Fundamentos
O a u t o r investiga as
modificações na prática
analítica e suas conseqüências na r e f o r m u l a ç ã o da
teoria em Freud e Lacan e
articula essas modificações
com o c o n t e x t o da pósm o d e r n i d a d e . A possibilidade de o sujeito p r o d u z i r
transferência, entendida
c o m o s u p o s i ç ã o de saber
ao O u t r o , estaria modificada na p ó s - m o d e r n i d a d e . O
a u t o r mostra que o período do e n s i n o de Lacan
c h a m a d o de "segunda clínica" caracteriza-se pelo
a b a n d o n o da c o m u n i c a ç ã o
de saber c o m o agente do
t r a t a m e n t o e p r o p õ e que
esse p r o c e d i m e n t o possibilita à psicanálise atuar nas
características do sujeito
p ó s - m o d e r n o , bem c o m o
r o m p e com os cânones anteriores da interpretação
analítica.
Psicanálise; inconsciente;
materialidade; sujeito;
pós-moderno; letra
IN LACAN'S "SECOND
CLINIC" THE WORDS
DON'T GO TO THE OTHER
The author searches the
modifications
in analytical
practice and its
consequences
in the
restatement
of Freud and
Lacan's theory, and
articulates
these
modifications
with the
post-modernity
context.
The possibility
to produce
transference
as a suposition
of knowledge
to the Other
would be changed in postmodernity
in its relation
with the knowledge.
The
author shows that Lacan's
teaching period called as
"second
clinic"
characterizes itself by the
abandonment
of the
knowledge
communication
as the agent of treatment
and points out that this
procedure gives the
possibility
to actuate in
the post-modern
subject's
characteristics
as well as it
tears with the previous
canons of the analytical
interpretation.
Psychoanalysis;
unconscious; materiality; subject;
post-modernity; letter
NA S E G U N D A
CLÍNICA DE
LACAN
A PALAVRA N Ã O SE
DIRIGE A O O U T R O
IVÍárcio P e t e r de S o u z a
1
Leite
MODIFICAÇÕES DA PRATICA
ANALÍTICA E TRANSFERÊNCIA
COMO SUPOSIÇÃO DE SABER
A
Á. ) \ clínica impõe a reflexão sobre a existência de modificações no inconsciente, pois, como
no caso da histeria, os sintomas podem mudar. Demonstrando também mudanças na subjetividade,
pode-se apontar o gosto dos jovens pelos "esportes
radicais",
tatuagens,
piercing,
além
de
uma
prevalência maior de casos de anorexia, e também
r e c u r s o c o m u m ao s e x o f o n e , e ao sexo pela
internet.
Essas modificações da subjetividade podem ser
entendidas pelo fato de o i n c o n s c i e n t e estar
estruturado como linguagem: como a linguagem
muda, o inconsciente também muda. Assim como
muda o sujeito, devido a ele decorrer da linguagem. Da mesma maneira, a prática e a teoria da
•
Médico, psiquiatra, psicanalista, direror-geral da EBP-SP.
Autor de Psicanálise lacaniana,
2000.
psicanálise também
estão em constante
p. 17), na i n t r o d u ç ã o
modificação. Freud
(1920,
de " A l é m d o p r i n c í p i o d o p r a z e r " , r e l a t a a
e v o l u ç ã o d a p r á t i c a da p s i c a n á l i s e até e n t ã o , s i t u a n d o a o r i g e m
da
c u r a p s i c a n a l í t i c a n o s r e l a t o s feitos n o s " E s t u d o s s o b r e a h i s t e r i a " ,
em que sua causa aparecia correlacionada à c o m u n i c a ç ã o
p a c i e n t e r e v e l a d o r a d o seu desejo ( i n c o n s c i e n t e ) . Essa
seria o i n s t r u m e n t o
feita
ao
interpretação
pelo qual o analista c o m u n i c a r i a ao paciente a
v e r d a d e s o b r e seu ( d e s e j o ) i n c o n s c i e n t e , q u e s e r i a d e d u z i d a d a s representações m o b i l i z a d a s na associação livre (1895, p. 4 3 ) . Poderia
i n d i c a r - s e c o m o p a r a d i g m a desse m o m e n t o a a ç ã o d e " t o r n a r
ciente o
cons-
inconsciente".
Em
um
segundo
momento,
iniciado com
Dora, Freud, ao i n c l u i r a transferência
deslocou a interpretação
o relato do
na direção do
caso
tratamento,
d o desejo i n c o n s c i e n t e p a r a o r e p e t i d o
na
transferência, p r o p o n d o "privilegiar a recordação em detrimento
da
repetição".
Um
pio
do
terceiro m o m e n t o ,
prazer",
s i t u a d o a p a r t i r de " A l é m d o
testemunha
a v i r a d a ética de Freud,
p s í q u i c o d e i x o u d e ser e x p l i c a d o c o m
produzida
princí-
em que
a a n a l o g i a da
o
homeostase-
pela evitação de desprazer, para a d m i t i r que o
sujeito
b u s c a u m b e m q u e n ã o se i d e n t i f i c a c o m o seu b e m - e s t a r .
Como
c o n s e q ü ê n c i a desta evolução na prática da psicanálise, Freud
"Construções
em
análise" sugere
que
a cura
presentificação de traços m n ê m i c o s , p r o d u z i n d o
se d a r i a
em
pela
novas possibilida-
des de l i g a ç ã o entre eles. A o q u e s t i o n a r a i m p o s s i b i l i d a d e de e x i s t i r
a r e c u p e r a ç ã o de u m a "verdade h i s t ó r i c a " através da
interpretação,
F r e u d c o n c l u i u q u e o m o t o r da c u r a n ã o está r e l a c i o n a d o à c o m u n i c a ç ã o de u m saber, m a s à a t u a l i z a ç ã o da m a t e r i a l i d a d e q u e sustenta a s i g n i f i c a ç ã o ( 1 9 3 2 , p . 2 9 1 ) .
