ALIMENTOS FUNCIONAIS E NUTRACÊUTICOS: UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE PARA O ENSINO MÉDIO Carolina H. FOLINO [email protected] Reynaldo G. de O. FONTES [email protected] Taíze DUARTE [email protected] Thamyres C. R. BOA ESPERANÇA [email protected] Juliene R. NASCIMENTO [email protected] André Fillipe de F. FERNANDES [email protected] Thiago J. J. REBELLO [email protected] BOLSISTAS PIBID/CAPES/UERJ Débora de A. LAGE [email protected] COORDENADORA PIBID/BIOLOGIA/CAP-UERJ RESUMO Apesar dos avanços tecnológicos e da melhoria de infraestrutura de muitas escolas, os problemas associados ao processo de ensino e aprendizagem continuam frequentes, como professores desmotivados e alunos desinteressados, resultando em repetência, evasão escolar e ineficiência do processo educacional. Neste sentido, considerando que a formação do cidadão crítico envolve a construção de um novo conceito de nutrição, o presente trabalho propõe o estudo de alimentos funcionais e nutracêuticos como tema gerador para a aprendizagem sobre os compostos orgânicos e à importância de suas propriedades nutricionais e farmacológicas para a saúde humana. A temática foi trabalhada com estudantes do Ensino médio, buscando articular o ensino teórico e prático à pesquisa científica, a fim de favorecer a construção coletiva de novos saberes. O trabalho foi desenvolvido em quatro etapas: análise das concepções prévias dos alunos; aula expositiva dialógica sobre alimentos funcionais e nutracêuticos; aula prática experimental sobre identificação de compostos orgânicos; pesquisa e produção de artigos informativos, que irão compor uma revista sobre alimentação e saúde, a qual será divulgada na comunidade escolar. Analisando os resultados, verificou-se que a maioria dos alunos apresenta concepções corretas sobre os alimentos funcionais e seus benefícios para a melhoria da qualidade de vida. Porém, muitos desconheciam o termo nutracêutico, revelando a ambiguidade deste conceito e a não inserção de temas atuais no cotidiano escolar. No laboratório, além de proporcionar aspectos não explorados e observados na aula teórica, a atividade prática favoreceu a motivação dos alunos, o potencial investigativo e a interação com o objeto de estudo. Desta forma, os resultados positivos obtidos neste trabalho, apontam para a importância do emprego de diferentes modalidades didáticas e da contextualização dos conteúdos curriculares na construção de uma aprendizagem significativa para os educandos. 1 PALAVRAS-CHAVE: Nutrição e saúde - Alimentos funcionais - Modalidades didáticas. INTRODUÇÃO 1. ALIMENTOS FUNCIONAIS E NUTRACÊUTICOS A industrialização e os avanços tecnológicos nas diferentes áreas, como na engenharia, na saúde, na produção de alimentos, de fármacos, dentre outros, provocaram não só o aumento da expectativa de vida, mas também uma efetiva mudança nos hábitos alimentares da população. Neste sentido, diversas doenças ligadas à falta de educação alimentar têm se tornado crônicas na sociedade, tais como a obesidade, a diabetes, a osteoporose, arteriosclerose e diversos tipos de câncer (DAS et al., 2012). Elas têm se tornado cada vez mais comuns e com isso, despertado o interesse dos órgãos públicos de saúde, uma vez que o aumento dessas doenças causa maiores gastos com internações e outras medidas curativas (MORAES e COLLA, 2006). Diante desse quadro, o interesse pela modificação da dieta visando alcançar melhor qualidade de vida ganhou peso e, deste modo, os estudos sobre alimentos que teriam algum benefício na prevenção ou tratamento de doenças ganharam destaque. Já na década de 80, o termo "alimento funcional" foi introduzido no Japão, partindo da hipótese que a dieta alimentar teria um importante efeito nas funções do organismo, no sentido de manter o saudável funcionamento do corpo, diminuindo a incidência de doenças (COLPO; FUKE; ZIMMERMANN, 2004). Com o passar dos anos, este conceito se consolidou, contribuindo para o aumento da procura pelos alimentos funcionais, uma vez que muitas pessoas já os reconheciam por seus valores na nutrição, prevenção e tratamento de doenças. No