10 vestibular
Curitiba, segunda-feira, 3 de novembro de 2008
GAZETA DO POVO
Literatura e uso da língua
O FEITIÇO DO BRUXO
Uma rápida escaramuça encrespou o meio literário
quando alguém afirmou que o romance “Dom
Casmurro”, de Machado de Assis, não era lá essa obraprima que se diz que é. Ao ler alguma coisa a respeito,
perguntei-me se não poderia essa crítica ter algum fundamento – e fui conferir.
Fazia quase 20 anos que não relia o romance e, muito
embora minha opinião sobre ele fosse a consagrada, alimentava, machadianamente, a hipótese de vê-la desmentida. Não é que eu tenha restrições ao Bruxo do
Cosme Velho, mas é que, a exemplo dele, não gosto de
mistificações, a verdade deve ser dita, ainda que doa um
pouco. Assim, investido de total isenção, iniciei a minha
releitura e, logo no primeiro parágrafo, já estava de novo
enfeitiçado por sua irreverência bem-humorada. Depois
de contar como ganhara o apelido de Dom Casmurro,
que decidira usar como titulo do livro, alude à hipótese
de que o autor do apelido venha a julgar-se também
autor do livro, e arremata: “Há livros que apenas terão
isso de seus autores; alguns, nem tanto”. [...]
“Dom Casmurro” é um livro triste que nos faz rir de nossa própria fragilidade e nos encanta por sua qualidade
literária. Se é verdade que toda a obra de Machado está
marcada pelo ceticismo e pela ironia, neste romance, o
desencanto parece atingir seu ápice.
A releitura de “Dom Casmurro” levou-me a reler
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, não menos amargas, mas das quais tiro para o leitor uma frase que o faça
rir: “E eu, atraído pelo chocalho de lata que minha mãe
agitava diante de mim, lá ia para a frente cai aqui, cai
acolá; e andava mal, mas andava, e fiquei andando”.
Pessimismo à parte, poucos escritores alcançaram, como
Machado, tanta graça e mestria na arte de escrever.
(Ferreira Gullar, Folha de S.Paulo, 30 abr 2006, p. E10)
45.Sobre as opiniões expressas por Ferreira Gullar,
autor de O Feitiço do Bruxo, assinale o que for incorreto.
a) Mostra-se favorável à proposta de que a obra Dom
Casmurro não seria uma obra-prima.
b) Aponta o seu reencantamento diante da obra Dom
Casmurro devido à irreverência bem-humorada de
Machado de Assis, já no primeiro parágrafo.
c) Demonstra não ter restrições ao “Bruxo do Cosme
Velho”, porque não gosta de mistificações.
d) Comprova a qualidade literária e a mestria na arte de
escrever, ao reler a obra de Machado de Assis.
e) Reafirma o ceticismo e a ironia machadianos, e ainda sublinha o desencanto do narrador de Dom Casmurro.
CAPITU
De um lado / Vem você / Com seu jeitinho / Hábil, hábil,
hábil / E pronto / Me conquista / Com seu dom / De outro
/ Esse seu site Petulante WWW/ Ponto / Poderosa /
Ponto com / É esse o seu / Modo de ser ambíguo / Sábio,
sábio / E todo encanto
Canto, canto / Raposa e sereia / Da terra e do mar / Na
tela e no ar / Você é virtualmente / Amada amante /
Você real é ainda / Mais tocante / Não há quem não se
encante / Um método de agir / Que é tão astuto / Com
jeitinho / Alcança tudo, / Tudo, tudo / É só entregar / E
não resistir / É capitular (...)
(Adaptado de: Luiz Tatit, CD Meio. São Paulo, 2000)
46.Leia as afirmações seguintes a respeito do poe-
ma-canção Capitu e, na seqüência, assinale a alternativa que contiver a(s) afirmação(ões) correta(s).
1. No jogo sonoro entre “p”, “d”, “t”, “o” destaca-se a aliteração, recurso que consiste na repetição do mesmo
som ou sílaba, que estabelece a simetria entre os qualitativos.
2. Ao reproduzir a estrutura rítmica da sigla WWW, o
autor amplia o efeito semântico e reinstaura o poder de
uma Capitu, agora internáutica.
3. O termo “encanto”, em que “canto” é rima, é repetição; o eco cria uma ambigüidade entre quem canta e
quem é cantado.
4. As referências intertextuais, agregadas a outros elementos, contribuem para uma melhor definição e
expansão da personagem, instituindo um diálogo entre
ficção literária, canção e internet.
a) todas
b) somente a 4
c) a 2 e a 4
d) a 2, a 3 e a 4
e) a 3 e a 4
47. Na canção Capitu, Luiz Tatit constrói, com engenho e arte, a dimensão de um feminino, de um forte imaginário de mulher,que vindo do séc.XIX literário,da obra Dom Casmurro,chega ao século XXI via
internet.Assinale a alternativa que mostra as afirmações corretas tendo em vista as características
das estéticas realista e contemporânea.
1. Na estética realista há uma preocupação com os
aspectos sociológicos da obra e com a construção de personagens que apresentam uma mistura de sentimentos, às vezes contraditórios.