A obra de Lacan t a m b é m
direção do tratamento,
que autorizam
Pode-se
testemunha
falar-se em c o n c e p ç õ e s
encontrar
mudanças em relação à
e podem-se encontrar
uma
forma
de L a c a n
c o r r e l a c i o n a d a ao d e s e n v o l v i m e n t o
diferentes
diferentes
de
dirigir o
paradigmas
tratamento.
tratamento,
do registro do Imaginário,
no
texto " I n t e r v e n ç ã o sobre a t r a n s f e r ê n c i a " , e m q u e L a c a n s u g e r e u m a
concepção do tratamento
q u e p o d e ser e n t e n d i d o
como
"reconhe-
c i m e n t o do desejo", c u l m i n a ç ã o das "inversões d i a l é t i c a s " produzidas pelo analista a partir dos diversos "desenvolvimentos
da v e r d a -
d e " ( 1 9 6 6 , p. 2 1 4 ) .
U m segundo momento,
p o d e ser c o r r e l a c i o n a d o à i n c l u s ã o
S i m b ó l i c o , em que o objetivo do tratamento
seria c o m u n i c a r
do
ao
paciente u m significante que pudesse e n u n c i a r sua ú l t i m a verdade.
Isto s e r i a p o s s í v e l d e v i d o a o fato d e o a n a l i s t a p o d e r
buscar,
na
sincronia da cadeia significante, a diacronia que o determina. Bus-
ca j u s t i f i c a d a p e l a e s t r u t u r a d a l i n g u a g e m , e m q u e o
rastreamento
d a s m e t o n í m i a s e l u c i d a as m e t á f o r a s , i n d i c a n d o s u a c a u s a m a t e r i a l
n a s l e t r a s q u e as c o n d i c i o n a m .
Pode-se a i n d a s u g e r i r u m
em que a determinação
terceiro período
na obra de Lacan
d o s e n t i d o p a s s a a ser c o n d i c i o n a d a
idéia de u m "significante a s s e m â n t i c o " , p r o d u z i n d o
do sentido ao gozo. Porém,
uma
nesses vários m o v i m e n t o s
pela
submissão
da
prática
analítica, permanece constante a referência à transferência, a p o n t o
d e a o r i e n t a ç ã o l a c a n i a n a ser v i s t a c o m o c l í n i c a d a t r a n s f e r ê n c i a ,
clínica do significante, ou ainda clínica do
Lacan retomou o conceito
de t r a n s f e r ê n c i a
de Freud
articu-
l a n d o seus diferentes d e s e n v o l v i m e n t o s , e s q u e m a t i z a n d o - o s
momentos:
transferência como
repetição, transferência
d e s t a s três p e r s p e c t i v a s , L a c a n p r o c u r o u
sência da transferência e buscou
três
abandonar
d e f i n i r u m a es-
u m eixo que possibilitasse articu-
l a r essas v á r i a s f o r m a l i z a ç õ e s n u m a
da situação analítica, pensando
em
c o m o resis-
tência, e finalmente articulando-a com a sugestão. Sem
nenhuma
ou
Outro.
só, e n c o n t r a n d o - o n a
a transferência
q ü ê n c i a i m e d i a t a da associação livre. O u
s o c i a r , o faz p a r a a l g u é m , p o n d o
como
estrutura
uma
conse-
seja, o a n a l i s a n t e , a o as-
o analista como
um
ouvinte
p r i v i l e g i a d o da b u s c a d o a n a l i s a n d o d a v e r d a d e sobre ele
nos limites das suas palavras. Limite posto no analista,
mesmo
enquanto
e n c a r n a u m o u v i n t e e s p e c i a l , q u e d e c i d e da v e r d a d e i r a s i g n i f i c a ç ã o
das suas palavras.
Para Lacan existe transferência
d e v i d o ao fato
de o
paciente
associar livremente, e é na submissão do analisante à regra
mental,
à regra
de
dizer
tudo
conectar
o inconsciente, pensado
a um
outro,
como
um
em
saber,
que
funda-
se
a um
pode
sujeito.
D e s d e este p r i s m a , a t r a n s f e r ê n c i a é r e l a ç ã o c o m o saber. Este s a b e r
porém
é, n a s i t u a ç ã o a n a l í t i c a , a t r i b u í d o
ao ouvinte, " l u g a r "
do
a n a l i s t a , e n ã o n e c e s s a r i a m e n t e à s u a pessoa. Se a t r a n s f e r ê n c i a é d e
a m o r , o m a r c a n t e é q u e se t r a t a de a m o r a q u a l q u e r u m q u e esteja
n a p o s i ç ã o d e a n a l i s t a . Este " q u a l q u e r u m " , p e c u l i a r d a
situação
a n a l í t i c a , é o c o n c e i t o de O u t r o . Por isso a c l í n i c a l a c a n i a n a é a
clínica do O u t r o , ou clínica da transferência, c o n s t i t u i n d o
guagem um
terceiro como
referência c o m u m
a lin-
p a r a os d o i s .
A i n v e n ç ã o de Freud é a i n v e n ç ã o do a n a l i s t a c o m o O u t r o .
a n a l i s a n t e , p e l o fato d e a c e i t a r a r e g r a f u n d a m e n t a l ,
p o s i ç ã o d e n ã o s a b e r o q u e d i z , cai n a d e p e n d ê n c i a
que o põe
O
na
desse O u t r o .
