Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
23 e 24 de setembro de 2014
DISTRIBUIÇÃO DA GORDURA CORPORAL EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES QUE FREQUENTAM ESCOLAS PÚBLICAS DE
CAMPINAS-SP
Nayana da Silva Cunha
Silvia Diez Castilho
Faculdade de Medicina
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Grupo de Pesquisa: Epidemiologia e Saúde
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Resumo: Objetivo: Avaliar como a gordura corporal
se distribui em crianças e adolescentes, de 7 a 18
anos, de acordo com o sexo, maturação e diagnóstico nutricional. Método: Estudo descritivo transversal
realizado, em 2012, com 1680 alunos de escolas estaduais de Campinas, SP. Todas as medidas (peso,
estatura, pregas cutâneas tricipital, bicipital, subescapular, suprailíaca, e circunferências do braço, cintura e quadril) foram tomadas de acordo com os padrões internacionais. A avaliação maturacional foi
feita pelos critérios de Tanner e o diagnóstico nutricional pelos pontos de corte do índice de massa corporal (IMC) das curvas OMS 2007. A partir das medidas obtidas foram calculados o IMC, a relação cintura/estatura, cintura/quadril (CC/CQ), e feita a análise
da somatória das pregas. Foram utilizados os testes
Qui-quadrado e Man-Withney. O nível de significância foi de 5%. Resultados: A gordura se distribuiu de
forma diferente entre os sexos e nos alunos com e
sem excesso de peso. As crianças com sobrepeso e
obesidade, apresentaram maior ganho de gordura
central, apresentando um valor de circunferência da
cintura mais de 10 cm acima dos eutróficos em todos
os estágios maturacionais. A gordura periférica (pregas cutâneas) também apresentou, nesse grupo,
valores duas vezes maiores. Houve alteração no dimorfismo sexual de meninas obesas já que a relação
CC/CQ nestas se assemelhou aos valores encontrados nos meninos eutróficos. Conclusão: A deposição
de gordura nos obesos não segue o padrão esperado
nos eutróficos. O acúmulo central da gordura, por
estar associado ao aumento do risco de doenças
crônicas comprometerá a saúde destas crianças.
Palavras chave: índice de massa corporal, composição corporal, adolescente.
Área do Conhecimento: Ciências da Saúde - Saúde
Coletiva - 4.06.00.00-9.
1. INTRODUÇÃO
A obesidade tem sido bastante investigada, devido à
alta prevalência na população mundial e às implicações que acarreta para a saúde pública. No Brasil, de
acordo com dados da POF de 2008-2009 [6], 50% da
população de adultos (maiores de 20 anos) apresenta excesso de peso. Nos Estados Unidos da América, a obesidade já acomete mais de 35% da população adulta [22].
A alta prevalência do excesso de peso preocupa por
este estar relacionado a doenças crônicas, tais como: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares (DCV), síndrome metabólica
e alguns tipos de câncer. Assim, o controle da obesidade deve pautar as políticas públicas de saúde, na
tentativa de reduzir a prevalência do quadro e promover saúde da população [25].
Ao se pensar em prevenção e promoção de saúde, é
importante monitorar crianças e adolescentes, pois o
excesso de peso tem crescido rapidamente determinando já nessas faixas etárias: dislipidemia, hipertensão arterial, intolerância à glicose e aumento da
circunferência da cintura acima dos pontos de corte
[3, 10]. De acordo com Freedman et al. [11], 65% das
crianças (5-17 anos) com índice de massa corporal
(IMC) acima do percentil 95% tendem a manter o
excesso de peso na vida adulta, enquanto as com
IMC abaixo do percentil 50% contribuem para a obesidade na adultícia em apenas 15% dos casos. Portanto, o excesso de peso em crianças está relacionado com as taxas de obesidade na vida adulta. Embora dados recentes do Vigitel 2013 tenham apontado para uma estabilização da obesidade e sobrepeso
na população maior de 18 anos no Brasil [29], o excesso de peso ainda tem alta prevalência e precisa
ser enfrentado desde a infância.
