Leite relatório de inteligência março | 2014 Agrotóxicos no leite Como evitar esses resíduos e conquistar o mercado Agrotóxicos ou defensivos agrícolas são designações genéricas para vários produtos químicos utilizados na agricultura e produção animal. Segundo definição do Ministério do Meio Ambiente: “os agrotóxicos visam alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos.” Fazem parte desse grande grupo os inseticidas, herbicidas, fertilizantes, nematicidas e acaricidas. Também são considerados agrotóxicos as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento. Entretanto, a aplicação inadequada desses produtos pode ocasionar contaminação de vários produtos de origem animal e vegetal, dentre eles o leite, o que representa uma ameaça à saúde humana. Com exceção dos carrapaticidas e nematicidas, que são aplicados diretamente nos animais, resíduos de pesticidas podem ser detectados no leite quando os animais ingerem pastagens ou água contaminadas. Pesticidas não lipofílicos (organoclorados e alguns organofosforados não polares) São eliminados também pela urina e fezes do animal Menor concentração no leite Pesticidas lipofílicos Concentram-se na gordura do leite Maior concentração no leite Como evitar Para evitar a presença de resíduos de agrotóxicos no leite, recomenda-se a implementação e adoção das boas práticas de aplicação, estocagem, transporte e distribuição dessa classe de produtos. 1 Classificação dos agrotóxicos De forma geral, os agrotóxicos são divididos em duas categorias: Agrícolas Utilizados nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens e nas florestas plantadas, obrigatoriamente registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Não agrícolas Destinados à proteção de florestas nativas e outros ecossistemas ou de ambientes hídricos. Os registros ficam sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente e Ibama, e seguem as diretrizes do Mapa. Destinados ao uso em ambientes urbanos e industriais, domiciliares, públicos e coletivos, tratamento de água ou em campanhas de saúde pública. Registros concedidos pelo Ministério da Saúde/ Anvisa desde que atendidas as diretrizes do Mapa e do MMA. Normatização de registro e uso A normatização de registro e utilização de agrotóxicos mais utilizada no país é a Lei nº 7.802/89, que rege todo o processo e foi regulamentada pelo Decreto Nº 4.074/02. Segundo a lei, no artigo 3º, parágrafo 6º, no Brasil, é proibido o registro de agrotóxicos: 1 2 Para os quais o país não disponha de métodos para desativação de seus componentes, antídoto ou tratamento eficaz, de modo a impedir que os seus resíduos remanescentes provoquem riscos ao meio ambiente e à saúde pública. 2 Com características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, de acordo com os resultados atualizados de experiências da comunidade científica. 3 Que provoquem distúrbios hormonais ou danos ao aparelho reprodutor, de acordo com procedimentos e experiências atualizadas na comunidade científica. 4 Mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham demonstrado, segundo critérios técnicos e científicos atualizados. 5 Cujas características causem danos ao meio ambiente. Contaminação ambiental e intoxicação humana Fatores preocupantes são a contaminação ambiental e a intoxicação humana provocados pela utilização generalizada de agrotóxicos, em grande maioria com ausência dos Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) recomendados, seja pela dificuldade de se seguir no campo todas as recomendações de segurança, seja pela própria ineficiência desses métodos em fornecer real segurança. Deriva Técnica Esse desvio ocorre mesmo quando todas as técnicas e recomendações de utilização de equipamentos são seguidas. Deriva é o nome que se dá a dispersão de agrotóxicos no meio ambiente através do vento ou das águas. Resumidamente, trata-se do veneno que não atinge o alvo (planta a ser tratada), e sai pelas áreas a contaminar seu entorno. Estima-se que pelo menos 30% do produto aplicado se perca por deriva, podendo ultrapassar, em algumas situações, 70%. Ou seja, toda aplicação de agrotóxico contamina, em maior ou menor quantidade, a área que circunda o local a ser tratado, e as pessoas e animais que vivem em seu entorno. Fonte: Aldemir Chaim. Tecnologia de aplicação de agrotóxicos: fatores que afetam a eficiência e o impacto ambiental. 