Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 PERFIL NUTRICIONAL DE FUNCIONÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA DE UM MUNICÍPIO DO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL Nutricional Profile of Employees From a Long-Stay Institution in a City in Northern Rio Grande do Sul Manuela Natália VIZZOTTO ¹ Roseana Baggio SPINELLI ² RESUMO A avaliação do estado nutricional permite identificar distúrbios nutricionais, possibilitando uma intervenção de forma a auxiliar na recuperação e/ou manutenção do estado de saúde do indivíduo. Esse trabalho teve por objetivo verificar o perfil nutricional de funcionários de uma Instituição de Longa Permanência de um município do norte do Rio Grande do Sul. Foram avaliados 32 funcionários, sendo 31 mulheres e 1 homem, com média de idade de 36,22 anos (+ 10,68). Foram aferidos: Peso, Altura, Índice de Massa Corporal, Prega Cutânea Tricipital, Circunferência da Cintura e do Braço e Recordatório 24 horas. Verificou-se que segundo Índice de Massa Corporal e Circunferência do Braço a maioria dos funcionários analisados (50% e 71,88%, respectivamente) estavam em eutrofia. Segundo Circunferência da Cintura a maioria dos funcionários apresentou algum grau de risco para desenvolver doença cardiovascular e pela Prega Cutânea Tricipital a maioria (68,75%) apresentou-se em obesidade. Através do Recordatório 24 horas, foi possível verificar que os funcionários consomem quantidade de macronutrientes e sódio dentro do recomendado, porém teve inadequação no consumo de fibras. A falta de conhecimento na área de Nutrição pode fazer com que estes profissionais façam escolhas alimentares inadequadas contribuindo para um desequilíbrio nutricional. Palavras-chave: Antropometria. Alimentação. Nutrição. ABSTRACT The assessment of nutritional status allows us to identify nutritional disorders, enabling intervention to aid recovery and/or maintaining the individual’s health. This study aimed to verify the nutritional profile of employees from a long-stay institution in a city in northern Rio Grande do Sul. Thirty-two employees were evaluated, being thirty-one women and one man with a mean age of 36.22 years (+ 10.68). The following items were measured: Weight, Height, Body mass index, Triceps skinfold, Waist and arm circumference and 24-hour dietary recall. Regarding to Body Mass Index and Arm Circumference, it was found that most employees (50% and 71.88%, respectively) were eutrophic. About Waist Circumference most employees risk developing cardiovascular disease and triceps skinfold most of them (68.75%) also presented obesity. The 24-hour dietary recall enabled us to verify employees intake recommended levels of macronutrients and sodium, however they have poor ingestion of fibers. Lack of knowledge on nutrition can cause these professionals to make bad food choices, which contribute to a nutritional imbalance. Keywords: Anthropometry. Food. Nutrition. Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 104 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 INTRODUÇÃO Promover a alimentação saudável e a prática de atividade física, assim como acompanhar o estado nutricional e de saúde da população, deve ser prioridade e fazer parte do cotidiano das ações de funcionários da saúde (COLOMBRO; DERQUIN, 2008). A avaliação do estado nutricional tem como objetivo identificar os distúrbios nutricionais, possibilitando uma intervenção adequada de forma a auxiliar na recuperação e/ou manutenção do estado de saúde do indivíduo. A antropometria é a medida do tamanho corpóreo de suas proporções. Trata-se de um dos indicadores diretos do estado nutricional, sendo as medidas mais utilizadas na avaliação antropométrica o peso, a estatura, as pregas cutâneas e as circunferências (KAMIMURA et al., 2005). Para melhor conhecimento da determinação dos problemas nutricionais, em complementação