O diagnóstico em faixas etárias mais jovens é complexo, pois de acordo com a idade, maturação e gênero, a composição corporal varia e a gordura se
distribui de modo distinto. Assim, a avaliação de um
único indicador de obesidade nessa população, como
o IMC, é insuficiente para o diagnóstico por não dis-
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criminar o compartimento responsável pelo ganho de
peso (tecido adiposo ou muscular-ósseo) [26]. Além
disso, algumas medidas como a circunferência da
cintura (CC), podem apresentar forte relação com a
síndrome metabólica e as doenças crônicas já citadas sendo importante sua associação [16, 4].
Como as crianças e os adolescentes se encontram
em processo de maturação e apresentam normalmente mudanças na composição corporal, é importante observar como o ganho de peso ocorre no grupo com e sem excesso de peso. Assim, este estudo
teve o objetivo de descrever como a gordura vem se
distribuindo na faixa etária entre 7-18 anos de uma
população de Campinas-SP.
2. MÉTODO
Estudo descritivo transversal que avaliou a prevalência de excesso de peso, composição corporal e distribuição de gordura em alunos de escolas públicas
de Campinas, SP, em 2012.
Mediante sorteio foi determinada a ordem de convite,
para participação na pesquisa, entre as 491 escolas
estaduais do município com crianças e adolescentes
na faixa etária de interesse (de acordo com o censo
de 2011 [5]). Oito escolas, de 15 contatadas, aceitaram participar. Os convites foram feitos até que o
número de sujeitos, previamente determinado para a
pesquisa, fosse alcançado. Foram avaliadas 1701
crianças e adolescentes, que tendo o consentimento
dos responsáveis, concordaram em participar.
Do total de avaliados, foram incluídos 1680 alunos
entre 7 e 18 anos, de ambos os sexos e que não apresentavam, na ocasião, qualquer problema que
prejudicasse a avaliação. Foram excluídos os que
apresentavam doenças não corrigidas, deformidade
em tronco ou membros, incapacidade de se manter
em pé, em uso de corticoide oral por período prolongado e as meninas que referiram gravidez.
O tamanho da amostra foi determinado levando em
conta estudos realizados com adolescentes brasileiros, que avaliaram a variabilidade do estágio maturacional para a idade [9] e para esta idade a variabilidade do IMC [1]. Assim ficou estabelecido que seriam necessários 1140 sujeitos, 114 em cada estágio
de mama para as meninas e genitália para os meninos. As medidas obtidas segundo os padrões internacionais [17] foram: peso, estatura, pregas cutâneas tricipital (PCT), bicipital (PCB), subescapular
(PCSE), suprailíaca (PCSI) e circunferências do braço (CB), cintura (CC) e quadril (CQ). Foram utilizadas
®
a balança de bioimpedância pé-pé (TANITA SC®
331S), estadiômetro de parede WISO , fita métrica
®
®
inextensível (STANLEY ) e o adipômetro LANGE . A
avaliação maturacional foi feita pelos próprios alunos
por comparação com pranchas ilustrativas dos critérios de Tanner e o diagnóstico nutricional estabelecido pelo IMC baseado em pontos de corte das curvas
OMS 2007 [23].
A partir das medidas obtidas foram calculados o IMC,
a relação cintura/estatura (CC/Est), cintura/quadril
(CC/CQ) e a somatória das pregas, e através da bioimpedância, os índices de massa magra (MM) e
massa gorda (MG) e porcentual de gordura corporal
(%GC). Os dados foram digitados no Excel e processados no SPSS v.17.0. A análise descritiva foi apresentada em tabelas de frequências, para variáveis
categóricas, e medidas de dispersão, para variáveis
numéricas. O teste do Qui-quadrado foi utilizado para
comparar proporções. Para comparar médias numéricas entre os dois grupos foram utilizados MannWhitney com transformação por postos e quando
necessário feito ajuste de idade. O nível de significância considerado foi de 5%. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da PUC- Campinas
(protocolo 574/11).
3. RESULTADOS
Dos 1680 alunos incluídos, 759 (45,2%) eram meninos e 921 (54,8%) meninas. A tabela 1 apresenta a
distribuição da amostra de acordo com os critérios de
Tanner.
Tabela 1. Classificação dos 1680 alunos avaliados em
escolas públicas de Campinas, SP, (2012) de acordo
com os estágios maturacionais de Tanner (M para
mamas e G para genitália).
