O caviar do Uruguai Por: Luiz Octavio Pires Leal 20_Animal Business-Brasil O Uruguai não apenas produz como também exporta caviar para os exigentes mercados da Europa e dos Estados Unidos. E estamos falando do verdadeiro caviar, produzido com ovas da fêmea do esturjão que é iguaria para poucos, chegando a custar R$10 mil o quilo. E esturjão não é um peixe único e sim o nome genérico de peixes da família dos Acipenserídeos, com quatro gêneros e 22 espécies. Projeto antigo A produção uruguaia de caviar não é recente. Ela começou há cerca de 20 anos, numa cidadezinha a pouco mais de 250 quilômetros de Montevidéu com menos de 200 habitantes, chamada Baygorria, com 300 esturjões importados da Rússia. Esses peixes vêm evoluindo há 200 milhões de anos. Nas águas uruguaias, com temperatura média de 27°C, a produção anual é de sete toneladas o que não é pouca coisa diante do alto preço da iguaria. E a própria Rússia, grande produtora, assim como a China e o Japão, importa do nosso vizinho. Na década de 1980, o pioneiro Walter Alcalde – já falecido e sucedido por seus filhos – descobriu um trabalho russo que indicava o Uruguai como uma das melhores regiões do mundo para a criação de esturjão, por questões climáticas, mas isso não evitou o trabalho de pesquisa e aprendizado da família até conseguir resolver os complexos problemas técnicos. Foi necessária a assistência de profissionais russos para a consolidação do negócio que resultou na formação da empresa com o nome internacional de Black River e o local de ERN – Esturiones del Rio Negro. Alguns desses técnicos permanecem trabalhando na Empresa. Vários tipos A ERN produz diversos tipos de caviar (ovas não fertilizadas de fêmeas do esturjão) e para tanto é necessário abater os animais, antes é feita uma avaliação das ovas em cada uma das fêmeas que para tanto são anestesiadas. Só isso já dá uma ideia da complexidade desse processo da aquicultura. Os tipos de maior valor comercial são o sevruga e o beluga, este o mais caro. Um esturjão adulto pode chegar a cinco metros de comprimento e desde 1307 decreto do rei Eduardo da Inglaterra passou a considerar essa espécie peixe real e todo exemplar deveria ser primeiro oferecido ao monarca no poder. Complicação De todos os processos da aquicultura, a produção de caviar é o mais complicado. Cada esturjão tem um chip instalado debaixo da pele Animal Business-Brasil_21 “ De todos os processos da aquicultura, a produção de caviar é o mais complicado com o objetivo de informar ao pessoal técnico a evolução do seu peso e idade. Durante o ciclo de produção, os esturjões precisam ser transferidos para tanques especializados em cada fase. A reprodução é artificial e depois da cirurgia para extração do ovário com os óvulos (o caviar) os esturjões são vendidos para o mercado de peixes. Uma fêmea de esturjão com 20 kg de peso produz pouco menos de dois quilos de caviar. Luxo O caviar sempre esteve associado a um mercado de alto luxo e de comemorações especiais em decorrência do seu alto custo. E essa denominação só é corretamente usada, segundo a tradição, para ovas das espécies fêmeas de esturjões selvagens, oriundas da Rússia e do Irã. Modernamente, o nome caviar pode designar, também, as ovas de esturjões produzidas em fazendas de peixes (aquicultura) e até mesmo produtos inferiores, mais baratos, originários de ovas de salmão e de truta. 22_Animal Business-Brasil Caviar brasileiro Santa Catarina produz um “caviar” (com aspas !) a partir de ovas de tainha e que se chama bottarga. Patriotadas e ufanismos à parte, há quem prefira o brasileiro ao verdadeiro e, como o leitor sabe, gosto não se discute assim como também não se discute que o preço é muito inferior. E, se for levado em consideração o valor nutritivo – o que, aliás, ninguém procura em nenhuma iguaria, que só vale pelo prazer de comer – o bottarga é superior. Tem ômega-3 e “só” custa R$500,00 o quilo. O INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, através da sua CPTA – Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos vem desenvolvendo um “caviar” regional com ovas de jaraqui (Semaprochilodus) tidas como semelhantes ao caviar russo, mas a produção do verdadeiro caviar no Brasil ainda permanece como um grande desafio. Origem da palavra Caviari, (plural), do italiano, ou do francês, caviare, com origem turca khäviar, a palavra significa “ovo”. Ou do persa, xâg-âvar = “gerador de ovos”. O esturjão já era conhecido pelos povos da Antiguidade e foi citado nos estudos de Aristóteles e Heródoto. Há referências cartaginesas do ano 600 a.C. Da próxima vez que o leitor saborear uma torrada bem fininha ornada com um montinho de caviar beluga, precedendo um gole de espumante da região de Champagne, terá uma consciência ainda maior de que há muita história e muita técnica embutidas.