à avaliação antropométrica, caracterizada pela simplicidade e precisão, devem ser consideradas outras metodologias, como inquéritos dietéticos (TUMA; COSTA; SCHMITZ, 2005). O inquérito dietético é parte fundamental na avaliação do estado nutricional do paciente, pois permite a identificação de deficiências de macro e micronutrientes, além do conhecimento dos hábitos alimentares individuais. São métodos que podem fornecer informações, tanto qualitativas quanto quantitativas, a respeito da ingestão alimentar, possibilitando, dessa forma, relacionar a dieta ao estado nutricional do indivíduo e ao aparecimento de doenças crônico-degenerativas (DUARTE, 2007). A alimentação é necessidade básica e deve ser saudável, completa, variada, agradável ao paladar e segura; influencia a qualidade de vida por ter relação com a manutenção, prevenção ou recuperação da saúde (BAPTISTA et al., 2013). O termo necessidade nutricional pode ser definido como as quantidades de nutrientes e de energia disponíveis nos alimentos que um indivíduo sadio deve ingerir para satisfazer suas necessidades fisiológicas normais e prevenir sintomas de deficiências. Assim, as necessidades nutricionais representam valores fisiológicos individuais que se expressam em médias para grupos semelhantes da população (FRANCESCHINI; PRIORE; EUCLYDES, 2005). Os danos para a saúde, que podem decorrer do consumo insuficiente ou excessivo de alimentos, são há muito tempo conhecidos pelos seres humanos, mas recentemente surgem evidências de que características qualitativas da dieta sejam importantes na definição do estado de saúde, principalmente no que diz respeito às doenças crônicas degenerativas da idade adulta (MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000) Ao fazermos a avaliação nutricional de um determinado grupo de pessoas, é possível interferir em seus hábitos alimentares, modificando-os com o intuito de melhorar sua qualidade de vida e prevenir ou retardar o desenvolvimento de determinadas doenças (MARTINS et al., 2003). A falta de equilíbrio na atenção à saúde e a distribuição heterogênea dos seus agravos permeiam todas as instâncias e todos os ciclos de vida da população brasileira (crianças, jovens, adultos, gestantes e idosos), definindo-se nessa complexidade social o perfil nutricional e alimentar diretamente vinculado ao padrão de morbimortalidade da população, indicando a ascensão das doenças não transmissíveis, como diabetes, obesidade, neoplasia, hipertensão arterial e hiperlipidemias, as quais se mostram fortemente associadas às condições de nutrição e ao estilo de vida adotado e/ou imposto pela sociedade moderna (ASSIS et al., 2002). Dentro desse contexto, esse trabalho teve por objetivo verificar o perfil nutricional dos funcionários de uma Instituição de Longa Permanência de um município do norte do Rio Grande do Sul. Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 105 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizado um estudo de cunho transversal, de caráter quantitativo e qualitativo. O grupo avaliado foi composto por 32 funcionários, de ambos os sexos, que trabalhavam em uma Instituição de Longa Permanência no município do norte do Rio Grande do Sul, estes com idade entre 19 e 59 anos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Erechim, sob o número 24129413.2.0000.5351 e Parecer 488.722. A Administradora da Instituição de Longa Permanência foi contatada para verificar a possibilidade da aplicação do estudo e informada sobre o projeto e seus procedimentos, onde assinou a autorização para a realização da pesquisa. A avaliação foi realizada individualmente durante o expediente dos funcionários, em uma sala disponibilizada, pela administração, nas dependências da Instituição. Antes da coleta dos dados antropométricos e do inquérito alimentar, foi esclarecido o projeto para os participantes, individualmente, onde