MENINA
Estágio
n
Mama
(%)
M1
186 (20,2)
M2
118 (12,8)
M3
138 (15)
M4
240 (26,1)
M5
239 (26)
TOTAL
921 (100)
MENINOS
Estágio
n
Genitália
(%)
G1
222 (29,2)
G2
139 (18,3)
G3
152 (20)
G4
123 (16,2)
G5
123 (16,2)
TOTAL
759 (100)
O excesso de peso foi semelhante no que diz respeito ao sexo; 32,9% das meninas (303) e 33% nos meninos (250). No sexo feminino, 12,7% foram classificadas como obesas e 20,2% com sobrepeso. No
sexo masculino observou-se 14% de obesos e 19%
com sobrepeso.
As tabelas 2 e 3 contemplam as variáveis de interesse estudadas de acordo com o sexo, diagnóstico nutricional e estágio maturacional.
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Tabela 2. Composição corporal das 921 meninas avaliadas em escolas estaduais de Campinas-SP (2012) de
acordo com o diagnóstico nutricional e estágio maturacional de mamas (M). Variáveis descritas em média
(DP).
Diag Nutricional
Estágio Tanner
EUTROFIA+MAGREZA
SOBREPESO+OBESIDADE
M1
M2
M3
M4
M5
M1
M2
M3
M4
M5
IMC (kg/m2)
15,2
(1,4)
16,0
(1,6)
16,9
(1,4)
18,5
(1,8)
20,1
(2,0)
20,7
(2,9)
22,4
(3)
22,9
(2,4)
23,6
(2,8)
26,8
(3,6)
MM (kg)
20,6
(2,9)
17,1
(3,2)
32,3
(3,8)
36,5
(3,7)
39,5
(4,4)
24,1
(3,6)
30,3
(4,1)
34,8
(3,9)
38,9
(4,1)
44,3
(4,0)
MG (kg)
5,0
(1,5)
6,2
(2,0)
7,7
(2,0)
11,5
(7,9)
14,1
(10,3)
11,7
(4,6)
15,4
(4,8)
16,9
(4,0)
18,9
(4,8)
25,0
(6,9)
%GC (%)
18,4
(3,8)
17,6
(4,8)
18,6
(3,8)
21,6
(4,0)
25,4
(19,2)
30,7
(5,1)
32,4
(4,6)
31,6
(4,2)
31,3
(4,6)
34,9
(4,8)
CC/estatura
(cm/m)
0,43
(0,04)
0,41
(0,03)
0,40
(0,02)
0,41
(0,02)
0,42
(0,03)
0,52
(0,05)
0,52
(0,05)
0,50
(0,04)
0,48
(0,05)
0,50
(0,04)
CC/CQ (cm/cm)
0,82
(0,05)
0,78
(0,04)
0,75
(0,04)
0,74
(0,18)
0,73
(0,04)
0,85
(0,05)
0,89
(0,30)
0,82
(0,06)
0,76
(0,06)
0,77
(0,05)
35,1
(11,3)
38,5
(14,1)
37,0
(9,7)
44,1
(11,4)
53,7
(13,3)
74,1
(21,3)
84,2
(21,6)
76,5
(19,9)
73,5
(18,9)
85,7
(20,4)
Somatória 4
pregas (mm)
Tabela 3. Composição corporal dos 759 meninos avaliados em escolas estaduais de Campinas-SP (2012) de
acordo com o diagnóstico nutricional e estágio maturacional de genitália (G). Variáveis descritas em média
(DP).