Brasil, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamenta o registro de alimentos funcionais, a partir da portaria nº 398 de 1999, que define como alimento funcional “todo aquele alimento ou ingrediente que, alem das funções nutricionais básicas, quando consumido na dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos benéficos à saúde, devendo ser seguro para o consumo, sem supervisão médica” (PIMENTEL et al., 2005). Já a FDA (Food and Drug Administration), órgão dos EUA responsável pelo controle dos alimentos, estabeleceu a classificação em: alimento, alimento-medicamento, suplementos alimentares, alimento para usos dietéticos especiais ou droga (CARDOSO e OLIVEIRA, 2008). Outro conceito intimamente relacionado aos alimentos funcionais é aquele que se refere aos alimentos nutracêuticos. O termo nutracêutico foi criado em 1989 pelo Dr. Stephen DeFelice, fundador e presidente da Fundação de Inovação em Medicina (EUA), a partir da combinação das palavras “nutrição” e “farmacêutico”. De modo geral, alimentos nutracêuticos podem ser caracterizados como produtos sintetizados, extraídos ou purificados de organismos vegetais, animais ou marinhos, os quais possuem efeitos benéficos comprovados farmacologicamente, e que passam a adquirir um valor nutritivo (KUMAR et al., 2012). Dessa forma, todas as substâncias encontradas em alimentos que possuem propriedades medicinais já estabelecidas, podem ser extraídas e concentradas na forma de alimentos nutracêuticos, os quais vêm sendo cada vez mais comercializados. Em 2011, o mercado mundial de nutracêuticos movimentou cerca de 151 bilhões de dólares, com previsão alcançar US$ 207 bilhões em 2016, apresentando uma taxa crescimento estimada em 6,5% ao ano (MONDELLO, 2013). Assim, especialistas da indústria alimentícia passaram a concentrar 2 seus esforços na busca de estratégias nutritivas modernas, voltadas para consumidores que acreditam na saúde através de uma alimentação correta ou via suplementação alimentar. Neste contexto, visando à formação do cidadão crítico, capaz de refletir, tomar decisões e interferir positivamente na sociedade que está inserido, a educação nutricional torna-se de suma importância para a construção de uma cidadania saudável e consciente de uma boa prática alimentar. Assim, o presente trabalho propôs o estudo dos alimentos funcionais e nutracêuticos como tema gerador para a aprendizagem sobre os nutrientes orgânicos e sua importância para a saúde, a partir de diferentes modalidades didáticas, buscando favorecer a construção coletiva de novos saberes. 2. METODOLOGIA O campo de ação deste estudo foi o Colégio Estadual João Alfredo, localizado no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro. O trabalho foi desenvolvido com cinco turmas do segundo ano do Ensino Médio, totalizando cerca de duzentos estudantes. A metodologia descrita nesta pesquisa apresenta um caráter qualitativo, no qual os pesquisadores buscam realizar uma abordagem voltada para o comportamento, a interpretação, as experiências vividas e a relação com o ambiente das pessoas que estão sendo estudadas (DOS ANJOS, 2007). Na busca pela construção de conhecimentos científicos sobre alimentos funcionais e nutracêuticos e seus benefícios à saúde humana, este trabalho foi estabelecido em quatro etapas: análise das concepções dos alunos, aula expositiva dialógica, aula prática experimental, pesquisa e produção de artigos informativos. Análise das concepções dos estudantes Inicialmente, após serem apresentados à proposta de trabalho, os estudantes foram solicitados a preencher um questionário contendo seis perguntas fechadas. Esta etapa teve por objetivo analisar as concepções prévias dos alunos acerca dos conceitos e da importância dos alimentos funcionais e nutracêuticos na saúde. A atividade foi realizada em sala de aula e teve duração de cerca de 10 minutos. Aula expositiva dialógica Os alunos participaram de uma aula expositiva dialógica, na qual um notebook e um projetor multimídia foram utilizados como recursos didáticos. Segundo diversos autores (NASCIMENTO, 2009; ALVES et al., 2013), a aula expositiva dialógica ou dialética, caracteriza-se por