Os mais altos padrões de qualidade A saúde nas suas mãos Jornal Saúde da Ano 1 - Nº 7 Setembro 2010 - Mensal Preço 100Kz OFERTA Director Editorial: Rui Moreira de Sá Angola Oferta em farmácias, clínicas, consultórios, centros de saúde, hospitais e ginásios www.jornaldasaude.org MINISTÉRIO DA SAÚDE GOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA Jornalistas unem-se pela saúde A Associação Angolana de Jornalistas pela Saúde foi constituída este mês. Vai informar, educar e comunicar para a saúde. Págs. 8 e 9. Sucesso escolar Os contributos da saúde Para que o sucesso escolar infantil não seja uma miragem, é necessário que o seu filho tenha boas condições de saúde. Nesta edição, as médicas Ermelinda Soito Ferreira e Paulina Semedo dão-lhe a conhecer tudo o que precisa de saber para que a escola seja uma boa aliada do bem-estar físico e psíquico das crianças. Pág. 16 A viagem fantástica do sangue Os dez mandamentos para prevenir um ataque cardíaco "Hoje é um bom dia para dar sangue." Eis o apelo do Centro Nacional de Sangue aos angolanos para que se tornem dadores e ajudem a salvar vidas. Pág. 6 Parabéns aos trabalhadores da saúde Leia os conselhos da cardiologista Joseth Rita de Sousa para viver mais anos com saúde. O que comer, beber, que exercício fazer, como diminuir o stress e a depressão. PAGs. 2, 3, 4 e 22. Os trabalhadores da saúde em Angola assinalam amanhã, 25 de Setembro, o seu dia. A direcção do Jornal da Saúde presta a sua homenagem àqueles profissionais que lutam para que as pessoas sejam atendidas com qualidade e respeito. Salienta ainda a necessidade de a categoria dos profissionais da saúde ser cada vez mais reconhecida, uma vez que é fundamental para a qualidade de vida das populações. O Dia do Trabalhador da Saúde é comemorado em memória do médico Américo Boavida, que fez parte do corpo de guerrilheiros do MPLA. A Direcção do Jornal da Saúde 2 EDITORIAL MARIA ODETE MANSO PINHEIRO, Directora-Adjunta [email protected] Empresas socialmente responsáveis contribuem para promover a saúde dos angolanos A ambição do Jornal da Saúde é chegar a toda a população. Gratuitamente. Para, assim, poder cumprir a sua missão de contribuir para o prolongamento e melhoria da vida dos angolanos, através da educação, prevenção e promoção da saúde. Ao mesmo tempo, constitui o meio de informação dos médicos, farmacêuticos, enfermeiros e técnicos. Foi assim que se concebeu o projecto, de raiz, em conjunto com o senhor Ministro da Saúde e o senhor Bastonário da Ordem dos Médicos. Para o efeito, contamos com o apoio das empresas e outras instituições socialmente responsáveis, quer da área da saúde, quer de outros sectores, cujos gestores entendem a dimensão e a importância deste desiderato. Integram voluntariamente as preocupações sociais e ambientais nas suas operações e contribuem, de forma positiva, para toda a sociedade. Pode vê-las já nas nossas páginas. Este mês demos mais um passo naquele sentido. Fomos à Huíla, a convite da Associação dos Diabéticos de Angola (ASDA), e preparámos o terreno para a expansão maciça do Jornal da Saúde nesta Província. Seguir-se-ão as restantes. Não descansaremos. Continue a ler-nos. Contamos também consigo. Passe o Jornal aos seus amigos e familiares. Façalhes bem à saúde. Se é profissional da saúde difunda a informação. A saúde é o maior tesouro! CORAÇÃO Dia Mundial Trabalhe com o coração 10 mandamentos para prevenir um ataque cardíaco Provérbios "Trate primeiro da sua saúde que diamantes são pedras" "Quem tem saúde e liberdade, é rico e não o sabe" "Não há saúde sem satisfação, nem alegria com cuidados" "Dinheiro e saúde só têm valor depois que se perde" "Quem goza de saúde perfeita, é rico sem o saber" "Só se sabe o que é saúde, quando se está doente" FICHA TÉCNICA Parceria: O Jornal da Saúde de Angola é uma publicação mensal de educação e promoção da saúde, estilos de vida saudáveis e prevenção da doença, com a missão de contribuir para o prolongamento e melhoria da vida dos angolanos, através da divulgação de informação de saúde, rigorosa e clara. Ao mesmo tempo constitui um veículo de formação e informação para os médicos, farmacêuticos, enfermeiros, técnicos e outros profissionais de saúde. Conselho editorial: Dra. Adelaide Carvalho, Prof. Dra. Arlete Borges, Dr. Carlos (Kaka) Alberto, Enf. Lic. Conceição Martins, Dra. Filomena Wilson, Dra. Helga Freitas, Dra. Isabel Massocolo, Dra. Isabel Neves, Dr. Joaquim Van-Dúnem, Dra. Joseth de Sousa, Prof. Dr. Josinando Teófilo, Prof. Dra. Maria Manuela de Jesus Mendes, Dr. Miguel Gaspar, Prof. Dr. Miguel Santana Bettencourt Mateus, Dr. Paulo Campos. Colunistas: Nádia Ferreira; Paulina Semedo. Director: Rui Moreira de Sá [email protected]; Directora-a adjunta: Maria Odete Manso Pinheiro [email protected]; Redacção: Arnaldo Vieira; Cláudia Pinto; Esmeralda Miza; João Dila; Paulo Dila. Patrícia Van-Dúnem; Sandra Cardoso; Sofia Filipe. Publicidade: Maria Odete Pinheiro Tel.: 935 432 415 [email protected] Revisão: Marta Olias; Fotografia: António Paulo Manuel (dos