CAPA A sete CHAVES H á algo de podre no reino dos automóveis. Podre e ambientalmente incorreto. Em escala global, a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia no setor de transportes é a atividade que mais produz gases responsáveis pelo efeito estufa – e o consequente aquecimento global. O principal deles é o famigerado dióxido de carbono ou CO2. Essa frota de carros (e também de caminhões, ônibus e congêneres) emite ainda gases poluentes, como monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NOx), que têm asfixiado milhões de pessoas ao redor do mundo. Apesar de seu conceito antiquado, o principal meio de transporte individual não vai morrer tão cedo. Nem no mundo, muito menos no Brasil. Estima-se que entre 2007 e 2012 o país receba até 15 bilhões de dólares em investimentos de montadoras. A demanda, com ou sem crise, não para de crescer – hoje somos o quinto maior mercado de automóveis (há dois anos, ocupávamos a décima posição). Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores, a frota brasileira em circulação cresceu 38% desde 2000, chegando, hoje, a 27,8 milhões de veículos. No mesmo período, o crescimento populacional foi de 12,7%. Se os carros ainda não estão com os dias contados, os males causados por eles podem, ao menos, ser amenizados. E o consumidor tem papel fundamental nesse processo, por exemplo, optando por veículos menos nocivos ao meio ambiente. “Na Europa já é assim. A exigência dos consumidores por carros 16 Revista do Idec | Setembro 2009 mais ‘limpos’ gera concorrência entre as montadoras”, afirma Rachel Biderman Furriela, coordenadora do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Por aqui, no entanto, fazer essa escolha não é tarefa simples. Segundo pesquisa do Idec, as onze maiores montadoras em atividade no Brasil complicam a vida do consumidor quando o assunto é acesso às “informações ambientais” de seus produtos, como eficiência energética (quanto se consome de combustível por quilômetro rodado) e níveis de emissão de gases poluentes e do efeito estufa. O governo até tenta sistematizar esses dados, mas ainda está engatinhando. Por exemplo, a adesão ao Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV), que mede a eficiência energética dos veículos, ainda é voluntária. Resultado: das onze montadoras pesquisadas, apenas quatro aderiram ao programa (veja mais detalhes à página 19). Por falar em iniciativas do governo, é praticamente consenso entre os especialistas que o modelo de desenvolvimento brasileiro, há décadas, baseia-se no automóvel e no transporte rodoviário. Prova recente é que, para amenizar o impacto da crise financeira internacional, o governo reduziu (em alguns casos, extinguiu) o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Com isso, a venda de automóveis foi parar nas alturas e o governo deixou de arrecadar nada menos que 4,11 bilhões de reais. Nos Estados Unidos, onde o setor automobilístico também é um dos propulsores da economia, a saída encontrada pelo governo foi ambientalmente menos nociva. Diante da temida crise, quase 2 bi- EDUARDO NUNES Você pode optar por um carro menos nocivo ao meio ambiente – o problema é encontrar informações que guiem sua decisão. Pesquisa do Idec revela que falta transparência das montadoras na hora de divulgar os dados ambientais de seus veículos lhões de dólares foram usados para subsidiar a compra de automóveis novos. Os descontos para quem quisesse trocar seu carro velho por um novo poderiam chegar a 4,5 mil dólares. O detalhe é que só conseguiria o benefício quem se dispusesse a trocar seu carro por um de baixo consumo de combustível. E tem mais, os carros velhos não voltaram para as ruas. CAÇA AO TESOURO O marketing verde nunca esteve tão em voga, principalmente para as montadoras. Pudera: elas perceberam que os estragos que têm causado podem pôr em xeque sua reputação. Por isso, seus sites propalam com entusiasmo suas “políticas de responsabilidade ambiental”. Como foi feita a pesquisa A partir de dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o Idec selecionou as dez montadoras que mais venderam carros no Brasil no primeiro semestre deste ano (como Peugeot e