X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul PRODUÇÃO DE MELANCIA SUBMETIDA A DIFERENTES NIVEIS DE ADUBAÇÃO NITROGENADA Amanda Valentini Baseggio(1); Odair Rogerio Rosa(2); Círio Parizotto(3); Analu Mantovani(4) (1) Acadêmica do curso de Agronomia da Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC; Rua Benjamin Colla, 289, Campos Novos – SC, 89620-000; [email protected]; (2) Acadêmico do curso de Agronomia da Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC;(3) Professor do curso de Agronomia da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC; (4) Professora do curso de Agronomia da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. RESUMO– A melancia tem grande adaptabilidade a variadas condições climática e tem boa resposta a aplicação de nitrogênio (N), por esse motivo é necessário encontrar a dose ideal para aumentar a produtividade e evitar aplicações excessivas desse fertilizante. O objetivo do estudo foi avaliar a resposta da cultura a diferentes doses de nitrogênio em forma de Nitrato de Amônio (NH4,NO3). O experimento foi implantado na comunidade Bom Jesus, no município de Abdon Batista – SC. O delineamento utilizado foi em blocos casualizados com 5 tratamentos e 4 repetições. Cada parcela teve área de 27m² e área útil de 18m² Tratamentos: zero Kg de N ha-1 (Test.); 20 Kg de N ha-1; 40 Kg de N ha-1; 80 Kg de N ha1 ; 160 Kg de N ha-1. O espaçamento utilizado foi de 1,5m entre plantas e 3m entre fileiras e a cultivar utilizada a Crinson Sweet. O plantio ocorreu na primeira quinzena de outubro de 2013. A colheita foi realizada a partir da segunda quinzena de dezembro até a primeira quinzena de janeiro de 2014. Foi avaliado o efeito do N sobre o rendimento da melancia e número de frutos por planta. A dose de maior eficiência técnica foi de 80 Kg de N ha-1 resultando em 31,8 t ha-1. O número de frutos decresceu à medida que se aumentou a quantidade de nitrogênio aplicado, isso devido ao abortamento de flores. Concluise que o aumento da dose de N (até 80 Kg ha-1) proporcionou aumento no rendimento de frutos. Palavras-chave: Citrullus lanatus. Agricultura, Olericulas, Melancia, INTRODUÇÃO- A melancia (Citrullus latanus) originária da África Tropical pertence à família das Curcubitáceas, uma planta anual sarmentosa de crescimento rasteiro. Segundo EPAGRI (2012), em escala mundial, a melancia vem em segundo lugar com volume de produção com 89 milhões de toneladas e seu consumo teve aumento de forma expressiva nos últimos anos. Segundo IBGE (2010), 34,34% e 30,10% do total , o Rio Grande do Sul foi o estado com maior produtividade 27% do total com média de 25 t ha-1. Embora a melancieira produza em vários tipos de solos, ela se desenvolve melhor em solos de textura média, arenosos, profundos, bem drenados e com disponibilidade de nutrientes. A melancia não se adapta a solos muitos compactados e mal drenados, os mesmos favorecem o acúmulo de água que pode impedir e prejudicar a respiração e o metabolismo das raízes (EPAGRI, 1996). Apesar de ter uma grande disponibilidade de cultivares no Brasil, os consumidores têm a preferência voltada para as melancias globulares de casca verde com listras escuras e polpa vermelha como a Crimson Sweet (EPAGRI, 1996). Para o aumento da produtividade dessa cultura, deve-se voltar para os fatores que podem ser controlados pelo agricultor, sendo um dos mais importantes para o sucesso na produção de melancia o uso adequado do nitrogênio (N). O N é um macro nutriente imprescindível para a cultura e atua em fenômenos vitais da planta e é exigido em maior quantidade, pois o mesmo antecipa a brotação e aumenta a produção de folhas que por sua vez estimula a atividade fotossintética da planta, determinando os rendimentos quantitativos da cultura (PIZARRO CABELO, 1996), porém, o excesso pode tornar os frutos aquosos, além de afetar a frutificação e promover modificações morfofisiológicas na planta (CARMELLO, 1999). A melancia se destaca por ser altamente exigente deste nutriente o que aumenta a necessidade de pesquisa sobre o mesmo. Na adubação convencional, com aplicação dos adubos a lanço, pesquisas demonstraram que apenas 1/3 dos adubos nitrogenados adicionados ao solo tem aproveitamento efetivo pelas plantas o restante é perdido (ALFAIA, 1997). O grande problema é que esse nutriente se perde facilmente por lixiviação, volatilização e erosão. Cerca de 30% do N é perdido pelas plantas é pela erosão, por lixiviação e perdas por volatilização (COELHO; VERLENGIA, 1973). Em melancia a deficiência de N surge primeiramente em folhas mais velhas