Diag Nutricional
Estágio Tanner
EUTROFIA+MAGREZA
SOBREPESO+OBESIDADE
G1
G2
G3
G4
G5
G1
G2
G3
G4
G5
IMC (kg/m2)
15,1
(1,2)
15,9
(2,2)
17,3
(1,6)
18,7
(2,1)
20,3
(1,9)
20,9
(3,5)
22,3
(3,5)
23,3
(4,0)
25,9
(3,8)
28,0
(4,0)
MM (kg)
21,6
(3,0)
29,3
(4,9)
37,2
(6,7)
47,8
(6,3)
54,6
(6,6)
26,7
(4,5)
33,8
(5,2)
43,6
(9,2)
57,4
(7,7)
64,4
(7,2)
MG (kg)
4,1
(1,0)
4,7
(1,5)
5,4
(1,9)
6,3
(2,8)
7,7
(3,2)
10,6
(5,0)
14,1
(6,6)
15
(7,5)
19,1
(9,3)
20,1
(9,7)
%GC (%)
15,8
(8,7)
13,0
(3,3)
12,0
(3,5)
13,0
(16,1)
12,6
(11,5)
26,5
(6,4)
27,1
(7,4)
24,0
(7,8)
23,4
(7,7)
23,2
(7,1)
0,43
(0,03)
0,42
(0,02)
0,42
(0,03)
0,41
(0,03)
0,42
(0,02)
0,52
(0,05)
0,52
(0,06)
0,50
(0,06)
0,51
(0,06)
0,51
(0,06)
CC/CQ (cm/cm)
0,84
(0,05)
0,80
(0,03)
0,81
(0,04)
0,78
(0,03)
0,78
(0,04)
0,85
(0,05)
0,86
(0,06)
0,83
(0,05)
0,84
(0,07)
0,82
(0,04)
Somatória 4
pregas (mm)
26,1
(8,0)
27,7
(9,2)
29,0
(10,7)
28,1
(9,1)
29,8
(9,0)
64,1
(24,9)
76,4
(25,2)
69,1
(26,5)
68,9
(26,3)
71,5
(24,8)
CC/estatura
(cm/m)
3. DISCUSSÃO
Este estudo descreve como a gordura vem se distribuindo de acordo com o sexo e estágio maturacional
em uma amostra de alunos de escolas estaduais de
Campinas-SP.
A MG nos eutróficos aumenta em ambos os sexos
ao longo do processo maturacional, tendo no início
da maturação, valores parecidos (5,0 kg nas meninas
e 4,1 kg nos meninos). O sexo feminino apresenta
maior ganho de MG chegando a atingir o dobro do
valor do sexo masculino (14,1 kg e 7,7 kg respectivamente em M5 e G5). Estes dados estão de acordo
com outros estudos nos quais são descritos um ga-
nho maior de MG no sexo feminino e MM no sexo
masculino [8,19]. Essas diferenças são responsáveis
pelo dimorfismo sexual. Quando se compara a MG
das meninas eutróficas com a das obesas nota-se
que a média nas obesas é o dobro do valor das eutróficas nos estágios de M1 a M3. Ao se comparar
esses diagnósticos nutricionais no sexo masculino,
observa-se que a MG triplica nos obesos em G2, G3,
G4 e G5 quando comparados aos eutróficos. Entre
os sexos, os meninos obesos obtiveram um ganho
de MG muito parecido com o ganho das meninas
obesas, o que não se observa nos eutróficos, que
adquirem apenas metade da MG das meninas. De
acordo com a literatura o sexo masculino apresenta
um ganho de MG pouco expressivo quando comparado ao sexo feminino [8]. Segundo Mihalopoulos et
al. [21], é considerado anormal um aumento da porcentagem de gordura corporal nos meninos durante
a maturação. Já as meninas, tendem a acumular tecido adiposo durante todo o processo maturacional
[7]. Assim, ao apresentar um ganho de MG semelhante ao das meninas obesas, os meninos com excesso de peso mostram um padrão de composição
corporal diferente dos meninos eutróficos.
Com relação à MM, os meninos eutróficos apresentaram um aumento desta de 2,5 vezes durante a maturação (de G1 para G5). As meninas aumentaram em
aproximadamente 1,9 vezes sua MM de M1 para M5,
apresentando um aumento absoluto semelhante entre as eutróficas e as obesas (20 kg ao longo da maturação). Ao se comparar o ganho total de MM dos
meninos obesos com o dos meninos eutróficos, os
primeiros obtiveram 15% de MM a mais que os últimos em G5, também, a mesma situação no sexo
feminino mostrou 11% a mais nas obesas em M5.
Isso indica um ganho de MG mais expressivo no
grupo com excesso de peso, pois ao comparar-se
aos eutróficos, a MG triplicou nos meninos e dobrou
nas meninas enquanto a MM aumentou em apenas
15 e 11% respectivamente nesses grupos.
