FICÇÃO CIENTIFÍCA NO PENSAMENTO MILITAR BRASILEIRO
Sylvio S. Maia Conde
José Miguel Arias Neto1
RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar como a literatura e/ou produção cinematográfica de
ficção cientifica voltada para a guerra em meados do século XX se relaciona, influencia
ou é influenciada pelo pensamento militar da época. Para isso partir-se-a de uma
análise geral da História da Ficção cientifica no Brasil e suas origens diversas,
culminando na análise da obra « A invasão» de José Antonio Severo, obra literária que
apresenta um Brasil potência militar na decada de 80 intervindo em Angola contra os
comunistas tal qual os Estados Unidos da America no Vietnam e Coréia anos antes. A
obra será relacionada com os conflitos da época, sua importancia para o Brasil e a
massiva cultura anticomunista que bombardeava o Brasil a partir de influencias
externas. «A invasão» repercutiu positivamente no meio militar ao fim da decada de 70,
sugerindo a demanda de expressão literária que cumprisse a função de épico de
guerra Brasileiro entre os Soldados de sua época e gerações futuras.
Palavras
chave:Ficção
Cientifica.
Literatura.
História
militar.
1
Este artigo foi elaborado dentro do projeto Imagens da guerra no pensamento científico
militar de fins do século XIX e século XX: a emergência do Programa Nuclear Brasileiro do
professor Dr. José Miguel Arias Neto
1378
1 Introdução
Antes de mais nada neste artigo faz-se uma introdução sobre os
conceitos gerais de ficção cientifica e suas origens para que melhor se compreenda
sobre quais circunstancias e influencias foi construida a ficção cientifica Brasileira.
Começando pelo conceito da Ficção especulativa, nome que se dá a toda ficção onde
o tema central é deviante em relação a nossa realidade seja fantastica ou em relação a
super ciência e outros conceitos, se firmaram após a mudança do pensamento
ocidental em relação a única e indiscutivel crença cristã de que a humanidade só
mudaria no juizo final e era imutavel até que o próprio acontecesse. A renascença
começa a mudar esse conceito apesar dos relatos de Marco Polo já influenciarem a
visão fantastica anos antes da própria. O primeiro gênero é o da viagem imaginária
com elementos fantasticos, monstros e aventuras impossíveis, a viagem no tempo, a
viagem por outro planeta ou pela nossa lua e outros do tipo. Os exemplos mais antigos
que se tem de proto-ficção que podem ser relacionados são a Odisseia de Homero, o
Epico de Gilgamesh e Argonautica de Apolônio de Rodes, todas histórias conhecidas
ao menos por suas premissas. Os elementos criados nesses trabalhos sobrevivem até
a era contemporânea da ficção especulativa.em por exemplo, Mission of Gravity de Hal
Clement onde os protagonistas são aliens do planeta Mesklin, seres curiosos de forma
não humanoide com um lider carismatico que os leva em aventuras fantasticas. Não
se pode deixar de mencionar 2001 uma odisséia no espaço, filme de Stanley Kubrick
como outro exemplo claro da viagem fantastica em nossa ficção moderna.
Ficção Científica, termo criado em 1929 por Hugo Gernsback na revista
“Science Wonder Stories,” anteriormente Scientifiction, definida pelo mesmo como « O
tipo de história escrita por Jules Verne, Herbert George Wells e Edgar Allan Poe. » que
eram os moldes das histórias que pretendia que seguissem em sua revista. Os
trabalhos destes que se incluiam nos moldes da Ficção cientifíca já existiam desde a
primeira metade do Século XIX como Scientific Romance e a continuidade entre este e
a Scientifiction é direta sem nenhuma mudança além do nome. A proto ficção cientifíca
é um estilo ainda mais antigo. Peter Nicholls, renomado escritor Australiano, afirma
1379
que a proto ficção cientifica e portanto todos os seus sucessores « É meramente uma
continuação, sem qualquer hiato verdadeiro, de uma tradição de ficção imaginativa
muito mais antiga, cujas origens estão perdidas nas brumas míticas e neblinas
folclóricas da tradição oral ».2 Os criticos que discordam afirmam que a FC e a fantasia,
que se encontram nas pulp magazines são literaturas de pouca significância ou
seriedade e que esse tipo de pensamento é nada mais que uma racionalização para
legitimar um estilo sem pedigree. Brian Stableford um respeitado escritor Britânico é da
opinião que reunir obras ilustres com elementos isolados que se repetem na FC e
Fantasia moderna é nada mais que autocongratulação por parte dos autores. Há vários
outros contra a ideia mas o estudo da protoficção cientifíca é concreto ainda que
possua defeitos. Há claras semelhanças entre a ficção cientfíca contemporânea e uma
obra como As viagens de Gulliver (Gulliver’s Travels, 1726), de Jonathan Swift, apenas
como exemplo amplamente conhecido. Há um certo exagero como por exemplo a
afirmação de que « O primeiro boom em ficção cientifíca (…) ainda não havia
terminado durante a vida de Tiberius Claudius Nero Caesar, segundo Imperador de
Roma(42
a.c.
