Fundamentos O a u t o r investiga as modificações na prática analítica e suas conseqüências na r e f o r m u l a ç ã o da teoria em Freud e Lacan e articula essas modificações com o c o n t e x t o da pósm o d e r n i d a d e . A possibilidade de o sujeito p r o d u z i r transferência, entendida c o m o s u p o s i ç ã o de saber ao O u t r o , estaria modificada na p ó s - m o d e r n i d a d e . O a u t o r mostra que o período do e n s i n o de Lacan c h a m a d o de "segunda clínica" caracteriza-se pelo a b a n d o n o da c o m u n i c a ç ã o de saber c o m o agente do t r a t a m e n t o e p r o p õ e que esse p r o c e d i m e n t o possibilita à psicanálise atuar nas características do sujeito p ó s - m o d e r n o , bem c o m o r o m p e com os cânones anteriores da interpretação analítica. Psicanálise; inconsciente; materialidade; sujeito; pós-moderno; letra IN LACAN'S "SECOND CLINIC" THE WORDS DON'T GO TO THE OTHER The author searches the modifications in analytical practice and its consequences in the restatement of Freud and Lacan's theory, and articulates these modifications with the post-modernity context. The possibility to produce transference as a suposition of knowledge to the Other would be changed in postmodernity in its relation with the knowledge. The author shows that Lacan's teaching period called as "second clinic" characterizes itself by the abandonment of the knowledge communication as the agent of treatment and points out that this procedure gives the possibility to actuate in the post-modern subject's characteristics as well as it tears with the previous canons of the analytical interpretation. Psychoanalysis; unconscious; materiality; subject; post-modernity; letter NA S E G U N D A CLÍNICA DE LACAN A PALAVRA N Ã O SE DIRIGE A O O U T R O IVÍárcio P e t e r de S o u z a 1 Leite MODIFICAÇÕES DA PRATICA ANALÍTICA E TRANSFERÊNCIA COMO SUPOSIÇÃO DE SABER A Á. ) \ clínica impõe a reflexão sobre a existência de modificações no inconsciente, pois, como no caso da histeria, os sintomas podem mudar. Demonstrando também mudanças na subjetividade, pode-se apontar o gosto dos jovens pelos "esportes radicais", tatuagens, piercing, além de uma prevalência maior de casos de anorexia, e também r e c u r s o c o m u m ao s e x o f o n e , e ao sexo pela internet. Essas modificações da subjetividade podem ser entendidas pelo fato de o i n c o n s c i e n t e estar estruturado como linguagem: como a linguagem muda, o inconsciente também muda. Assim como muda o sujeito, devido a ele decorrer da linguagem. Da mesma maneira, a prática e a teoria da • Médico, psiquiatra, psicanalista, direror-geral da EBP-SP. Autor de Psicanálise lacaniana, 2000. psicanálise também estão em constante p. 17), na i n t r o d u ç ã o modificação. Freud (1920, de " A l é m d o p r i n c í p i o d o p r a z e r " , r e l a t a a e v o l u ç ã o d a p r á t i c a da p s i c a n á l i s e até e n t ã o , s i t u a n d o a o r i g e m da c u r a p s i c a n a l í t i c a n o s r e l a t o s feitos n o s " E s t u d o s s o b r e a h i s t e r i a " , em que sua causa aparecia correlacionada à c o m u n i c a ç ã o p a c i e n t e r e v e l a d o r a d o seu desejo ( i n c o n s c i e n t e ) . Essa seria o i n s t r u m e n t o feita ao interpretação pelo qual o analista c o m u n i c a r i a ao paciente a v e r d a d e s o b r e seu ( d e s e j o ) i n c o n s c i e n t e , q u e s e r i a d e d u z i d a d a s representações m o b i l i z a d a s na associação livre (1895, p. 4 3 ) . Poderia i n d i c a r - s e c o m o p a r a d i g m a desse m o m e n t o a a ç ã o d e " t o r n a r ciente o cons- inconsciente". Em um segundo momento, iniciado com Dora, Freud, ao i n c l u i r a transferência deslocou a interpretação o relato do na direção do caso tratamento, d o desejo i n c o n s c i e n t e p a r a o r e p e t i d o na transferência, p r o p o n d o "privilegiar a recordação em detrimento da repetição". Um pio do terceiro m o m e n t o , prazer", s i t u a d o a p a r t i r de " A l é m d o testemunha a v i r a d a ética de Freud, p s í q u i c o d e i x o u d e ser e x p l i c a d o c o m produzida princí- em que a a n a l o g i a da o homeostase- pela evitação de desprazer, para a d m i t i r que o sujeito b u s c a u m b e m q u e n ã o se i d e n t i f i c a c o m o seu b e m - e s t a r . Como c o n s e q ü ê n c i a desta evolução na prática da psicanálise, Freud "Construções em análise" sugere que a cura presentificação de traços m n ê m i c o s , p r o d u z i n d o se d a r i a em pela novas possibilida- des de l i g a ç ã o entre eles. A o q u e s t i o n a r a i m p o s s i b i l i d a d e de e x i s t i r a r e c u p e r a ç ã o de u m a "verdade h i s t ó r i c a " através da interpretação, F r e u d c o n c l u i u q u e o m o t o r da c u r a n ã o está r e l a c i o n a d o à c o m u n i c a ç ã o de u m saber, m a s à a t u a l i z a ç ã o da m a t e r i a l i d a d e q u e sustenta a s i g n i f i c a ç ã o ( 1 9 3 2 , p . 