valorizar os saberes dos alunos na construção do conhecimento científico. Deste modo, o professor tem o papel de estimular e direcionar discussões em sala de aula, mediando a produção de novos saberes. No material didático apresentado aos alunos foram enfatizados: os principais conceitos acerca de alimentos funcionais e nutracêuticos; os principais nutrientes funcionais e sua possível identificação a partir das cores dos alimentos; e a estreita relação entre a qualidade da alimentação consumida e o desenvolvimento de doenças no organismo. A aula expositiva durou cerca de 50 minutos e foi realizada no primeiro encontro com os alunos, logo após o preenchimento do questionário. 3 Aula prática experimental A fim de complementar a temática central desta pesquisa, os alunos participaram de uma aula prática experimental, a qual teve por objetivo a identificação dos principais nutrientes orgânicos presentes nos alimentos. A atividade prática foi realizada no laboratório de Ciências da escola, partir da realização de quatro experimentos simples: teste para carboidratos, teste para lipídios, teste para proteínas, teste para ácidos nucléicos. Antes do início das práticas, cada aluno recebeu um roteiro contendo um breve resumo sobre o assunto abordado (compostos orgânicos), a descrição de todos os experimentos a serem realizados, bem como algumas questões a serem respondidas. Ao final de cada experimento, os resultados observados e as conclusões obtidas eram discutidas coletivamente, auxiliando os alunos no preenchimento do roteiro. Toda a atividade prática no laboratório teve duração de 50 minutos. Pesquisa e produção de artigos informativos Nesta etapa do trabalho, os alunos foram estimulados a desenvolver uma pesquisa sobre alimentos funcionais e nutracêuticos sugeridos no tratamento e na prevenção de doenças relacionadas aos aparelhos digestório, cardiovascular e urinário. Para tal, a divisão dos grupos utilizada na aula prática foi mantida e cada grupo sorteou uma determinada doença, que seria objeto do seu estudo. A pesquisa com os alunos foi realizada no laboratório de informática da escola, onde estes foram orientados a buscar referências específicas para auxiliar na pesquisa, bem como, foram orientados a como elaborar um trabalho em formato Power point. Como meta final da pesquisa, cada grupo deveria produzir um artigo informativo sobre a sua temática específica sorteada. Ao final do trabalho, todos os artigos produzidos foram reunidos em forma de revista para que fossem divulgados na escola. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 CONCEPÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE ALIMENTOS FUNCIONAIS E NUTRACÊUTICOS Inicialmente, utilizou-se um questionário fechado a fim de analisar o conhecimento e as experiências dos alunos em relação ao tema Alimentos Funcionais e Nutracêuticos. O ensino da prática alimentícia é um assunto de suma importância para ser abordado no ambiente escolar, e vem sendo objetivo de pesquisa de muitos estudos, tendo em vista que os alimentemos de utilidades funcionais tem se tornado excelente beneficiador na conquista de uma vida saudável. Logo, os alimentos funcionais possuem componentes que previnem doenças e atuam de maneira benéfica nas funções orgânicas (VIDAL et al., 2012). Torna-se importante a integração do ensino de melhores formas de alimentação, pois de acordo com Vygostsky (1896-1934) os indivíduos vão adquirir informações, atitudes e reproduzirá futuramente condutas alimentares adequadas, desenvolvendo uma melhor manutenção no estado alimentar (IPIRANGA, 1995). Na análise das respostas da primeira questão, observamos que 88% dos estudantes possuíam informações prévias corretas em relação ao termo alimentos funcionais, demonstrando uma certa noção sobre o tema (Figura 1). Entretanto, a caracterização destes 4 alimentos possivelmente foi associada à etimologia da palavra, relacionando ando funcional com funcionalidadee benéfica para o organismo, ou até mesmo associações com crendices populares e informações decorrentes da mídia ou do próprio meio social. social Segundo Vidal e colaboradores (2012), a estreita relação