a
37
d.c.) ».3
Caracteristica central do gênero é o chamado « Sense of wonder » ou
« sentido de maravilhoso » causado pelos elementos fantasticos e histórias. Sense of
wonder é, segundo muitos apreciadores do gênero e o livro The encyclopedia of
Science fiction, um dos principais efeitos dos contos de ficção cientifica. O sense of
wonder é o maravilhamento, o espanto é quando se inspira o leitor a pensar sobre as
infinitas possibilidades do universo. Damon Knight, Autor Americano, define o sense of
wonder como não sendo para as massas que sentem horror da mudança e
costumeiramente não tem a necessidade de pensar sobre o universo e sim de receber
o pensamento de outros em filmes e revistas dedicadas a cultura de massa.
2
CLUTE, NICHOLLS. The encyclopedia of Science Fiction, p. 980
3
Sam Moskowitz. The origins of science fiction fandom: A reconstruction. In: SANDERS. Science Fiction
fandom, p. 19
1380
É importante destacar a Fantasia e Alta fantasia como gêneros
próximos e de certa forma contribuintes para a ficção cientifica, as vezes até se
misturando em especial em Space Operas como Star Wars onde há fantasia misturada
a ficção cientifica, os expoentes da fantasia são antigos o suficiente na área de ficção
especulativa para serem também influentes da ficção cientifica, como exemplo nada
melhor que as crônicas do rei Arthur e suas várias re-edições e versões novas, cheias
também de sense of wonder não só sobre a liderança perspicaz de Arthur mas também
seus conselheiros misticos como Merlin o mais conhecido mago de nossa história. Sua
história já foi explicada historicamente, comprovada como em partes reais, e até hoje
não se para de se fascinar e tornar Arthur objeto de estudo, esse é provavelmente um
dos maiores exemplos de sense of wonder da literatura que consigo pensar. Outro
exemplo a ser citado é Tolkien que reuniu várias lendas europeias e africanas criando o
cenário básico da alta fantasia moderna. Sua história é importante em demonstrar a
mudança em nosso mundo com a metafora da idade antiga e os seus Elfos indo-se
embora para deixar o mundo nas mãos dos mortais, a substituição de uma ordem ideal
para a transformação no novo por necessidade e por ser o modo como a vida funciona,
correto a se fazer. Uma grande metafora para a transcedencia da sociedade aristocrata
a sociedade moderna. Mais tarde esses estilos influenciarão vários trabalhos modernos
nas decadas 70 e 80 que vem a ser criados também no Brasil na decada de 90.
O gênero final da ficção especulativa que se relaciona com o objeto
central do estudo é o horror, originando-se do medo primordial que assola o ser
humano em relação aos fenomenos da natureza, ao escuro, aos desastres e ao próprio
humano o horror tem base também na literatura Gótica e por fim em contos de fadas,
fantasmas, folclore e história de vampiros e lobisomem, muitos destes no medievo e
era moderna vistos de forma muito mais aterrorizante do que hoje onde foram
adaptadas para crianças. A ficção cientifica e a fantasia também se apodera de muitos
desses elementos mas comumente de forma muito menos agressiva e as vezes até
sem a intenção de ecoar medo. O gênero de horror é também uma metafora para
vários dos horrores com os quais a humanidade é forçada a conviver dia a dia, a
corrupção, a decadencia, a fome, a miséria alheia, o terror do cotidiano invisivel em que
1381
monstros permeiam nosso mundo não é tão irreal quando analisado desta forma.
