Crítica literária como interpelação e exploração: a produção crítica de Bernardo Carvalho, 2001-2007 Antonio Marcos Pereira* Observando os textos jornalísticos produzidos por Bernardo Carvalho no período entre 2001 e 2007, vemos um projeto de crítica que opera com base em uma parceria peculiar com as produções que elege como objetos. Quer Carvalho comente o trabalho da artista plástica Rachel Whiteread, quer se dirija à obra do obscuro Victor Segalen, quer parta de sua experiência em um culto de igreja pentecostal, a disposição dos elementos que conformam a crítica parece convergir, reiteradamente, para um mesmo alvo: promover um estado de questionamento no leitor a respeito do estatuto da ficção e sua relação com o espaço supostamente factual no qual nos movemos ordinariamente. Em sua produção crítica, Carvalho freqüentemente busca valorizar a pergunta, elogiar a instabilidade e favorecer a incerteza no que diz respeito às fronteiras rígidas entre os gêneros de produção textual e à nossa consciência estabelecida a respeito do fim da crítica e do início da ficção. Por essas razões, considero que, no contexto das produções brasileiras pós-anos 80, os textos críticos de Carvalho são um trabalho sui generis e representam uma efetiva interpretação local daquilo que Leyla Perrone-Moisés chamou de crítica-escritura. Tal noção foi forjada pela autora para salientar o caráter de produtividade e invenção de uma certa crítica que, partindo de uma transformação do esquadro habitual que regula as funções de autor e de crítico, promove pactos alternativos entre a crítica e a invenção. No ensaio que intento produzir buscarei construir um argumento nessa direção, valorizando a produção crítica de Carvalho por seu caráter de interpelação e exploração das formas contemporâneas de produção ficcional. * Antonio Marcos Pereira nasceu e reside em Salvador. É doutor em lingüística pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor no Departamento de Letras Vernáculas do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.