entre a alimentação e o desenvolvimento de doençass já é conhecida há pelo menos 2500 anos, quando Hipócrates ressaltava “faça do alimento o seu medicamento”. medicamento”. Entretanto, somente nas últimas décadas a população tem demonstrado maior interesse na busca pela melhoria da qualidade de vida, a partir de uma dieta eta mais saudável e funcional (DUARTE, ( 2007). Deste modo,, o termo “alimento funcional” tem sido cada vez mais difundido na população. Questão 2: Você nutracêuticos? Questão 1: O que são alimentos funcionais? já ouviu falar em 6% 2% 4% 88% A A 26% B 2% C 2% B 70% C D D Figura 1: Gráficos mostrando a porcentagem das respostas dos alunos às questões 1 e 2. Questão 1: AA Qualquer alimento que satisfaz rapidamente a fome; B-Alimentos B Alimentos que são ricos em ácidos graxos trans; C-Alimentos Alimentos que só auxiliam na perda de peso; D-Alimentos D os que oferecem vários benefícios à saúde, além do valor nutritivo inerente à sua composição com química. Questão 2: A-Não, Não, nunca ouvi falar; B-Sim, B são remédios utilizados geralmente antes da realização de atividade física; C-Sim, C Sim, são vitaminas vendidas nas farmácias; D-Sim, Sim, são alimentos enriquecidos com nutrientes importantes na prevenção e/ou tratamento de doenças. Na Figura 1, analisando a segunda questão, verifica-se verifica se que grande parte dos educandos (70%) nunca tinha ouvido falar sobre alimentos nutracêuticos nutracêuticos (Figura 1), talvez pelo fato deste ser um conceito ainda novo, além das dúvidas e contradições entre os termos “alimento to funcional” e “nutracêutico”. De fato, especialmente para a comercialização estes os alimentos passaram a apresentar diferentes denominações, den tais como: alimentos para usos específicos, fármacos-alimentos alimentos ou nutracêuticos (CUPPARI, ( 2005). Em 1989, Stephan Defelice, fundador e presidente de uma fundação norte-americana norte americana para inovação na medicina, definiu o termo nutracêutico como sendo “qualquer substância que é um alimento ou parte dele, que promova benefícios para a saúde, incluindo a prevenção e o tratamento de doenças” (KUMAR et al., 2012). Deste modo, pode-se pode observar que embora os avanços tecnológicos tecnológic em relação à indústria alimentícia, não sejam tão recentes, estes não são muito divulgados, divulgados o que contribui para que o conhecimento sobre nutracêuticos permaneça oculto à grande parte da população. Na análise da questão três, é possível observar observ que a maior aior parte dos alunos (87%) já possuía conhecimento que ue o consumo dos alimentos seja eficaz, há necessidade que o uso seja regularmente e associado a uma alimentação rica em frutas, verduras e afins (Figura 2). Para 5 muitos autores, a utilização de alimentos funcionais ou enriquecidos, só tem ação benéfica quando consumidos em uma dieta regular (MAIA e SANTOS, 2005; VIDAL et al., al 2012). Questão 3: Para que o consumo de alimentos funcionais seja eficaz, com que frequência uma pessoa deve consumi-lo? 2% 2% 9% Questão 4: Você acredita que o aumento da expectativa de vida da população também pode estar associado à alimentação? 11% A 8% A B 87% 81% C B C D Figura 2: Gráficos mostrando a porcentagem das respostas dos alunos às questões 3 e 4. Questão Ques 3: APoucas vezes, já que o excesso desses alimentos pode ser prejudicial à saúde; B-Regularmente B e associado ao consumo de frutas, verduras e ingestão de água; C-Ocasionalmente, C Ocasionalmente, quando achar necessário o consumo; D-Nunca, Nunca, pois não acredito na eficácia eficácia dos alimentos funcionais. Questão 4: AA Sim, juntamente com a prática de atividade física regularmente; B-Sim, B Sim, somente a alimentação é responsável pelo aumento da média de vida da população; C-Não, C Não, o aumento da expectativa de vida está relacionado a outros os fatores, principalmente à condição financeira; D-Não, D Não, o aumento da expectativa de vida é o reflexo das ótimas condições de saneamento básico da nossa cidade. A quarta pergunta questionou os alunos sobre a relação entre alimentação e aumento da expectativa de vida. Deste modo, observou-se observou se que