Citroën fazem parte do mesmo grupo, na prática foram avaliadas onze montadoras). Os veículos analisados foram agrupados segundo a cilindrada de seus motores (1.0, 1.4, 1.6, 1.8 e 2.0 litros). Em seguida, com base nos modelos selecionados, o Idec verificou se as montadoras divulgam dados de eficiência energética, nível de emissão de gases poluentes e nível de emissão de gases do efeito estufa. Essas informações foram pesquisadas nos websites das montadoras, nos SACs telefônico e on-line, nos manuais de proprietário dos veículos e em visita às concessionárias. O Instituto também enviou às montadoras um formulário de autopreenchimento solicitando dados sobre os níveis de emissões veiculares, as informações passadas ao consumidor e as políticas socioambientais da empresa. Além disso, questionou o governo e as entidades responsáveis pelo PBEV e pela Nota Verde. Revista do Idec | Setembro 2009 17 CAPA Nenhum deles forneceu índices de emissão de gases poluentes e de efeito estufa. Ou melhor, apenas o consultor da Chevrolet informou verbalmente, sem qualquer embasamento documental, que todos os veículos da montadora emitem de 1 a 1,5 grama de CO por quilômetro rodado. Quanto à eficiência energética, os consultores de cinco dos onze fabricantes pesquisados passaram a média de consumo, sempre ressaltando que os dados não eram exatos e que estavam sujeitos a variações. A Ford forneceu dados com critérios mais precisos, como número de passageiros e a não utilização de ar condicionado. A Honda informou que o modelo FIT foi avaliado pelo programa do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e recebeu nota A (no entanto, esse dado referese apenas a um modelo, o 1.4 com transmissão mecânica, já que os demais têm classificação B e C). Questionada se os carros já estavam saindo de fábrica com essa informação, disse que “não, porque não é obrigatória”. Destaque negativo para Nissan, Renault, Toyota, e Volkswagen, que se negaram a informar a Flatulência mórbida O Ministério do Meio Ambiente informa: as emissões de gás carbônico a partir da queima de combustíveis fósseis aumentaram 49% entre 1994 e 2007. Apenas o setor de transportes lançou em 2007 146 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. O CO2 é o principal gás causador do efeito estufa, fenômeno natural sem o qual não existiria vida na Terra — pelo menos como a que conhecemos hoje. Se ele não ocorresse, o planeta seria 33oC mais frio. O problema é que o aumento da concentração de gases estufa na atmosfera, resultado dos nossos padrões insustentáveis de produção e consumo, potencializa o fenômeno, aumentando a temperatura do planeta e provocando mudanças climáticas. 18 Além de CO2, um carro emite gases que, apesar de não potencializarem o efeito estufa, são extremamente nocivos ao meio ambiente e causam graves problemas à saúde pública. Confira alguns deles: ● CO (monóxido de carbono): dificulta o transporte de oxigênio para os tecidos. Em altos níveis, reduz a capacidade visual e de aprendizagem. ● SO 2 (dióxido de enxofre): causa irritação das mucosas e dificuldade de respiração. ● NOx (óxidos de nitrogênio, como NO e NO2): produz irritação nas mucosas, agravamento de asma e bronquite, redução da resistência a infecções respiratórias. ● HC (hidrocarbonetos): podem ser mutagênicos e cancerígenos. Revista do Idec | Setembro 2009 média de consumo de combustível dos veículos solicitados. A busca continuou nos SACs online (atendimento feito por meio de e-mails). Das onze montadoras pesquisadas, duas não oferecem esse tipo de atendimento. Adivinhe o que aconteceu com as nove restantes? Não descobrimos nada! Nem índices de emissão de gases poluentes e CO2, nem nível de eficiência energética. Destaque para a Toyota, que alegou que essas informações “não são de domínio público”. Mais uma tentativa: os manuais de proprietário dos veículos. Bingo! Nenhum deles apresenta dados exatos sobre os níveis de emissão de gases poluentes e de CO2, e a média de consumo de combustível. Citroën, Nissan e Toyota sequer indicam o nível de emissão de monóxido de carbono (CO) em marcha lenta, o que contraria a Resolução no 18 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em