FICÇÃO CIENTIFÍCA NO PENSAMENTO MILITAR BRASILEIRO Sylvio S. Maia Conde José Miguel Arias Neto1 RESUMO O objetivo deste trabalho é analisar como a literatura e/ou produção cinematográfica de ficção cientifica voltada para a guerra em meados do século XX se relaciona, influencia ou é influenciada pelo pensamento militar da época. Para isso partir-se-a de uma análise geral da História da Ficção cientifica no Brasil e suas origens diversas, culminando na análise da obra « A invasão» de José Antonio Severo, obra literária que apresenta um Brasil potência militar na decada de 80 intervindo em Angola contra os comunistas tal qual os Estados Unidos da America no Vietnam e Coréia anos antes. A obra será relacionada com os conflitos da época, sua importancia para o Brasil e a massiva cultura anticomunista que bombardeava o Brasil a partir de influencias externas. «A invasão» repercutiu positivamente no meio militar ao fim da decada de 70, sugerindo a demanda de expressão literária que cumprisse a função de épico de guerra Brasileiro entre os Soldados de sua época e gerações futuras. Palavras chave:Ficção Cientifica. Literatura. História militar. 1 Este artigo foi elaborado dentro do projeto Imagens da guerra no pensamento científico militar de fins do século XIX e século XX: a emergência do Programa Nuclear Brasileiro do professor Dr. José Miguel Arias Neto 1378 1 Introdução Antes de mais nada neste artigo faz-se uma introdução sobre os conceitos gerais de ficção cientifica e suas origens para que melhor se compreenda sobre quais circunstancias e influencias foi construida a ficção cientifica Brasileira. Começando pelo conceito da Ficção especulativa, nome que se dá a toda ficção onde o tema central é deviante em relação a nossa realidade seja fantastica ou em relação a super ciência e outros conceitos, se firmaram após a mudança do pensamento ocidental em relação a única e indiscutivel crença cristã de que a humanidade só mudaria no juizo final e era imutavel até que o próprio acontecesse. A renascença começa a mudar esse conceito apesar dos relatos de Marco Polo já influenciarem a visão fantastica anos antes da própria. O primeiro gênero é o da viagem imaginária com elementos fantasticos, monstros e aventuras impossíveis, a viagem no tempo, a viagem por outro planeta ou pela nossa lua e outros do tipo. Os exemplos mais antigos que se tem de proto-ficção que podem ser relacionados são a Odisseia de Homero, o Epico de Gilgamesh e Argonautica de Apolônio de Rodes, todas histórias conhecidas ao menos por suas premissas. Os elementos criados nesses trabalhos sobrevivem até a era contemporânea da ficção especulativa.em por exemplo, Mission of Gravity de Hal Clement onde os protagonistas são aliens do planeta Mesklin, seres curiosos de forma não humanoide com um lider carismatico que os leva em aventuras fantasticas. Não se pode deixar de mencionar 2001 uma odisséia no espaço, filme de Stanley Kubrick como outro exemplo claro da viagem fantastica em nossa ficção moderna. Ficção Científica, termo criado em 1929 por Hugo Gernsback na revista “Science Wonder Stories,” anteriormente Scientifiction, definida pelo mesmo como « O tipo de história escrita por Jules Verne, Herbert George Wells e Edgar Allan Poe. » que eram os moldes das histórias que pretendia que seguissem em sua revista. Os trabalhos destes que se incluiam nos moldes da Ficção cientifíca já existiam desde a primeira metade do Século XIX como Scientific Romance e a continuidade entre este e a Scientifiction é direta sem nenhuma mudança além do nome. A proto ficção cientifíca é um estilo ainda mais antigo. Peter Nicholls, renomado escritor Australiano, afirma 1379 que a proto ficção cientifica e portanto todos os seus sucessores « É meramente uma continuação, sem qualquer hiato verdadeiro, de uma tradição de ficção imaginativa muito mais antiga, cujas origens estão perdidas nas brumas míticas e neblinas folclóricas da tradição oral ».2 Os criticos que discordam afirmam que a FC e a fantasia, que se encontram nas pulp magazines são literaturas de pouca significância ou seriedade e que esse tipo de pensamento é nada mais que uma racionalização para legitimar um estilo sem