2 9 1 ) . A obra de Lacan t a m b é m direção do tratamento, que autorizam Pode-se testemunha falar-se em c o n c e p ç õ e s encontrar mudanças em relação à e podem-se encontrar uma forma de L a c a n c o r r e l a c i o n a d a ao d e s e n v o l v i m e n t o diferentes diferentes de dirigir o paradigmas tratamento. tratamento, do registro do Imaginário, no texto " I n t e r v e n ç ã o sobre a t r a n s f e r ê n c i a " , e m q u e L a c a n s u g e r e u m a concepção do tratamento q u e p o d e ser e n t e n d i d o como "reconhe- c i m e n t o do desejo", c u l m i n a ç ã o das "inversões d i a l é t i c a s " produzidas pelo analista a partir dos diversos "desenvolvimentos da v e r d a - d e " ( 1 9 6 6 , p. 2 1 4 ) . U m segundo momento, p o d e ser c o r r e l a c i o n a d o à i n c l u s ã o S i m b ó l i c o , em que o objetivo do tratamento seria c o m u n i c a r do ao paciente u m significante que pudesse e n u n c i a r sua ú l t i m a verdade. Isto s e r i a p o s s í v e l d e v i d o a o fato d e o a n a l i s t a p o d e r buscar, na sincronia da cadeia significante, a diacronia que o determina. Bus- ca j u s t i f i c a d a p e l a e s t r u t u r a d a l i n g u a g e m , e m q u e o rastreamento d a s m e t o n í m i a s e l u c i d a as m e t á f o r a s , i n d i c a n d o s u a c a u s a m a t e r i a l n a s l e t r a s q u e as c o n d i c i o n a m . Pode-se a i n d a s u g e r i r u m em que a determinação terceiro período na obra de Lacan d o s e n t i d o p a s s a a ser c o n d i c i o n a d a idéia de u m "significante a s s e m â n t i c o " , p r o d u z i n d o do sentido ao gozo. Porém, uma nesses vários m o v i m e n t o s pela submissão da prática analítica, permanece constante a referência à transferência, a p o n t o d e a o r i e n t a ç ã o l a c a n i a n a ser v i s t a c o m o c l í n i c a d a t r a n s f e r ê n c i a , clínica do significante, ou ainda clínica do Lacan retomou o conceito de t r a n s f e r ê n c i a de Freud articu- l a n d o seus diferentes d e s e n v o l v i m e n t o s , e s q u e m a t i z a n d o - o s momentos: transferência como repetição, transferência d e s t a s três p e r s p e c t i v a s , L a c a n p r o c u r o u sência da transferência e buscou três abandonar d e f i n i r u m a es- u m eixo que possibilitasse articu- l a r essas v á r i a s f o r m a l i z a ç õ e s n u m a da situação analítica, pensando em c o m o resis- tência, e finalmente articulando-a com a sugestão. Sem nenhuma ou Outro. só, e n c o n t r a n d o - o n a a transferência q ü ê n c i a i m e d i a t a da associação livre. O u s o c i a r , o faz p a r a a l g u é m , p o n d o como estrutura uma conse- seja, o a n a l i s a n t e , a o as- o analista como um ouvinte p r i v i l e g i a d o da b u s c a d o a n a l i s a n d o d a v e r d a d e sobre ele nos limites das suas palavras. Limite posto no analista, mesmo enquanto e n c a r n a u m o u v i n t e e s p e c i a l , q u e d e c i d e da v e r d a d e i r a s i g n i f i c a ç ã o das suas palavras. Para Lacan existe transferência d e v i d o ao fato de o paciente associar livremente, e é na submissão do analisante à regra mental, à regra de dizer tudo conectar o inconsciente, pensado a um outro, como um em saber, que funda- se a um pode sujeito. D e s d e este p r i s m a , a t r a n s f e r ê n c i a é r e l a ç ã o c o m o saber. Este s a b e r porém é, n a s i t u a ç ã o a n a l í t i c a , a t r i b u í d o ao ouvinte, " l u g a r " do a n a l i s t a , e n ã o n e c e s s a r i a m e n t e à s u a pessoa. Se a t r a n s f e r ê n c i a é d e a m o r , o m a r c a n t e é q u e se t r a t a de a m o r a q u a l q u e r u m q u e esteja n a p o s i ç ã o d e a n a l i s t a . Este " q u a l q u e r u m " , p e c u l i a r d a situação a n a l í t i c a , é o c o n c e i t o de O u t r o . Por isso a c l í n i c a l a c a n i a n a é a clínica do O u t r o , ou clínica da transferência, c o n s t i t u i n d o guagem um terceiro como referência c o m u m a lin- p a r