os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a avaliação antropométrica foram aferidos: peso, estatura, circunferência da cintura, circunferência do braço e prega cutânea tricipital. O peso foi verificado em uma balança digital da marca Toledo® com capacidade máxima de 200 Kg e precisão de 50 gramas, onde o participante ficou em pé, com roupas leves, no centro da balança, com os braços relaxados ao lado do corpo. A altura foi medida com um estadiômetro móvel da marca Alturexata®, onde o participante ficou em pé, descalço, com o corpo e a cabeça eretos, olhando para frente, com os pés juntos e com as costas e a parte inferior do joelho encostados ao estadiômetro (KAMIMURA et al., 2005). A partir dos dados de peso e de estatura foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC), sendo sua fórmula: peso atual/estatura². O estado nutricional segundo IMC foi classificado segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1995 e 1997, conforme descrito na Tabela I. Tabela I: Classificação do Estado Nutricional de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC) Classificação IMC (Kg/m²) Risco comorbidades Magreza grau III < 16 Alto Magreza grau II 16 – 16,9 Moderado Magreza grau I 17 – 18,4 Baixo 18,5 – 24,99 Médio Sobrepeso 25 – 29,99 Baixo Obesidade grau I 30 – 34,9 Moderado Obesidade grau II 35 – 39,9 Alto Obesidade grau III > 40 Muito Alto Eutrofia Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS), 1995 – 1997. A Circunferência da Cintura (CC) foi aferida com uma fita métrica não extensível, onde a fita circundou o indivíduo no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca (KAMIMURA et al., 2005). A partir dos dados obtidos, foi classificado o Risco de Doença Cardiovascular segundo OMS (1998), descrito na Tabela II. Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 106 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Tabela II: Pontos de corte para Circunferência da Cintura para Risco de Doença Cardiovascular Sexo Risco elevado Risco muito elevado Homem > 94 cm > 102 cm Mulher > 80 cm > 88 cm Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS), 1998. A circunferência do braço (CB) foi obtida, sendo que o braço a ser avaliado foi flexionado em direção ao tórax, formando um ângulo de 90º onde foi localizado e marcado o ponto médio entre os ossos acrômio e olécrano. O participante estendeu o braço ao longo do corpo com a palma da mão voltada para a coxa. Contornou-se o braço com a fita métrica flexível no ponto marcado de forma ajustada evitando compressão da pele ou folga (CUPPARI, 2005). A Prega Cutânea Tricipital (PCT), foi verificada no mesmo ponto médio utilizado para verificar a circunferência do braço. A prega foi mensurada na parte posterior do braço, com os braços relaxados e estendidos ao longo do corpo (DUARTE, 2007). Para a avaliação da alimentação atual foi utilizado o Recordatório 24 horas. Nele, o participante recordou e descreveu todos os alimentos e bebidas ingeridos no período prévio de 24 horas (CUPPARI, 2005). O consumo alimentar incluindo calorias, macronutrientes, fibra e sódio, foi analisado com o auxílio do programa ADSnutri. Os dados foram analisados através de estatística descritiva, utilizando-se média e desvio padrão e os dados foram apresentados em tabelas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Participaram da pesquisa 32 funcionários de uma Instituição de Longa Permanência, sendo 31 (96,88%) do sexo feminino e 1 (3,12%) do sexo masculino. A idade variou entre 19 e 57 anos, com média de 36,22 anos (+ 10,68). Segundo a avaliação do IMC (descrita na Tabela III) a média obtida foi de 26,17 Kg/m² (+ 5,61), prevalecendo o diagnóstico de eutrofia (50% dos funcionários), porém os outros 50% encontravam-se em algum grau de excesso de peso. A Vigilância de Fatores de Risco e Proteção Para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), com