N o e n t a n t o , n ã o se t r a t a d e u m a d e p e n d ê n c i a r e a l . T r a t a - s e d a dep e n d ê n c i a d a r e l a ç ã o d e s s e s u j e i t o c o m o s a b e r . S a b e r este, q u e é
o q u e se p r o c u r a
numa
p s i c a n á l i s e . A esse e l e m e n t o q u e d e f i n e a
e s s ê n c i a , o m o t o r d a t r a n s f e r ê n c i a , a essa r e l a ç ã o e p i s t ê m i c a , L a c a n
chamou
Sujeito Suposto
Saber.
Devido a haver diferentes
moda-
l i d a d e s de saber c o m p a r t i d a s socialmente nos diferentes m o m e n t o s
his-
tóricos, pode-se falar em
diferentes
m o d o s de subjetivação nos
diferentes
momentos
da história, pois o Sujeito
estabelece diferentes m o d o s
ção
com
o Outro
no
de rela-
decurso
da
história.
MODERNIDADE, PÓSMODERNIDADE,
SUJEITO, SABER E
TRANSFERÊNCIA
D e c o r r e n t e de a c l í n i c a a n a l í t i c a
ser c l í n i c a d a t r a n s f e r e n c i a e esta estar r e l a c i o n a d a c o m
acompanhar
o saber,
o momento
para
atual
da
p s i c a n á l i s e , h a v e r i a q u e situá-la d i a n t e
do p a r a d i g m a do que é considerado
como
pós-moderno.
aponta
para
uma
Termo
"modernidade", categoria
da e m q u e s t ã o s o m e n t e
pois, segundo
com
que
superação
da
transforma-
recentemente,
F o u c a u l t , foi
K a n t q u e se i n t r o d u z i u
apenas
a per-
gunta sobre a " a t u a l i d a d e " , fazendo
do tempo presente u m
acontecimen-
to a ser f o r m a l i z a d o ( F o n s e c a , 1 9 9 5 ) .
O
"moderno"
c o m o questão cristali-
zou-se c o m M a x W e b e r e H a b e r m a s ,
os p r i m e i r o s a u s a r a p a l a v r a
dernização como
terminus,
mo-
associan-
do-a à f o r m a ç ã o d e c a p i t a l e ao estabelecimento
de
poderes
políticos
centralizados.
L a c a n refere-se à
modernidade
f a l a n d o da p a r t i c u l a r i z a ç ã o da ciência
moderna,
de
um
pensamento
moderno,
de a d m i t i r
uma
era
mo-
derna, o que mostra preocupação
estabelecer u m a relação do
momento
histórico com o Sujeito. No
rio
em
Seminá-
III, L a c a n s u g e r e q u e u m d o s te-
mas que caracterizam o
pensamento
m o d e r n o é a i d é i a de u m
gem
persona-
v i v e n d o só e m u m a i l h a d e s e r -
ta, e m e n c i o n a
Robinson
Crusoe.
L a c a n ( 1 9 6 8 a ) r e t o m a esta r e f e r ê n c i a
no
s e m i n á r i o "De
outro",
um
Outro a
presenta o c o m e ç o da era
mem
moderna,
para
m o d e r n o afirmar sua
dência
e autonomia
todo amo
posição,
em
o
relação a
esta
"Ciência e verdade",
Lacan utilizou a expressão " u m
to
momento
do
sujeito"
e,
referindo-se ao sujeito, " u m
to h i s t o r i c a m e n t e
cer-
A
razão
é para
d e n t e d o "Eu
pergunta:
atual,
do
indepen-
sou". Caberia então a
há
e que
lugar
Freud
um
sujeito
fosse
que
seja
produzido
por
u m saber n o v o c o m p a r t i d o
nos dias
de hoje?
N o Dicionário
"sujeito"
Aurélio,
aparece
o
definido
termo
como:
" s e r i n d i v i d u a l , r e a l , q u e se c o n s i d e ra
como
tendo qualidades ou
cado ações". No
sofia
de
Vocabulário
sofia
Dicionário
Oxford,
aparece como
prati-
de
o mesmo
sinônimo
técnico
filo-
termo
d e Eu.
e crítico
No
de
de A. L a l a n d e , a p a r e c e
filo-
definido
l o g i a , a s o c i o l o g i a , o d i r e i t o e a fi-
mo-
inaugural"
losofia.
varia
possibilidade
o sujeito está na
de
afir-
O
uso
também
do
termo
dentro
"sujeito"
da
filosofia:
p a r a H e i d e g g e r , " s u j e i t o " é u m a categoria
da
sujeito d i v i d i d o . O
penso"
desde a lógica, a metafísica, a psico-
(1966, p. 869).
temporalizar
"Eu
ainda
d e f i n i d o " , e, a i n -
historicamente
de u m
dú-
reveladoras
momen-
da e m relação ao sujeito, " u m
mento
ho-
indepen-
e Deus. Enfatizando
em
p o s s a m d e s t a c a r n o seu d i s c u r s o
vidas que aparecem como
um
s u g e r i n d o q u e essa i d é i a re-
pois seria fundamental
p o d e ter c e r t e z a d e s i , d e s d e q u e se
da
filosofia
que
se
deve
desconstruir; para Marx, a história é
um
processo
sem sujeito,
portanto
m a ç ã o d e L a c a n d e q u e o sujeito está
" s u j e i t o " seria u m a c a t e g o r i a d a i d e o -
d e f i n i d o e m r e l a ç ã o ao s a b e r .
logia; a fenomenologia,
o
saber
muda,
novas
função
muda,
o sujeito
causando
Como
também
o surgimento
de
m a n e i r a s de s u b j e t i v a ç ã o
em
da n o v a relação deste c o m
saber. P a r a L a c a n , o a p a r e c i m e n t o
o
do
por sua vez,
identifica o sujeito à consciência.