a os d o i s . A i n v e n ç ã o de Freud é a i n v e n ç ã o do a n a l i s t a c o m o O u t r o . a n a l i s a n t e , p e l o fato d e a c e i t a r a r e g r a f u n d a m e n t a l , p o s i ç ã o d e n ã o s a b e r o q u e d i z , cai n a d e p e n d ê n c i a que o põe O na desse O u t r o . N o e n t a n t o , n ã o se t r a t a d e u m a d e p e n d ê n c i a r e a l . T r a t a - s e d a dep e n d ê n c i a d a r e l a ç ã o d e s s e s u j e i t o c o m o s a b e r . S a b e r este, q u e é o q u e se p r o c u r a numa p s i c a n á l i s e . A esse e l e m e n t o q u e d e f i n e a e s s ê n c i a , o m o t o r d a t r a n s f e r ê n c i a , a essa r e l a ç ã o e p i s t ê m i c a , L a c a n chamou Sujeito Suposto Saber. Devido a haver diferentes moda- l i d a d e s de saber c o m p a r t i d a s socialmente nos diferentes m o m e n t o s his- tóricos, pode-se falar em diferentes m o d o s de subjetivação nos diferentes momentos da história, pois o Sujeito estabelece diferentes m o d o s ção com o Outro no de rela- decurso da história. MODERNIDADE, PÓSMODERNIDADE, SUJEITO, SABER E TRANSFERÊNCIA D e c o r r e n t e de a c l í n i c a a n a l í t i c a ser c l í n i c a d a t r a n s f e r e n c i a e esta estar r e l a c i o n a d a c o m acompanhar o saber, o momento para atual da p s i c a n á l i s e , h a v e r i a q u e situá-la d i a n t e do p a r a d i g m a do que é considerado como pós-moderno. aponta para uma Termo "modernidade", categoria da e m q u e s t ã o s o m e n t e pois, segundo com que superação da transforma- recentemente, F o u c a u l t , foi K a n t q u e se i n t r o d u z i u apenas a per- gunta sobre a " a t u a l i d a d e " , fazendo do tempo presente u m acontecimen- to a ser f o r m a l i z a d o ( F o n s e c a , 1 9 9 5 ) . O "moderno" c o m o questão cristali- zou-se c o m M a x W e b e r e H a b e r m a s , os p r i m e i r o s a u s a r a p a l a v r a dernização como terminus, mo- associan- do-a à f o r m a ç ã o d e c a p i t a l e ao estabelecimento de poderes políticos centralizados. L a c a n refere-se à modernidade f a l a n d o da p a r t i c u l a r i z a ç ã o da ciência moderna, de um pensamento moderno, de a d m i t i r uma era mo- derna, o que mostra preocupação estabelecer u m a relação do momento histórico com o Sujeito. No rio em Seminá- III, L a c a n s u g e r e q u e u m d o s te- mas que caracterizam o pensamento m o d e r n o é a i d é i a de u m gem persona- v i v e n d o só e m u m a i l h a d e s e r - ta, e m e n c i o n a Robinson Crusoe. L a c a n ( 1 9 6 8 a ) r e t o m a esta r e f e r ê n c i a no s e m i n á r i o "De outro", um Outro a presenta o c o m e ç o da era mem moderna, para m o d e r n o afirmar sua dência e autonomia todo amo posição, em o relação a esta "Ciência e verdade", Lacan utilizou a expressão " u m to momento do sujeito" e, referindo-se ao sujeito, " u m to h i s t o r i c a m e n t e cer- A razão é para d e n t e d o "Eu pergunta: atual, do indepen- sou". Caberia então a há e que lugar Freud um sujeito fosse que seja produzido por u m saber n o v o c o m p a r t i d o nos dias de hoje? N o Dicionário "sujeito" Aurélio, aparece o definido termo como: " s e r i n d i v i d u a l , r e a l , q u e se c o n s i d e ra como tendo qualidades ou cado ações". No sofia de Vocabulário sofia Dicionário Oxford, aparece como prati- de o mesmo sinônimo técnico filo- termo d e Eu. e crítico No de de A. L a l a n d e , a p a r e c e filo- definido l o g i a , a s o c i o l o g i a , o d i r e i t o e a fi- mo- inaugural" losofia. varia possibilidade o sujeito está na de afir- O uso também do termo dentro "sujeito" da filosofia: p a r a H e i d e g g e r , " s u j e i t o " é u m a categoria da sujeito d i v i d i d o . O penso" desde a lógica, a metafísica, a psico- (1966, p. 869). temporalizar "Eu ainda d e f i n i d o " , e, a i n - historicamente de u m dú- reveladoras momen- da e m relação ao sujeito, " u m mento ho- indepen- e Deus. Enfatizando em p o s s a m d e s t a c a r n o seu d i s c u r s o vidas que aparecem como um s u g e r i n d o q u e essa i d é i a re- pois seria fundamental p o d e ter c e r t e z a d e s i , d e s d e q u e se da filosofia que se deve desconstruir; para Marx, a história é um processo sem sujeito, portanto m a ç ã o d e L a c a n d e q u e o sujeito está " s u j e i t o " seria u m a c a t e g o r i a d a i d e o - d e f i n i d o e m r e l a ç ã o ao s a b e r . logia; a fenomenologia, o saber muda, novas função muda, o sujeito