que a economia do Complexo de SUAPE conhece em resposta aos volumosos investimentos realizados. Com o aquecimento da economia novos investimentos são aplicados em infraestrutura com a construção da segunda etapa do Píer de Granéis Líquidos, a dragagem e construção de um novo cais, do 1º prédio da Central de Operações Portuárias para abrigar as autoridades portuárias, duplicação da avenida portuária já contando com 4,4 km de extensão otimizando assim o tráfego/circulação interna no Complexo; edificação do Centro de Treinamento de SUAPE para atender moradores da região e trabalhadores do Complexo. No segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva assiste-se a reafirmação do discurso desenvolvimentista com a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento 2 que já falamos anteriormente, continuando o SUAPE a ser o carro chefe do Programa, carreando expressivos investimentos públicos e privados que serão responsáveis por importantes transformações tanto no Complexo, como em seu entorno. Reforça este processo a ativação da construção da Ferrovia Transnordestina que fará de SUAPE um porto de referência no escoamento de produtos de grande impacto econômico e social para o interior do Nordeste. Como ressalta Santos (2012), assiste-se uma mudança expressiva no perfil produtivo das empresas que chegam à SUAPE. Surgem novas atividades e cadeias produtivas (gás e petróleo, empresas de petroquímica, siderurgia, construção naval, etc.), mas as indústrias tradicionais são igualmente ativadas como as de processamento de alimentos, a têxtil, a de bebidas. O Complexo de SUAPE vai se tornando cada vez mais atrativo pelas oportunidades de emprego que oferece tanto nos canteiros de obra das empresas em implantação (só na Refinaria Abreu e Lima, houve a criação de 1,5 mil empregos diretos e 130 mil indiretos), como na expectativa de se abrir um negócio. Esta efervescência de ocupações que a economia local vai anunciando nos remete a um breve recuo no tempo, contextualizando o quadro que antecede SUAPE hoje, isto para compreendermos o que ela passou a representar para a sua população e seus municípios circunvizinhos. A crise das atividades e ocupações rurais com o fechamento de usinas e engenhos, os processos de desapropriação de terras para construir o Complexo, a expulsão de pequenos produtores rurais tradicionalmente instalados nas terras obrigando-os a migrar para as periferias das cidades que o cercam, fez crescer nesta região bolsões de pobreza num cenário desolador de miséria pelas condições degradantes de vida que passam a ficar submetidos. As novas frentes de ocupações geradas, mesmo que de natureza precária, com um patamar elevado de informalização, surgem como novas possibilidades de saída desses sujeitos do impasse existencial vivenciado. Dentro deste descontrole do mercado de trabalho que a região apresenta os segmentos jovens têm sido os mais drasticamente atingidos. De perfil tecnológico dos mais avançados, o Complexo Industrial Portuário de SUAPE conta atualmente com mais de 100 empresas em funcionamento (a Refinaria Abreu e Lima, Petroquímica SUAPE, Estaleiro Atlântico Sul, Energética SUAPE (termelétrica), Bunge (refinaria de óleos vegetais, moinho de trigo), cimento Brasil, Coca-cola (fabricação), entre outras), que, pelos dados oficiais do governo do Estado de Pernambuco (2012) têm provocado forte impacto com a criação expressiva de empregos diretos e indiretos. Esta dinâmica econômica reforça o élan desenvolvimentista do governador do estado Eduardo Campos, deixando em seus discursos a responsabilidade que assume de assegurar este processo. Assim ele se expressa: “[...] o desafio agora é capacitar a população para a nova realidade de nosso mercado de trabalho. Parcerias, convênios e contratos estão promovendo uma inédita mobilização em prol da formação e especialização da mão- de- obra pernambucana” [...] (SUAPE, GOVERNO DO ESTADO, 2010) . O entendimento de que o desenvolvimento econômico não se efetiva sem desenvolvimento social, ou seja, com desconcentração da riqueza, universalização dos direitos sociais (saúde, trabalho, habitação e educação) eliminação da pobreza e das desigualdades, tem sido estes os pilares do compromisso dos dois últimos governos sob a gestão de Luis Inácio Lula da Silva, e reafirmado com a presidenta Dilma Rouseff, criando para isto um conjunto de políticas públicas para efetivá-los. Dentre estas ações se destaca o já mencionado PROJOVEM que, com seus cursos tem como proposta assegurar a formação e qualificação profissional de jovens. Com essas medidas o governo tem buscado neutralizar os discursos do empresariado em salientar o despreparo/desqualificação desses segmentos como forma de criar mecanismos cada vez mais restritivos para a sua inserção. No atual contexto de desenvolvimento econômico é de se esperar que o Programa, ao qualificar o jovem trabalhador de fato contribua para um desempenho desejável de suas funções na realidade social. No caso específico do dinamismo do Complexo Industrial Portuário SUAPE, que vem dando uma nova configuração nas exigências de formação e qualificação, que contribuições o PROJOVEM tem conferido ao avanço qualitativo da dimensão social do desenvolvimento ali proposto? Que retorno os jovens integrantes do PROJOVEM tem conferido a sua vida social, profissional e pessoal? As atividades desenvolvidas pelo PROJOVEM têm trazido impacto para o desenvolvimento proposto nos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho? São estas e outras questões que serão perseguidas ao longo do estudo sobre este Programa para termos condições de um melhor entendimento de como ele vem sendo materializado, identificando as interfaces entre o PROJOVEM e o contexto da agenda desenvolvimentista tendo como carro chefe – SUAPE em Pernambuco. Considerações finais Mesmo que não haja obrigatoriedade a concretização do objetivo do PROJOVEM trabalhador, pode gerar expectativa nos jovens para ingresso no mercado de trabalho. Estudos vêm mostrando impasses desta política em termos de não ter condições de qualificar para dar atendimento a empresas com perfis tecnológico dos mais avançados. Com isso podemos ver a pertinência das reflexões de Frigotto (2005), no sentido de que as políticas educacionais que vem sendo postas em funcionamento no período neoliberal não vem contribuindo para a democratização do acesso e construção da cidadania tendo em vista sobretudo o nível de escolarização posta. O sentido de nosso questionamento cada vez mais se reafirma: diante do porte tecnológico das empresas que SUAPE tem atraído, qual vem sendo a resposta do PROJOVEM no atender a demanda da mão de- obra? Em que medida o discurso empresarial de carência de mão de obra qualificada não vem querendo sinalizar os estrangulamentos que se começa a vivenciar? - Em que medida o PROJOVEM vem se orientando no sentido de atender, no âmbito do Projeto de SUAPE, às novas demandas dos gestores públicos e do setor empresarial, assim como às necessidades dos trabalhadores? - Para o jovem trabalhador atendido pelo PROJOVEM, em que essa política tem propiciado novas oportunidades ocupacionais e novas formas de atuação nas suas comunidades, com isso implicando melhoria não só de suas condições materiais, mas também existenciais tornando-o mais apto a se reposicionar diante da vida, de seus problemas e da realidade? Referências BRASIL. “Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): balanço 4 anos (20072010)”. 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