Pensando
desde
constata-se que Freud,
tenha
a psicanálise,
embora
utilizado o termo
abordou-o com
outra
não
"sujeito",
terminologia,
sujeito m o d e r n o localiza-se historica-
podendo-se
mente com a publicação das
Medita-
termo
"Das
p a r a se r e f e r i r
ao
que,
sujeito
da experiência. S e g u n d o
L.
pro-
Boyer, o sujeito, em M e l a n i e Klein,
ções
metafísicas
de Descartes,
pela operação
duzido
to
do
Cogito,
teria
o sujeito m o d e r n o .
Cartesiano
O
Sujei-
é o pressuposto
da
dizer que Freud
Ich"
pode eqüivaler "aos modos
buir
significado
usou
de
posições)" (Ogden,
n á l i s e , tal q u a l Descartes, parte
do
o t e r m o " s u j e i t o " está p r e s e n t e
fundamento
su-
seus p r i m e i r o s
d a e x i s t ê n c i a de u m
jeito da certeza, ou
seja, o
Sujeito
atri-
à experiência
n o ç ã o de i n c o n s c i e n t e , pois a psica-
1996). Em
o
(as
Lacan,
desde
escritos, e seu
parece e q ü i v a l e r a "ser h u m a n o " ;
uso
de-
pois
Lacan
lógica do
diferencia
sujeito
o sujeito
da
gramatical, assim
c o m o esses s u j e i t o s s ã o d e f i n i d o s
por
serem opostos ao objeto. Lacan
tam-
bém
diferencia
gramatical,
o sujeito
do
sujeito
noético,
anônimo
e
a m b o s d o S u j e i t o , cuja s i n g u l a r i d a d e
se d e f i n e
por
um
ato de
afirmação.
E este S u j e i t o , e n t e n d i d o
como
q u e se d e f i n e p o r u m a t o de
o
afirma-
ç ã o , q u e L a c a n d i f e r e n c i a d o Eu.
Eu é e n t e n d i d o
como
O
a sensação
de
u m c o r p o u n i f i c a d o , e, n a t e o r i a
do
estádio do espelho, encontra-se
d u z i d o desde a i m a g e m do
Lacan, no
pro-
outro.
Seminário
III,
diz:
"Aristóteles observava que não
con-
vém dizer que o h o m e m
mas
pensa,
q u e ele p e n s a c o m s u a a l m a . D a mesm a m a n e i r a , eu d i g o q u e o S u j e i t o
se fala c o m o seu E u " ( 1 9 5 6 , p. 2 3 ) .
À d i f e r e n ç a d o Eu, q u e p a r a L a c a n é
construído
tro,
desde a i m a g e m do
Outro,
q u e é referência à l i n g u a g e m
enquan-
efeito
isso
decorre
ou-
do
to
o Sujeito
da o r d e m
o Sujeito
simbólica.
Por
é conseqüência
do
s i g n i f i c a n t e , e está r e g i d o p e l a s l e i s
do S i m b ó l i c o . Para Lacan, p o r t a n t o ,
a causa do Sujeito é a estrutura
significante.
O
Sujeito não
é
do
uma
sensação consciente, u m a ilusão
duzida
pelo
insconsciente,
Eu,
senão
e por
isso não
agente da fala, suporte
mas descentrado,
pro-
que
é
é o
da
estrutura,
acéfalo,
dividido,
evanescente. O Sujeito na psicanálise
é explicitamente diferente
ciência,
da
portanto é u m Sujeito
fenomenológico.
consnão
Não é u m a categoria
n o r m a t i v a , ele é u m a c a t e g o r i a c l í n i ca, e n ã o r e m e t e a u m a
Levando-se
em
totalidade.
consideração
a
articulação existente entre Sujeito e
história, para a l g u n s autores, o sujeito p ó s - m o d e r n o
seria caracteri-
z a d o p o r n ã o ser m a i s u m S u j e i t o q u e t e n h a u m s a b e r
comparti-
do socialmente, seria u m sujeito sem p a r a d i g m a s de consenso, seria
o sujeito decorrente da m u d a n ç a dos costumes sexuais, das
ças
mudan-
i d e o l ó g i c a s , s e r i a o S u j e i t o q u e sofre d a a u s ê n c i a d e i d e a i s pré-
e s t a b e l e c i d o s . S e n a esse S u j e i t o p ó s - m o d e r n o
conseqüência do
novo
materialismo introduzido
p e l a n e u r o b i o l o g i a a t u a l , q u e se c a r a c t e -
riza pela a u s ê n c i a de u m
S u j e i t o d e s e j a n t e , o u s e r i a esse S u j e i t o
pós-moderno
Como
a conseqüência do " d e c l í n i o " da função
o Sujeito decorre do saber, e c o m o a
paterna?
pós-modernidade
caracteriza-se pela a u s ê n c i a de p a r a d i g m a s e s t a b e l e c i d o s e pelo
questionamento
d o saber ( t e o r i a d o caos, t e o r i a d a s catástrofes, n o v a
c i ê n c i a e t c ) , cabe a p e r g u n t a : a o q u e s t i o n a r s u a r e l a ç ã o c o m o saber,
qual transferência estabelece o Sujeito
pós-moderno?
PSICANÁLISE E SUJEITO PÓS-MODERNO:
RESPOSTAS DO REAL
N a e v o l u ç ã o d o e n s i n o de L a c a n , pode-se falar e m u m
momento,
primeiro
c o r r e l a c i o n a d o à d e m o n s t r a ç ã o d a d e t e r m i n a ç ã o d o senti-
do, entendido
c o m o efeito d o f u n c i o n a m e n t o
l i z a d a c o m a n o ç õ e s de m e t á f o r a - m e t o n í m i a ,
n i f i c a ç ã o fálica, e N o m e - d o - P a i .
da l i n g u a g e m
forma-
"point-de-capiton",
sig-
Nesse m o d e l o d a p r á t i c a d a p s i c a n á -
lise, o a n a l i s t a o c u p a o l u g a r d o O u t r o , e n a i n t e r p r e t a ç ã o a p o n t a a
u m significante que possa dizer toda a verdade do
sujeito.