vigor há quase 23 anos. Visita às concessionárias: nessa altura do campeonato, o que viesse seria lucro. Mas ficamos no prejuízo, pois nenhum dos consultores abordados soube informar os níveis de emissão de gases poluentes e de CO2. Em relação ao consumo de combustível, os dados passados não eram os oficiais e, sim, baseados no que dizem os clientes que fa- O tamanho do estrago ● Cerca de 2 milhões de pessoas morrem por ano em todo o mundo por causa da poluição do ar. ● 20 pessoas morrem por dia na Grande São Paulo devido a doenças agravadas pela poluição do ar. ● 4% dos paulistanos têm níveis de CO nos pulmões semelhantes aos de quem fuma pelo menos 10 cigarros por dia. Fontes: Organização Mundial da Saúde, Faculdade de Medicina da USP e Sociedade Brasileira de Cardiologia zem a manutenção programada de seus carros. Nosso tiro de misericórdia foi enviar um questionário de autopreenchimento a todas as montadoras pesquisadas, solicitando dados sobre níveis de emissões veiculares e perguntando quais informações são passadas ao consumidor e quais as políticas socioambientais das empresas. Não recebemos nenhuma resposta. O silêncio e a desinformação imperam no reinado dos automóveis, mas a pesquisa do Idec revelou que os websites das montadoras, em seus países de origem, apresentam informações muito mais detalhadas. Há inclusive, em alguns casos, ferramentas que calculam os índices de emissão segundo o estilo de condução do motorista. NÃO COLOU No fim de 2008 foi lançado o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV). Coordenado pelo Inmetro, seu objetivo é permitir a comparação das características de eficiência energética dos modelos de veículos disponíveis no mercado. Assim, uma etiqueta (semelhante àquelas já existentes em eletrodomésticos, como fogões e geladeiras) indica quantos quilômetros podem ser percorridos com 1 litro de combustível em trajeto urbano e rodoviário, e no caso de carros bicombustíveis, para o uso de gasolina e álcool. Além disso, cada veículo analisado recebe uma nota de “A” a “E”. A nota “A” é dada ao veículo mais econômico de sua categoria. “A proposta do PBEV é relevante, mas a adesão ao programa ainda é voluntária e está muito aquém do direito à informação, previsto no Código de Defesa do Consumidor”, afirma Adriana Charoux, pesquisadora do Idec e responsável pelo estudo. Apenas cinco montadoras (Chevrolet, Fiat, Honda, Volkswagen e Kia) aderiram ao programa. A Kia não fez parte de nossa pesquisa, pois não figura entre as maiores montadoras do país (embora seja do mes- Do discurso à prática Visto que o acesso às informações é uma grande barreira para se escolher um carro menos nocivo ao meio ambiente, veja o que você pode fazer para reduzir os danos das emissões de seu carro: ● Para percorrer distâncias curtas, use bicicleta ou vá a pé; em trechos mais longos, utilize o transporte público. ● Participe do Dia Mundial Sem Carro, no dia 22 de setembro <http://dia mundialsemcarro.ning.com>. ● Deixe em dia a manutenção do seu veículo. ● Não retire, em hipótese alguma, o catalisador (a retirada não aumenta sua potência e faz com que mais gases poluentes sejam emitidos). ● Desconfie de combustível muito barato, ele pode estar adulterado. ● Faça a inspeção veicular. ● Pratique a carona solidária, dando carona a pessoas que fazem a mesma rota, ou pegue carona com elas. ● Dê preferência aos veículos que participam do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular e que têm classificação “A”. Se você não encontrar informações sobre a eficiência energética e a emissão de gases poluentes e de efeito estufa no carro que deseja comprar, pressione a montadora. Você tem esse direito! mo grupo da Hyundai). As quatro montadoras pesquisadas fabricam, juntas, 167 versões (por exemplo, o Novo Palio, da Fiat, é oferecido em seis versões), e, destas, somente 29 recebem a etiqueta. Mas somente o Picanto, da Kia, tem o selo estampado no para-brisa. Por ora, os selos da Chevrolet, Fiat, Honda e Volkswagen só estão disponíveis nas páginas das entidades que promoveram o PBEV, como o Conpet <www.conpet.gov.br>. Nos Estados Unidos, as montadoras são obrigadas