dados de 2013, revela que 50,8% dos brasileiros estão em excesso de peso e que, destes, 17,5% são obesos. Os dados são semelhantes a este estudo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). Tabela III: Classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) dos funcionários avaliados IMC (Kg/m²) N = 32 Percentual (%) Magreza grau III - - Magreza grau II - - Magreza grau I - - 16 50 Eutrofia Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 107 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Sobrepeso 11 34,38 Obesidade grau I 02 6,25 Obesidade grau II 01 3,12 Obesidade grau III 02 6,25 Fonte: Dados da pesquisa, 2014. A Tabela IV demonstra os resultados da avaliação da CB e da PCT. Através da avaliação da CB a maioria dos funcionários avaliados (71,88%) apresentavam eutrofia. Na medida da PCT uma grande parte dos funcionários apresentou obesidade (68,75%). Tabela IV: Classificação do estado nutricional dos funcionários avaliados, pela adequação da Circunferência do Braço (CB) e Prega Cutânea Tricipital (PCT) Classificação CB PCT N=32 % N=32 % Desnutrição grave - - 01 3,12 Desnutrição moderada - - 01 3,12 Desnutrição leve 02 6,25 03 9,38 Eutrofia 23 71,88 03 9,38 Sobrepeso 02 6,25 02 6,25 Obesidade 05 15,62 22 68,75 Fonte: Dados da pesquisa, 2014. A obesidade é uma doença multifatorial, causada pelo desequilíbrio entre a quantidade de energia ingerida e o gasto energético total, acarretando um acúmulo de tecido adiposo (MARTORELL, 2002). Tal doença é considerada um problema de saúde pública tanto em países desenvolvidos tanto naqueles em desenvolvimento, devido ao aumento alarmante de sua prevalência em diversas regiões do mundo (MARTORELL et al., 2000). Segundo Mendonça e Anjos (2004), são vários os fatores associados à dieta que poderiam contribuir para o aumento do sobrepeso/obesidade dos brasileiros ao acarretarem mudanças importantes nos padrões alimentares tradicionais. Entre esses fatores estão: alimentação fora de casa; crescimento na oferta de refeições rápidas (fast food) e ampliação do uso de alimentos industrializados/processados. Estes aspectos veiculam-se diretamente à renda das famílias e às possibilidades de gasto com alimentação, em particular, associado ao valor sócio-cultural que os alimentos vão apresentando para cada grupo social. Dados de 2002-2003 da Pesquisa de Orçamento Familiar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram um aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade, onde 53,1% da população apresentavam-se em sobrepeso ou obesidade (IBGE, 2004). A descrição do fenômeno da obesidade, assim como a identificação de grupos de risco específicos, propicia ferramentas importantes para a promoção da saúde e considerando-se as heterogeneidades dos espaços sociais. Assim, as possíveis relações entre a obesidade e diversos Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 108 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 processos de trabalho constituem objeto de estudo, no entanto, ainda pouco explorado no Brasil (BOCLIN; BLANK, 2010). De acordo com a Circunferência da Cintura (CC), a maioria dos funcionários (65,62%) apresentou algum grau de risco para desenvolver doença cardiovascular, como mostra a Tabela V. Tabela V: Classificação do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) segundo a circunferência da cintura (CC) dos funcionários avaliados Classificação N = 32 Percentual (%) Sem risco de DCV 11 34,38 Risco elevado de DCV 11 34,38 Risco muito elevado de DCV 10 31,24 Fonte: Dados da pesquisa, 2014. Segundo Frank e Soares (2004) o acúmulo de gordura corporal tem sido associado com o aumento de processos mórbidos, como doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão. Song-Mink et al (2010), em um estudo de base populacional realizado na China, constataram que 8,1% das mulheres eutróficas (IMC < 24 Kg/m²) e 61,2% das com sobrepeso (IMC entre 24 e 27,9 Kg/m²) apresentaram obesidade abdominal. Durante muito tempo acreditou-se na ideia de que as DCV seriam determinadas pela genética, mas hoje com o conhecimento dos fatores de riscos existentes, essa visão foi modificada. Os principais fatores de risco conhecidos são: Tabagismo, Obesidade, Dislipidemia, Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial, Dieta e Inatividade Física (VIEBIG et al., 2006). Hoje, dentre as Doenças Cardiovasculares que mais matam, a Doença Arterial Coronariana, o Acidente Vascular Encefálico e a Hipertensão Arterial Sistêmica apresentam, a partir dos 30 anos de idade, um crescimento na mortalidade atingindo um grande número de indivíduos em plena vida produtiva (VASCONCELOS, 2009). Janssen, Katzmarzyk e Ross (2002), encontraram que pessoas que têm circunferência da cintura aumentada, em qualquer categoria do IMC, apresentam maior risco de ter diabetes, dislipidemia, hipertensão e síndrome metabólica do que aqueles com circunferência da cintura normal. Holanda et al. (2011), em um estudo de base domiciliar em Teresina – PI constatou que na faixa etária de 20 a 29 anos, 22,5% das mulheres e 68,9% dos homens tiveram obesidade abdominal; de 30 a 39 anos, 30% das mulheres e 13,8% dos homens também possuíam obesidade abdominal; dos 40 a 49 anos, 60,8% das mulheres e 37,8% dos homens estavam em obesidade abdominal. O índice maior ficou entre os avaliados de 50 a 59 anos, onde 68,9% das mulheres e 45% dos homens possuíam obesidade abdominal. A avaliação da ingestão de nutrientes é parte da avaliação nutricional, sendo utilizado para a tomada de decisão quanto à adequação do consumo alimentar do indivíduo e para o estabelecimento da conduta dietoterápica (FISBERG et al, 2005) Os funcionários avaliados ingeriram em média 1828,33 Kcal (+ 931,73). Os valores médios e desvio padrão dos macronutrientes referente ao Recordatório 24 horas estão representados na Tabela VI. Tabela VI: Valores médios dos macronutrientes do Recordatório 24 horas dos funcionários avaliados comparados a DRI (Dietary Reference Intakes, 2005) Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 109 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Macronutrientes DRI M + DP Carboidratos (%) 45 – 65 52,04 + 8,69 Proteínas (%) 10 – 35 15,48 + 4,58 Lipídios (%) 20 – 35 32,49 + 6,87 Fonte: Dados da pesquisa, 2014. De acordo com a recomendação da DRI (2005), tanto homens quanto mulheres, a partir dos 19 anos, devem ingerir por dia de 45 a 65% do Valor Energético Total (VET) de carboidratos, 10 a 35% de proteína e 20 a 35% de lipídios. Conforme o Recordatório 24 horas, podemos observar que a média do consumo de macronutrientes está dentro do recomendado. A relação entre dieta e saúde pode ser avaliada pelo nível de alguns componentes do alimento (nutrientes), tipos de alimento, grupo ou grupos de alimentos e padrões alimentares. Se o desenvolvimento das doenças apresenta na sua causa a relação com a ingestão de nutrientes, a análise desses componentes será o enfoque de maior poder em identificar estes efeitos (DAM, 2005). A Tabela VII a seguir demonstra o consumo médio de fibras dos funcionários avaliados, do sexo feminino. Tabela VII: Valor médio do consumo de fibras do Recordatório 24 horas dos funcionários avaliados, do sexo feminino, comparados a DRI (Dietary Reference Intake, 2005) N = 32 DRI (g) M + DP (g) Mulheres 19 a 50 anos 28 25 13,07 + 6,44 Mulheres 50 a 70 anos 03 21 11,89 + 6,86 Gênero/faixa etária Fonte: Dados da pesquisa, 2014 Pode-se observar que a média do consumo de fibras está abaixo do recomendado para as mulheres de ambas faixas etárias. O único funcionário do sexo masculino teve a ingestão de 40,65 gramas de fibras, ultrapassando o recomendado (38 gramas). As fibras alimentares, encontradas em diferentes grupos alimentares, como frutas, legumes, verduras, feijões, oleaginosas e cereais