com coloração verde claro evoluindo para cor amarela característico das plantas deficientes em N. Ocorre também redução do crescimento de folhas novas e aumento da distância entre folhas mais novas (VIDIGAL et al., 2006). Levando em consideração a importância do N, este trabalho objetivou avaliar a resposta da cultura a diferentes doses de nitrogênio sobre o rendimento de frutos comerciais. X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 quadrática). Os testes estatísticos foram realizados com o auxilio do programa SigmaPlot (2010). RESULTADOS E DISCUSSÃO- A análise conjunta dos dados expressos na figura 1 demonstrou que houve efeito quadrático entre as diferentes doses de nitrogênio na produtividade total (PT), de modo que o maior rendimento foi obtido no tratamento de 80 kg de N com produção de 31,8 t ha-1. Nesse tratamento verifica-se o ponto de máxima eficiência técnica (PMET) do N. Essa produtividade alcançada foi superior à observada por Mousinho et al. (2003) quando obteve também por adubação convencional produção máxima de 30.8 t ha-1 com a dose de 222,1 Kg de nitrogênio. 34 y = 24,31 + 0,17x - 0,001x2 R2 = 0,99 32 Produtividade (t ha-1) MATERIAL E MÉTODOS - O experimento foi conduzido a campo no sistema de plantio convencional sobre “Leras”, em uma propriedade rural com área de 18.7 hectares, pertencente ao senhor Rogério Rosa, situado na localidade de Bom Jesus, distante 7 km da sede do município de Abdon Batista-Santa Catarina, latitude 27º38’55.21’’S, longitude 51º04’42.97’’0 W e altitude de 671m, na safra 2013/2014. O solo da área do experimento é do tipo Latossolo vermelho distrófico e apresenta a seguinte composição química: pH em água 5.5, índice SMP 4.6, argila = 49%, P = 3.6mg/dm-3, K = 41mg-dm-3, M.O.3.0, AL 2.2cmolc/dm-3, Mg 2,4 cmolc/dm-3. Foi utilizada a variedade Crimson Sweet, que apresenta frutos globulares, com peso médio entre 10 a 14 Kg e boa aceitação no mercado (ANDRADE JUNIOR et al., 1997). A semeadura foi realizada na segunda quinzena de setembro sobre bandejas de isopor, permanecendo em canteiro com piscina protegida por 30 dias até o seu transplante a campo, que foi realizado na segunda quinzena do mês de outubro. O espaçamento usado foi de 3m entre linhas e 1,5m entre plantas. A adubação de base foi de acordo com o manual de adubação e calagem para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (ROLAS, 2004), tendo com a base a análise de solo. A adubação de base foi realizada na cova de maneira igual para todas as parcelas. O controle fitossanitário (fungicidas e inseticidas) foi feito empregando-se produtos e doses adequadas recomendadas para a cultura. Além disso, foram feitas capinas manuais visando o controle de plantas daninhas. O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados, com 5 tratamentos e 4 repetições, cada parcela teve 27 m² (3m x 9m) e área útil de 18m². O número total de plantas por parcela foi de 6, sendo 4 consideradas as plantas úteis. A área total do experimento foi de 540m². Tratamentos: (zero Kg de N ha-1 (Test.); 20 Kg de N ha-1; 40 Kg de N ha-1; 80 Kg de N ha-1; 160 Kg de N ha-1). A aplicação do nitrogênio em forma de Nitrato de Amônio (NH4,NO3) a 34% de concentração, em cobertura, ocorreu em duas épocas distintas, 60% da dose no pré embaraçamento e 40% em pós embaraçamento. A colheita foi realizada entre a última quinzena de dezembro de 2013 até a primeira quinzena de janeiro de 2014. As avaliações envolvendo os componentes de produção foram realizadas no período correspondente a colheita através do estado de maturação dos frutos, descartando os frutos com deformidades, manchas, injúrias ou qualquer tipo de dano aparente. Como componente de produção foram avaliados o número de frutos por hectare, obtidos com o somatório de frutos na área útil da parcela e convertidos para frutos por ha-1, e a produtividade determinada a partir do somatório dos frutos da área útil da parcela, expressa em kg ha-1. Para o cálculo da produção total não foram contabilizados frutos com peso inferior a 5 kg. Os resultados foram submetidos a analise de variância avaliado estatisticamente por meio de regressão (linear e 30 28 26 24 22 0 20 40 80 160 Quantidade Nitrigênio (kg ha-1) Figura 1 - Rendimento da melancia sob diferentes doses de nitrogênio. Já o resultado foi inferior à produtividade de 66, 7 t ha-1 utilizando-se de 104,5 kg de N, via fertirrigação obtida por Andrade Júnior et al. (2006), provavelmente pela aplicação de N de acordo com a marcha de absorção do elemento, o que minimizou seu uso pela cultura. A menor produtividade