3 A produção leiteira e os resíduos de agrotóxicos O leite, assim como qualquer outro alimento, carrega resíduos de seu processo produtivo. Esses resíduos podem ter origem tanto em medicamentos aplicados nos animais, quanto em agrotóxicos utilizados em pastagens ou em culturas de grãos próximas a elas. Entre 2003 e 2004 a Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, analisou cerca de 210 amostras de leite cru coletadas nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, destas 11,4% demostraram resíduos químicos em sua composição. Os resíduos representam traços de medicamentos e de agrotóxicos (carbonatos e organofosforados) e os resíduos de antibióticos e agrotóxicos não são eliminados durante o processo de beneficiamento do leite, seja através do UHT (Ultra Pasteurização) ou pasteurização, pois esses processos eliminam a carga microbiológica no leite e não os resíduos químicos. Por isso todo o trabalho de conscientização e assistência técnica antes do beneficiamento são fundamentais, além dos testes quanto a qualidade do produto antes do beneficiamento. Fonte: Isabela Vieira e Paula Laboissière. Agrosoft. Pesquisa encontra agrotóxicos e antibióticos em 10% do leite produzido em quatro estados (2007) Carrapaticidas Entre os pesticidas empregados na agricultura, os carrapaticidas são os que têm maior probabilidade de gerar resíduos no leite. É importante salientar que os carrapaticidas de uso sistêmico comercializados no Brasil são proibidos para o tratamento de vacas em lactação. Os compostos carrapaticidas são derivados de bases orgânicas e apresentam derivados de amidina, piretrina, avermectina, tiazolidina e ésteres do ácido. A dosagem desses produtos, recomendada para o tratamento de vacas em lactação, varia de acordo com o produto comercial e o modo de aplicação. Os modos recomendados são: sob a forma de banho de aspersão ou pour on, ou seja, aplicação sob a linha do dorso do animal. Vale salientar, que apesar de serem permitidos para uso em bovinos de leite não significa que esses produtos não gerem resíduos. A concentração de resíduos varia de acordo com a composição e a forma de aplicação dos produtos e está diretamente relacionada com o período de carência informado na bula do produto, visto que o período de ação intensa pode variar entre horas e alguns dias, de acordo com a substância, após a pulverização, banho ou aplicação. 4 Recomendações importantes para o manejo de agrotóxicos Não há mais dúvidas sobre o risco que os agrotóxicos apresentam. Por isso sua utilização deve ser realizada com segurança e algumas recomendações são essenciais no manejo desses químicos. Utilize somente agrotóxicos autorizados pelos órgãos nacionais competentes (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Saúde e/ou Ministério do Meio Ambiente), além disso utilize o produto estritamente para a cultura descrita (pastagem, grãos, frutas, etc.). Aplique de acordo com as recomendações de um engenheiro agrônomo competente. Utilize os EPIs, implementos e maquinários recomendados e bem regulados. Atente-se para que os resíduos dessas substâncias não excedam os níveis estabelecidos pela legislação vigente, na falta desta informação deve-se considerar os níveis estabelecidos pela Comissão Codex Alimentarius. Mantenha um caderno de campo atualizado, com o registro dos agrotóxicos utilizados, data de aplicação, em qual cultura foi aplicada e para qual finalidade, além das quantidades estocadas e período de validade de cada embalagem, a fim de facilitar a fiscalização e controle de utilização. Calibre todos os equipamentos utilizados para a aplicação, a fim de controlar vazão e pressão, para evitar ao máximo à deriva. Cuide para que o preparo e aplicação dos agrotóxicos evitem a contaminação da água (nascentes, córregos e lençol freático) e da terra. Guarde os produtos utilizados em suas embalagens originais, pois elas contêm informações técnicas como princípios ativos, recomendações de utilização e data de abertura da embalagem. 