a maioria dos estudantes (81%) compreende corretamente que os alimentos não os únicos responsáveis por uma maior expectativa iva de vida, mas sim em associação com a prática regular de atividade física (Figura 2). Segundo Ferreira (2012), ), a prática regular de exercícios promove uma melhor condição relacionada à saúde. Deste modo, a relação bem estar e vigor tem favorecido o consumo cons de alimentos de funcionalidades viáveis, ocorrendo uma mudança cultural em relação a uma maior longevidade (CARRARA et al., 2009). Em relação aos alimentos que não podem ser apontados como funcionais ou nutracêuticos, conforme a questão cinco verifica-se se que 85% dos discentes entendem que sorvetes e salgadinhos não podem ser inseridos neste conceito (Figura 3),, uma vez que estes possuem alto nível de lipídeos e açucares simples, podendo estar associado ao aumento de peso e às diversas deficiências de nutrientes no organismo (OLIVEIRA e FISBERG, 2003). Analisando as respostas da questão seis, observa-se observa que 81% dos discentes têm consciência que os alimentos de utilidades benéficas não possuem capacidade de cura, mas sim de prevenção (Figura 3).. Neste sentido, pesquisas indicam que os nutrientes presentes nos alimentos funcionais afetam de forma positiva as funções do organismo, contribuindo para a redução dos riscos de desenvolvimento de doenças crônicas em geral, como câncer e doenças cardiovasculares (MORAES e COLLA, 2006; 2006 PANDEY et al., 2010). 6 Questão 5: Quais desses alimentos, não podem ser considerados funcionais ou nutracêuticos? 4% 9% 2% Questão 6: Maria foi diagnosticada com um câncer no pulmão. A partir deste diagnóstico, Maria disse que vai conseguir a cura, comendo tomates e algumas verduras. A concepção de Maria está certa ou errada? 4% 15% A A B 85% 81% C B D D Figura 3: Gráficos daa porcentagem das respostas dos alunos às questões 5 e 6. Questão 5: AA Tomate e cebola; B-Batata e rabanete; C-Sorvete Sorvete e salgadinhos; D-Chicória D Chicória e agrião. Questão 6: A-Errada, A pois os alimentos funcionais atuam na redução e prevenção de doenças,, não tendo capacidade de curar uma doença no seu estágio já avançado; B-Correta, B os alimentos nutracêuticos são capazes de curar qualquer doença mesmo em estágios avançados; C-Correta, C Correta, pois o câncer não é uma doença grave, ou seja, comendo alface e tomate, Maria vai conseguir a cura, facilmente; D-Errada, D Errada, pois o tomate não cura o câncer, só o alface. 3.2 AULA PRÁTICA SOBRE IDENTIFICAÇÃO ID DE NUTRIENTES ORGÂNICOS No primeiro contato com os alunos, foi possível observar que na medida em que se discutia a relevância do consumo regular de certos alimentos e seus respectivos nutrientes para o bom funcionamento do organismo, era possível perceber que os alunos pouco sabiam sobre as funções nutricionais básicas da alimentação. Isto é, eram capazes de listar os principais nutrientes, mas não conseguiam citar refeições nas quais estivessem contidos. Com o fim de promover essa conexão, foram realizados quatro experimentos para identificar os principais nutrientes orgânicos em alimentos comuns. No primeiro experimento, experimento o corante lugol foi utilizado para identificar o polissacarídeo amido em uma solução de farinha de trigo, tornando clara a relação entre o conhecido aporte energético de pratos como macarrão e derivados da batata e a presença presença desse carboidrato (NELSON e COX, 2002). Naa prática seguinte, através da adição de sulfato de cobre, foi observada a presença de aminoácidos em uma solução de leite em pó, levando à discussão sobre a função estrutural das proteínas (NELSON e COX, 2002), notadamente no leite materno (MARQUES et al., 2004)) e nos suplementos para atletas (ROCHA (ROCHA e PEREIRA, 1998). 