a etiquetar seus veículos desde 1975. Na Europa, embora as etiquetas não sejam obrigatórias, têm adesão maciça das montadoras. Sem contar que, além dos índices de consumo de combustível, também trazem o nível de emissão de CO2 em gramas por quilômetro rodado. WWW.CONPET.GOV.BR O exemplo da Citroën é, no mínimo, curioso. Em seu site, a montadora francesa dá uma dica de como reduzir a emissão de gases poluentes: “Cozinhe o seu prato favorito e convide aquela pessoa que te faz muito feliz; (...) apague todas as luzes e distribua velas pela casa, reduzindo o consumo de luz elétrica”. Casos cômicos à parte, o fato é que nenhuma das onze montadoras pesquisadas publica em seus websites os níveis de emissão de gases poluentes e de efeito estufa de seus veículos. Quem quiser descobri-los, que procure em outro lugar. O Idec procurou. Nossos pesquisadores fizeram-se passar por consumidores e contataram, por telefone, os Serviços de Atendimento ao Consumidor (SACs) das onze empresas. Em nenhum deles foi possível conseguir informações sobre a emissão de gases poluentes e de CO2, tampouco sobre os índices de eficiência energética. A orientação foi para procurarmos a informação, pessoalmente ou por telefone, com os consultores das concessionárias. Foi o que fizemos. Telefonamos para esses consultores e novamente solicitamos as informações desejadas. Etiqueta atual: quase ninguém aderiu FORA DO AR Até meados do mês passado existia um site que permitia a comparação de dados ambientais de todos os modelos fabricados no Brasil em 2008. Era a chamada “Nota Verde”, elaborada pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), submetido ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Além dos níveis de emissão de CO2 e CO, também trazia os índices de emissão de NOx e de aldeídos (CHO), e uma nota final, de zero a dez, estipulada a partir de todas essas variáveis. O Idec enviou carta ao Proconve questionando por que a Nota Verde não era divulgada ostensivamente e Revista do Idec | Setembro 2009 19 DÚVIDA LEGAL CAPA Montadora Sites SAC telefônico* SAC on-line Manuais Visitas a concessionárias** Questionário de autopreenchimento Nada Forneceu informalmente apenas índices de emissão de CO Nada CO em marcha lenta Forneceu, informalmente, consumo de combustível Não respondeu Nada Nada Nada Nem mesmo a emissão de CO em marcha lenta, como determina o Conama Nada Não respondeu Nada Nada Nada CO em marcha lenta Nada Não respondeu Nada Nada Não possui o serviço CO em marcha lenta Nada Não respondeu Nada Informou apenas que o modelo FIT aderiu ao programa de etiquetagem; o índice exato de consumo deveria ser procurado no site do Inmetro Não possui o serviço CO em marcha lenta Nada Não respondeu Nada Nada Nada CO em marcha lenta Nada Não respondeu Nada Nada Nada Nem mesmo a emissão de CO em marcha lenta, como determina o Conama Forneceu, informalmente, consumo de combustível Não respondeu Nada Nada Nada CO em marcha lenta Nada Não respondeu Nada Nada Nada CO em marcha lenta Nada Não respondeu Nada Nada Nada Nem mesmo a emissão de CO em marcha lenta, como determina o Conama Forneceu, informalmente, consumo de combustível Não respondeu Nada Nada Nada CO em marcha lenta Nada Não respondeu * Os atendentes de todos os SACs (exceto Nissan e Volkswagen) recomendaram que as informações solicitadas fossem procuradas diretamente com consultores de concessionárias. Os pesquisadores do Idec telefonaram para esses consultores, cujos números foram passados via SAC. Mesmo nessa segunda tentativa, Renault e Toyota não passaram nenhuma informação; Chevrolet, Citroën, Fiat, Ford, Hyundai e Peugeot forneceram apenas dados informais de eficiência energética; a Honda foi a única que apresentou informação sobre a etiquetagem do Fit, ainda assim pouco precisa ** Quatro montadoras pesquisadas (Chevrolet, Fiat, Honda e Volkswagen) aderiram ao Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular; porém, em suas concessionárias, os vendedores contatados desconheciam a existência do PBEV 20 Revista do Idec | Setembro 2009 aproximadamente um mês, contado a partir de 21 de agosto. O Idec espera que a Nota Verde volte para o website do Ibama