Uma empresa Do Bem estudo de caso da sucos Do Bem Material desenvolvido pela coordenação do curso de Marketing e Propaganda, sob a orientação do professor Msc Luiz Carlos Santi, em setembro de 2010. material de uso exclusivo em sala de aula, no curso de Marketing e Propaganda da Unopar Atendendo aos desejos emocionais do consumidor Se há alguma coisa no futuro pela qual certamente a nossa sociedade será reconhecida, ela já tem nome e sobrenome: a globalização. Explica-se: a partir do final da década de 80, mais precisamente depois da queda do muro de Berlin em 1989, o mundo tornou-se menor, não geograficamente claro, mas no acesso das pessoas e das empresas a diferentes produtos de diferentes mercados, algo impossível nas decadas anteriores no quais estes mesmos mercados estavam limitados geograficamente em função dos altos custos de transporte e do fluxo da informação. Não é demais lembrar que o fenômeno da internet somente ganhou força a partir dos anos 90 quando a banda larga ficou mais barata e tornou mais democrático o acesso das pessoas à rede mundial de computadores em alta velocidade. A este mundo “antigo” Kaplan e Norton1 deram simplesmente o nome de Economia Industrial no sentido que às empresas do período para serem competitivas bastavam ser capazes de transformar matérias primas em produto acabado e colocar no mercado, ou seja, neste cenário o foco era a venda e a atenção das empresas estava focada no desenvolvimento de produtos com capacidade e atender às necessidades utilitárias dos consumidores, quando muito. Na medida em que o transporte de coisas e pessoas tornou-se mais barato e menos sujeito a toda ordem de entraves, como impostos de importação, exigências de vistos, etc., e o acesso das pessoas à informação mais democrático através da internet, televisão a cabo, telefonia celular, apenas para ficar no óbvio, o mundo claro, mudou! Hoje o consumidor tem mais opções de compra e agora também quer satisfazer as suas necessidades hedônicas ou emocionais. David Harvey 2 e outros estudiosos da pós modernidade afirmam que ao contrário de se criar uma sociedade global, pasteurizada, uniforme em seus interesses, a globalização na verdade mostrou a diferença entre as pessoas e as diferentes culturas ao redor do globo, tornando mais evidente a necessidade que todos têm de se sentirem parte de um grupo, de serem reconhecidos como integrantes deste grupo social, e uma das formas de satisfazer a esta necessidade emocional está na compra de produtos que funcionem como signos ou icones que as dentficam e as diferenciam dos outros Por outro lado, a forte concorrência entre as empresas e o acesso mais barato a novas tecnologias tornou bastante improvável a diferenciação de produtos através de mudanças em seus atributos tangíveis, como sabor, cor, tamanho, etc, uma vez que elas podem ser facilmente copiadas, emuladas e assim, tudo aquilo que é novidade hoje torna-se comum amanhã, obrigando as empresas cada vez mais a buscar outras alternativas, como a diferenciação através da imagem, caso específico da Do Bem e da Method, empresa americana que fabrica produtos de limpeza e de higiene pessoal com um forte apelo ao design, chegando inclusive a ter entre os seus colaboradores um dos maiores designers do mundo, o egípcio Karin Rashid. Alia-se a isto o fato incontestável de que, no mundo inteiro a classe média cresceu com o ingresso de mais pessoas que antes estavam abaixo da linha de probreza, mas que agora têm melhores empregos, renda, acesso a educação de qualidade e principalmente, à informação, que também ajuda a criar novos mercados para produtos inovadores e com uma forte pegada emocional. É justamente este o caminho que a Do Bem escolheu trilhar, e até agora com muito sucesso. 1 2 David Norton e Robert S. Kaplan, autores o livro As Organizações Orientadas pela Estratégia Geógrafo anglo-americano e professor da universidade de Stanford que se dedica ao estudo da globalização. Autor do livro A Compressão dos Mercados. O mercado de sucos no Brasil Dados recentes do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, USP) indicam que a grande maioria das bebidas comercializadas no País trata-se na verdade de um néctar de frutas. Uma das autoras que elaborou o estudo, Camila Pires Pirillo, afirma que o consumidor brasileiro não sabe diferenciar o que é 100% suco de fruta e o produto que é um néctar. Desde o mês de junho, entrou em vigor o decreto 6.871, que regulamentou a lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, cujo teor é a definição do que é considerado suco. A legislação estabelece que suco de fruta é uma bebida que tem 100% do produto em sua composição. A regra só abre exceções para culturas, como a manga e goiaba, que podem ter a diluição da polpa. O néctar deve conter pelo menos 30% de polpa de fruta e apenas em casos de frutas com