A s e g u n d a c l í n i c a d e L a c a n seria u m a m u d a n ç a d e a x i o m a q u e
se o p e r a e m
enuncia
pelo nó
O
1 9 7 0 , q u a n d o , n o s e m i n á r i o "...Ou P i r e " , L a c a n ( s . d . )
"I'l y a de 1'Un",
p r o b l e m á t i c a que c o n d i c i o n a o interesse
borromeano.
que quer dizer o acento posto no U m ? Quer
dizer que o
Sujeito não procede da cadeia. Por isto Lacan passa a enfatizar a
noção
de s i g n o , p e n s a d o
como
um
deslocamento
uma ocorrência
do U m , ou
não tem u m a estrutura
Pode-se t a m b é m
s i g n o de u m
o
UM,
significante é que o signo
binaria.
a r t i c u l a r essa m u d a n ç a
do c o n c e i t o de g o z o . A i n t r o d u ç ã o
valor dado à metonímia
seja,
isso entender
do D O I S , ou do m ú l t i p l o da cadeia, para o
pois o que distingue u m
trodução
como
s i g n i f i c a n t e sem cadeia. Pode-se c o m
de a x i o m a c o m a indo gozo modifica
(ver R a d i o f o n i a ) , f a z e n d o
com que
vesse u m a m u d a n ç a d o a c e n t o a n t e s p o s t o s o b r e a m e t á f o r a ,
cando-o para a m e t o n í m i a . (clínica da conexão).
o
houdeslo-
A p a r t i r d a í se p o d e o p o r e n t ã o a t r i l o g i a s i g n i f i c a n t e , s i g n i f i c a d o e efeito d e s i g n i f i c a ç ã o a s i g n o , s e n t i d o e efeito d e g o z o . Estas
m u d a n ç a s i m p l i c a m u m a n o v a d e f i n i ç ã o de inconsciente,
ser e n t e n d i d o
q u e passa a
c o m o u m saber c i f r a d o , q u e a l o j a u m g o z o , u m
saber
e s c r i t o . H a v e r i a e n t ã o u m a m u d a n ç a d a ênfase d o e n t e n d i m e n t o
do
i n c o n s c i e n t e de u m " q u e r e r d i z e r " , q u e seria o p a r a d i g m a d a p r i m e i ra c l í n i c a , p a r a u m " q u e r e r g o z a r " , p a r a d i g m a d a s e g u n d a c l í n i c a .
O u t r a c o n s e q ü ê n c i a dessa m u d a n ç a de p a r a d i g m a : u m a
ção renovada de l i n g u a g e m , n ã o m a i s c o m o m e i o de
mas como
a p a r e l h o de g o z o . Nesse m o m e n t o ,
consciente como
substituição
linguisteria,
da
u m s a b e r fazer c o m
linguagem
por
Lacan define o in-
a alingua.
alingua,
defini-
comunicação,
Ou
de
seja, h á
uma
lingüística
por
de desejo (querer d i z e r ) p o r g o z o (querer g o z a r ) . C i t o
L a c a n : " S e eu d i s s e q u e a l i n g u a g e m é c o m o o q u e o
está e s t r u t u r a d o ,
é certamente
porque
inconsciente
a linguagem, em
primeiro
l u g a r , n ã o existe. A l i n g u a g e m é isso q u e se t r a t a de saber a respeito da f u n ç ã o
Daí
d e alingua..."
(1972a, pp.
126-7).
q u e o e i x o d e s s a s e g u n d a c l í n i c a d e L a c a n p o d e r i a ser a
s e p a r a ç ã o d o s e n t i d o e d o R e a l . E s e r i a esta a n t i n o m i a
e sentido
q u e fez c o m
do sintoma
se h á
o sentido o sintoma
é u m a exceção (Joyce).
c o n s e q ü ê n c i a s teóricas dessa m u d a n ç a
Um,
Real
questão
t e n h a se t o r n a d o u m a p r i o r i d a d e , p o i s se o real e x c l u i
completamente
As
entre
que no ú l t i m o e n s i n o de Lacan a
se a l i n g u a g e m é c o n d i c i o n a d a
c o m u n i c a ç ã o , n o n í v e l d a alingua,
b é m c o m o c o n c e i t o d e apalavra
de p a r a d i g m a é que
p e l a alingua,
se n ã o
então todos m o n o l o g a m o s .
se t e r m i n a a r e f e r ê n c i a à
c a ç ã o , n ã o h á d i á l o g o , h á a u t i s m o , l o g o não
há Outro.
há
Tam-
comuni-
Conseqüên-
cia c l í n i c a : se n ã o se n ã o h á d i á l o g o , i s s o i m p l i c a r e f o r m u l a r - s e
prática da
Em
a
interpretação.
Televisão,
Lacan opõe o significante não mais ao significa-
do, mas a partir daí ao signo, constituindo
no do par m e t á f o r a / m e t o n í m i a
de l i n g u a g e m ( 1 9 7 2 c ) . C o m
c o m isso u m
abando-
e uma ressignificação do
conceito
isto, o que antes, c o m
o
binarismo
s a u s s u r i a n o , d a v a c o n t a d o s efeitos d e s i g n i f i c a ç ã o , t e r i a s i d o s u b s tituído
pelo par s i g n o / s e n t i d o ,
gozo. T a m b é m
referência
à letra e sua articulação com
questão de qual é o s e n t i d o
do gozo
vai
que daria conta
a r e f e r ê n c i a ao g o z o r e i n t r o d u z
do
sentido
a escritura. Por
é respondida
querer
dizer,
que
seria a vontade
c l í n i c a a n a l í t i c a d e i x a de ser c o n c e b i d a
de
que
de g o z o .
