Avaliação e Identificação da Toxicidade na Indústria Têxtil: Proposta Metodológica para Produção mais Limpa JERONIMO, R. A. S. a,b* , MORAIS, M. M. b, PAZ, Y. M.b, HOLANDA, R. M. b a. Agência Estadual de Meio Ambiente - CPRH b. Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE * [email protected] Resumo A técnica AIT (Avaliação e Identificação da Toxicidade) permite diminuir ou eliminar a toxicidade de efluentes gerados nas Indústrias, a técnica quando aplicada permite que melhore a qualidade do efluente diminuindo sua capacidade de contaminação. A Indústria Têxtil possui grande potencial poluidor, logo a aplicação da técnica AIT, corrobora para que a atividade tenha uma produção mais limpa, buscando diminuir impactos ambientais principalmente para os corpos de água, ajudando a preservar este recurso natural de extrema importância para preservação da vida, ajudando com a possibilidade de aumentar a reutilização da água, pois ao final do processo irá conseguir um efluente com menor contaminação. Palavras-chave: AIT, Indústria Têxtil, Produção mais Limpa. 1. Introdução A Industriais Têxtil estão entre as atividades Industriais de prioridade Ambiental devido ao seu potencial poluidor e complexidade química dos Efluentes gerados (BERTOLETTI, E., 2013), segundo Amaral e Silva, et al., (2011) o setor Industrial de Lavanderias está propicio a degradação ambiental pois emite poluentes gasosos, possui potencial de alterar os cursos de água e modificar ecossistemas de pequenas áreas. O setor têxtil emprega cerca de 1,7 milhões de pessoas de forma direta e 4 milhões se for somada as pessoas empregadas de forma indireta no Brasil, e tem a quarta maior folha de pagamento das indústrias de transformação no Brasil. No Brasil a Indústria Têxtil movimentou em 2011 cerca de 67 bilhões de dólares, ficando na quarta colocação de produtores de vestuário e quinta colocação em produtor de fibra, a China ficou na primeira colocação nas duas categorias, desta forma possui grande representatividade econômica (ABIT, 2013). “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 2 5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work Segundo Hasanbeigi, A. e Price, L. (2012), é uma indústria heterogênea de pequeno e médio porte com grande variação de processos e equipamentos que podem utilizar diferentes matrizes energéticas que pode divergir bastante como: madeira de reflorestamento, restos de madeiras de construção ou da Indústria moveleira, óleo combustível, gás natural e eletricidade. Sendo a metade do gasto energético com a caldeira para aumentar a temperatura da água para utilização na linha de produção. Usualmente as Indústrias utilizam métodos químicos para analisar os efluentes gerados nos seus processos, evitando uma possível contaminação dos corpos hídricos. Porém, a Sociedade Americana de Química, descreve que existem cerca de 10 milhões de substâncias químicas, sendo 70 mil de uso cotidiano, mas apenas duas mil com seus aspectos ecotoxicológicos conhecidos. Assim, torna-se sendo necessária a verificação da ação destas substâncias no meio ambiente através de testes para verificar a sua toxicidade (ZAGATO; BERTOLETTI, 2008). Ao diminuir a Toxicidade, pode-se favorecer a Produção mais Limpa, esta consiste em diminuir resíduos e rejeitos, bem como diminuir o impacto da atividade no meio ambiente, logo o conhecimento total sobre o Processo Industrial e possíveis modificações para melhorar a eficácia em relação ao impacto ao meio ambiente é de fundamental importância para a melhoria da qualidade do efluente industrial gerado, possibilitando diminuição de gastos no sistema de tratamento e consequentemente a diminuição de efluente gerado (GIANNETTI, B. F. et al., 2003). O monitoramento de contaminantes em efluentes Industriais pode ser realizado com a utilização de Bioindicadores que possui inúmeras vantagens em relação ao monitoramento químico, conseguindo maior eficiência devido a maior sensibilidade na identificação de componentes possivelmente tóxicos. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos destaca que os testes de Toxicidade quando utilizados são mais protetivos ao meio ambiente e também possuem maior amplitude quanto à interação do contaminante com o meio ambiente, pois este sofre transformações como hidrólises, reações com outras substâncias químicas que se encontra na água (ZAGATTO; BERTOLETTI, 2008). A técnica AIT (Avaliação e Identificação de Toxicidade) proposta pela Agência Americana de Proteção ao Meio Ambiente, é bastante promissora em melhorar a qualidade dos efluentes industriais quanto à toxicidade, identificando a substância causadora da toxicidade, possibilitando a troca da substância tóxica por uma que desempenhe a mesma função sem que ocorra impacto ambiental relacionado à Toxicidade (FURLEY, T. H., 2009), este trabalho teve como objetivo propor metodologia para Avaliar e Identificar a Toxicidade em uma Indústria Têxtil para minimizar a possibilidade de Toxicidade do efluente final. 2. Metodologia O estudo aqui apresentado teve caráter exploratório com revisão de literatura onde foram pesquisados os seguintes descritores: Avaliação e Identificação da Toxicidade, Indústria Têxtil, Produção Mais Limpa, Bioindicadores Ambientais. A Indústria Têxtil possui várias etapas no seu processo de beneficiamento das roupas que constam no fluxograma da Fig. 1, e neste processo as etapas que podem produzir substâncias potencialmente Tóxicas a Desengomagem (lavagem), amaciamento, tingimento, fixação e enzimagem, além de possuir no processo caldeira para aumentar a temperatura da água de todo o processo que normalmente é adicionado algumas substâncias potencialmente tóxicas para que não ocorra crescimento de organismos que possibilite a incrustação ou dano as tubulações. Com a Introdução da técnica AIT em busca de uma Produção mais Limpa nas Lavanderias Industriais é necessária inicialmente realizar um diagnóstico do fluxograma do processo, onde sejam analisadas as entradas do Processo com as substâncias químicas utilizadas no processo e tratamento do efluente gerado. “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 3 5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work Substâncias Químicas Utilizadas Energia (Biomassa) Matéria Prima Etapas do Processo: Etapa 1: Desengomagem; Etapa 2: Amaciamento; Etapa 3: Alvejamento; Etapa 4: Tingimento; Etapa 5: Fixação; Etapa 6: Enzimagem; Etapa 7: Centrifugação; Etapa 8: Secagem; Etapa 9: Tratamento do Efluente. Produto Final Resíduos Líquidos, Gasosos e Sólidos. Água Água Fig. 1: Fluxograma de Processo da Indústria Têxtil no Processamento de Jeans adaptado de Silva, G. L. (2005). A técnica AIT é consiste em três fases (Fig. 2), a primeira consiste em caracterizar as características químicas e físicas dos constituintes como volatilidade e solubilidade, esta fase é importante por possibilitar uma forma de tratamento da toxicidade sem identificação das substâncias; a fase dois descreve métodos para identificar substâncias tóxicas em orgânicas não polares, amônia e metais e finalmente a fase que se propõe a confirmação da origem da toxicidade (EPA, 1991). O conhecimento do processo permite analisar a substância que originou a toxicidade, observando as substâncias químicas utilizadas, através da técnica AIT, e substituir quando possível por outra substância que não possua toxicidade ou menos tóxica ao meio ambiente. Com a aplicação da técnica AIT, é possível identificar as substâncias que venham demonstrar toxicidade, e com isto trocar estas substâncias por outras que não possuam toxicidade, como trocar os tensoativos a base de fenol, evitar uso de corantes com enxofre, cobre e cromo na composição, substituir oxidantes cromatos por peróxidos de hidrogênio ou iodados, substituir hipoclorito e derivados de cloro por peroxido de hidrogênio evitando a formação de organoclorados e substituir corantes do grupo “azo” (CETESB, 2009). “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 