pedigree. Brian Stableford um respeitado escritor Britânico é da opinião que reunir obras ilustres com elementos isolados que se repetem na FC e Fantasia moderna é nada mais que autocongratulação por parte dos autores. Há vários outros contra a ideia mas o estudo da protoficção cientifíca é concreto ainda que possua defeitos. Há claras semelhanças entre a ficção cientfíca contemporânea e uma obra como As viagens de Gulliver (Gulliver’s Travels, 1726), de Jonathan Swift, apenas como exemplo amplamente conhecido. Há um certo exagero como por exemplo a afirmação de que « O primeiro boom em ficção cientifíca (…) ainda não havia terminado durante a vida de Tiberius Claudius Nero Caesar, segundo Imperador de Roma(42 a.c. a 37 d.c.) ».3 Caracteristica central do gênero é o chamado « Sense of wonder » ou « sentido de maravilhoso » causado pelos elementos fantasticos e histórias. Sense of wonder é, segundo muitos apreciadores do gênero e o livro The encyclopedia of Science fiction, um dos principais efeitos dos contos de ficção cientifica. O sense of wonder é o maravilhamento, o espanto é quando se inspira o leitor a pensar sobre as infinitas possibilidades do universo. Damon Knight, Autor Americano, define o sense of wonder como não sendo para as massas que sentem horror da mudança e costumeiramente não tem a necessidade de pensar sobre o universo e sim de receber o pensamento de outros em filmes e revistas dedicadas a cultura de massa. 2 CLUTE, NICHOLLS. The encyclopedia of Science Fiction, p. 980 3 Sam Moskowitz. The origins of science fiction fandom: A reconstruction. In: SANDERS. Science Fiction fandom, p. 19 1380 É importante destacar a Fantasia e Alta fantasia como gêneros próximos e de certa forma contribuintes para a ficção cientifica, as vezes até se misturando em especial em Space Operas como Star Wars onde há fantasia misturada a ficção cientifica, os expoentes da fantasia são antigos o suficiente na área de ficção especulativa para serem também influentes da ficção cientifica, como exemplo nada melhor que as crônicas do rei Arthur e suas várias re-edições e versões novas, cheias também de sense of wonder não só sobre a liderança perspicaz de Arthur mas também seus conselheiros misticos como Merlin o mais conhecido mago de nossa história. Sua história já foi explicada historicamente, comprovada como em partes reais, e até hoje não se para de se fascinar e tornar Arthur objeto de estudo, esse é provavelmente um dos maiores exemplos de sense of wonder da literatura que consigo pensar. Outro exemplo a ser citado é Tolkien que reuniu várias lendas europeias e africanas criando o cenário básico da alta fantasia moderna. Sua história é importante em demonstrar a mudança em nosso mundo com a metafora da idade antiga e os seus Elfos indo-se embora para deixar o mundo nas mãos dos mortais, a substituição de uma ordem ideal para a transformação no novo por necessidade e por ser o modo como a vida funciona, correto a se fazer. Uma grande metafora para a transcedencia da sociedade aristocrata a sociedade moderna. Mais tarde esses estilos influenciarão vários trabalhos modernos nas decadas 70 e 80 que vem a ser criados também no Brasil na decada de 90. O gênero final da ficção especulativa que se relaciona com o objeto central do estudo é o horror, originando-se do medo primordial que assola o ser humano em relação aos fenomenos da natureza, ao escuro, aos desastres e ao próprio humano o horror tem base também na literatura Gótica e por fim em contos de fadas, fantasmas, folclore e história de vampiros e lobisomem, muitos destes no medievo e era moderna vistos de forma muito mais aterrorizante do que hoje onde foram adaptadas para crianças. A ficção cientifica e a fantasia também se apodera de muitos desses elementos mas comumente de forma muito menos agressiva e as vezes até sem a intenção de ecoar medo. O gênero de horror é também uma metafora para vários dos horrores com os quais a humanidade é forçada a conviver dia a dia, a corrupção, a decadencia, a fome, a miséria alheia, o terror do cotidiano invisivel em que 1381 monstros permeiam nosso mundo não é tão irreal quando analisado desta forma. Pode-se facilmente