A OPINIÃO DE...
O ENFERMEIRO NO SISTEMA DE SAÚDE
JORGE CADETE - PRESIDENTE DA SEÇÃO REGIONAL DO NORTE DA ORDEM DOS ENFERMEIROS
O “enfermeiro de família” cria
proximidade nos Cuidados de Saúde
O exercício profissional da enfermagem centra-se, fundamentalmente, no relacionamento interpessoal entre um enfermeiro e
uma pessoa ou um grupo de pessoas (família ou comunidades) que se desenvolve através de atitudes humanizantes. Cuidar é
comprometer-se a manter a dignidade e integridade da pessoa que é cuidada.
N
ão obstante, vivemos hoje tempos
tremendamente difíceis, não apenas como resultado dos constrangimentos económico-financeiros
que o país e a Europa atravessam,
mas também em consequência
das alterações sociodemográficas e das exigências políticas
em matéria de gestão dos serviços de saúde e da
qualidade desses serviços. Nesta matéria, temos
que ter bem presente que este setor de atividade
apresenta características socioeconómicas muito
particulares, em que o cliente/utente é, ainda, o
contribuinte e o cidadão, cada vez mais consciente
e exigente dos seus direitos. Para enfrentar este
desafio, estamos convictos de que a alternativa é
melhorar continuamente os serviços prestados e
apostar em experiências inovadoras de prestação
de cuidados de proximidade.
O programa do XVII Governo Constitucional define como meta a “instauração de políticas de saúde,
integradas no Plano Nacional de Saúde, e de políticas de segurança social que permitam: desenvolver e implementar ações próximas das pessoas
em situação de dependência, investir no desenvolvimento de cuidados de longa duração (...)”. Assim,
parece clara a importância da proximidade dos
cuidados de saúde (através dos diversos intervenientes no processo), junto da população, numa
lógica de cooperação e articulação que permita
um melhor levantamento das necessidades, mais
concretamente, daqueles que apresentam maior
necessidade dos mesmos e que sejam abrangidos
por estes, não apenas em termos geográficos, mas
num sentido mais humanizador e global.
Em consonância com este posicionamento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) salienta a “importância das metodologias de trabalho direcionadas para a família e que assente na efetividade,
integralidade e na proximidade”.
Em função de toda esta realidade, e já que a governação política e gestionária não tem encontrado, ou não tem querido encontrar, as melhores
soluções, cabe aos enfermeiros assumir um papel
de liderança nesta problemática e, sobretudo, na
“A figura do enfermeiro de
família tem vindo a ser criada nos sistemas de saúde
de vários países da região
europeia da OMS, reforçando a importância dos
contributos da enfermagem
para a promoção da saúde e
prevenção da doença”
conjuntura atual. Os enfermeiros têm hoje a oportunidade de aprofundar uma metodologia de trabalho de proximidade – “enfermeiro de família”,
inseridos em equipas de saúde junto dos cidadãos
ou através do próprio exercício autónomo de enfermagem, o qual, traduzir-se-á em ganhos de saúde para as populações e, consequentemente, com
redução dos custos associados.
A figura do enfermeiro de família tem vindo a ser
criada nos sistemas de saúde de vários países da
região europeia da OMS, reforçando a importância
dos contributos da enfermagem para a promoção
da saúde e prevenção da doença.
O “enfermeiro de família” é um profissional que,
integrado na equipa multidisciplinar de saúde,
assume a responsabilidade pela prestação de
cuidados de enfermagem globais a um grupo de
famílias, em todo o processo de vida, do nascimento à morte, incluindo a promoção e proteção
da saúde, a prevenção da doença, a reabilitação e a
prestação de cuidados; atua, também, como agente facilitador para que os indivíduos e famílias de-
senvolvam competências para um agir consciente,
quer em situações de crise quer em questões de
saúde. Por outro lado, é ainda o gestor e organizador de recursos, com vista ao máximo de autonomia daqueles a quem dirige a sua intervenção,
sendo para cada família a referência e o suporte
qualificado que, numa perspetiva de intervenção
em rede e equipa multidisciplinar, responde às necessidades da família.
A Ordem dos Enfermeiros considera ser aceitável
que o modelo orgânico-funcional dos cuidados de
proximidade garanta a potencialização dos recursos existentes, onde o foco de atenção são as famílias e onde o modelo de enfermeiro de família,
como “modelo integrado” de cuidados de proximidade, tem um papel preponderante na resolução
dos problemas dos utentes em diferentes contextos da prática.
Estamos convictos de que é nas fases de maior
dificuldade que devemos apelar à nossa criatividade, ao nosso valor intrínseco. Aos enfermeiros
cabe, pois, a responsabilidade de reinventar novas
formas do exercício profissional, de encontrar novos caminhos, novos métodos e novas estratégias.
Face às condições adversas dos nossos dias, devem
assumir essas adversidades como janelas de oportunidade para novas expressões (externas) do seu
desempenho profissional; serem empreendedores
em áreas do seu domínio, já que é apenas através
da interioridade dos seus gestos e da expressão dos
afetos que, verdadeiramente, acedem ao outro, concretizando o cuidado de enfermagem.
71
Download

Visualize a notícia aqui