causando Como também o surgimento de m a n e i r a s de s u b j e t i v a ç ã o em da n o v a relação deste c o m saber. P a r a L a c a n , o a p a r e c i m e n t o o do por sua vez, identifica o sujeito à consciência. Pensando desde constata-se que Freud, tenha a psicanálise, embora utilizado o termo abordou-o com outra não "sujeito", terminologia, sujeito m o d e r n o localiza-se historica- podendo-se mente com a publicação das Medita- termo "Das p a r a se r e f e r i r ao que, sujeito da experiência. S e g u n d o L. pro- Boyer, o sujeito, em M e l a n i e Klein, ções metafísicas de Descartes, pela operação duzido to do Cogito, teria o sujeito m o d e r n o . Cartesiano O Sujei- é o pressuposto da dizer que Freud Ich" pode eqüivaler "aos modos buir significado usou de posições)" (Ogden, n á l i s e , tal q u a l Descartes, parte do o t e r m o " s u j e i t o " está p r e s e n t e fundamento su- seus p r i m e i r o s d a e x i s t ê n c i a de u m jeito da certeza, ou seja, o Sujeito atri- à experiência n o ç ã o de i n c o n s c i e n t e , pois a psica- 1996). Em o (as Lacan, desde escritos, e seu parece e q ü i v a l e r a "ser h u m a n o " ; uso de- pois Lacan lógica do diferencia sujeito o sujeito da gramatical, assim c o m o esses s u j e i t o s s ã o d e f i n i d o s por serem opostos ao objeto. Lacan tam- bém diferencia gramatical, o sujeito do sujeito noético, anônimo e a m b o s d o S u j e i t o , cuja s i n g u l a r i d a d e se d e f i n e por um ato de afirmação. E este S u j e i t o , e n t e n d i d o como q u e se d e f i n e p o r u m a t o de o afirma- ç ã o , q u e L a c a n d i f e r e n c i a d o Eu. Eu é e n t e n d i d o como O a sensação de u m c o r p o u n i f i c a d o , e, n a t e o r i a do estádio do espelho, encontra-se d u z i d o desde a i m a g e m do Lacan, no pro- outro. Seminário III, diz: "Aristóteles observava que não con- vém dizer que o h o m e m mas pensa, q u e ele p e n s a c o m s u a a l m a . D a mesm a m a n e i r a , eu d i g o q u e o S u j e i t o se fala c o m o seu E u " ( 1 9 5 6 , p. 2 3 ) . À d i f e r e n ç a d o Eu, q u e p a r a L a c a n é construído tro, desde a i m a g e m do Outro, q u e é referência à l i n g u a g e m enquan- efeito isso decorre ou- do to o Sujeito da o r d e m o Sujeito simbólica. Por é conseqüência do s i g n i f i c a n t e , e está r e g i d o p e l a s l e i s do S i m b ó l i c o . Para Lacan, p o r t a n t o , a causa do Sujeito é a estrutura significante. O Sujeito não é do uma sensação consciente, u m a ilusão duzida pelo insconsciente, Eu, senão e por isso não agente da fala, suporte mas descentrado, pro- que é é o da estrutura, acéfalo, dividido, evanescente. O Sujeito na psicanálise é explicitamente diferente ciência, da portanto é u m Sujeito fenomenológico. consnão Não é u m a categoria n o r m a t i v a , ele é u m a c a t e g o r i a c l í n i ca, e n ã o r e m e t e a u m a Levando-se em totalidade. consideração a articulação existente entre Sujeito e história, para a l g u n s autores, o sujeito p ó s - m o d e r n o seria caracteri- z a d o p o r n ã o ser m a i s u m S u j e i t o q u e t e n h a u m s a b e r comparti- do socialmente, seria u m sujeito sem p a r a d i g m a s de consenso, seria o sujeito decorrente da m u d a n ç a dos costumes sexuais, das ças mudan- i d e o l ó g i c a s , s e r i a o S u j e i t o q u e sofre d a a u s ê n c i a d e i d e a i s pré- e s t a b e l e c i d o s . S e n a esse S u j e i t o p ó s - m o d e r n o conseqüência do novo materialismo introduzido p e l a n e u r o b i o l o g i a a t u a l , q u e se c a r a c t e - riza pela a u s ê n c i a de u m S u j e i t o d e s e j a n t e , o u s e r i a esse S u j e i t o pós-moderno Como a conseqüência do " d e c l í n i o " da função o Sujeito decorre do saber, e c o m o a paterna? pós-modernidade caracteriza-se pela a u s ê n c i a de p a r a d i g m a s e s t a b e l e c i d o s e pelo questionamento d o saber ( t e o r i a d o caos, t e o r i a d a s catástrofes, n o v a c i ê n c i a e t c ) , cabe a p e r g u n t a : a o q u e s t i o n a r s u a r e l a ç ã o c o m o saber, qual transferência estabelece o Sujeito pós-moderno? PSICANÁLISE E SUJEITO PÓS-MODERNO: RESPOSTAS DO REAL N a e v o l u ç ã o d o e n s i n o de L a c a n , pode-se falar e m u m momento, primeiro c o r r e l a c i o n a d o à d e m o n s t r a ç ã o d a d e t e r m i n a ç ã o d o senti- do, entendido c o m o efeito d o f u n c i o n a m e n t o l i z a d a c o m a n o ç õ e s de