alcançada foi de 24,2 t ha-1, obtida no tratamento com zero de N (testemunha), mesmo assim é um rendimento acima da média nacional, que é de 22,56 t ha-1 segundo dados da (FAO, 2005). Os tratamentos com o uso de 20 e 40 kg de N, não apresentaram diferença significativa entre eles para a produtividade (28,7 t ha-1e 29,1 t ha-1, respectivamente). Pela curva logarítmica, a partir da dose de máxima produtividade, o N passou a não ser mais efetivo no rendimento, inviabilizando o uso de doses maiores. Isso ficou demonstrado na dose de 160 kg de N, onde o rendimento declinou para 26,7 t ha¹. Até o ponto de máxima eficiência técnica, a cada kg de nitrogênio aplicado proporcionou um rendimento de 95 kg de frutos comerciais de melancia, sendo que, o maior incremento foi verificado entre as doses zero e 20 kg de N ha¹, com 190 kg de frutos. Já da dose de 80 a 160 Kg de N houve um crescimento negativo na produção, não justificando o uso. 2 X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 O uso de 80 kg de N foi o que proporcionou o melhor resultado, isso provavelmente devido à boa fertilidade inicial do solo. Observa-se através da analise dos dados expressos na figura 2 que o número de frutos comerciais por hectare diminuiu linearmente na medida em que se aumenta a quantidade de nitrogênio aplicada, em decorrência da redução da frutificação, concordando com os resultados obtidos por Garcia; Souza (2002) em solos do Paraíba - PI, onde concluiu-se que o excesso de adubação nitrogenada acelera o crescimento vegetativo ocasionando o abortamento de flores. A quantidade de frutos nas doses zero, 20 e 40 kg N ha ¹ foi superior ao número obtido na dose de 80 kg, no entanto, o peso médio dos frutos desse tratamento foi superior e também houve um descarte menor. 2600 y = 2485,49 - 3,18x R2 = 0,88 2400 CARMELLO, Q. A. C. Curso de nutrição/fertirrigação na irrigação localizada. Piracicaba: Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, 1999. 59p. COELHO, F.; VERLENGIA, F. Fertilidade do Solo. 2 ed. Campinas, SP. Ed. Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1973. 383 p. EPAGRI, Normas Técnicas para Cultura da Melancia em santa Catarina. 1° revisão Florianópolis, 1996. EPAGRI, Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina. Centro de Socioeconômica e Planejamento Agrícola Epagri/Cepa. 2012. 21p. 2300 2200 FAO (Roma, Italy). Agricultural production, primary crops. 2005. Disponível em: <http://www.fao.org>. Acesso em: 16 mai. 2014. o N frutos por hectare 2500 ANDRADE JÚNIOR, A. S.; DIAS, N.DA S.; FIGUEIREDO JÚNIOR, L. G. M.; RIBEIRO, V. Q.; SAMPAIO, D. B. Produção e qualidade de frutos de melancia à aplicação de nitrogênio via fertirrigação. Revista Brasileira Engenharia Agrícola e Ambiental, v.10, p.836-841, 2006. 2100 2000 1900 0 20 40 80 160 -1 Quantidade de Nitrogênio (kg ha ) Figura 2 - Número de frutos da melancia sob diferentes doses de nitrogênio. CONCLUSÕES – O uso de diferentes doses de nitrogênio na cultivar de melancia Crinson Sweet proporcionou um aumento no rendimento, sendo a máxima eficiência técnica verificada com a dose de 80 kg de N ha-1, resultando em 31,8 t ha-1. Até a dose de 80 kg de N ha¹ a cada kg de N aplicado propiciou um retorno médio de 95 kg de frutos comerciais. A partir dessa dose o efeito foi negativo no rendimento da cultura, não justificando mais seu uso. O número de frutos por hectare seguiu um modelo linear decrescente à medida que se aumentou a quantidade de nitrogênio. Este provocou um abortamento de flores, reduzindo sua frutificação. REFERÊNCIAS ALFAIA, S.S. Destino de fertilizantes nitrogenados em um Latossolo Amarelo cultivado com Feijão Caupi. Acta Amazonas, Amazonas, v 27, n. 2, p 65-72, 1997. ANDRADE JÚNIOR, A. S.; RODRIGUES, B. H. N.; ATHAYDE SOBRINHO, C.; MELO, F. B.; BASTOS, E. A.; CARDOSO, M. J.; RIBEIRO, V. Q. Produtividade e qualidade de frutos de melancia em função de diferentes níveis de irrigação. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v. 15, n. 1, p. 43-46, 1997. GARCIA, L. F.; SOUSA, V. A. B. Influência do espaçamento e da adubação nitrogenada sobre a produção da melancia. Revista de la Facultad de Agronomia, v.28, p.59-70, 2002. IBGE. Indicadores conjunturais: produção agrícola/ agricultura 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 mar. 2014. MOUSINHO, E. P.; COSTA, R. N. T.; SOUZA, F.; GOMES FILHO, R. R. Função de resposta da melancia à aplicação de água nitrogênio para as condições edafoclimáticas de Fortaleza- CE. Irriga, v.8, p.264-272, 2003. PIZARRO C. F. 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