2. Na estética contemporânea a preocupação é com
uma nova “socialidade”, com o experimentalismo na forma, com o cotidiano, com uma estética das mãos estendidas do homem na sociedade.
3. Nas estéticas realista e contemporânea não há preocupação com a construção do cotidiano.
4. A construção do universo feminino se aproxima tanto na estética realista quanto na contemporânea, à
medida que a mulher deixa de ser mitificada.
a) todas
b) somente a 3
c) a 2, a 3 e a 4
d) a 1 e a 2
e) a 1, a 2 e a 4.
Texto I – That is the question
Dois e dois são quatro.
Nasci cresci
para me converter em retrato?
em fonema? em morfema?
cupação com a espacialidade, em que o branco dos
vazios pode significar silêncios.
c) A questão da espacialidade, recorrente em Muitas
Vozes, adveio da Poesia Concreta a que Ferreira Gullar
aderiu na década de 1950 e cuja estrutura verbivocovisual ele ainda utiliza.
d) O clichê do título do poema não tem relação com os
versos, na medida em que o eu-lírico racionaliza a sua
dúvida já no primeiro verso.
e) A racionalização presente no primeiro verso se confirma na segunda estrofe, uma vez que o eu-lírico se decide pela detonação do interior do poema, que é feito de
fonemas e morfemas.
49.Os romancistas românticos buscaram valorizar
o passado da pátria e recuperar lendas e tradições
nacionais. Então, em que medida o romance
Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel
Antônio de Almeida, pode ter representado essa
valorização?
a) Nos registros de festas populares da época de Dom
João VI.
b) No fato de as ações do romance terem como palco o
Rio de Janeiro.
c) Na criação de um malandro para revelar a verdadeira índole do brasileiro.
d) Na melosidade do vocabulário e nas metáforas do
narrador onisciente.
e) No fato de o meirinho Leonardo Pataca representar
a justiça brasileira.
50.Em todos os segmentos abaixo,os verbos sublinhados concordam com um sujeito composto.
Analise-os e, depois, assinale a alternativa que
contém as frases cujos verbos sublinhados admitem outra concordância.
1. Embora sede de comarca, era tão pequena a cidade
que um grito ou gargalhada forte atravessavam de ponta a ponta. (Machado de Assis)
2. O entrosamento e o sentimento de equipe, destacados pelo meia, são os diferenciais. (Falcão)
3. Que um e outro cedessem ao desejo de prender a
mocidade fugitiva, pode ser. (Machado de Assis)
4. Delicadeza e meiguice fazem dela uma jovem encantadora. (Mauro Ferreira)
5. Nando e Vilaverde desceram correndo o barranco
enquanto suiá se atropelava e berrava. (Antonio
Callado)
a) todas
b) 1, 2 e 4
c) 2, 3 e 5
d) 1, 3 e 4
e) 2 e 3
Epithalamium, do latim, significa “canto ou poema
nupcial”.
51. Em relação ao poema dado, assinale a alternativa correta.
a) O recurso mais explorado pelo autor é o significado puro e simples das palavras.
b) No poema predomina a comunicação lingüística.
c) O poema gera um código que permite identificar um
elemento dinâmico: a família.
d) As indicações que o poeta fornece para a leitura da
mensagem remetem à origem bíblica do primeiro
enlace amoroso.
e) O poeta explora o conceito de superioridade masculina no poema.
52. Não há perfeita correlação entre voz ativa e
passiva em:
a) Eu poderia ter contado a história – A história poderia ter sido contada por mim.
b) Eu poderia contar a história – A história poderia ser
contada por mim.
c) Eu contaria a história – A história teria sido contada por mim.
d) Eu poderei ter contado a história – A história poderá ter sido contada por mim.
e) Eu poderei contar a história – A história poderá ser
contada por mim.
“O vento não mais me fareja a face como um cão
amigo...
Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.”
53. Considerando a estrutura dos versos, são
possíveis, sem prejuízo do sentido, as modificações efetuadas em que frases?
I. O azul irreversível persiste em meus olhos porque o
vento não mais me fareja a face como um cão amigo.
II. O azul irreversível persiste em meus olhos embora
o vento não mais me fareje a face como um cão amigo.
III. O vento não mais me fareja a face como um cão
amigo, pois o azul irreversível persiste em meus olhos.
IV. O azul irreversível persiste em meus olhos apesar
de o vento não mais me farejar a face como um cão
amigo.
V. Mesmo que o vento não mais me fareje a face como
um cão amigo, o azul irreversível persiste em meus
olhos.
a) em todas
b) em todas, menos na III
c) na I, na II e na IV
d) na I, na II e na V
e) na II, na IV e na V
Aceito
ou detono o poema?
48. Sobre esse poema de Ferreira Gullar e sobre os
elementos poéticos que constituem o livro Muitas
Vozes é correto afirmar que
a) a marca metalingüística, característica deste poema
e comum na poética de outros poetas contemporâneos,
é singular em Muitas Vozes.
b) Neste poema, como em outros poemas do livro, a distribuição dos versos e das palavras obedece a uma preo-
o autor
As questões foram elaboradas pelo
professor Elio Antunes, do Curso e
Colégio Expoente
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