Colégio Internato dos Carvalhos Teste Intermédio de Português (peso 2) 24-02-2015 Turmas do 12.º Ano Grupo Disciplinar: _•Çzâtá eÉÅúÇ|vtá @ aXf Duração do Teste: 90 minutos VERSÃO 2 Responda sempre, na folha de respostas, com correção formal e linguística. Na folha de respostas, indique, de forma legível, • a turma e o número interno no canto superior direito; • a versão da prova (a ausência dessa indicação implica a classificação com zero pontos das respostas aos itens de seleção do Grupo II); • a OPÇÃO 1 ou a OPÇÃO 2 do GRUPO I B. Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta indelével, azul ou preta. Não é permitida a consulta de dicionário. Não é permitido o uso de «esferográfica-lápis» e de corretor. Em caso de engano, deve riscar, de forma inequívoca, aquilo que pretende que não seja classificado. Apresente as suas respostas de forma legível, indicando, para cada resposta, a numeração do grupo e do item. Ao responder, diferencie corretamente as maiúsculas das minúsculas. Se escrever alguma resposta integralmente em maiúsculas, a classificação do teste é sujeita a uma desvalorização de cinco pontos. Apresente apenas uma resposta para cada item. Se escrever mais do que uma resposta a um mesmo item, apenas é classificada a resposta apresentada em primeiro lugar. Para responder aos itens de escolha múltipla, escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a única opção correta. As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado do Teste. 1 GRUPO I A Leia, atentamente, o texto seguinte. 1 Guia-me a só a razão. Como olhar, a razão Não me deram mais guia. Deus me deu, para ver Alumia-me em vão? 5 15 Para além da visão – Só ela me alumia. Olhar de conhecer. Tivesse Quem criou Se ver é enganar-me, O mundo desejado Pensar um descaminho, Que eu fosse outro que sou, Não sei. Deus os quis dar-me Ter-me-ia outro criado. Deu-me olhos para ver. 10 Olho, vejo, acredito. Como ousarei dizer: 20 Por verdade e caminho. Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio – 1014-1935, edição de Fernando Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998. «Cego, fora eu bendito»? Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Explique a relação que se estabelece entre os vocábulos “razão” e “guia” na primeira estrofe do poema. 2. Interprete o sentido dos versos 13 a 16: “Como olhar, a razão / Deus me deu, para ver / Para além da visão – / Olhar de conhecer.” 3. Relacione a interrogação presente na primeira estrofe – “Alumia-me em vão?” – com o sentido da última estrofe. 2 B Selecione uma das duas opções que se seguem – opção 1 ou opção 2 – e identifique-a na folha de respostas. Responda, de forma clara e bem estruturada, apenas aos itens referentes à opção selecionada. OPÇÃO 1 Leia o poema de Luís de Camões a seguir transcrito. Em caso de necessidade, consulte o glossário apresentado a seguir ao texto. 1 Quando o Sol encoberto vai mostrando ao mundo a luz quieta e duvidosa, ao longo d’ ũa praia deleitosa, Aqui esteve sentada, ali me viu, 10 erguendo aqueles olhos tão isentos; aqui movida um pouco, ali segura; vou na minha inimiga imaginando. aqui se entristeceu, ali se riu; 5 Aqui a vi, os cabelos concertando; enfim, nestes cansados pensamentos ali, co a mão na face tão fermosa; passo esta vida vã, que sempre dura. aqui, falando alegre, ali cuidosa; agora estando queda, agora andando. Luís de Camões, Rimas, edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994 GLOSSÁRIO cuidosa (verso 7) – meditativa; pensativa. isentos (verso 10) – puros. vã (verso 14) – vazia, enterrada. 4. Identifique, no poema transcrito, duas características temáticas da poesia lírica camoniana, fundamentando a sua resposta com elementos textuais pertinentes. 5. Comente o sentido que a conclusão do soneto produz (versos 13-14). 3 OPÇÃO 2 Leia o excerto seguinte do drama Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. 1 Manuel (passeia agitado de um lado para outro da cena, com as mãos cruzadas detrás das costas; e parando de repente) – Há de saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal. Madalena – Que tens tu, dize, que tens tu? 5 Manuel – Tenho que não hei de sofrer esta afronta… e que é preciso sair desta casa, senhora. Madalena – Pois sairemos, sim; eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que coisa era ter outra vontade diferente da tua; estou pronta a obedecer-te sempre, cegamente, em tudo. Mas, oh! esposo da minha alma… para aquela casa não, não me leves para aquela casa! (Deitando-lhe os braços ao pescoço.) 10 Manuel – Ora tu não eras costumada a ter caprichos! Não temos outra para onde ir; e a estas horas, neste aperto… Mudaremos depois, se quiseres… mas não lhe vejo remédio agora. […] Madalena – Pois que vais tu fazer? Manuel – Vou, já te disse, vou dar uma lição aos nossos tiranos que lhes há de lembrar, vou dar um exemplo a este povo que os há de alumiar… Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa (Realização didática de Luís Amaro de Oliveira), Porto, Porto Editora, 2009 (Texto adaptado) 4. Estabeleça a relação entre as personalidades de D. Madalena e Manuel de Sousa e os respetivos discursos, justificando com elementos textuais relevantes. 5. Demonstre a sensibilidade romântica de D. Madalena no excerto transcrito, fundamentando com dois exemplos textuais. 4 GRUPO II Leia o texto seguinte. Um dia isto tinha que acontecer - Por: Mia Couto 1 Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. 5 A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos. Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as 10 seguintes (atualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais 15 de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada. Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a 20 qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou. Foi então que os pais ficaram à rasca. 25 Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado. Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais. São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e 5 30 que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos “qualquercoisaphones” ou “pads”, sempre de última geração. São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes 35 disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar! A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas. Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados. Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades, mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma 40 geração que coleciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional. Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere. 45 Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam. 50 Eis uma geração que, de repente, se apercebeu [de] que não manda no mundo como mandou nos pais e [de] que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras. Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável. 55 Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada. Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos! Os jovens que detêm estas 60 capacidades-características não encaixam no retrato coletivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós). […] Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens. 6 Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa 65 não é deles. A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço? “Um dia isto tinha que acontecer” (texto atribuído a Mia Couto) Disponível em <http://arquivo.geledes.org.br/em-debate/colunistas/23808-um-dia-isto-tinha-que-acontecer-por-miacouto> [Consultado em 2014-11-15] (texto adaptado) 1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.3., selecione a opção que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto. Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção correta. 1.1. Relacionando a informação dos quatro primeiros parágrafos do texto com o último parágrafo, conclui-se que (A) o fiasco do retrato coletivo gizado se deve à geração dos pais. (B) a responsabilidade pela situação delineada é exclusiva da geração jovem. (C) a crítica ao retrato social descrito radica num falhanço intergeracional. (D) a culpa da realidade criticada não é de ninguém, pois “morre solteira”. 1.2. No contexto em que ocorre, os dois pares de palavras «muito» (linha 53) / «pouco» (linha 53) e «supérfluo» (linha 53) / «acessório» (linha 53) mantêm, respetivamente, uma relação semântica de (A) antonímia e sinonímia. (B) holonímia e meronímia. (C) sinonímia e antonímia. (D) hiperonímia e hiponímia. 1.3. Na frase «embora estejam à rasca, como todos nós» (linha 61), os valores introduzidos pelos dois conetores aí presentes são, respetivamente, de (A) oposição e de causa. (B) concessão e de causa. (C) oposição e de adição. (D) concessão e de comparação. 7 2. Responda de forma correta aos itens apresentados. 2.1. Classifique a oração «para que nada lhes faltasse.» (linha 16). 2.2. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «estes pais e estas mães» (linha 18). GRUPO III Ora, quer se trate de seguir um regime alimentar calculando as nossas ingestões calóricas diárias, de avaliar as horas de sono de que necessitamos, de controlar o nosso consumo de álcool e de cafeína, de conceber um filho – rapaz ou rapariga? –, de efetuar um trajeto no automóvel ou na bicicleta, existe algures uma aplicação ou um “site” capaz de otimizar essa atividade. (…) E, claro, isso reforça o sentimento de omnipotência do indivíduo contemporâneo. Mas a questão da liberdade merece ser colocada de novo: em vez de incorporar todas essas regras de conduta, não vale mais viver pela sensação? Alexandre Lacroix, “Da liberdade considerada como uma sensação” (tradução livre de Paulo Pereira), in Philosophie Magazine, n.º 83, setembro de 2014 Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, desenvolva uma reflexão sobre a (in)dependência do ser humano relativamente às tecnologias de informação na sociedade atual. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. Observações: 1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2015/). 2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há que atender ao seguinte: − um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido; − um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos. FIM 8 COTAÇÕES GRUPO I A 1. ……………………………………………………………………………… Conteúdo 20 pontos (12 pontos) Estruturação do discurso e correção linguística (8 pontos) 2. ……………………………………………………………………………… Conteúdo (12 pontos) Estruturação do discurso e correção linguística (8 pontos) 3. ……………………………………………………………………………… Conteúdo 20 pontos 20 pontos (12 pontos) Estruturação do discurso e correção linguística (8 pontos) B (OPÇÃO 1 ou OPÇÃO 2) 4. ……………………………………………………………………………… Conteúdo 20 pontos (12 pontos) Estruturação do discurso e correção linguística (8 pontos) 5. ……………………………………………………………………………….. Conteúdo (12 pontos) Estruturação do discurso e correção linguística (8 pontos) 20 pontos 100 pontos GRUPO II 1. 1.1. ……………………………………………………………………… 10 pontos 1.2. ……………………………………………………………………… 10 pontos 1.3. ……………………………………………………………………… 10 pontos 2.1. ……………………………………………………………………….. 10 pontos 2.2. ……………………………………………………………………… 10 pontos 2. 50 pontos GRUPO III Estruturação temática e discursiva (30 pontos) Correção linguística (20 pontos) 50 pontos TOTAL 200 Pontos 9