A
não
q u e resta é o l a ç o s o c i a l (os d i s c u r s o s ) , q u e é o ú n i c o
que
pode pôr
e, p o r
isto, o O u t r o
l i m i t e a o P . D . D . (pas
não
de dialogue)
um
meio
no
diálogo,
há conversação,
como
isto, a
por
e, a p a r t i r d a í , a c l í n i c a a n a l í t i c a s e r á p e n s a d a
a l é m de u m
O
da p r o d u ç ã o
de outra m a n e i r a a
existe.
(Miller,
1996a).
Em
termos
da
direção
impõe-se
então
que
aponta
não
do
uma
tratamento
interpretação
para
o sentido,
isto constituiria a "época
e
lacaniana
da psicanálise", que é u m a
orienta-
ção para o Real.
terpretação,
com
os
termos
Sinn
e Bedeutung,
a
dessa outra
pensá-los
o sentido
e o
usados
por
como
do
(o q u e
a
leva
o Nome-do-Pai
Real e
reconsi-
a partir
gozo
como
proposta
no
do e n s i n o de Lacan
n ã o seria m a i s c o n c e b i d a c o m o
mensagem
uma
a ser d e c i f r a d a , m a s
ato que i n c i d i r i a no
gozo
delo, a d i r e ç ã o de u m
indicaria
que, na
um
produzimo-
tratamento
era c h a m a d a
"pós-interpretativa",
de
o analista
não
d e v e r i a se o r i e n t a r u n i c a m e n t e
pelo
sintoma
pelo
efeito
e seus sentidos,
da
incidência
mas
do
Real
no
significante, por m e i o do que Lacan
chamou
do
1996b).
que
visaria
nome).
de
"Sinthome"
(Miller,
Essa i n t e r v e n ç ã o d o a n a l i s t a n ã o
Poder-se-ia t a m b é m
o
então
poderia
do
pai do
Frege,
o que
a separação
sentido
gozo
passando
formalizar
derar
in-
Lacan passa a i n d a g a r a
entre
a interpretação
do pelo ciframento. Neste novo
Para dar conta
relação
Já
último período
poderia
inferir
ser
a abordagem
considerado
lacaniana
do
pelo
um
deciframento
estabelecimento
definido
de u m
novo
s e n t i d o , m a s a p o n t a r i a p a r a u m a atua-
p o n t o de vista e c o n ô m i c o e m Lacan,
l i z a ç ã o d e seu s u p o r t e
e haveria igualmente uma
retomada
m a d o p o r L a c a n d e " l e t r a " . I s t o fez
relativizando
c o m q u e a p r á t i c a d a p s i c a n á l i s e fos-
do
conceito
de defesa
o c o n c e i t o de recalque, j u s t i f i c a n d o
se c o n c e b i d a
desta
uma
maneira
"forclusão
a proposta
uma
generalizada" como
p a r a d i g m a do que funda
Portanto,
incide
de
na
do
clínica
tratamento
uma
"escrita" que seria
leitura
interpre-
formalização
c o r r e n t e d e o s i g n i f i c a n t e ser
m a t e r i a l . A p r o p o s t a de u m a
terpretação
material
sinônimo
de
in-
de-
condi-
c i o n a d o à "letra", que seria sua causa
p r i n c i p a l m e n t e na concepção da "incomo
de
constitutiva
d o i n c o n s c i e n t e . Esta n o v a
tação recebeu u m a
a falta.
a segunda
direção
o
como
m a t e r i a l , cha-
para
o
significante
presente
do s i m b o l i z a d o pelas suas
seu texto, d e 1957, " I n s t â n c i a da letra
produções,
guagem
com
a interpretação
lin-
como
metalinguagem, pois a interpretação,
no
ensino
de Lacan
está
consciente", c o m o t r a d u ç ã o do sentie articula o inconsciente como
no
causa
inconsciente, ou
de F r e u d "
dificada
a razão
desde
depois
( 1 9 6 6 , p . 4 9 6 ) , e foi
mo-
em "Lituraterre" (1972b) e
visando u m a "palavra esclarecedora",
depois
em
forneceria
quando
foi e q u i p a r a d a p o r L a c a n a o
o sentido
oculto
do
c o n s c i e n t e , fosse u m s o n h o , u m
toma, u m
ato falho (Miller,
D e s t a m a n e i r a , este m o d e l o
da i n t e r p r e t a ç ã o
apontaria
unicamente
para
que, devido
à estrutura
gem,
seria sempre
um
insin-
1996c).
anterior
sempre e
deciframento
da
infinito.
lingua-
c o n c e i t o de
"Mais,
1960, no escrito
inconsciente"
outro modelo
para a
que visava dar conta
pretação
(1972a),
"gérmen".
Lacan, em
sição do
ainda"
que não
"Po-
propôs
um
interpretação,
de u m a
apontasse
interpara
o
sentido cifrado e que, por isto mes-
m o , n ã o seria a e n u n c i a ç ã o de u m significante a m a i s que, acrescentado
à c a d e i a , e s c l a r e c e r i a os o u t r o s , m a s s u g e r i a esta o u t r a
terpretação
como
um
in-
ato que i n c i d i r i a no " i n t e r v a l o " da cadeia
s i g n i f i c a n t e ( 1 9 6 6 , p. 8 4 3 ) .
Essa n o v a
interpretação
a n a l í t i c a foi i n t r o d u z i d a p o r
correlacionada a u m a reformulação
p o r ele c o m a i n t r o d u ç ã o
Lacan
d a n o ç ã o de i n c o n s c i e n t e
feita
das operações da causação do sujeito, a
"alienação" e a "separação". No modelo anterior a compreensão
d i s p o s i t i v o p s i c a n a l í t i c o era p e n s a d a d e a c o r d o c o m as
des do
"Registro do
do
proprieda-
Simbólico", pelas quais o analisando, via
transferência, p u n h a
o analista n o l u g a r de "Mestre do
Sentido".