integrais, possuem papel na prevenção e no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis e importância no funcionamento adequado do intestino. Também contribui na redução de peso, aumenta a saciedade, promove redução de colesterol e triacilglicerol plasmático, previne a constipação intestinal, diminui a glicemia pós-prandial, entre outras funções (DE MENEZES; GIUNTINI, 2008). Na ingestão de sódio intrínseco, o consumo dos funcionários da Instituição de Longa Permanência ficou com a média de 1753,06 mg/dia (+ 1315,51), sendo que o recomendado pela DRI (2004) para homens e mulheres, de 19 a 70 anos, é de 2300 mg. Portanto, a ingestão destes está dentro do recomendado. Micronutrientes tem papel importante da prevenção de doenças com alto impacto no Brasil. Por exemplo, a ingestão excessiva de sódio se associa à elevação da pressão arterial e consequentemente ao aumento do risco das doenças cardiovasculares e renais (Institute of Medicine, Food and Nutrition Board, 2004). Alimentação saudável é aquela que promove saúde e que deve ser planejada com alimentos de todos os grupos alimentares (PHILIPPI, 2008). É aquela capaz de garantir às pessoas os Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 110 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 nutrientes necessários para a manutenção do corpo e da saúde, ou seja, a qualidade da alimentação é de fundamental importância para que a oferta dos nutrientes necessários sejam absorvidos pelo organismo (GALANTE; CARUSO, 2005). CONSIDERAÇÕES FINAIS Verificaram-se inadequações no perfil nutricional dos funcionários analisados, tanto em relação ao estado antropométrico quanto aos hábitos alimentares. O diagnóstico de sobrepeso apresentou relevância segundo o Índice de Massa Corporal, a Circunferência da Cintura apresentouse elevada na maioria dos analisados, o diagnóstico de obesidade prevaleceu na avaliação segundo a Prega Cutânea Tricipital e a ingestão de fibras ficou abaixo do recomendado na análise dos Recordatórios 24 horas das mulheres. Os dados alcançados através do perfil antropométrico nos mostra a necessidade de intervenções direcionadas ao controle do peso corporal, ajudando também na prevenção de doenças crônicas. Atividades de educação nutricional poderia ser uma boa opção para melhor esse quadro. Pode-se verificar também que ainda existe uma escassez de trabalhos realizados em torno de Profissionais da Área da Saúde e Nutrição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, A.M.O.; SANTOS, S.M.C.; FREITAS, M.C.; SANTOS, J.M.; SILVA, M.C.M. O programa Saúde da família: contribuições para uma reflexão sobre a inserção do nutricionista na equipe multidisciplinar. Rev. Nutr. 2002; 15(3):255-266. BAPTISTA, I.C. et al. Conhecimento da comunidade universitária em relação aos alimentos funcionais. Acta Scientiarium. Health Sciences, Maringá, SP, v. 35, n. 1, p. 15-21, jan/jun. 2013. BOCLIN, K.L.S.; BLANK, N. Prevalência de sobrepeso e obesidade em trabalhadores de cozinhas dos hospitais públicos estaduais da Grande Florianópolis, Santa Catarina. Ver. Bras. Saúde Ocup., São Paulo, p. 124-130, 2010. BUZZARD, M. “24-hours dietary recall and food record methods”. In: Nutritional Epidemiology. 2.ed.Oxford, Oxford University Press, 1998. COLOMBRO, P.A.R; DERQUIN, E.S. Avaliação do perfil antropométrico (Índice de Massa Corporal – IMC), hábitos alimentares e atividade física, em agentes comunitários de saúde (ACS), do município de Colider – MT. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo, v.2, n.11, p.490-497, Set./Out. 2008. CUPPARI, L. Nutrição Clínica no Adulto. São Paulo: Manole, 2005. DAM, R.M. New approaches to the study of dietary patters. Br J Nutr. 2005; 93(5): 573-4. DE MENEZES, E.W.; GIUNTNI, E.B. Fibras alimentares. In: PHILIPPI, S. T. Pirâmide dos Alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri, SP: Manole, 2008, p. 341-362. DUARTE, A.C.G. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: Atheneu, 2007. FISBERG, R.M.; SLATER, B.; MARCHIONI, D.M.L.; MARTINI, L.A. Inquéritos alimentares: métodos e bases científicos. São Paulo: Manole; 2005. p. 190-236. FRANCESCHINI, S.C.C.; PRIORE, S.E.; EUCLYDES, M.P. Necessidades e Recomendações de Nutrientes. In: CUPPARI, L. Guia de Nutrição: Nutrição clínica no adulto. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2005. p. 3-32. GALANTE, A.P.; CARUSO, L. Como a alimentação pode diminuir o risco de doenças? Paulus, Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 111 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 São Paulo, 2005. HOLANDA, L.G.M. et al. Excesso de peso e adiposidade central em adultos de Teresina-PI. Rev Assoc Med Bras, 57(1), p.50-55, 2011. INSTITUTE OF MEDICINE. Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes: energy, carbohydrates, fiber, fat, protein and amino acids (macronutrients). Washington, DC: National Academy, 2005. p. 697-736. INSTITUTE OF MEDICINE. Food and Nutrition Boarb. Dietary References Intakes: for water, potassium, sodium, chloride, and sulfate. Washington, National Academy Press, p. 450, 2004. IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003. Análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2004. JANSSEN, I.; KATZMARZYK, P.T.; ROSS, R. Body mass index, waist circumference, and health risk. Evidence in support of current National Institutes of Health guidelines. Arch Intern Med. 2002; 162:2074-9. KAMIMURA, M.A et al. Avaliação Nutricional. In: CUPPARI, L. Guia de Nutrição: Nutrição clínica no adulto. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2005, p.89-127. MARTINS, R.M.S. et al. Perfil antropométrico de Profissionais da Saúde em um Hospital Particular na cidade do Rio de Janeiro. Revista Nutrição em Pauta. p. 44-47, Nov./Dez.. 2003. MARTORELL, R. Obesity in the developing world. In: CABARRELO, B.; POPKIN, B.M., editors. The nutrition transition: diet and disease in the developing world. London: Academic Press; 2002. p. 147-164. MARTORELL, R.; KHAN, L.K.; HUGHES, M.L.; GRUMMER-STRAWN, L.M. Obesity in women from developing countries. Eur J Clin Nutr, 2000; 54 (3):247-252. MENDONÇA, C.P.; ANJOS, L.A. Aspectos das práticas alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento do sobrepeso/obesidade no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 30, n.3, p. 698 – 709, 2004. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigitel: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção Para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília: Portal da Saúde, 2014. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/abril/30/Lancamento-Vigitel-28-04ok.pdf>. Acesso em 27 jun. 2014. MONTEIRO, C.A.; MONDINI, L.; COSTA, R.B.L. Mudanças na composição e adequação nutricional da dieta familiar nas áreas metropolitanas do Brasil (1988-1996). Rev Saúde Pública, 2000; 34:3. PHILIPPI, S.T. Pirâmide dos alimentos: fundamentos básicos da nutrição. Barueri, SP: Manole, 2008. SONG–MING, D.; GUAN-SHENG, M.; YAN-PING, L.; HONG-YUN, F.; XIAO-QI, H.; XIAOGUANG, Y.; HU, Y.H. Relationship of Body Mass Index, Waist Circumference and Cardiovascular Risk Factors in Chineses Adult. Biomed Environ Sci, 2010; 23(2): 92-101. TUMA, R.C.F.B.; COSTA, T.H.M.; SCHMITZ, B.A.S. Avaliação antropométrica e dietética de pré-escolares em três creches de Brasília, Distrito Federal. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. [online]. 2005, vol.5, n.4, pp. VASCONCELOS, S.M.L. Nutrição e Doenças Cardiovasculares. O que há de evidência na prevenção e tratamento? Revista Nutrição em Pauta. p. 20-26, Set./Out. 2009. VIEBIG, R.F. et al. Perfil de saúde cardiovascular de uma população adulta da região metropolitana de São Paulo. Arq Bras Cardiol, São Paulo, v.86, n.5, p. 253-260, 2006. Vivências. Vol. 10, N.19: p.104-112, Outubro/2014 112