acidez, conteúdo muito elevado de polpa e sabor forte é permitido um patamar de 20%. Ela salienta que no Brasil faltam empresas que realizem o processo de transformação da fruta in natura em polpa ou suco pronto. "O País têm várias engarrafadoras de bebidas que colocam sua marca em produtos que em grande parte são néctares de frutas", explica ela citando que o consumo per capita de sucos e néctares prontos foi de 2,5 litros no País. Ela acrescentou que, segundo a Abir, o volume do mercado de refrigerantes foi de 77 litros em 2007. A autora do estudo destaca ainda que o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) tem dados que mostram um total de 300 empresas que atuam no setor de frutas processadas de transformação primária e secundária. "Conforme a nossa pesquisa, com base nas informações da entidade, 34 mil postos de trabalho são gerados por essas empresas. Quase metade das empresas estão localizadas na região Nordeste", diz Camila, ao lembrar que sobra fruta no país que poderia ser usada na preparação da polpa e do suco. "Nós importamos, por exemplo, a polpa de pêssego", comenta. Ela ressalta que a expansão das empresas poderia resultar em um barateamento do preço do produto para o consumidor final, visto que o suco tem valor mais elevado no mercado do que as bebidas de néctar. Alinhando as competências de marketing para gerar satisfação emocional A teoria do marketing define que as empresas devem encontrar o seu posicionamento estratégico ideal no mercado, ou seja, aquele no qual as suas competências se harmonizam com os interesses do consumidor no desenvolvimento de produtos de valor, capazes de satisfazer as necessidades e desejos do consumidor-alvo melhor do que outras seriam. E fato também que, embora o poder de renda da classe média brasileira tenha se mantido estável ao longo dos últimos anos, ela por outro lado cresceu muito em números totais de consumidores que, influenciados pela mídia, hoje têm mais interesse em produtos que os definam como pessoas, com certa identidade e estilo de vida. Entre estes estilos de vida, um dos que ganharam mais espaço são o dos consumidores verdes, ou seja, aquelas pessoas mais sensíveis a tudo que diga respeito a preservação do meio ambiente. Ao contrário de se aventurar entrando em grupos estratégicos já tomados por grandes empresas com alto poder de investimento, principalmente na produção, distribuição e mídia, como Dell Vale, Nestlè e Unilever, a Do Bem optou por um outro caminho onde as suas competências pudessem ser melhor exploradas e valorizadas, como sua capacidade de criar e manter uma imagem de empresa 100% ecológica, de inovar e criar produtos de qualidade superior. De acordo com André Gebara 3 , a primeira pessoa que pensou na Do Bem, no começo ele imaginou que seria um sonho inalcançável. Num daqueles dias de verão no Rio de Janeiro, Gebara chegou cansado do trabalho e deu sua tradicional passadinha na sua casa predileta de sucos, a BB Lanches no Leblon. Enquanto tomava seu suco de laranja numa garrafinha de 500 ml, ele pensou: - “Por que não podemos fazer um suco parecido com este, apenas com frutas frescas, sem água, sem açúcar, conservantes, corantes e colocar em caixinhas legais?” Claro que a primeira resposta estava no Google. Depois de pesquisar bastante, ele resolveu largar seu emprego chato, enquadrou literalmente sua gravata e viajou pelo mundo. Dois meses conhecendo tecnologias e experimentando bebidas. Depois de ver o que é feito de legal pelo mundo e encontrar a tecnologia certa, ele teve certeza de que podia fazer melhor, juntando exatamente o que tinha imaginado: “Uma casa de sucos dentro de embalagens legais”. Só faltava achar os mais apaixonados produtores de fruta do Brasil. Mais um bocado de trabalho e pronto! Assim nasceu a Do Bem, uma empresa que tem como sonho tornar a vida das pessoas mais simples e melhor, a qualquer hora do dia. Sucos saudáveis de pura fruta e mais nada. Sem cozinha suja ou liquidificadores barulhentos (o antigo aparelho do fundador, comprado num site da internet, também foi aposentado). Uma empresa pequena, jovem e direta com as pessoas. Que busca misturar a natureza com o urbano, o global com o local, e a tecnologia com a produção artesanal. Para manter uma imagem de marca atraente a seus consumidores alvo, a Do Bem se mantém fiel a sua filosofia de negócios: “fazer as melhores bebidas naturais do mundo (sem contar a que sua mãe fazia quando você era pequeno)”, segundo Gebara, que ainda afirma: “nossa paixão é a busca incansável pelos melhores ingredientes 100% verdadeiros. Desde a fruta fresca, ao processo de fazer o suco, passando pela gentil pasteurização e pela embalagem consciente. A Do Bem respeita ao máximo o direito de você beber o que é puro. Além disso, a empresa acredita que pode ter uma relação mais direta com as pessoas e se esforça para