m e t á f o r a - m e t o n í m i a , n i f i c a ç ã o fálica, e N o m e - d o - P a i . da l i n g u a g e m forma- "point-de-capiton", sig- Nesse m o d e l o d a p r á t i c a d a p s i c a n á - lise, o a n a l i s t a o c u p a o l u g a r d o O u t r o , e n a i n t e r p r e t a ç ã o a p o n t a a u m significante que possa dizer toda a verdade do sujeito. A s e g u n d a c l í n i c a d e L a c a n seria u m a m u d a n ç a d e a x i o m a q u e se o p e r a e m enuncia pelo nó O 1 9 7 0 , q u a n d o , n o s e m i n á r i o "...Ou P i r e " , L a c a n ( s . d . ) "I'l y a de 1'Un", p r o b l e m á t i c a que c o n d i c i o n a o interesse borromeano. que quer dizer o acento posto no U m ? Quer dizer que o Sujeito não procede da cadeia. Por isto Lacan passa a enfatizar a noção de s i g n o , p e n s a d o como um deslocamento uma ocorrência do U m , ou não tem u m a estrutura Pode-se t a m b é m s i g n o de u m o UM, significante é que o signo binaria. a r t i c u l a r essa m u d a n ç a do c o n c e i t o de g o z o . A i n t r o d u ç ã o valor dado à metonímia seja, isso entender do D O I S , ou do m ú l t i p l o da cadeia, para o pois o que distingue u m trodução como s i g n i f i c a n t e sem cadeia. Pode-se c o m de a x i o m a c o m a indo gozo modifica (ver R a d i o f o n i a ) , f a z e n d o com que vesse u m a m u d a n ç a d o a c e n t o a n t e s p o s t o s o b r e a m e t á f o r a , cando-o para a m e t o n í m i a . (clínica da conexão). o houdeslo- A p a r t i r d a í se p o d e o p o r e n t ã o a t r i l o g i a s i g n i f i c a n t e , s i g n i f i c a d o e efeito d e s i g n i f i c a ç ã o a s i g n o , s e n t i d o e efeito d e g o z o . Estas m u d a n ç a s i m p l i c a m u m a n o v a d e f i n i ç ã o de inconsciente, ser e n t e n d i d o q u e passa a c o m o u m saber c i f r a d o , q u e a l o j a u m g o z o , u m saber e s c r i t o . H a v e r i a e n t ã o u m a m u d a n ç a d a ênfase d o e n t e n d i m e n t o do i n c o n s c i e n t e de u m " q u e r e r d i z e r " , q u e seria o p a r a d i g m a d a p r i m e i ra c l í n i c a , p a r a u m " q u e r e r g o z a r " , p a r a d i g m a d a s e g u n d a c l í n i c a . O u t r a c o n s e q ü ê n c i a dessa m u d a n ç a de p a r a d i g m a : u m a ção renovada de l i n g u a g e m , n ã o m a i s c o m o m e i o de mas como a p a r e l h o de g o z o . Nesse m o m e n t o , consciente como substituição linguisteria, da u m s a b e r fazer c o m linguagem por Lacan define o in- a alingua. alingua, defini- comunicação, Ou de seja, h á uma lingüística por de desejo (querer d i z e r ) p o r g o z o (querer g o z a r ) . C i t o L a c a n : " S e eu d i s s e q u e a l i n g u a g e m é c o m o o q u e o está e s t r u t u r a d o , é certamente porque inconsciente a linguagem, em primeiro l u g a r , n ã o existe. A l i n g u a g e m é isso q u e se t r a t a de saber a respeito da f u n ç ã o Daí d e alingua..." (1972a, pp. 126-7). q u e o e i x o d e s s a s e g u n d a c l í n i c a d e L a c a n p o d e r i a ser a s e p a r a ç ã o d o s e n t i d o e d o R e a l . E s e r i a esta a n t i n o m i a e sentido q u e fez c o m do sintoma se h á o sentido o sintoma é u m a exceção (Joyce). c o n s e q ü ê n c i a s teóricas dessa m u d a n ç a Um, Real questão t e n h a se t o r n a d o u m a p r i o r i d a d e , p o i s se o real e x c l u i completamente As entre que no ú l t i m o e n s i n o de Lacan a se a l i n g u a g e m é c o n d i c i o n a d a c o m u n i c a ç ã o , n o n í v e l d a alingua, b é m c o m o c o n c e i t o d e apalavra de p a r a d i g m a é que p e l a alingua, se n ã o então todos m o n o l o g a m o s . se t e r m i n a a r e f e r ê n c i a à c a ç ã o , n ã o h á d i á l o g o , h á a u t i s m o , l o g o não há Outro. há Tam- comuni- Conseqüên- cia c l í n i c a : se n ã o se n ã o h á d i á l o g o , i s s o i m p l i c a r e f o r m u l a r - s e prática da Em a interpretação. Televisão, Lacan opõe o significante não mais ao significa- do, mas a partir daí ao signo, constituindo no do par m e t á f o r a / m e t o n í m i a de l i n g u a g e m ( 1 9 7 2 c ) . C o m c o m isso u m abando- e uma ressignificação do conceito isto, o que antes, c o m o binarismo s a u s s u r i a n o , d a v a c o n t a d o s efeitos d e s i g n i f i c a ç ã o , t e r i a s i d o s u b s tituído pelo par s i g n o / s e n t i d o , gozo. T a m b é m referência à letra e sua articulação com questão de qual é o s e n t