destacar autores do horror e gótico a fin de exemplificar o que se vê no estilo em H. P. Lovecraft com a criação do universo de « Call of cthulhu » onde o mundo está fadado a ser reinado novamente por criaturas antigas e poderosas ou Bram Stoker com a criação de Dracula, o vampiro mais famoso que já existiu. É importante notar que há sense of wonder no horror, segundo Stephen King ele é utilizado de forma a evocar o medo, o terror e o grotesco de forma a fortlacer a psiquê para melhor preparo ao lidar com os horrores reais do mundo sem ter de necessáriamente sofrer as situações, função anteriormente ocupada pelos contos de fadas europeus. No Brasil esse gênero vai ter alguma difusão na área do cinema com o Ivan cardoso e José Mojica Marins, Cardoso tem um estilo “trash” cômico em seus filmes e Marins, conhecido como o Zé do caixão tem filmes altamente chocantes e grotescos com o máximo de grosseria que consegue expor. O horror no Brasil é considerado clichê e um tanto previsivel, Alvares de Azevedo escreve no século XIX a coletânea de contos postumamente publicada em 1855 conhecida como noite na taverna onde as histórias envolvem sempre amor macabro, morte por consequencia deste e a consolação no alcool para que os personagens suavizem a própria dor enquanto vão contando suas histórias na taverna, local físico onde os personagens contam suas histórias de horror. Mais tarde Coelho Neto escreve o Romance Esfinge(1864-1934), tirando o conceito do personagem central de Frankenstein or the Modern Prometheus de Mary Shelley(1797 – 1851) onde o próprio é a montagem de dois corpos de pessoas assassinadas a cabeça de uma mulher e o corpo de um homem. Diferente de em Frankenstein porém o problema central é a sexualidade dividida do personagem James Marian em vez de rejeição por seu criador como o monstro do doutor. O estilo que provavelmente se classifica em horro que é provavelmente mais relevante a pesquisa é o de pós-apocalipse ou medo do apocalipse atômico muito popular durante a guerra fria, um exemplo pouco explorado é Roadside Picnic(1972, 1977 em Inglês), um romance dos Russos Arkady e Boris Strugatsky que conta sobre um novo desastre em Chernobyl tornando a região em uma área rica em anomalias que vão se espalhando e irradiando cada vez mais a área mesmo com todas as medidas de contenção que a União Soviética tenta a área se 1382 torna rápidamente o maior desastre nuclear da história. Eventualmente outros livros são lançados como STALKER, Shadow of Chernobyl onde as pessoas ao redor da anomalia começam a explorar a área e extrair especimes irradiados em troca de comida e dinheiro. Infelizmente na maior parte dentro do Brasil continua se dando maior atenção a ficção traduzida do gênero de horror em vez do trabalho nacional. 2 Ficção no Brasil Fizeram parte de um fenômeno editorial conhecido como pulp magazines – publicações impressas em papel barato, feitas com a parte menos nobre da madeira, a “polpa”, cobrindo gêneros variados a ficção científica, fantasia, horror, ficção de detetives, western, histórias romanticas, histórias de esportes de guerra e etc. Elas surgem no fim do século XIX e são populares até a decada de 1950 nos Estados Unidos, em um contexto influenciado pelo resultado econômico do fim da Primeira guerra Mundial. Brian Stableford estipula que grande parte da influencia sobre a era pulp Americana se deve a mudança do centro econômico da Europa para a America com o fim da primeira guerra que mantem um espiríto de otimismo muito maior do que o medo do futuro e tecnologia de guerra na Europa, mesmo após a grande depressão do entre-guerras. « Dificilmente causa surpresa que a ficção futurista americana de pós-1918 fosse impulsionada por um confiante espírito de aventura, que esteve quase inteiramente ausente da ficção especulativa Européia. »4 Desde a segunda metade do século XIX várias revistas publicaram algum tipo de ficção especulativa mas devido a primeira guerra se modificou a ficção popular tanto devido ao medo de uma nova guerra e tecnologias possivelmente associadas com esta quanto ao fato de que a maior parte do público leitor na Europa era agora em grande parte feminino. Enquanto nos Estados Unidos a aventura e a exploração se tornam temas populares. Ao fim do Século XIX as revistas pulp foram vastamente classificadas como uma literatura « não séria” ou “vulgar” o que vai lhe causar problemas num país como o Brasil onde o pequeno público leitor em sua grande maioria viria a dar maior valor à erudição. 