CONVULSÃO NEONATAL Neonatal Seizure Mary L. Zupanc, M.D. Children’s Hospital of Wisconsin Pediatrics Clinics of North America 2004; 51: 961-78) Apresentação: Fabio Macias Frade Unidade de Neonatologia do HRAS/SES/DF Convulsão Neonatal Mal Classificadas Sub-diagnosticadas Freqüentemente de difícil tratamento Podem indicar condição neurológica subjacente Podem apresentar diversas etiologias: sepse, meningite, hemorragia intraventricular ou intraparenquimatosa e desordens metabólicas Convulsão Neonatal Def: Despolarização simultânea anormal de um grupo de neurônios do SNC Despolarização excessiva costuma desencadear convulsões Nos neonatos a síndrome hipóxico-isquêmica é a causa mais comum, devido a queda súbita de energia que inibe a bomba de sódio e potássio prolongando a despolarização Convulsão Neonatal Hipocalcemia e hipomagnesemia levam a alterações no potencial de membrana do axônio que podem desencadear convulsões O cérebro em desenvolvimento é mais susceptível a convulsões O cérebro em desenvolvimento é mais susceptível a convulsões. Por quê? Desequilíbrio entre os circuitos inibitórios e excitatórios Atividade excitatória aumentada por imaturidade bioquímica As redes “pró-convulsivantes” se desenvolvem primeiramente em relação as redes às “anticonvulssivantes” Diferença entre os potenciais de membrana de diferentes axônios O cérebro em desenvolvimento é mais susceptível a convulsões. Por quê? Maior número de GAP-junctions o que amplifica pequenos desequilíbrios Período refratário absoluto menor O que mais prejudica o RN: convulsões recorrentes ou convulsões prolongadas? Prolongadas: Menor índice de morte neuronal Menor déficit cognitivo Recorrentes: Redução permanente do limiar para convulsões Déficit permanente de aprendizado e memória Classificação das Crises Neonatais Difíceis de identificar e classificar Componentes motores e comportamentais podem não aparecer no EEG, só aparecendo em vídeo Raramente apresentam convulsões tônicoclônico generalizadas ou convulsões parciais com generalização secundária Convulsões mediadas pelo tronco cerebral e regiões subcorticais Classificação das Crises Neonatais Só apresentam padrão “adulto” após mielinização e aumento do número de sinapses Crise Sutil Movimentos de pedalar ou movimentos estereotipados dos membros Movimentos mastigatórios ou estereotipados com a boca ou língua Desvio do olhar sustentado e não responsivo Apnéia? Fenômenos autonômicos Não costumam apresentar correspondente no EEG Crise Sutil Fenômeno subcortical Em RNs com encefalopatia hipóxicoisquêmica: Associada a convulsões clônicas multifocais Com atividade variável no EEG Quando se manifesta como apnéia deve ser um diagnóstico de exclusão, costumando estar associada a outros tipos de convulsão Crises Clônicas Mas comuns em bebês de termo Atividade rítmica no EEG Focais ou Multifocais Ocorrem em seqüência ou simultaneamente Imaturidade neuronal (corpo caloso) impede manifestações complexas Crises Tônicas Grupo heterogêneo Algumas secundárias a disfunção ou dano do tronco cerebral Outras com claro componente cortical Costumam apresentar alterações no EEG quando associadas a fenômenos autonômicos Apresentam sinais focais como envolvimento unilateral ou desvio do olhar Crises Mioclônicas Presente em RNs de termo e pré-termo Com ou sem correlação no EEG Apresentam manifestações no EEG quando ocorrem durante o sono ou associadas a hipoxemia As mioclônias podem estar associadas a síndromes epiléptica catastróficas Etiologia: Síndrome Hipóxico-isquêmica É a etiologia mais comum (50 a 60%) Costumam se apresentar nas primeiras 24h, sendo 60% nas primeiras 12h Associada a rebaixamento da consciência Em casos graves apresenta cardio e nefropatia concomitante Evoluem com aumento da freqüência e da severidade, podendo evoluir pra estado de mal epiléptico Tratamento difícil Etiologia: Infecções intracranianas Cursam com vômitos, labilidade térmica, letargia ou mudanças drásticas no estado do paciente Infecções bacterianas costumam se apresentar ao fim da primeira semana podendo apresentar-se até o 3º mês Deve-se investigar infecções bacterianas e virais, com atenção as congênitas CMV, herpes, toxoplasmose, rubéola Apresenta-se nos primeiros 3 dias de vida No Herpes aparecem em até 2 semanas Deve-se buscar outras manifestações Etiologia: Hemorragias intracranianas Responsável por 10% das convulsões neonatais A convulsão se dá pela hemorragia da matriz germinativa na maior parte dos casos Costumam apresentar-se nos primeiros 3 dias, em prematuros na primeira semana Convulsões são raramente a primeira manifestação da hemorragia, costumam ser precedidas por letargia e quedas no HT Etiologia: Hemorragias intracranianas Quanto maior a área acometida pela hemorragia mais freqüentes são as convulsões Convulsões tônicas generalizadas são