Pode-se facilmente destacar autores do horror e gótico a fin de exemplificar o que se
vê no estilo em H. P. Lovecraft com a criação do universo de « Call of cthulhu » onde o
mundo está fadado a ser reinado novamente por criaturas antigas e poderosas ou
Bram Stoker com a criação de Dracula, o vampiro mais famoso que já existiu. É
importante notar que há sense of wonder no horror, segundo Stephen King ele é
utilizado de forma a evocar o medo, o terror e o grotesco de forma a fortlacer a psiquê
para melhor preparo ao lidar com os horrores reais do mundo sem ter de
necessáriamente sofrer as situações, função anteriormente ocupada pelos contos de
fadas europeus. No Brasil esse gênero vai ter alguma difusão na área do cinema com o
Ivan cardoso e José Mojica Marins, Cardoso tem um estilo “trash” cômico em seus
filmes e Marins, conhecido como o Zé do caixão tem filmes altamente chocantes e
grotescos com o máximo de grosseria que consegue expor. O horror no Brasil é
considerado clichê e um tanto previsivel, Alvares de Azevedo escreve no século XIX a
coletânea de contos postumamente publicada em 1855 conhecida como noite na
taverna onde as histórias envolvem sempre amor macabro, morte por consequencia
deste e a consolação no alcool para que os personagens suavizem a própria dor
enquanto vão contando suas histórias na taverna, local físico onde os personagens
contam suas histórias de horror. Mais tarde Coelho Neto escreve o Romance
Esfinge(1864-1934), tirando o conceito do personagem central de Frankenstein or the
Modern Prometheus de Mary Shelley(1797 – 1851) onde o próprio é a montagem de
dois corpos de pessoas assassinadas a cabeça de uma mulher e o corpo de um
homem. Diferente de em Frankenstein porém o problema central é a sexualidade
dividida do personagem James Marian em vez de rejeição por seu criador como o
monstro do doutor.
O estilo que provavelmente se classifica em horro que é
provavelmente mais relevante a pesquisa é o de pós-apocalipse ou medo do
apocalipse atômico muito popular durante a guerra fria, um exemplo pouco explorado é
Roadside Picnic(1972, 1977 em Inglês), um romance dos Russos Arkady e Boris
Strugatsky que conta sobre um novo desastre em Chernobyl tornando a região em uma
área rica em anomalias que vão se espalhando e irradiando cada vez mais a área
mesmo com todas as medidas de contenção que a União Soviética tenta a área se
1382
torna rápidamente o maior desastre nuclear da história. Eventualmente outros livros
são lançados como STALKER, Shadow of Chernobyl onde as pessoas ao redor da
anomalia começam a explorar a área e extrair especimes irradiados em troca de
comida e dinheiro. Infelizmente na maior parte dentro do Brasil continua se dando
maior atenção a ficção traduzida do gênero de horror em vez do trabalho nacional.
2 Ficção no Brasil
Fizeram parte de um fenômeno editorial conhecido como pulp
magazines – publicações impressas em papel barato, feitas com a parte menos nobre
da madeira, a “polpa”, cobrindo gêneros variados a ficção científica, fantasia, horror,
ficção de detetives, western, histórias romanticas, histórias de esportes de guerra e etc.
Elas surgem no fim do século XIX e são populares até a decada de 1950 nos Estados
Unidos, em um contexto influenciado pelo resultado econômico do fim da Primeira
guerra Mundial. Brian Stableford estipula que grande parte da influencia sobre a era
pulp Americana se deve a mudança do centro econômico da Europa para a America
com o fim da primeira guerra que mantem um espiríto de otimismo muito maior do que
o medo do futuro e tecnologia de guerra na Europa, mesmo após a grande depressão
do entre-guerras. « Dificilmente causa surpresa que a ficção futurista americana de
pós-1918 fosse impulsionada por um confiante espírito de aventura, que esteve quase
inteiramente ausente da ficção especulativa Européia. »4 Desde a segunda metade do
século XIX várias revistas publicaram algum tipo de ficção especulativa mas devido a
primeira guerra se modificou a ficção popular tanto devido ao medo de uma nova
guerra e tecnologias possivelmente associadas com esta quanto ao fato de que a maior
parte do público leitor na Europa era agora em grande parte feminino. Enquanto nos
Estados Unidos a aventura e a exploração se tornam temas populares. Ao fim do
Século XIX as revistas pulp foram vastamente classificadas como uma literatura « não
séria” ou “vulgar” o que vai lhe causar problemas num país como o Brasil onde o
pequeno público leitor em sua grande maioria viria a dar maior valor à erudição.