4 Brian Stableford. Science Fiction between the wars:1916-1939. Em:BARRON. Anatomny of Wonder. 1383 Comumente em outros países se instaurou devido a popularidade comercial mas no Brasil devido ao número pequeno de pessoas realmente alfabetizadas com hábito de leitura não houve apoio o suficiente para escritores populares ou comerciais, devido a isso a maioria da ficção especulativa vendida aqui na maior parte do século XIX e XX é estrangeira vindoura de países onde se podia obter apoio popular para financiar novos trabalhos. O custo menor de apenas importar histórias estrangeiras seduziu os editores Brasileiros que gastariam muito mais tendo de financiar os escritores locais. Segundo Braulio Tavares « Até o final dos anos 30, praticamente inexistiu em nosso país um movimento literário nos moldes da ficção cientifíca americana, envolvendo escritores e leitores em contato constante, e revistas especializadas. O balanço que fizemos (…) mostra que os diversos subgêneros da literatura fantástica foram praticados de modo casual, de « passagem », por alguns dos grandes nomes de nossa literatura e por autores de menores cuja obra não provocou maior repercussão. » Não tivemos, portanto, dois dos fatores que cristalizam o cultivo de um gênero: 1) a existência de uma ou mais Grandes Obras que desencadeiam dezenas de imitações por anos a fio, ou 2) a existência de um grupo organizado de autores com objetivos semelhantes, que, à força da pura e simples militância, inscrevem uma tendência intelectual na história da literatura de seu país(como são as chamadas «escolas » ou « movimentos »).5 Ainda assim a pesquisa do próprio pela biblioteca nacional consegue encontrar pelo menos três contos de fantasia e horror facilmente definidos como Pulp de não menos que, João Guimarães Rosa. Seus contos eram inspirados em Edgar Allan Poe e outras origens romanticas, é muito similar ao tipo de ficção que também foi feito na mesma linha em outros países como os Estados Unidos. É provavel que se houvesse tido mais apoio ao tipo de literatura no país Rosa se tornasse um dos polos do gênero. Tavares compara o estilo de Rosa ao de Tolkien, de Lord of the Rings, e Robert Howard de Conan, the barbarian apesar de suas influencias mais populares, não afirmando que ele mesmo conheceu nenhum desses trabalhos mas que todos tem 5 TAVARES, D. O. Leitura, p. 3. 1384 um pouco da mesma origem estilistica baseada em autores anteriores. Infelizmente apesar de se achar alguns poucos autores consagrados com trabalhos que apesar de quase esquecidos existiram e fizeram parte da pulp era, a maioria dos trabalhos que se pode achar nas bibliotecas da era por aqui serão traduções de autores estrangeiros. É curioso que diferente de seus países de origem onde era comum que se comercializasse o gênero em revistas, no Brasil estas são quase todas formatadas em coleções inicialmente. As revistas no entanto existiram no Brasil apesar da forma tardia como foram introduzidas, algumas como a “Secret Agent X-9” se popularizaram e entraram para o conjunto de girias da época, a X-9 inclusive nomeando uma escola de samba. As revistas eram nos moldes da pulp magazine Estadunidense com direito a reprodução do papel de baixa qualidade, nota-se muita pirataria e roubo de imagens também. É nesta época(1917 a 1958) que nomes como H. G. Wells, H. P Lovecraft, Isaac Asimov e outros vão ser conhecidos pela primeira vez por muitos no Brasil. Algumas coleções lançaram revistas também em conjunto, o espaço para o escritor Brasileiro era minimo, poucas editoras durante todo o período promoveram concursos e destes poucos tiveram a oportunidade de trabalhar nas publicações por mais que o trabalho fosse de qualidade. A pulp mesmo no Brasil reduzida como foi, se deu como desenvolvimento popular do Scietific Romance Inglês e fantastico, autores como Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant e H.G. Wells, embora desprezado pelas elites literárias e considerado um estilo inferior ele nunca foi imitativo ou pobre em recursos. No Brasil devido ao isolamento completo da comunidade literata o estilo de Ficção cientifica acaba se « guetificando » e é considerado nada mais que leitura juvenil, diferente do século XIX quando foi escrita por autores respeitaveis até mesmo no Brasil como Monteiro Lobato. Aliás, o que vai ser produzido durante a nossa « pulp era que não houve » como coloca Roberto Causo em seu livro sobre o assunto é exatamente um Scientific romance tardio de certa forma separado das revistas pulp. A ficção especulativa que se fazia no Brasil durante os anos 20 e 30, a pouca que era, estava em geral longe da chamada « Pulp Fiction » Norte Americana que invadia as coleções 1385 e revistas mesmo aquela que se classificava como tal e mais próxima ao Scientific Romance Inglês que recentemente havia permeado os circulos brasileiros com maior força. Segue agora uma breve recapitulação dos principais Romances cientificos Brasileiros dos séculos XIX e XX que vem a ser primariamente literatura « séria » de romancistas que tiveram êxito em outras áreas. As influencias mais visiveis do scientific romance Brasileiro do século XIX são os Franceses Jules Verne, Camille Flammarion e mais tarde na decada de 1920 o Inglês H.G. Wells aparece com força já durante a Um era romance brasileiro do influenciado pulp por Verne Brasileiro. é O doutor Benignus(1875) de Augusto Emílio Zaluar (1825-1882) É considerada a primeira obra de ficção cientifícia escrita no Brasil. O livro aborda os questionamentos filosóficos e as andanças pelo interior do país do seu personagem principal, o Dr. Benignus, médico e naturalista. É interessante notar que a ciência de Doutor Benignus é passiva e comtenplativa, reflexo natural de como a ciência e tecnologia eram vistas pelos Brasileiros em sua época. O doutor é um filantropo e não partilha da egenharia alemã ou Americana utilizada para a guerra, em seu modo de ver a vida, a função da ciência é nada mais que ajudar o homem a entender a natureza e melhor observa-la. O próximo exemplo é o já citado romance ciêntifico de Monteiro Lobato, sua influencia indiscutivel H. G. Wells e suas tendencias a eugênia e darwinismo social, O presidente negro ou O choque das raças É um romance politico situado num futuro distante de 2228 onde há invenções muito próximas dos computadores e internet que temos hoje e o ideal eugenico está em seu auge, devido a divisão do eleitorado branco um presidente negro consegue se eleger nos Estados Unidos, o que leva a uma guerra de limpeza etnica para proteger o país de ser comandado por uma raça inferior, curiosamente não havia tentativa de branquear o Brasil, pelo contrario se criticava arduamente a mistura racial. Por fim os brancos, superiores em sua concepção, ganham a guerra e o mundo volta a um estado natural, ao menos para Lobato. Outro exemplo de decada aproximada é um conto de Gomes Netto, “Uma viagem de 1386 zeppelin » em que um amigo encontra um conhecido dado como morto a algum tempo e descobre também estar morto, como no clichê desse tipo de história ele recusa a possibilidade até o fim onde descobre que de fato é tudo um sonho. Esse tipo de recurso é repetido várias vezes durante o período. É curiosa a falta de protagonistas ativos e o excesso do uso de recursos como o sonho ou a alucinação ou ainda que a ciência presente venha de outros países, o complexo de inferioridade cultural é muito claro nas obras de romance cientifico mais próximos a gênese do estilo no Brasil. Assim como a falta da tecnologia como ponto forte de referencia no Brasil e a grande xenofobia e eugenia contra a raiz multi-étnica presente no país. Alguns vem a apelar ao futuro distante como futuro tecnologico e avançado também culturalmente. Aldazira Bittencourt escreveu Sua excelencia, a Presidente da Republica no ano 2500 em 1926. Inverte a premissa de Lobato em O presidente negro ao fazer uma americana vir ao Brasil visitar a utopia social brasileira. Brasil é uma terra de homens gigantes onde a menor das mulheres tem um metro e 80 e a expectativa de vida está entre 