ESTADO DE UMA NAÇÃO: Previdência e Assistência Social no Brasil: o período pós-laboral Milko Matijascic IPEA e Diretor do Centro Internacional de Estudos sobre a Pobreza - IPC [email protected] Sumário da Exposição 1 - trajetória da seguridade social no Brasil 2 - identificando as questões debatidas 3 – organização institucional e competitividade 4 - aspectos externos que influenciam a seguridade social 5 - Seguridade social, mercado de trabalho, mundialização e competitividade Trajetória institucional Estrutura Custeio Benefícios Gestão Cobertura Servidores CAP 1923- IAP 1931RGPS 1931 1967 desde 1967 Capitalização coletiva e Repartição e benefícios definidos - BD BD Uniforme Categoria Uniforme na (IVM) (doenças) LOPS 1960 Empresa Nomeação estatal patrocinad. Universal Empresas Urbana (domesticos; (ferrovias) assalariada rurais e trabs autônomos) Por órgão IPASE Variou muito Universalização consolidada: Constituição de 1988 Equiparação dos benefícios entre trabalhadores rurais e urbanos Fixação do piso de 1 salário mínimo Benefícios para mulheres sempre com 5 anos a menos de idade ou serviço Criação do conceito de seguridade social, abrangendo saúde, assistência e previdência Criação do OSS – Orçamento da Seguridade Social, integrado por recursos sobre a folha salarial, faturamento, lucro líquido e movimentação financeira (1993). Reformas - Governo 1995-1998 Substituição do conceito de tempo de serviço por tempo de contribuição Desconstitucionalização das regras de cálculo para o RGPS (aposentadoria tempo contrib.) Fixação de idade mínima para aposentadoria de servidores (53 H; 48M) Estabelecimento de teto de 50% para as EFPC de empresas estatais Equiparar benefícios das EFPC periodicamente com as reservas matemáticas com instituição de vesting e portabilidade Reformas - Governo 2003 Equiparação de regras com RGPS para novos servidores Redução do valor das aposentadorias com cálculo via média das contribuições desde 1994 (= RGPS) Redução do valor das aposentadorias para aposentadorias precoces (antes de 60 H e 55 M) Criação da contribuição do inativo e redução das pensões para valores acima do teto do RGPS Criar EFPC com contas individuais para servidores que recebem acima do teto do RGPS Incentivar contribuição de autônomos e de donas de casa (desoneração) Medidas infra-constitucionais mais relevantes pós - 1988 1996 - LOAS – fixando benefícios iguais ao piso para famílias com renda per capita inferior a ¼ do SM contando com idosos e inválidos 1996 - SIMPLES – mecanismo tributário que substituiu impostos e contribuições sociais para micro e pequenas empresas 2003 – Estatuto do idoso, que baixou a idade para a LOAS de 67 para 65 anos e isolou esse rendimento para o cálculo da renda familiar 2006 – Regras diferenciadas para trabalhadores de baixa renda 2 - Identificando as questões debatidas Cobertura Combate à pobreza Cobertura direta e indireta de idosos com 60 anos ou mais Faixa etária (anos) Aposentado Aposent e Pens. Contribuinte Depend.Após. Depend. Contr. Pensionista Cobertura Não Cobert. 6064 47,8 2,9 9,3 11,1 2,4 9,1 82,5 17,5 6569 61,1 5,8 3,1 9,7 0,8 10,3 90,8 9,2 7074 67,9 7,4 0,6 7,0 0,2 12,8 95,9 4,1 7579 68,5 7,5 0,4 5,5 0,2 14,2 96,2 3,8 Fonte: PNAD/IBGE – 2001 Apud. Cordero (2005) 8084 68,4 6,6 0,4 2,6 0,1 18,3 96,4 3,6 8589 66,6 5,0 0,3 1,1 22,3 95,2 4,8 90 e + 71,7 7,1 0,1 16,5 94,8 5,2 Ocupação e contribuição para a previdência segundo os anos de estudo Anos de estudo Status Desocupados Não Contribuintes 0 Contribuintes Desocupados Não Contribuintes 1a4 Contribuintes Desocupados Não Contribuintes 5a8 Contribuintes Desocupados 8 a 11 Não Contribuintes Contribuintes Desocupados 11 a 14 Não Contribuintes Contribuintes Desocupados Não Contribuintes 15 ou mais Contribuintes Fontes: PNAD/IBGE, Microdados 1981 2,0 74,7 23,3 3,9 49,3 46,8 7,0 30,1 63,0 5,8 14,8 79,4 2,7 7,4 89,8 1990 1,8 76,7 21,5 3,1 54,7 42,2 5,7 38,5 55,8 4,7 21,1 74,2 2,0 10,2 87,8 1995 3,7 77,2 19,1 4,9 59,5 35,6 8,9 44,3 46,8 7,9 28,6 63,6 5,3 20,0 74,7 2,4 12,5 85,1 2004 5,6 74,8 19,6 6,4 61,3 32,3 10,9 49,1 40,0 12,8 31,1 56,1 8,6 22,7 68,7 3,7 14,2 82,1 Transferencias da seguridade e redução da pobreza - 2003 Fonte: SPS/MPS Recursos líquidos para Municipalidades via seguridade, por cluster e região – 2005 % Region N NE SE S CO Brasil Cluster Cluster Cluster Cluster Cluster Total 1 2 3 4 5 94 89 33 0 0 92 94 98 83 0 53 94 89 89 83 33 