4 5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work Amostra do Efluente Têxtil Fase I: Testes para caracterização da Toxicidade Não apresentou Toxicidade Tratamento Aproximado ou Identificação da Substância Tóxica Fase II: (Análises de Identificação da Substância Química) Tratamento Aproximado Não Apresentou Toxicidade Apresentou Toxicidade Fase III: Procedimentos para Confirmação da Toxicidade. Considerações baseadas nos dados obtidos nas Fases anteriores Avaliação da Tratabilidade do Efluente Investigação da fonte de Toxicidade Seleção do Método de Tratamento e Implementação Monitoramento e Controle Fig. 2: Fluxograma do Emprego do AIT segundo EPA, 1991. 3. Resultados Na Fase I da aplicação da técnica são realizados testes para caracterização dos constituintes do efluente têxtil em grandes grupos, isto é, sem ainda definir que substância está implicando Toxicidade “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 5 5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work no efluente, na Fig.3 é demonstrado fase I com os possíveis grupos a serem analisados no efluente têxtil. Toxicidade Inicial Toxicidade de Base Teste de Aeração Teste EDTA Fase I: Testes para caracterização da Toxicidade Toxicidade inicial do efluente Toxicidade antes das manipulações Caracteriza substâncias voláteis Reage com metais Testes Oxidação/Redução Substâncias podem ser precipitadas Teste Extração da Fase Sólida Fornece informações em relação a partículas sólidas Tóxicas Teste de Filtração Fornece informações em relação a partículas sólidas Tóxicas Teste de Ajuste de pH Teste de Graduação de pH Caracteriza a Toxicidade em pH distintos Caracteriza a Toxicidade em pH distintos Fig. 3: Fase I da Avaliação e Identificação da Toxicidade em Efluente Têxtil. A Fase II da técnica Avaliação e Identificação da Toxicidade em Efluente Têxtil permite identificar qual substância ou mais de uma que está fornecendo a Toxicidade para o Efluente final, assim tendo base a fase I, que permite nortear a identificação da Toxicidade, é aplicado testes químicos específicos para identificar a substância tóxica conforme Fig. 4. Substâncias Orgânicas não polares Identificação de Metais Fase II: (Análises de Identificação da Substância Química) Identificação de Surfactantes Identificação de Cloro Análise por espectrômetro de massas Identificação de Amônia Fig.4: Fase II da Avaliação e Identificação da Toxicidade em Efluente Têxtil. A Fase III permite confirma a substância Tóxica contida no efluente, bem como avalia qual o melhor procedimento a ser tomado para diminuir sua toxicidade, como mudança da substância tóxica, se for possível e melhora no sistema de tratamento, assim na Fig. 5, temos o esquema da fase III. “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 6 5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work Correlação Concentração e Toxicidade Correlação dos Sintomas da Toxicidade Correlação das Espécies Sensíveis Fase III: Procedimentos para Confirmação da Toxicidade. Confirmação da substância Tóxica Correlação do Balanço de Massa Correlação da supressão da subst. Tóxica Substâncias Tóxicas Ocultas Existem cerca de 3000 corantes que possuem em sua estrutura a função azo-aromática, e sua biotransformação pode produzir aminas e benzidinas com potencial carcinogênico. Atualmente não são produzidos, porém em países menos desenvolvidos não cessou a total produção destes corantes (GUARATINI, C. C. I.; ZANONI, M. V. B., 2000). Os corantes podem conter metal na sua estrutura, como os corantes pré-metalizados, geralmente são complexados com o metal cromo, estes corantes possuem uma toxicidade elevada devido à presença deste metal no efluente final, corantes mordentes que consiste em uma subclasse dos corantes ácidos (SILVA, G. L., 2005). A Indústria Têxtil pode utilizar testes ecotoxicológicos nos seguintes processos para verificar a toxicidade: Escolha dos insumos (corantes), Lavagem, acabamento das peças por substâncias