as mais freqüentes, convulsões sutis são raras “well-baby seizures”: hemorragia subaracnóidea, costuma ocorrer no 2º dia de vida – bom prognóstico Hemorragia subdural; secundária a traumas, focal ou multifocal, em até 48hs após o trauma Etiologia: Distúrbios Metabólicos Hipoglicemia Filhos de diabéticas e PIG Hipotonia, estupor, apnéia Pode estar associadas a outras comorbidades Mais frequentes nos primeiros 2 ou 3 dias de vida Hipocalcemia Hipomagnesemia Hiper e hiponatremia Etiologia: Erros inatos do metabolismo Diagnóstico de exclusão Aminoacidopatias, doenças do ciclo da uréia, deficiência de biotinidase e desordens dos peroxissomos Investigação: Dosagens sangüínea de: lactato, piruvato, amônia, biotinidase, aminoácidos, gorduras de cadeia longa Ácidos orgânicos na urina Punção lombar: celularidade, piruvato, lactato, glicose e aminoácidos Etiologia: Erros inatos do metabolismo Dependência de piridoxina Convulsões severas Convulsões intra-útero Cursa com atrofia cortical, deficiência de mielinização, atraso intelectual Convulsões clônicas multifocais Síndromes Genéticas Epiléticas do Neonato Epilepsia neonatal familiar benigna Se iniciam no 2º ou 3º dia de vida Podem ser parciais ou complexas Cursam com desvio do olhar, interrupção do comportamento, hipertonia e mioclonias (raras) Podem ocorrer de 15 a 20 episódios por dia Diminuem ao longo do primeiro ano História familiar Não costuma responder a tratamento medicamentoso Cromossomos 8 e 20 Síndromes Genéticas Epiléticas do Neonato Convulsões do 5º dia Ocorre em RNs de termo Aparentam ser fulminantes Podem ocorrer de 15 a 20 episódios por dia Iniciam-se na primeira semana Clônicas, alternando os lados direito e esquerdo Pode cursar com apnéia e cianose Etiologia desconhecida, mas ligada a deficiência aguda de zinco Resposta incerta a anticonvulsivantes Síndromes Epilépticas Catastróficas Síndrome de Ohtahara e Encefalopatia Mioclônica Precoce Se iniciam no período neonatal, nos primeiros 10 dias Ligadas a doença neurológica severa Convulsões “Intratáveis” Síndrome de Ohtahara Espasmos tônicos repetitivos Ligada a mal formações do desenvolvimento cortical Desenvolvimento cognitivo e motor pobre Tratamento com ACTH, predinisolona, ácido valproico Um terço dos pacientes falece na infância Encefalopatia Mioclônica Precoce Espasmos mioclônicos fragmentados ou espasmos mioclônicos violentos Desenvolvimento cognitivo e motor pobre Morte precoce Ligada a erros inatos do metabolismo Tratamento Identificar a causa subjacente e tratá-la Freqüentemente necessitam de monitorização continua por vídeo e EEG Convulsões subclínicas Evita subestimação Pode necessitar de um ou mais anticonvulsivantes Tratamento Tratar ou não tratar? Não há consenso Modelos animais mostram distúrbios cognitivo e de comportamento em cérebros imaturos que sofreram convulsões sem tratamento Tratamento agressivo Tratamento Glicemia capilar imediatamente após a convulsão, se hipoglicemia: Administração imediata de glicose previne a queda dos níveis cerebrais de glicose Glicose a 10% seguida de infusão continua Persistindo as convulsões: Fenobarbital 20 mg/Kg EV, seguido por bolus de 5 mg/Kg até completar 40mg/Kg Tratamento Em casos injuria hipóxico-isquêmica, pode ocorrer depressão respiratória: Fosfenitoína 20 mg/kg EV Evita a “síndrome da mão púrpura” Em caso de estado de mal epiléptico: Lorazepan 0,05 a 0,1mg/Kg Persistindo a convulsão fenobarbital em dose de ataque Mantendo-se ainda: Fenitoína Tratamento Fenobarbital como 1ª droga: interrompe 42% das convulsões Seguida de uma dose de fenitoína interrompe 62% das convulsões Fenitoína como 1ª droga: interrompe 43% das convulsões Seguida de uma dose de fenobarbital interrompe 63% das convulsões Tratamento Topiramato Zonisamida 30 a 40 mg/Kg/dia dividido em 3 doses Ainda não liberado para neonatos (só crianças acima de 2 anos) Usado há 15 anos no Japão Eficácia ainda não comprovada Valproato: Hepatotóxico Tratamento Felbamato: Reservado a convulsões resistentes a outros tratamentos pelo risco de anemia aplástica e colapso renal Lamotrigina: Uso limitado em neonatologia Infusão lenta Infusão rápida pode levar a reação alérgica grave Prognóstico Ruim quando há causa neurológica subjacente Cerca de 2/3 evoluem com seqüelas (Legido et al) O prognóstico esta diretamente ligado a etiologia Sínd. Hipóxico-isquêmica: 100% com convulsões freqüentes, atrasos no desenvolvimento Hipocalcemia e hemorragia subaracnóidea: sem seqüelas Prognóstico Erros inatos do metabolismo: Desordem no metabolismo de aminoácidos: dieta pode melhorar o prognóstico Dependência de piridoxina: suplementação de piridoxina = desenvolvimento normal Malformações corticais: Convulsões refratária Tratamento cirúrgico precoce pode melhorar o prognóstico Convulsões no recém-nascido Autor (s): Paulo R. Margotto