O IMC aumenta à medida que os adolescentes maturam (estágio 1-5) conforme observado em outros
estudos [8]. Também foi possível observar nos alunos com excesso de peso, valores nos estágios G1 e
M1, semelhantes a valores em G5 e M5 nos eutróficos, caracterizando um ganho precoce de massa
corporal, que nos eutróficos leva toda a maturação
para se estabelecer. Apesar do IMC ser um bom indicador para a detecção de obesidade [14], apresenta limitações por estar relacionado à idade e não levar em conta o nível maturacional da criança. Além
disso, não distingue qual o compartimento responsável pelo ganho ponderal (MM, MG ou edema) e também não determina a localização da gordura (abdo-
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minal ou periférica). Segundo Sweeting et al. [8], este
índice possui baixa sensibilidade na detecção do diagnóstico de sobrepeso. Assim, para melhor avaliar
o excesso de peso, o IMC vem sendo associado a
outros índices e medidas tais como CC e CC/Est [12,
16, 24].
O %GC nos adolescentes eutróficos do sexo feminino variou de 18,4% à 25,4% durante a maturação. Já
entre os meninos com o mesmo diagnóstico nutricional, variou de 15,8% à 12,6% de G1 para G5. Isso
mostra uma redução da GC nos meninos durante o
processo de maturação. Tanner et al. [27], em estudo
sobre o ganho ponderal, refere que aos 9 anos ambos os sexos possuem ao redor de 15% de GC, com
mudança para 12% nos meninos após o estirão de
crescimento e 19 a 25% nas meninas após a menarca. Entre as meninas obesas, o % GC aumentou de
30,7% para 34,9% ao final da maturação. Enquanto
nos meninos também com excesso de peso, os valores variaram de 26,5% em G1 a 23,2% em G5. Assim uma perda de 3% nos meninos se manteve
mesmo quando em excesso de peso. Williams et al.
[31] ao estudarem as pregas cutâneas na faixa etária
de 5 a 18 anos, sugerem aumento do risco cardiovascular, níveis pressóricos e dislipidemia em meninas a partir do percentual de GC de 30% e nos meninos a partir de 25%. Sendo assim, todas as meninas com excesso de peso, do presente estudo, bem
como os meninos também com esse diagnóstico nutricional em G1 e G2 encontram-se com um %GC
que os predispõem a maior risco cardiovascular.
Os alunos com excesso de peso de ambos os sexos
apresentaram um acréscimo na CC de mais de 10
cm se comparados aos eutróficos em todos os níveis
maturacionais. Isso indica um ganho contínuo de
gordura abdominal nessa população. Observa-se
também, que a CC no sexo masculino é sempre
maior do que no feminino. Isso ocorre por questões
hormonais, nas quais os meninos possuem maior
tendência em acumular tecido adiposo no tronco. Já
no sexo feminino, há um acumulo de gordura principalmente em quadril e pernas durante a maturação.
Há mudança nesse perfil apenas após a menopausa,
quando as mulheres possuem déficit na produção de
estrógeno passando para um acúmulo androide do
tecido adiposo [30].
A razão CC/Est, por consequência, também difere no
grupo com sobrepeso e obesidade. Os valores encontrados passaram a ser sempre maiores ou muito
próximos de 0,5 em ambos os sexos. De acordo com
Haunt et al. [13], o ponto de corte de 0,5 está relacionado com maior risco cardiovascular em adultos.
McCarthy et al. [20] e Ashwell et al. [2], concluíram
que esse valor também é válido para crianças na
faixa etária de 5 -18 anos de ambos os sexos. Isso
aponta para um risco de DCV já aumentado nesse
grupo. Yan W et al. [32], propõe valores ainda menores de CC/Est (meninos: 0,485 e meninas: 0,475)
para uma população chinesa de 8-18 anos. A CC e a
CC/Est elevadas geram preocupações. Estudos mostram que há uma maior predisposição para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e alterações
metabólicas em crianças e adolescentes que ultrapassem os pontos de corte dessas medidas [15, 18,
24]. Um estudo transversal de Bergmann et al. [4], no
qual foram avaliados 1413 escolares do Rio Grande
do Sul, entre 7 e 12 anos, relatou um risco para DCV
10,2 vezes maior entre os meninos que ultrapassaram os pontos de corte de CC e 4,59 vezes maior
para as meninas na mesma situação.