químicas e no sistema de tratamento dos Efluentes (ETE) (Tabela 1), além disso, é possível observar reações que ocorram entre as substâncias utilizadas resultando em outras potencialmente tóxicas. Na fase III da aplicação da técnica Avaliação e Identificação da Toxicidade é possível, suprimir a substância tóxica analisada do processo e substituir por outra que possua potencial tóxico menor ou não possua toxicidade, conforme tabela 1, permitindo ter uma produção mais limpa e um efluente final menos danoso ao meio ambiente. A Indústria Têxtil ambientalmente mais eficiente, com produção se enquadrando no conceito de Produção mais Limpa, permite tornar o setor mais competitivo para exportação, bem como beneficiar a Industria Têxtil economizando nos processos de tratamento, pois não será necessário empregar técnicas mais exigentes no tratamento do efluente gerado, pois o mesmo terá carga tóxica reduzida ou nula se possível. O uso de corantes com grau de fixação alta permite utilizar menos corantes para obter um mesmo resultado de coloração das peças tingidas, deve-se também utilizar corantes naturais que não são perigosos a saúde humana e ao meio ambiente. Na Etapa do tratamento de Efluentes o uso de substâncias como o tanino, permite que não ocorra contaminação do resíduo sólido do processo por metais como alumínio, proveniente do clássico sulfato de alumínio, por exemplo, (SHAHID-UL-ISLAM, et al., 2013). Tabela 1: Aplicação da Técnica AIT para substituição das substâncias Químicas que podem causar Toxicidade ao Efluente da Indústria Têxtil (CETESB, 2009; COSTA, A. F. S., 2008). “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 7 5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work Processo Substância Química Utilizada Substituição por substância Química com menor Potencial de Toxidade Corantes do Grupo “AZO”, pois os mesmos produzem aminas aromáticas carcinogênicas. Corantes que não apresentem grupo “AZO” na estrutura Corantes que apresentam metal na sua estrutura Corantes que não apresentem metal na estrutura Corantes Sulfurosos Utilizar corantes conhecidos como Sulfurosos ecológicos Corantes com fixação baixa Corantes com fixação alta Lavagem Tensoativos a base de Fenol Tensoativos Biodegradáveis Acabamento Químico das Peças Oxidantes de Cromato Peróxido de Hidrogênio Escolha dos Insumos Desinfecção das derivados de cloro Sistema Efluente 4. de Tratamento de Sulfato de Alumínio peças com Desinfecção com Ozônio Tanino Conclusões A técnica AIT (Avaliação e Identificação de Toxicidade) proposta para melhorar a qualidade do efluente têxtil, é bastante promissora, para garantir Produção mais Limpa para o setor, este que é considerado prioritário para controle de poluentes, além disso, permite verificar as interações das substâncias químicas envolvidas e possíveis mudanças de estrutura química mais ainda com capacidade de causar Toxicidade ao Meio Ambiente. 5. Referências Bibliográficas GIANNETTI, B. F.; ALMEIDA, C. M. V. B.; BONILLA, S. H., 2003. Implementação de Eco-tecnologias rumo à Ecologia Industrial. ERA-eletrônica. 2, 1. UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY, 1991. Methods for Aquatic Toxicity Identification Evalution, EUA. CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Compilação de Técnicas de Prevenção à Poluição para a Indústria Têxtil, disponível em: http://www.snatural.com.br/PDF_arquivos/EfluenteTextil-Compilacao-Tratamento.pdf acessado em Fevereiro/2015. COSTA, A. F.S., 2008. Aplicação de Tratamento Biológico e Físico-químico em efluentes de lavanderias e tinturarias Industriais do município de Toritama no Estado de Pernambuco, Dissertação (Desenvolvimento de Processos Ambientais) Universidade Católica de Pernambuco, Recife. “CLEANER PRODUCTION TOWARDS A SUSTAINABLE TRANSITION” São Paulo – Brazil – May 20th to 22nd - 2015 8 5th International Workshop | Advances in Cleaner Production – Academic Work SILVA, G. 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