5 Leite orgânico diferencial competitivo 5,5 milhões de litros foi a produção de leite orgânico em 2010. O leite produzido e certificado nesse modelo produtivo apresenta ausência de resíduos químicos, mas mantém os mesmos valores nutritivos do leite tradicional. Geralmente é vendido a preços atrativos. Também apresenta custos de produção menores, pois há menor uso de insumos. Equivalente a 1% do total produzido em todo território nacional. “A mudança do sistema produtivo pode ser bastante positiva, já que estudos mostram que o leite orgânico é valorizado no mercado e o preço chega a ser 50% maior do que o convencional em algumas regiões”. João Paulo Guimarães Soares, pesquisador e zootecnista da Embrapa Gado de Leite. Fonte: Portal Brasil. Leite orgânico aumenta renda do agricultor (2011) R$ 0,80 por litro R$ 1,20 por litro É, em média, o valor pago pelo leite tradicional. É quanto o produtor de leite orgânico pode receber. Dificuldades da produção É preciso salientar que esse modelo de produção apresenta entraves que necessitam de atenção especial do produtor, dentre eles estão: 6 1 Produção de forragem: deve ser cultivada com adubos orgânicos, o que representa movimentação de grandes quantidades e a necessidade de maquinários específicos. 2 Controle de ectoparasitas: carrapatos, bernes e piolhos necessitam de observação constante. Com a eliminação de agroquímicos para esse controle, a utilização de raças mais resistentes, porém menos produtivas, se faz necessária, assim como tratamentos homeopáticos. 3 Processamento do produto: não se pode pensar em um produtor de leite orgânico isolado entre diversos outros tradicionais, a produção deve ser dimensionada em grupo e repassada a laticínios exclusivos ao beneficiamento desse produto. 4 Órgãos fiscalizadores/certificadores: toda a produção deve ser certificada por entidades registradas e as visitas para revalidação de certificação devem ser constantes. Um bom exemplo leite orgânico em São Vicente (MG) O produtor Renato Campos produz leite orgânico desde 2007 e em 2009 conseguiu certificar sua propriedade como produtora de leite orgânico. Sua produção é comercializada em dois laticínios regionais. No Laticínio São Vicente o leite orgânico é utilizado para a produção de queijos tipo Brie e Camembert, todos certificados orgânicos. 250 litros de leite por dia é a produção atual 400 litros por dia é o objetivo do produtor A qualidade dos alimentos é determinada pela ausência de resíduos químicos nocivos à saúde humana”, ressalta o produtor Renato Campos. AÇÕES RECOMENDADAS O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, possui um Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), através dele o produto que chega até o consumidor (interno e externo) é livre de resíduos nocivos à saúde. A PNCRC conta com uma rede de laboratórios especializados nesse tipo de análise, são os Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros), oficiais do Mapa. Na área de Resíduos e Contaminantes em Alimentos, o escopo dos Lanagros se divide nas frentes: Resíduos de Drogas Veterinárias, Contaminantes Orgânicos e Contaminantes Inorgânicos em Produtos de Origem Animal, Micotoxinas e Resíduos de Agrotóxicos em Produtos de Origem Vegetal; O Centro de Produções Técnicas (CPT) disponibiliza vídeo-curso sobre a produção de leite sem agrotóxicos, acesse aqui; O SIS possui o relatório Leite orgânico que pode auxiliar o pequeno negócio nessa atividade; O Mapa mantém um site com informações atualizadas sobre resíduos e contaminantes em produtos de origem animal, confira aqui. Leite relatório de inteligência março | 2014 Coordenador: Marcondes da Silva Cândido Gestor do Projeto: Douglas Luís Três Conteudista: Jardel José Busarello SEBRAE Santa Catarina Endereço: SC 401, KM 01, Lote 02 Parque Tecnológico Alfa - João Paulo CEP: 88030000 - Florianópolis – SC Telefone: 48 3221 0800 Dúvidas ou sugestões sobre o conteúdo do relatório envie um e-mail para: [email protected] Faça também suas contribuições para o SEBRAE-SC enviando um e-mail para: [email protected] Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Fotos: Banco de imagens. www.sebrae-sc.com.br/sis