Outra razão que se altera com o aumento da CC é a
CC/CQ. Nesse estudo, a CC/CQ diminuiu em ambos
os sexos e diagnósticos nutricionais. Nos eutróficos
essa redução é mais expressiva nas meninas. Isso
ocorre devido ao dimorfismo sexual, no qual há um
predomínio do acúmulo de gordura em quadril e coxas no sexo feminino. No sexo masculino isso não
acontece e o acúmulo de tecido adiposo se dá principalmente nas porções superiores do corpo (tronco)
[7, 28, 30]. Tanto entre as meninas quanto nos meninos com o diagnóstico de sobrepeso e obesidade, a
CC/CQ manteve valores maiores quando comparados aos eutróficos (CC aumentada). Chama a atenção que entre as meninas com excesso de peso, os
valores de CC/CQ são semelhantes aos valores nos
meninos eutróficos. Observa-se então, uma perda do
dimorfismo sexual nesse grupo. Essa perda se manifesta com uma distribuição androide da gordura no
fenótipo feminino. Esse perfil é muito relacionado à
DCV em mulheres adultas [30].
Com relação às pregas cutâneas, durante a maturação, as meninas eutróficas apresentaram aumento
nas pregas tricipital, bicipital, ilíaca e subescapular.
Já os meninos eutróficos, apresentaram redução na
PCB, pequeno aumento nos valores das PCT e PCSI
e aumento da PCSE de 30%. De acordo com a literatura [7,28,30], o sexo feminino possui tendência em
ganhar tecido adiposo periférico em todas as localizações e principalmente em quadril e membros. Isso
é confirmado nesse estudo ao se observar que as
meninas tiveram aumento de todas as pregas avaliadas. Os meninos mostraram um ganho importante
apenas em prega subescapular do tronco. Ao se observar as meninas e meninos com excesso de peso,
e comparar com os eutróficos de seus respectivos
sexos, os obesos adquiriram quase sempre o dobro
dos valores de gordura periférica. Mas, a distribuição
da gordura não se alterou. Assim, as meninas conti-
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nuaram ganhando pregas em quase todas as localidades e os meninos apresentaram maior ganho adiposo na PCSE.
Quanto à somatória das 4 pregas, as meninas com
excesso de peso apresentaram valores 2 vezes maiores que as eutróficas em M1, M2 e M3. Os meninos
obesos mantiveram valores aproximadamente 2,5
vezes maiores que os eutrófico durante toda a maturação (G1, G2, G3, G4 e G5), que mostra um ganho
de gordura periferica também neste sexo, quando
em sobrepeso ou obesidade.
Os alunos com excesso de peso deste estudo adquiriram maior quantidade de MM e MG quando comparados aos eutróficos de seus respectivos sexos. Entretanto, proporcionalmente, a quantidade de MG foi
maior e trouxe preocupações. Chama atenção a localização em região abdominal, já que esta gerou
alterações em medidas antropométricas (CC,
CC/Est, CC/CQ, IMC), que como mostrado anteriormente estão muito relacionadas às doenças cardiovasculares.
Os resultados deste estudo mostram como a gordura
vem se distribuindo na amostra de crianças e adolescentes de acordo com o diagnóstico nutricional.
Ao estudar medidas antropométricas foi possível determinar a composição corporal de eutróficos e obesos de acordo com o nível maturacional. Não há outros trabalhos que avaliem como a gordura se distribui nessa faixa etária de acordo estes critérios. Poucos fazem a correlação de obesidade com os estágios maturacionais [8, 21].
No entanto, o estudo apresenta limitações por seu
desenho ser transversal. O ideal seria um estudo
longitudinal, no qual as mesmas crianças fossem
avaliadas desde M1 e G1 até M5 e G5. Este tipo de
estudo, no entanto, demanda tempo, tem alto custo e
o tamanho da amostra teria que ser maior devido às
perdas ao longo do tempo.
4. CONCLUSÃO
Foi possível determinar como a gordura se distribui
nas crianças e adolescentes deste estudo. Observou-se também, que a deposição de gordura no grupo de obesos não segue o mesmo padrão dos eutróficos. Isso traz preocupações ao mostrar uma deposição central da gordura, que determina maior risco
cardiovascular para esse grupo. Embora dados recentes do Vigitel 2013 apresentem uma estabilização
do sobrepeso e obesidade na população adulta do
Brasil, é preciso tomar medidas urgentes para a diminuição de sua prevalência. O controle do ganho de
peso nas faixas etárias mais jovens tem a finalidade
não só de melhorar a situação atual destes, como
também a sobrevida na idade adulta.
AGRADECIMENTO
À PUC-Campinas Bolsa FAPIC/Reitoria.
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