i d o do gozo vai que daria conta a r e f e r ê n c i a ao g o z o r e i n t r o d u z do sentido a escritura. Por é respondida querer dizer, que seria a vontade c l í n i c a a n a l í t i c a d e i x a de ser c o n c e b i d a de que de g o z o . A não q u e resta é o l a ç o s o c i a l (os d i s c u r s o s ) , q u e é o ú n i c o que pode pôr e, p o r isto, o O u t r o l i m i t e a o P . D . D . (pas não de dialogue) um meio no diálogo, há conversação, como isto, a por e, a p a r t i r d a í , a c l í n i c a a n a l í t i c a s e r á p e n s a d a a l é m de u m O da p r o d u ç ã o de outra m a n e i r a a existe. (Miller, 1996a). Em termos da direção impõe-se então que aponta não do uma tratamento interpretação para o sentido, isto constituiria a "época e lacaniana da psicanálise", que é u m a orienta- ção para o Real. terpretação, com os termos Sinn e Bedeutung, a dessa outra pensá-los o sentido e o usados por como do (o q u e a leva o Nome-do-Pai Real e reconsi- a partir gozo como proposta no do e n s i n o de Lacan n ã o seria m a i s c o n c e b i d a c o m o mensagem uma a ser d e c i f r a d a , m a s ato que i n c i d i r i a no gozo delo, a d i r e ç ã o de u m indicaria que, na um produzimo- tratamento era c h a m a d a "pós-interpretativa", de o analista não d e v e r i a se o r i e n t a r u n i c a m e n t e pelo sintoma pelo efeito e seus sentidos, da incidência mas do Real no significante, por m e i o do que Lacan chamou do 1996b). que visaria nome). de "Sinthome" (Miller, Essa i n t e r v e n ç ã o d o a n a l i s t a n ã o Poder-se-ia t a m b é m o então poderia do pai do Frege, o que a separação sentido gozo passando formalizar derar in- Lacan passa a i n d a g a r a entre a interpretação do pelo ciframento. Neste novo Para dar conta relação Já último período poderia inferir ser a abordagem considerado lacaniana do pelo um deciframento estabelecimento definido de u m novo s e n t i d o , m a s a p o n t a r i a p a r a u m a atua- p o n t o de vista e c o n ô m i c o e m Lacan, l i z a ç ã o d e seu s u p o r t e e haveria igualmente uma retomada m a d o p o r L a c a n d e " l e t r a " . I s t o fez relativizando c o m q u e a p r á t i c a d a p s i c a n á l i s e fos- do conceito de defesa o c o n c e i t o de recalque, j u s t i f i c a n d o se c o n c e b i d a desta uma maneira "forclusão a proposta uma generalizada" como p a r a d i g m a do que funda Portanto, incide de na do clínica tratamento uma "escrita" que seria leitura interpre- formalização c o r r e n t e d e o s i g n i f i c a n t e ser m a t e r i a l . A p r o p o s t a de u m a terpretação material sinônimo de in- de- condi- c i o n a d o à "letra", que seria sua causa p r i n c i p a l m e n t e na concepção da "incomo de constitutiva d o i n c o n s c i e n t e . Esta n o v a tação recebeu u m a a falta. a segunda direção o como m a t e r i a l , cha- para o significante presente do s i m b o l i z a d o pelas suas seu texto, d e 1957, " I n s t â n c i a da letra produções, guagem com a interpretação lin- como metalinguagem, pois a interpretação, no ensino de Lacan está consciente", c o m o t r a d u ç ã o do sentie articula o inconsciente como no causa inconsciente, ou de F r e u d " dificada a razão desde depois ( 1 9 6 6 , p . 4 9 6 ) , e foi mo- em "Lituraterre" (1972b) e visando u m a "palavra esclarecedora", depois em forneceria quando foi e q u i p a r a d a p o r L a c a n a o o sentido oculto do c o n s c i e n t e , fosse u m s o n h o , u m toma, u m ato falho (Miller, D e s t a m a n e i r a , este m o d e l o da i n t e r p r e t a ç ã o apontaria unicamente para que, devido à estrutura gem, seria sempre um insin- 1996c). anterior sempre e deciframento da infinito. lingua- c o n c e i t o de "Mais, 1960, no escrito inconsciente" outro modelo para a que visava dar conta pretação (1972a), "gérmen". Lacan, em sição do ainda" que não "Po- propôs um interpretação, de u m a apontasse interpara o sentido cifrado e que, por isto mes- m o , n ã o seria a e n u n c i a ç ã o de u m significante a m a i s que, acrescentado à c a d e i a , e s c l a r e c e r i a os o u t r o s , m a s s u g e r i a esta o u t r a terpretação como um in- ato que i n c i d i r i a no " i n t e r v a l o " da cadeia s i g n i f i c a n t e ( 1 9 6 6 , p. 8 4 3 ) . Essa n o v a interpretação a n a l í t i c a foi i n t r o d u z i d a p o r correlacionada a u m a reformulação p o r ele c o m a i n t r o d u ç ã o Lacan d a n o ç ã o de i n c o n s c i e n t e feita das