Confissões de um sarau Andei por abrigos extensos. Mas não encontrei sombra senão na palavra. (Mia Couto) O dia 23 de abril é dia de São Jorge, dia em que Cervantes e Shakespeare faleceram, e não por acaso foi esta a data escolhida para abrigar o Dia Mundial do Livro. Mas foi por acaso (acaso este do inconsciente? Seria a Tiquê pedindo passagem?) que o nosso sarau aconteceu neste dia. A proposta era discutirmos o livro a Confissão da Leoa, relacionando com os conceitos até então estudados no seminário de Lacan. Assim, neste texto gostaríamos de trazer algumas ideias do que repercutiu em nós deste encontro que foi, por assim dizer, faltoso. A ideia do sarau nos soou interessante, pois a partir de uma história, conseguimos pensar mais livremente alguns conceitos lacanianos, muito refletimos sobre a hiância do inconsciente, nessa abertura, nessa fenda, algo acontece, que segundo Lacan não é nem ser, nem não-ser, mas algo da ordem do não nascido. Onde ele aparece? Talvez como o leão... “O leão só se revela, em verdade, no território em que ele é rei e senhor.” (p.64) Que território é este o do inconsciente? Não sabemos. Neste território o psicanalista é apenas um explorador. Percebemos na leitura que a linguagem tem uma opacidade, muitos significados e significantes; o que a frase significa para um, pode ter tocado o outro de distinta maneira. Uma frase ressoou dentro de todos nós: "Para tanto esquecer é preciso nunca ter vivido.” Mas há sempre um tropeço que não nos deixa esquecer, há sempre um real que nos escapa e há sempre uma repetição imperiosa. Através da leitura, agora de O seminário (livro 11) de Lacan, percebemos que o real se apresenta de forma inassimilável e, portanto, traumática. O livro A confissão da Leoa é narrado sob a perspectiva de dois personagens, o que nos fez pensar no estatuto ético do inconsciente, pois não importam quantas condensações ou deslocamentos, verdade deste inconsciente surgirá. Muito similar como o que ocorre na história de Mia Couto, onde há verdade, querendo escapulir a cada página, a cada letra lida. Para concluir uma última citação: - Estamos perdidos? – pergunta Gustavo a medo. - Estar perdido é bom. Significa que há caminhos. O grave é quando deixa de haver caminhos. (p. 151) E é por isso que com tranquilidade percebemos: estamos perdidos. Alice Telmo, Ana Cristina Paneguini, Angela Gatelli, Bruna Lucas, Josemara, Jusseli Bastos, Marco de Menezes, Paula Grinplastch, Vanessa Menke