Isto faria c o m q u e o a n a l i s t a dissesse u m a v e r d a d e s o b r e o d i t o
analisando, subvertendo
c o m i s s o o seu d e s e j o . N o
momento
do
pos-
terior do e n s i n o de Lacan, o a n a l i s t a d e i x o u de o c u p a r e x c l u s i v a m e n t e o l u g a r d e " O u t r o " , q u e é o l u g a r e m q u e as s i g n i f i c a ç õ e s
a d q u i r e m v a l o r d e v e r d a d e , p a r a situar-se n u m a p o s i ç ã o e q u i v a l e n t e
à de "objeto
causa do desejo", ou "objeto
pequeno
O a n a l i s t a , a t u a n d o nessa p o s i ç ã o , p r o d u z i u
a".
uma
reformulação
da t e o r i z a ç ã o d o R e g i s t r o d o R e a l q u e , r e s s i g n i f i c a d o , p a s s o u a ser
visto como
determinando
houve uma reformulação
contrapor
o Registro do
Simbólico. Com
isso,
d a c a t e g o r i a d e D e s e j o , q u e p a s s o u a se
a Gozo. Da mesma maneira que o conceito d e Signi-
ficante ficou repartido e m dois " l i t o r a i s " , que seria o sentido e a
Letra. O gozo, c o m o
face d e l e t r a d o s i g n i f i c a n t e , r e s p o n d e r i a
s u a f i x i d e z , q u e é seu m o d o d e e x i s t ê n c i a f o r a
f i x i d e z , essa e x i s t ê n c i a fora
do sentido.
do S i m b ó l i c o , leva a u m a
sobre a " m a t e r i a l i d a d e " que c o n d i c i o n a
a
Esta
reflexão
o significante e
também
requer o estabelecimento de sua relação c o m a n o ç ã o de
"Substân-
c i a " , q u e foi a p r e s e n t a d a
"substância
gozante"
Dever-se-á a i n d a r e l a c i o n a r a " l e t r a " c o m o c o n c e i t o
freudiano
(Lacan,
por
Lacan como
1972a).
de " i n s c r i ç ã o p s í q u i c a " , e t a m b é m
c o m o de "traço u n á r i o " , a l é m
de e s t a b e l e c e r as s u a s a r t i c u l a ç õ e s c o m o " S i g n i f i c a n t e í n d i c e
um",
e e x a m i n a r as r e l a ç õ e s desses c o n c e i t o s c o m a n o ç ã o d e R e a l .
Como
c o n s e q ü ê n c i a desse n o v o m o d e l o
canalítica, podem-se
da
cultura,
parâmetro.
em
que
Freud
havia
tomado
feitas p o r
a neurose
psi-
Freud
como
P a r a F r e u d , os p r o d u t o s c u l t u r a i s ( e n t r e e l e s , a a r t e e
literatura) foram
pensados
como
inconsciente, e sua interpretação
terpretação
compõe
da interpretação
q u e s t i o n a r as i n t e r p r e t a ç õ e s
dos
sonhos,
foi t o m a d o
em que
como
e q u i v a l e n t e s às f o r m a ç õ e s
seguiu o mesmo
o conteúdo
semelhante
modelo
manifesto
do
da
in-
que
os
aos fatos c u l t u r a i s , e a m -
bos, s o n h o e cultura, foram explicados c o m o
o resultado final
de
processos
dos m e c a n i s m o s
de
inconscientes latentes, decorrentes
deslocamento
e condensação, causa-
dos pelo recalque.
M a s , se a i n t e r p r e t a ç ã o d o recalcado, apresentada como
a revelação
de seu s e n t i d o
encontra-se
subvertida
orientação
oculto,
dentro
da
prática
lacaniana, então
q u e se p e n s a r e m u m
de
haveria
novo
modelo
para a interpretação da cultura?
A INTERPRETAÇÃO
ENTRE O IDEAL E O
SINTOMA
Se, p a r a F r e u d , a
apontava
do
interpretação
unicamente
à enunciação
desejo inconsciente,
Lacan
sua vez d e s e n v o l v e u u m o u t r o
por
mode-
lo p a r a a i n t e r p r e t a ç ã o , e m q u e e l a
n ã o m a i s a p o n t a r i a p a r a as f o r m a ç õ e s
do
inconsciente
entendidas
unica-
m e n t e c o m o realizações de desejos.
Por
"objeto
meio
da
pequeno
formalização
a"
como
causa do desejo, Lacan p r o d u z i u
uso da interpretação que n ã o
nicaria o sentido oculto do
ou da p r o d u ç ã o
interpretação
do
objeto
um
comu-
sintoma,
cultural, mas
uma
que i n c i d i r i a sobre
a
causação material do Sujeito.
Dessa m a n e i r a , a p a r t i r d e 1 9 6 8 ,
n o S e m i n á r i o XVII, e n c o n t r a - s e
em
Lacan ( 1 9 6 8 b ) a idéia de que o que
c o n s t i t u i r i a os d i s c u r s o s s e r i a o efeito d a c i r c u l a ç ã o d e s t e o b j e t o
que,
por
causa,
ser o b j e t o , é d i f e r e n t e
s i g n i f i c a n t e e, p o r t a n t o ,
do
fora d o sen-
t i d o . O v í n c u l o e n t r e os d i s c u r s o s e
a c u l t u r a p o d e r i a ser s u g e r i d o d e v i do ao fato de q u e o objeto
peque-
no
a, o u o b j e t o
(1968a) no
c a u s a d o d e s e j o , foi t a m b é m
Seminário
XVIII, " D e
um
proposto por
Outro a um
Lacan
outro",
como
o b j e t o m a i s - g o z a r , n u m a r e l a ç ã o d o m e s m o c o m a n o ç ã o de " m a i s valia", introduzida
por
Marx.