1998 A insolubilidade em água do óleo e sua alta viscosidade serviram de parâmetro para ressaltar a composição lipídica de óleos e gorduras, contextualizando o diálogo sobre doenças cardiovasculares relacionadas (CERVATO, ( 1997).. Por fim, completando o conjunto de atividades sobre os compostos orgânicos, a realização da prática de extração caseira de DNA a partir de morangos, permitiu que os alunos comprovassem a presença de ácidos nucleicos nos alimentos, o que antes era refutado por eles. 7 Segundo diversos autores, a realização de atividades práticas estimula a capacidade investigativa dos alunos, permitindo a observação, o levantamento de hipóteses, a experimentação e a reflexão dos resultados, etapas fundamentais na construção do conhecimento científico (GOLDBACH et al., 2009; PITANGA et al., 2010; JUNQUEIRA, 2012). Neste sentido, foi possível notar o grande envolvimento dos alunos e a importância da aula prática como ferramenta promotora da interação entre o saber informal e o saber escolar, favorecendo a construção de novos saberes, de forma significativa. 3.3 PRODUÇÃO DE ARTIGOS INFORMATIVOS Como resultado das etapas anteriores, o último momento do trabalho consistiu na elaboração de artigos informativos por parte dos alunos, a partir de uma pesquisa sobre os principais alimentos e nutrientes capazes de prevenir e/ou tratar uma determinada doença. Deste modo, o encontro entre o interesse dos alunos e o auxílio dos educadores, favoreceu a produção de trabalhos muito interessantes pelos estudantes (Figura 4). Figura 4: Artigos informativos produzidos pelos estudantes acerca dos alimentos funcionais e nutracêuticos utilizados na prevenção e no tratamento de doenças. O modelo educacional que tem por objetivo formar cidadãos, necessariamente, precisa ter em conta não apenas o desenvolvimento de conceitos científicos, mas também as atitudes desejáveis, os valores socialmente orientados e a capacidade de reflexão. A possibilidade de investigar, trocar, experimentar, comparar, ler, discutir e organizar, sob a mediação do professor, pode facultar ao aluno esses desenvolvimentos. Dessa forma, no 8 ensino de Ciências não devem ser priorizadas as definições ou mesmo apenas a compreensão de conceitos científicos, mas sim, colocá-los em prática (JESUS et al., 2007). Deste modo, além de representar um exercício de produção científica no Ensino médio, os artigos produzidos pelos alunos também promovem benefícios sociais através da divulgação científica, ao serem disponibilizados à comunidade escolar. Neste contexto, segundo Tiago (2010), a divulgação científica atua como uma eficiente ferramenta na democratização da informação para a sociedade, enquanto Silva (2011, p.723) ressalta que “o conhecimento e o acesso ao conhecimento devem ser tratados como fatores estratégicos para um projeto de desenvolvimento, sobretudo de perspectiva emancipatória”. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do planejamento e da realização deste trabalho entre os licenciandos e os estudantes do Ensino médio, foi possível evidenciar que o emprego de uma atividade multidisciplinar favoreceu a construção coletiva de novos saberes, tanto para os alunos quanto para os educadores. Adicionalmente, a atividade propiciou um grande envolvimento dos estudantes, que se sentiram valorizados por suas concepções prévias e perceberam que os conceitos estudados no ambiente escolar eram relevantes, pois estavam inseridos no seu cotidiano. De acordo com diversos autores, a aprendizagem significativa somente poderá ser alcançada quando o assunto abordado for contextualizado e as experiências vivenciadas pelos estudantes forem utilizadas para fomentar a construção do conhecimento (BRITO, 2009; SALES e LANDIM, 2009; COSTA e PINHEIRO, 2013). Neste sentido, buscou-se a produção de novos saberes a partir da reflexão, da descoberta e da pesquisa por uma alimentação mais adequada, visando à formação de estudantes conscientes de que a seleção adequada dos alimentos ingeridos será determinante na melhoria da qualidade e da expectativa de vida. Por fim, concluímos que o estudo sobre alimentos funcionais e nutracêuticos como tema gerador para alunos do ensino médio, mostrou-se bastante promissor, possibilitando uma grande troca de experiências entre o saber informal dos alunos e o saber acadêmico dos educadores, sendo uma excelente oportunidade para uma aprendizagem significativa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRITO, S. D. 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