4
Brian Stableford. Science Fiction between the wars:1916-1939. Em:BARRON. Anatomny of Wonder.
1383
Comumente em outros países se instaurou devido a popularidade comercial mas no
Brasil devido ao número pequeno de pessoas realmente alfabetizadas com hábito de
leitura não houve apoio o suficiente para escritores populares ou comerciais, devido a
isso a maioria da ficção especulativa vendida aqui na maior parte do século XIX e XX é
estrangeira vindoura de países onde se podia obter apoio popular para financiar novos
trabalhos. O custo menor de apenas importar histórias estrangeiras seduziu os editores
Brasileiros que gastariam muito mais tendo de financiar os escritores locais. Segundo
Braulio Tavares « Até o final dos anos 30, praticamente inexistiu em nosso país um
movimento literário nos moldes da ficção cientifíca americana, envolvendo escritores e
leitores em contato constante, e revistas especializadas. O balanço que fizemos (…)
mostra que os diversos subgêneros da literatura fantástica foram praticados de modo
casual, de « passagem », por alguns dos grandes nomes de nossa literatura e por
autores
de
menores
cuja
obra
não
provocou
maior
repercussão. »
Não tivemos, portanto, dois dos fatores que cristalizam o cultivo de um gênero: 1) a
existência de uma ou mais Grandes Obras que desencadeiam dezenas de imitações
por anos a fio, ou 2) a existência de um grupo organizado de autores com objetivos
semelhantes, que, à força da pura e simples militância, inscrevem uma tendência
intelectual na história da literatura de seu país(como são as chamadas «escolas » ou
« movimentos »).5
Ainda assim a pesquisa do próprio pela biblioteca nacional consegue
encontrar pelo menos três contos de fantasia e horror facilmente definidos como Pulp
de não menos que, João Guimarães Rosa. Seus contos eram inspirados em Edgar
Allan Poe e outras origens romanticas, é muito similar ao tipo de ficção que também foi
feito na mesma linha em outros países como os Estados Unidos. É provavel que se
houvesse tido mais apoio ao tipo de literatura no país Rosa se tornasse um dos polos
do gênero. Tavares compara o estilo de Rosa ao de Tolkien, de Lord of the Rings, e
Robert Howard de Conan, the barbarian apesar de suas influencias mais populares,
não afirmando que ele mesmo conheceu nenhum desses trabalhos mas que todos tem
5
TAVARES, D. O. Leitura, p. 3.
1384
um
pouco
da
mesma
origem
estilistica
baseada
em
autores
anteriores.
Infelizmente apesar de se achar alguns poucos autores consagrados
com trabalhos que apesar de quase esquecidos existiram e fizeram parte da pulp era, a
maioria dos trabalhos que se pode achar nas bibliotecas da era por aqui serão
traduções de autores estrangeiros. É curioso que diferente de seus países de origem
onde era comum que se comercializasse o gênero em revistas, no Brasil estas são
quase todas formatadas em coleções inicialmente. As revistas no entanto existiram no
Brasil apesar da forma tardia como foram introduzidas, algumas como a “Secret Agent
X-9” se popularizaram e entraram para o conjunto de girias da época, a X-9 inclusive
nomeando uma escola de samba. As revistas eram nos moldes da pulp magazine
Estadunidense com direito a reprodução do papel de baixa qualidade, nota-se muita
pirataria e roubo de imagens também. É nesta época(1917 a 1958) que nomes como
H. G. Wells, H. P Lovecraft, Isaac Asimov e outros vão ser conhecidos pela primeira
vez por muitos no Brasil. Algumas coleções lançaram revistas também em conjunto, o
espaço para o escritor Brasileiro era minimo, poucas editoras durante todo o período
promoveram concursos e destes poucos tiveram a oportunidade de trabalhar nas
publicações
por
mais
que
o
trabalho
fosse
de
qualidade.