e seja amplamente divulgada aos consumidores, pois é um instrumento de orientação importantíssimo na hora da compra, além de conscientizar sobre os impactos do consumo. Você pode verificar se a Nota Verde já voltou ao ar no site <www.ibama.gov.br>. Para Gabriel Murgel Branco, um dos criadores do Proconve, a Nota Verde não é bem-vista pelas empresas. “Elas não gostam de falar dos níveis de emissão dos veículos, alegando que os dados são confidenciais, mas a Nota Verde é importante para o consumo consciente”, diz. Minc: promessa de republicar a Nota Verde até o fim deste mês SÉRGIO LIMA/FOLHA IMAGEM por que apenas os modelos fabricados em 2008 haviam sido avaliados. No entanto, antes que o Instituto recebesse resposta, a Nota Verde foi retirada do ar. Enviamos nova carta ao Proconve, questionando o ocorrido. O próprio Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, ao qual o Ibama está subordinado, enviou resposta ao Idec. Segundo o ministro, a metodologia da Nota Verde não havia sido aprovada e, portanto, seu website nem poderia ter ido ao ar. “[A metodologia] não conseguia sintetizar, de maneira convincente, os dados de emissão de poluentes (quatro diferentes parâmetros) e os de emissão de CO2”, afirmou o ministro. Assim, Minc comprometeu-se a republicar a Nota Verde em Direito a peças de reposição Os fabricantes e importadores são os responsáveis por disponibilizá-las no mercado enquanto o produto for fabricado ou importado, e até mesmo depois de saírem de linha U m belo dia, seu carro quebra. Você o leva à concessionária e lá ele fica por dias e dias. O motivo? Faltam peças de reposição. Pela mesma razão, inúmeros aparelhos eletroeletrônicos costumam ficar encostados, sem uso. Esse é um problema bastante comum, mas para lidar com ele os consumidores contam com o artigo 32 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que garante o fornecimento de peças de reposição de todos os produtos disponíveis no mercado enquanto eles forem fabricados ou importados, e mesmo depois de saírem de linha. E a responsabilidade é do fabricante ou do importador (caso não haja fabricante em território nacional), que devem oferecer peças originais e novas, segundo o artigo 21 do CDC. O fornecedor que empregar peças ou componentes de reposição usados, sem a autorização do consumidor, estará cometendo crime de consumo. Apesar de o artigo 70 do CDC afirmar que os donos de empresa e os representantes legais que cometerem esse crime poderão ser detidos de três meses a um ano, além de terem de pagar multa, Maíra Feltrin Alves, advogada do Idec, diz que nunca viu alguém ser detido por esse tipo de infração. Ao consumidor é garantido o direito de solicitar a troca da peça. Em caso de vício de produto (qualquer defeito que não seja decorrente de mau uso ou de desgaste natural), o fornecedor tem no máximo trinta dias para disponibilizar a peça. Passado esse período, o consumidor pode optar pela substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; pela restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada; ou pelo abatimento proporcional do preço, quando possível. PHOTOS.COM O que as montadoras informam sobre emissão de gases poluentes, CO2 e eficiência energética Todavia, se não se tratar de vício de produto, a lei não estabelece um prazo para a entrega da peça de reposição. Mas o fabricante ou importador deve informar ao consumidor o tempo que ele terá de esperar. Segundo o CDC, quando um produto deixa de ser fabricado, as peças de reposição devem continuar a ser fornecidas por um “tempo razoável”. Mas qual seria esse tempo? “Pois é, essa é uma norma aberta e sem definição clara. Na minha opinião, o fornecimento deveria ser mantido ao menos pelo tempo médio de vida útil do produto”, defende Maíra Feltrin Alves. RECLAMAR PARA QUEM? Em caso de divergências quanto a prazos ou qualquer outro problema relacionado a peças de reposição, o Idec recomenda que, primeiramente, o consumidor procure o fornecedor, e caso o problema não seja resolvido, recorra à Justiça ou ao Procon, que, por serem órgãos públicos, podem multar a empresa, se for o caso, por infração à lei. Revista do Idec | Setembro 2009 21