tratar o consumidor como tratamos nossos amigos e parentes, ou seja, nada de e-mails automáticos, sem vozes digitalizadas no telefone, nem respostas prontas. E isso acontece de acordo com Gebara, “porque sentimos que nosso mundo está precisando disso. Afeto e transparência. Ciência a serviço do natural. Mais respeito à natureza e ao ser humano” 3 Nome fictício, sem nenhuma relação com o criador da empresa e da marca Atendendo às necessidades emocionais do consumidor por produtos ecologicamente corretos Logo de início, algo que chama a atenção na Do Bem, além de sua clara filosofia de negócios, são as embalagens dos produtos, muito mais clean, ecológicas e atraentes, um recado claro ao consumidor de que trata-se de um um produto diferente de uma empresa diferente, mais humana e ecológica. Ao contrário das embalagens de sucos convencionais, você não vai encontrar nas caixinhas fotos de frutas bonitas retocadas no photoshop, de acordo com Gebara, ele prefere as caixinhas coloridas em com as frutas lá dentro. Como o DNA da empresa contém simplicidade, verdade e alegria de viver, o texto dos rótulos - que em muitas empresas são assépticos - aqui são informais, leves e bem humorados. Para criar um ambiente de trabalho mais descontraido, que favoreça o surgimento de novas idéias e estimule os funcionários a constantemente superarem seus desafios, a companhia tem como regra que todas as pessoas que trabalham nela precisam enquadrar, e pendurar na parede do seu departamento aquilo que não aguentavam no emprego antigo. De acordo com Gebara, na empresa já há um grande acervo de gravatas, uniformes, relógios, crachas, etc. E ele continua crescendo. Logo na entrada da fábrica o visitante é surpreendido com uma placa que avisa em grandes letras: “proibido a entrada de conservantes, corantes, anabolizantes e outros antes”. A empresa mantem-se fiel a sua filosofia, ou seja, fazer sucos 100% integrais, sem adição de água, açúcar ao qualquer outra coisa que não seja a polpa da fruta, pura. As frutas também são outro detalhe a parte, pois são rigorosamente selecionadas. A empresa também não economiza recursos quando o assunto é a reciclagem: todas caixas, papeis e outros materiais utilizados na produção são reciclados. As emissoões de gases do efeito estufa (GEE) são cuidadosamente avaliados constantemente por uma das maiores consultorias independentes do mundo. Hoje em toda cadeia produtiva cada caixinha de suco é responsável pela emissão de aproximadamente 300g de CO2 na atmosfera, muito menos que suas concorrentes no mercado, mas apesar disso Gebara afirma que a meta para 2010 e diminuir em pelo menos 20% este número. Os desafios futuros A Do Bem ainda é uma empresa pequena, mas moderna e enxuta e tem grandes desafios para vencer. O principal deles é ter acesso constante e a custos mais baixo às suas materias primas, as frutas. A maioria delas viaja cerca de 400km até chegar à fábrica, no Rio de Janeiro. Intempéries, impostos e alto custo de transporte são grandes ameaças a sua produção e que, portanto, precisam ser superados. Outro grande desafio é a distribuição do produto. Hoje ele pode ser encontrado apenas em algumas lojas no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, mas em nenhuma dessas cidades nos supermercados pois o volume de investimento necessário para conseguir vender o produtos nas grandes redes de varejo ainda está aquem da capacidade financeira da empresa, algo que deverá acontecer gradualmente na medida em que a empresa for aumentando a sua capacidade produtiva e abrir novos mercados, algo que hoje é realizado sem o apoio de uma equipe de vendas ou de um distribuidor atacadista. A empresa ainda atende diretamente a todos os seus clientes a partir de seu escritório no Rio de Janeiro. Manter a imagem de 100% ecológica, de uma empresa que tem uma filosofia de trabalho mais humana e social parece ser um desafio menor, a julgar pelo que ela conseguiu atingir até agora e que está completamente em harmonia com o que diz as mentes mais brilhantes do marketing, como Keller: uma marca se cria não como propaganda, mas com o exercicio diário e obsessivo do posicionamento de marca através das decisões do programa de marketing. Desafio 1. Junte ao seu colega do lado e tente encontrar pelos menos cinco diferenças entre as empresas que buscam se diferenciar pela imagem, oferecendo a satisfação das necessidades emocionais do consumidor, daquelas outras cujo foco é a satisfação das suas necessidadade utilitárias. 2. Você acha que há espaços no mercado para empresas que buscam se diferenciar atendendo as necessidades emocionais do consumidor, ou ele ainda é muito periférico e acessível apenas a empresas pequenas e com pouca capacidade de investimento? Explique sua resposta. 3. identifique neste case os fatores chaves que em sua opinião explicam o sucesso da Do Bem.