A pulp mesmo no Brasil reduzida como foi, se deu como
desenvolvimento popular do Scietific Romance Inglês e fantastico, autores como Edgar
Allan Poe, Guy de Maupassant e H.G. Wells, embora desprezado pelas elites literárias
e considerado um estilo inferior ele nunca foi imitativo ou pobre em recursos. No Brasil
devido ao isolamento completo da comunidade literata o estilo de Ficção cientifica
acaba se « guetificando » e é considerado nada mais que leitura juvenil, diferente do
século XIX quando foi escrita por autores respeitaveis até mesmo no Brasil como
Monteiro Lobato. Aliás, o que vai ser produzido durante a nossa « pulp era que não
houve » como coloca Roberto Causo em seu livro sobre o assunto é exatamente um
Scientific romance tardio de certa forma separado das revistas pulp. A ficção
especulativa que se fazia no Brasil durante os anos 20 e 30, a pouca que era, estava
em geral longe da chamada « Pulp Fiction » Norte Americana que invadia as coleções
1385
e revistas mesmo aquela que se classificava como tal e mais próxima ao Scientific
Romance Inglês que recentemente havia permeado os circulos brasileiros com maior
força.
Segue agora uma breve recapitulação dos principais Romances
cientificos Brasileiros dos séculos XIX e XX que vem a ser primariamente literatura
« séria » de romancistas que tiveram êxito em outras áreas. As influencias mais visiveis
do scientific romance Brasileiro do século XIX são os Franceses Jules Verne, Camille
Flammarion e mais tarde na decada de 1920 o Inglês H.G. Wells aparece com força já
durante
a
Um
era
romance
brasileiro
do
influenciado
pulp
por
Verne
Brasileiro.
é
O
doutor
Benignus(1875) de Augusto Emílio Zaluar (1825-1882) É considerada a primeira obra
de ficção cientifícia escrita no Brasil. O livro aborda os questionamentos filosóficos e as
andanças pelo interior do país do seu personagem principal, o Dr. Benignus, médico e
naturalista. É interessante notar que a ciência de Doutor Benignus é passiva e
comtenplativa, reflexo natural de como a ciência e tecnologia eram vistas pelos
Brasileiros em sua época. O doutor é um filantropo e não partilha da egenharia alemã
ou Americana utilizada para a guerra, em seu modo de ver a vida, a função da ciência
é nada mais que ajudar o homem a entender a natureza e melhor observa-la.
O próximo exemplo é o já citado romance ciêntifico de Monteiro Lobato, sua influencia
indiscutivel H. G. Wells e suas tendencias a eugênia e darwinismo social, O presidente
negro ou O choque das raças É um romance politico situado num futuro distante de
2228 onde há invenções muito próximas dos computadores e internet que temos hoje e
o ideal eugenico está em seu auge, devido a divisão do eleitorado branco um
presidente negro consegue se eleger nos Estados Unidos, o que leva a uma guerra de
limpeza etnica para proteger o país de ser comandado por uma raça inferior,
curiosamente não havia tentativa de branquear o Brasil, pelo contrario se criticava
arduamente a mistura racial. Por fim os brancos, superiores em sua concepção,
ganham a guerra e o mundo volta a um estado natural, ao menos para Lobato. Outro
exemplo de decada aproximada é um conto de Gomes Netto, “Uma viagem de
1386
zeppelin » em que um amigo encontra um conhecido dado como morto a algum tempo
e descobre também estar morto, como no clichê desse tipo de história ele recusa a
possibilidade até o fim onde descobre que de fato é tudo um sonho. Esse tipo de
recurso
é
repetido
várias
vezes
durante
o
período.