130 a 180. Onde o feminismo venceu e quando as mulheres subiram ao poder instituiram a limpeza étnica no Brasil mandando os negros de volta a Africa e erradicando todos os leprosos, mal-formados e outros doentes considerados inferiores pela doutrina eugenica. Importante ressaltar que esse era um feminismo anterior a revolução sexual, onde a mulher teria a máxima obrigação para com os valores familiares e morais, portanto a sua habilidade em erradicar tudo que há de ruim na sociedade. O romance cria na Presidente um dilema quando se apaixona por um « ser inferior » mas por fim ela mantém suas convicções e o mata. Esses trabalhos demonstram um desejo de ter um lider forte e poderoso que pudesse mudar a realidade do Brasil e transforma-lo na utopia que estes autores tanto almejam, o ideal eugenista da elite branca brasileira do inicio do final do século XIX e inicio do XX é muito claro ao se ler estes livros. Há poucas exceções como A republica 3000, de Menotti del picchia, que conta a história de um acidente em uma expedição onde dois sobreviventes sem saber onde se encontram acham a Republica 3000, uma civilização super avançada de Gregos antigos que vive escondido por um campo de energia em paz e harmonia escondidos de todo o mundo e das guerras e competições. 1387 Tem a mesma relação com a Filha do Inca também do mesmo autor, em que homens se perdem e acham uma civilização Inca ainda em funcionamento. O interessante desses livros é a mensagem de que a não-competitividade, a paz, o sossego e todo esse « progresso » do primeiro mundo é futil e desnecessário em suma se mostra o exemplo que o brasileiro deveria seguir, bem diferente do racismo eugenista encontrado em outras obras que são de temporalidade aproximada. O sub-gênero de guerra futura é raro no Brasil, muito mais desenvolvido na Europa e Estados Unidos devido ao, de certa forma maior interesse belico e clima mais propicio a guerra. Mesmo a guerra do Paraguai e a maioria das revoluções que escalaram para ação militar haviam sido tratadas com uma certa timidez pela literatura Brasileira. O trabalho mais antigo de ficção de guerra no Brasil que se tem registro é o contro « O homem silencioso », de Afonso Schmidt(1890-1964) que conta sobre a criação de robôs na america que passam a fazer todo o trabalho. Porém sem explicação a colheita toda some um dia, o que leva os Americanos, cujos quais uniram todas as Americas em um país só, a guerrear contra a Africa e Asia para traze-los como escravos pra cá. Vê-se mais da mesma eugenia e uma certa confusão no enredo. Porém, o primeiro trabalho literário de guerra futura de coerencia e reconhecimento é A invasão(1979) de José Antonio Severo, romance com grande embasamento politico onde um Brasil potencia militar em 1986 dotado de tanta capacidade militar a ponto de sobrepujar alguns dos grandes países Europeus de sua época sem muito problema. A pedido de facções de guerrilheiros Angolanos lutando contra a opressão comunista em seu próprio país o Brasil vai a ajuda dos próprios para livrar Angola da ocupação Cubana. O romance se enfoca nos bastidores politicos e na preparação militar para a invasão em vez de no conflito propriamente dito. José Antonio Severo é jornalista politico e econômico, o que o torna mais do que capacitado para escrever sobre o aparato político-legal construído por militares, políticos e embaixadores do Brasil e de Angola para dar suporte legal a uma ação militar do porte da ocupação. 1388 3 conclusão Devido a alguns transtornos encontrados durante a pesquisa o trabalho se encontra ainda incompleto porém em vias de terminar. 1389 Referências Bibliográficas Brian Stableford. Science Fiction between the wars:1916-1939. Em:BARRON. Anatomny of Wonder. ARIAS NETO, José Miguel (Org.). História: Guerra e Paz. Nacional de História, Londrina: Associação 2007. CASTRO, Celso; IZECKSOHN, Vitor & KRAAY, Hendrik. (Orgs.). Nova história militar brasileira. Rio de Janeiro: FGV, 2004. JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. “A falsa dialética: Justiniano José da Rocha”. In: Revista Brasileira de História. São Paulo 1979. VALIM, Alexandre Busko. 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