operações da causação do sujeito, a "alienação" e a "separação". No modelo anterior a compreensão d i s p o s i t i v o p s i c a n a l í t i c o era p e n s a d a d e a c o r d o c o m as des do "Registro do do proprieda- Simbólico", pelas quais o analisando, via transferência, p u n h a o analista n o l u g a r de "Mestre do Sentido". Isto faria c o m q u e o a n a l i s t a dissesse u m a v e r d a d e s o b r e o d i t o analisando, subvertendo c o m i s s o o seu d e s e j o . N o momento do pos- terior do e n s i n o de Lacan, o a n a l i s t a d e i x o u de o c u p a r e x c l u s i v a m e n t e o l u g a r d e " O u t r o " , q u e é o l u g a r e m q u e as s i g n i f i c a ç õ e s a d q u i r e m v a l o r d e v e r d a d e , p a r a situar-se n u m a p o s i ç ã o e q u i v a l e n t e à de "objeto causa do desejo", ou "objeto pequeno O a n a l i s t a , a t u a n d o nessa p o s i ç ã o , p r o d u z i u a". uma reformulação da t e o r i z a ç ã o d o R e g i s t r o d o R e a l q u e , r e s s i g n i f i c a d o , p a s s o u a ser visto como determinando houve uma reformulação contrapor o Registro do Simbólico. Com isso, d a c a t e g o r i a d e D e s e j o , q u e p a s s o u a se a Gozo. Da mesma maneira que o conceito d e Signi- ficante ficou repartido e m dois " l i t o r a i s " , que seria o sentido e a Letra. O gozo, c o m o face d e l e t r a d o s i g n i f i c a n t e , r e s p o n d e r i a s u a f i x i d e z , q u e é seu m o d o d e e x i s t ê n c i a f o r a f i x i d e z , essa e x i s t ê n c i a fora do sentido. do S i m b ó l i c o , leva a u m a sobre a " m a t e r i a l i d a d e " que c o n d i c i o n a a Esta reflexão o significante e também requer o estabelecimento de sua relação c o m a n o ç ã o de "Substân- c i a " , q u e foi a p r e s e n t a d a "substância gozante" Dever-se-á a i n d a r e l a c i o n a r a " l e t r a " c o m o c o n c e i t o freudiano (Lacan, por Lacan como 1972a). de " i n s c r i ç ã o p s í q u i c a " , e t a m b é m c o m o de "traço u n á r i o " , a l é m de e s t a b e l e c e r as s u a s a r t i c u l a ç õ e s c o m o " S i g n i f i c a n t e í n d i c e um", e e x a m i n a r as r e l a ç õ e s desses c o n c e i t o s c o m a n o ç ã o d e R e a l . Como c o n s e q ü ê n c i a desse n o v o m o d e l o canalítica, podem-se da cultura, parâmetro. em que Freud havia tomado feitas p o r a neurose psi- Freud como P a r a F r e u d , os p r o d u t o s c u l t u r a i s ( e n t r e e l e s , a a r t e e literatura) foram pensados como inconsciente, e sua interpretação terpretação compõe da interpretação q u e s t i o n a r as i n t e r p r e t a ç õ e s dos sonhos, foi t o m a d o em que como e q u i v a l e n t e s às f o r m a ç õ e s seguiu o mesmo o conteúdo semelhante modelo manifesto do da in- que os aos fatos c u l t u r a i s , e a m - bos, s o n h o e cultura, foram explicados c o m o o resultado final de processos dos m e c a n i s m o s de inconscientes latentes, decorrentes deslocamento e condensação, causa- dos pelo recalque. M a s , se a i n t e r p r e t a ç ã o d o recalcado, apresentada como a revelação de seu s e n t i d o encontra-se subvertida orientação oculto, dentro da prática lacaniana, então q u e se p e n s a r e m u m de haveria novo modelo para a interpretação da cultura? A INTERPRETAÇÃO ENTRE O IDEAL E O SINTOMA Se, p a r a F r e u d , a apontava do interpretação unicamente à enunciação desejo inconsciente, Lacan sua vez d e s e n v o l v e u u m o u t r o por mode- lo p a r a a i n t e r p r e t a ç ã o , e m q u e e l a n ã o m a i s a p o n t a r i a p a r a as f o r m a ç õ e s do inconsciente entendidas unica- m e n t e c o m o realizações de desejos. Por "objeto meio da pequeno formalização a" como causa do desejo, Lacan p r o d u z i u uso da interpretação que n ã o nicaria o sentido oculto do ou da p r o d u ç ã o interpretação do objeto um comu- sintoma, cultural, mas uma que i n c i d i r i a sobre a causação material do Sujeito. Dessa m a n e i r a , a p a r t i r d e 1 9 6 8 , n o S e m i n á r i o XVII, e n c o n t r a - s e em Lacan ( 1 9 6 8 b ) a idéia de que o que c o n s t i t u i r i a os d i s c u r s o s s e r i a o efeito d a c i r c u l a ç ã o d e s t e o b j e t o que, por causa, ser o b j e t o , é d i f e r e n t e s i g n i f i c a n t e e, p o r t a n t o , do fora d o sen- t i d o . O v í n c u l o e n t r e os d i s c u r s o s e a c u l t u r a p o d e r i a ser s u g e r i d o d e v i do ao fato de q u e o objeto peque- no