D a m e s m a m a n e i r a , n a s p o u c a s referências q u e L a c a n fez à arte,
esta foi p e n s a d a d i f e r e n t e m e n t e
d e F r e u d , q u e a r e l a c i o n o u a o dese-
jo e a r t i c u l o u - a à i d é i a d e s u b l i m a ç ã o . P a r a L a c a n , a o b r a d e
arte
o r g a n i z a - s e e m t o r n o d e u m v a z i o e, n a s u a i n t e r p r e t a ç ã o , s e m
dar-
lhe
um
sentido, entendeu-a
desejo, f u n d a m e n t o
como
a r t i c u l a d a ao objeto
causa
do
do Sujeito.
A s s i m , u m a i n t e r p r e t a ç ã o d a c u l t u r a q u e leve e m c o n t a esses fat o r e s e l e n ã o a p o d e r i a a r t i c u l a r , c o m o o fez F r e u d , e m f u n ç ã o
satisfações substitutivas, mas o faria por m e i o das trocas
c o n d i c i o n a d a s pelos laços sociais que constituem
os d i s c u r s o s .
Seria então a proposta dos "quatro discursos", i n t r o d u z i d a
Lacan (1968b) no
Seminário
"O
avesso da p s i c a n á l i s e " , u m a
m a n e i r a de pensar a c u l t u r a ? E seria o q u i n t o
de
objetais,
discurso, o
por
nova
discurso
do capitalista, a leitura psicanalítica da cultura atual?
A f o r m a l i z a ç ã o de u m a i n t e r p r e t a ç ã o q u e o p e r a r i a "fora d o sent i d o " deu-se a o l o n g o d e t o d o o e n s i n o de L a c a n . A n o v a
interpre-
t a ç ã o a n a l í t i c a , s e g u n d o L a c a n , seria a q u e l a q u e a l c a n ç a a resposta
do
Real. Por isso, a i n t e r p r e t a ç ã o
da
não seria formulada
s i g n i f i c a ç ã o que ela p r o d u z i r i a , m a s e m f u n ç ã o
em termos
dos
significantes
pelos q u a i s a s i g n i f i c a ç ã o foi f o r m u l a d a , isto p o r q u e u m a
mensagem,
m e s m o d e c i f r a d a , p e r m a n e c e u m e n i g m a , n a m e d i d a e m q u e a relaç ã o d o s u j e i t o e s u a r e p r e s e n t a ç ã o s i g n i f i c a n t e só p o d e ser r e l a c i o n a d a , e m ú l t i m a i n s t â n c i a , a s u a c a u s a ç ã o m a t e r i a l ( 1 9 7 3 , p p . 5-52).
D a í a s u g e s t ã o d e L a c a n d e q u e o q u e d e v e ser
interpretado
n ã o s ã o os d i t o s de u m p a c i e n t e , m a s s i m o seu d i z e r . Esta
ta foi e q u a c i o n a d a p o r
Lacan em termos
s e r i a o q u e faz p a s s a r u m
(1973). O
modal
dito do
de que a
"modal"
para o
propos-
interpretação
"apofântico"
seria o que inscreve a posição ou a atitude
sujeito c o m relação ao e n u n c i a d o pelo verbo. O apofântico
do
seria o
d i z e r p a r t i c u l a r , q u e o s c i l a e n t r e a r e v e l a ç ã o e a a s s e r ç ã o . Estes efeitos s e r i a m p r o d u z i d o s
pela p o n t u a ç ã o , pelo corte, pela alusão, pelo
equívoco, pela citação, pelo enigma.
Para Lacan, a interpretação seria u m dizer e s s e n c i a l m e n t e silenc i o s o , a q u a l a p o n t a r i a p a r a o fato d e q u e u m s i g n i f i c a n t e
esconde
outro significante, ou que u m a significação esconde outra significação,
procurando,
n o e n t a n t o , o q u e d e R e a l c o n d i c i o n a este e f e i t o
de s i g n i f i c a ç ã o , r e v e l a n d o desta m a n e i r a a c o n s i s t ê n c i a l ó g i c a
do
objeto, que, em ú l t i m a análise, seria o impossível de dizer.
Para esclarecer a m a n e i r a pela qual opera a interpretação
n a l í t i c a , L a c a n referiu-se à l ó g i c a , p o r m e i o d o p e n s a m e n t o
psicad e Fre-
ge,
que estabeleceu
entre
sentido
(Bedeutung).
dos
diferença
e significação
Frege, oito anos
de Freud
publicar A
sonhos,
com
uma
(Sinn)
o
interpretação
publicou
título
Bedeutung",
antes
um
"Über
artigo
Sinn
und
traduzido como
"Sobre
o sentido
e a significação", com
o
propósito
de separar o conteúdo,
a
conotação
(o Sinn),
Bedeutung).
da d e n o t a ç ã o
artigo na conferência
em
Genebra,
em
título
pronunciada
1976,
o
"Sobre
o
sintoma",
onde
a s s i n a l o u q u e o Sinn
seria
efeito de s e n t i d o d e t e r m i n a d o
do
efeito
Bedeutung
to
de
concerne
à
relação
Esta
distinção
além
entre
Sinn
que vai do sentido
do
sentido,
conotando
O
sentido,
Smn,
seria
Jorge
Bedeutung,
apontaria
para o
tos d o S i m b ó l i c o .
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que
completas
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tir
(a
L a c a n r e f e r i u - s e a esse
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In Edição
Paulo,
SP:
Casa
da
do
psicanáPsicólo-
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