É curiosa a falta de protagonistas ativos e o excesso do uso de
recursos como o sonho ou a alucinação ou ainda que a ciência presente venha de
outros países, o complexo de inferioridade cultural é muito claro nas obras de romance
cientifico mais próximos a gênese do estilo no Brasil. Assim como a falta da tecnologia
como ponto forte de referencia no Brasil e a grande xenofobia e eugenia contra a raiz
multi-étnica presente no país. Alguns vem a apelar ao futuro distante como futuro
tecnologico e avançado também culturalmente. Aldazira Bittencourt escreveu Sua
excelencia, a Presidente da Republica no ano 2500 em 1926. Inverte a premissa de
Lobato em O presidente negro ao fazer uma americana vir ao Brasil visitar a utopia
social brasileira. Brasil é uma terra de homens gigantes onde a menor das mulheres
tem um metro e 80 e a expectativa de vida está entre 130 a 180. Onde o feminismo
venceu e quando as mulheres subiram ao poder instituiram a limpeza étnica no Brasil
mandando os negros de volta a Africa e erradicando todos os leprosos, mal-formados e
outros doentes considerados inferiores pela doutrina eugenica. Importante ressaltar
que esse era um feminismo anterior a revolução sexual, onde a mulher teria a máxima
obrigação para com os valores familiares e morais, portanto a sua habilidade em
erradicar tudo que há de ruim na sociedade. O romance cria na Presidente um dilema
quando se apaixona por um « ser inferior » mas por fim ela mantém suas convicções e
o mata. Esses trabalhos demonstram um desejo de ter um lider forte e poderoso que
pudesse mudar a realidade do Brasil e transforma-lo na utopia que estes autores tanto
almejam, o ideal eugenista da elite branca brasileira do inicio do final do século XIX e
inicio do XX é muito claro ao se ler estes livros. Há poucas exceções como A republica
3000, de Menotti del picchia, que conta a história de um acidente em uma expedição
onde dois sobreviventes sem saber onde se encontram acham a Republica 3000, uma
civilização super avançada de Gregos antigos que vive escondido por um campo de
energia em paz e harmonia escondidos de todo o mundo e das guerras e competições.
1387
Tem a mesma relação com a Filha do Inca também do mesmo autor, em que homens
se perdem e acham uma civilização Inca ainda em funcionamento. O interessante
desses livros é a mensagem de que a não-competitividade, a paz, o sossego e todo
esse « progresso » do primeiro mundo é futil e desnecessário em suma se mostra o
exemplo que o brasileiro deveria seguir, bem diferente do racismo eugenista
encontrado
em
outras
obras
que
são
de
temporalidade
aproximada.
O sub-gênero de guerra futura é raro no Brasil, muito mais
desenvolvido na Europa e Estados Unidos devido ao, de certa forma maior interesse
belico e clima mais propicio a guerra. Mesmo a guerra do Paraguai e a maioria das
revoluções que escalaram para ação militar haviam sido tratadas com uma certa
timidez pela literatura Brasileira. O trabalho mais antigo de ficção de guerra no Brasil
que se tem registro é o contro « O homem silencioso », de Afonso Schmidt(1890-1964)
que conta sobre a criação de robôs na america que passam a fazer todo o trabalho.
Porém sem explicação a colheita toda some um dia, o que leva os Americanos, cujos
quais uniram todas as Americas em um país só, a guerrear contra a Africa e Asia para
traze-los como escravos pra cá. Vê-se mais da mesma eugenia e uma certa confusão
no
enredo.
Porém, o primeiro trabalho literário de guerra futura de coerencia e
reconhecimento é A invasão(1979) de José Antonio Severo, romance com grande
embasamento politico onde um Brasil potencia militar em 1986 dotado de tanta
capacidade militar a ponto de sobrepujar alguns dos grandes países Europeus de sua
época sem muito problema. A pedido de facções de guerrilheiros Angolanos lutando
contra a opressão comunista em seu próprio país o Brasil vai a ajuda dos próprios para
livrar Angola da ocupação Cubana. O romance se enfoca nos bastidores politicos e na
preparação militar para a invasão em vez de no conflito propriamente dito. José Antonio
Severo é jornalista politico e econômico, o que o torna mais do que capacitado para
escrever sobre o aparato político-legal construído por militares, políticos e
embaixadores do Brasil e de Angola para dar suporte legal a uma ação militar do porte
da ocupação.
1388
3 conclusão
Devido a alguns transtornos encontrados durante a pesquisa o trabalho se encontra
ainda
incompleto
porém
em
vias
de
terminar.
1389
Referências Bibliográficas
Brian Stableford. Science Fiction between the wars:1916-1939. Em:BARRON.
Anatomny
of
Wonder.
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CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vitor & KRAAY, Hendrik. (Orgs.). Nova história militar
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JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. “A falsa dialética: Justiniano José da Rocha”. In:
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Paulo
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Paulo:Schimidt,
1929.
LOBATO, Monteiro. O presidente negro ou O choque das raças. São Paulo:Clube do
livro, 1945
1390
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