a, o u o b j e t o (1968a) no c a u s a d o d e s e j o , foi t a m b é m Seminário XVIII, " D e um proposto por Outro a um Lacan outro", como o b j e t o m a i s - g o z a r , n u m a r e l a ç ã o d o m e s m o c o m a n o ç ã o de " m a i s valia", introduzida por Marx. D a m e s m a m a n e i r a , n a s p o u c a s referências q u e L a c a n fez à arte, esta foi p e n s a d a d i f e r e n t e m e n t e d e F r e u d , q u e a r e l a c i o n o u a o dese- jo e a r t i c u l o u - a à i d é i a d e s u b l i m a ç ã o . P a r a L a c a n , a o b r a d e arte o r g a n i z a - s e e m t o r n o d e u m v a z i o e, n a s u a i n t e r p r e t a ç ã o , s e m dar- lhe um sentido, entendeu-a desejo, f u n d a m e n t o como a r t i c u l a d a ao objeto causa do do Sujeito. A s s i m , u m a i n t e r p r e t a ç ã o d a c u l t u r a q u e leve e m c o n t a esses fat o r e s e l e n ã o a p o d e r i a a r t i c u l a r , c o m o o fez F r e u d , e m f u n ç ã o satisfações substitutivas, mas o faria por m e i o das trocas c o n d i c i o n a d a s pelos laços sociais que constituem os d i s c u r s o s . Seria então a proposta dos "quatro discursos", i n t r o d u z i d a Lacan (1968b) no Seminário "O avesso da p s i c a n á l i s e " , u m a m a n e i r a de pensar a c u l t u r a ? E seria o q u i n t o de objetais, discurso, o por nova discurso do capitalista, a leitura psicanalítica da cultura atual? A f o r m a l i z a ç ã o de u m a i n t e r p r e t a ç ã o q u e o p e r a r i a "fora d o sent i d o " deu-se a o l o n g o d e t o d o o e n s i n o de L a c a n . A n o v a interpre- t a ç ã o a n a l í t i c a , s e g u n d o L a c a n , seria a q u e l a q u e a l c a n ç a a resposta do Real. Por isso, a i n t e r p r e t a ç ã o da não seria formulada s i g n i f i c a ç ã o que ela p r o d u z i r i a , m a s e m f u n ç ã o em termos dos significantes pelos q u a i s a s i g n i f i c a ç ã o foi f o r m u l a d a , isto p o r q u e u m a mensagem, m e s m o d e c i f r a d a , p e r m a n e c e u m e n i g m a , n a m e d i d a e m q u e a relaç ã o d o s u j e i t o e s u a r e p r e s e n t a ç ã o s i g n i f i c a n t e só p o d e ser r e l a c i o n a d a , e m ú l t i m a i n s t â n c i a , a s u a c a u s a ç ã o m a t e r i a l ( 1 9 7 3 , p p . 5-52). D a í a s u g e s t ã o d e L a c a n d e q u e o q u e d e v e ser interpretado n ã o s ã o os d i t o s de u m p a c i e n t e , m a s s i m o seu d i z e r . Esta ta foi e q u a c i o n a d a p o r Lacan em termos s e r i a o q u e faz p a s s a r u m (1973). O modal dito do de que a "modal" para o propos- interpretação "apofântico" seria o que inscreve a posição ou a atitude sujeito c o m relação ao e n u n c i a d o pelo verbo. O apofântico do seria o d i z e r p a r t i c u l a r , q u e o s c i l a e n t r e a r e v e l a ç ã o e a a s s e r ç ã o . Estes efeitos s e r i a m p r o d u z i d o s pela p o n t u a ç ã o , pelo corte, pela alusão, pelo equívoco, pela citação, pelo enigma. Para Lacan, a interpretação seria u m dizer e s s e n c i a l m e n t e silenc i o s o , a q u a l a p o n t a r i a p a r a o fato d e q u e u m s i g n i f i c a n t e esconde outro significante, ou que u m a significação esconde outra significação, procurando, n o e n t a n t o , o q u e d e R e a l c o n d i c i o n a este e f e i t o de s i g n i f i c a ç ã o , r e v e l a n d o desta m a n e i r a a c o n s i s t ê n c i a l ó g i c a do objeto, que, em ú l t i m a análise, seria o impossível de dizer. Para esclarecer a m a n e i r a pela qual opera a interpretação n a l í t i c a , L a c a n referiu-se à l ó g i c a , p o r m e i o d o p e n s a m e n t o psicad e Fre- ge, que estabeleceu entre sentido (Bedeutung). dos diferença e significação Frege, oito anos de Freud publicar A sonhos, com uma (Sinn) o interpretação publicou título Bedeutung", antes um "Über artigo Sinn und traduzido como "Sobre o sentido e a significação", com o propósito de separar o conteúdo, a conotação (o Sinn), Bedeutung). da d e n o t a ç ã o artigo na conferência em Genebra, em título pronunciada 1976, o "Sobre o sintoma", onde a s s i n a l o u q u e o Sinn seria efeito de s e n t i d o d e t e r m i n a d o do efeito Bedeutung to de concerne à relação Esta distinção além entre Sinn que vai do sentido do sentido, conotando O sentido, Smn, seria Jorge Bedeutung, apontaria para o tos d o S i m b ó l i c o . De (1968b). avesso da O um Freud, S. ( 1 8 9 5 ) . 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