53 86 90 93 76 0 62 88 83 81 72 0 86 82 91 91 79 47 58 89 Fonte: AEPS e SINTESE 3 – Organização institucional e competitividade Acesso aos benefícios Estrutura de financiamento Gestão e gastos totais Acesso aos benefícios O problema da precocidade da concessão de aposentadorias existe e grande parte dos benefícios se destinam a quem tem menos de 65 anos de idade Muitas regras são de uma liberalidade sem paralelo em sociedades dotadas de welfare state em estágios mais avançados Idade mínima e de referência País Brasil Bélgica França Itália Alemanha Dinamarca Suécia Reino-Unido Portugal Idade mínima de aposentadoria Homem Mulher 53 48 60 60 55 55 57 57 63 63 65 65 61 61 65 60 55 55 Idade referência Saída da de aposentadoria força de (anos) trabalho Homem Mulher 60,8 * 65 60 60,6 65 62 58,8 60 60 59,7 65 60 60,9 65 65 63,6 67 67 63,7 65 65 62,6 65 60 63,1 65 65 Fonte: AEPS/INSS, Observatoire des retraites e SSA – Social Security AdmInistration EUA Nota * idade média de aposentadorias urbanas Distribuição etária de aposentadorias e pensões 54% das aposentadorias se concentram em idades menores do que 65 anos 54% dos gastos com aposentadorias se concentram em idades menores do que 65 anos 78 70 88 84 9592 100 100 64 54 33 26 48 38 1716 1 1 1 2 2 3 3 4 4 6 8 10 Fonte: PNAD (2001) Até 20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55 55-60 60-65 65-70 70-75 75-80 Fonte: PNAD (2001) Valores Beneficiários 80 e mais Estrutura de financiamento Estrutura de financiamento não parece incompatível com o que se observa em outros países As alíquotas relativamente elevadas se devem a taxas de reposição elevadas, pois a maioria dos rendimentos está próximo ao nível de subsistência e sempre estão associadas a menores níveis salariais É difícil evitar o financiamento via recursos fiscais, é uma tendência mundial e já se tornou um fato no Brasil Custeio da seguridade e do desemprego em 2007 Países Custeio das despesas - % Empregador Trabalhador Fiscal Alemanha França Itália Portugal Reino Unido Suécia 36,9 45,9 43,2 35,9 30,2 39,7 28,2 20,6 14,9 17,6 21,4 9,4 32,5 30,6 39,8 38,7 47,1 46,7 Brasil (exclui desemprego) 42,3 16,9 42,0 Fontes: Eurostat e MPOG Gastos previdenciários públicos - % sobre o PIB em 2005 1,8 6,0 2,5 2,6 2,0 0,4 0,7 1,6 1,9 3,1 11,4 11,3 8,8 10,1 2,5 0,2 1,3 0,8 2,5 0,2 1,0 0,4 3,9 4,0 Austrália Canadá 5,9 5,4 0,2 1,2 Brasil Total Coréia do 2006 Sul 0,3 1,0 M éxico Portugal Fontes: OCDE, MPOG e INSS Itália Alemanha Suécia Reino Unido 5,5 EUA. Idade Pensões Incapacidade 4 - Aspectos externos que influenciam a seguridade social Demografia e condições de saúde Atividade econômica e distribuição da renda nacional Situação de ocupação Desafios do envelhecimento Se o tamanho da PIA não representa um problema, a velocidade do envelhecimento exige uma conversão mais aceleradas das políticas públicas no Brasil e na América Latina. Brasil vai dobrar a população com 60 anos ou mais entre 2007 e 2025 de 9% para 18%. Esse movimento levou 140 anos na França e 86 anos na Suécia, representando um desafio efetivo Condições sanitárias precárias, aliadas à regras de acesso generosas aumentam o potencial de gastos da seguridade Dificuldades de monitoramento das condições de saúde e de trabalho aumentam o sofrimento humano e geram gastos desnecessários Salários e encargos sobre o PIB em países selecionados - 2002 Fontes: CEPAL e EUROSTAT Estrutura de Ocupação Estrutura baseada em menor número de assalariados e maior número de trabalhadores domésticos e, sobretudo, autônomos é sempre mais precária e não gera um contingente estável de contribuintes para a previdência, segundo a OIT. Country Estrutura de Ocupação 2006 Autônomo 30.0 25.4 Assalariados 61.3 72.7 Domésticos 8.7 1.8 Germany United Kingdom 10.0 11.4 88.9 88.1 1.1 0.3 Sweden Eurozone 10.2 14.8 89.3 83.2 0.5 1.9 Brazil Portugal Fontes: PNAD e EUROSTAT 5 - Seguridade social, mercado de trabalho, mundialização e competitividade Síntese das conclusões Possui conquistas e elevada cobertura Legislação precisa ser adaptada para atender quem precisa e efetivamente não dispõe de condições para se sustentar com o trabalho Estrutura de seguridade permite a constituição de 3 pilares nos moldes que se aproximam de um novo consenso Estrutura de financiamento merece atenção, mas o essencial e controlar os gastos dando ênfase à ótica dos direitos sociais, que vem sendo tratada de forma equivocada