Anjos). Editor: Marketing For You, Lda - Rua Comandante Gika, 189 E - 5º - Luanda - Angola, Tel.: +(244) 935 432 415 / 914 780 462, [email protected] Delegação em Portugal: Beloura Office Park, Edif.4 - 1.2 2710-693 Sintra - Portugal, Tel.: + (351) 219 247 670 Fax: + (351) 219 247 679; e-mail: [email protected] Periodicidade: mensal Design e maquetagem: Fernando Almeida; Impressão e acabamento: Damer Gráficas, SA Tiragem: 20 000 exemplares - Encartado no País. Audiência estimada: 100 mil leitores. Distribuição gratuita a médicos, farmacêuticos, administradores hospitalares, enfermeiros, outros profissionais de saúde e à população interessada, nas farmácias, hospitais, centros de saúde, ginásios e health centres. Joseth Rita de Sousa Médica cardiologista Ordem dos Médicos Membro do Conselho Editorial do Jornal da Saúde Adopte um estilo de vida activo e diminua os factores de risco para uma vida longa. H á 10 anos, a Fe d e r a ç ã o Mundial do Coração (World Heart Federation) instituiu o último domingo de Setembro como o Dia Mundial do Coração, uma vez que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em todo mundo (cerca de 17,1 milhões de mortes por ano). Esta federação é constituída por aproximadamente 189 instituições e associações médicas ligadas ao coração, distribuídas em mais de 100 países. A maior missão desta fe- deração é preventiva. Neste sentido, promove em muitos países a realização de uma série de actividades, entre fóruns científicos (rastreios, palestras, etc.), exposições, espectáculos, torneios desportivos e outros, para a consciencialização sobre o risco cardiovascular e a difusão de hábitos saudáveis. A cada ano é definido um lema para esta campanha. Em 2010, o lema é "Eu trabalho com o coração", pretendendo-se valorizar o estilo de vida activo para uma vida longa e estimular a prática rotineira do exercício físico para melhor fun- cionamento do coração como bomba. Angola também já aderiu, mas de forma ainda tímida, a esta corrente mundial. É necessário fazermos todos juntos muito mais em prol da prevenção das doenças cardiovasculares. AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES Doenças cardiovasculares são todas as entidades em que existe alteração do sistema circulatório, isto é, do coração e dos vasos sanguíneos, tais como artérias, veias e capilares. A designação "cardiovasculares" advém de "cardio" Setembro 2010 JSA 3 - Pare de fumar. Se é fumador, parar de fumar diminui muito o risco de ocorrer um infarto do miocárdio (ataque cardíaco). Este risco diminui 50% em dois anos, podendo tornar-se igual ao de alguém que nunca fumou em 7 a 12 anos. O risco relativo de um infarto dobra a partir de 5 a 10 cigarros por dia. Este risco aumenta até oito vezes nos indivíduos que fumam cerca de duas carteiras por dia (40 cigarros). 1 cure restringir a ingestão de álcool em 30 g de etanol por dia (700 ml de cerveja = 2 latas de 350 ml, ou 300 ml de vinho = 2 taças de 150 ml, ou 100 ml de destilado = 3 doses de 30 ml). Se é mulher, essa ingestão deverá ser de 15 g de etanol, ou seja, 50% da quantidade aconselhada aos homens. Lembre-se: o álcool é calórico, pode aumentar os níveis de açúcar, ácido úrico e triglicerídeos, além de poder causar dependência física e psíquica (alcoolismo). 2 5 3 - Não deixe de ir a consultas médicas periódicas. Consulte regularmente o(s) seu(s) médico(s) de confiança. Retorne ao consultório para as reavaliações clínicas dentro do tempo estipulado pelo seu médico. - Faça exercício físico regularmente. Recomenda-se a realização de exercícios físicos aeróbicos (andar, correr, pedalar, dançar, nadar e fazer hidroginástica), pelo menos 3 vezes por semana (5 a 7 vezes para os indivíduos que precisam perder peso), no mínimo durante 30 minutos, com uma intensidade moderada (ao fazer o exercício, fica um pouco ofegante, mas consegue dizer frases inteiras). As actividades físicas do dia-a-dia (ex.: caminhar durante 15 minutos para ir ao trabalho e mais 15 minutos para voltar do trabalho) também trazem resultados positivos. (coração) e de vasculares (vasos sanguíneos). OS FACTORES DE RISCO Factores de risco cardiovascular são factores que geralmente associados possibilitam o desenvolvimento de doença cardiovascular, habitualmente mais comum a partir dos 45 anos de idade. Por causa dos hábitos erróneos do dia-a-dia, tais como trabalhar sem descanso, fumar muito, consumo de alimentos muito salgados, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, de doces, sedentarismo (pessoas que se movimentam pouco), excesso de peso, cada vez mais cresce o número de doentes independentemente da idade, sexo, raça e nível social. Todos estes factores dependem do comportamento do indivíduo. Existem outros factores que são independentes, isto é, não podem ser modificados, tais como a idade, sexo e história familiar, que também influenciam este quadro dramático. DOENÇAS SILENCIOSAS As doenças cardiovascula- res muitas vezes são silenciosas e só se manifestam de forma muito grave. Exemplo desta situação são pessoas aparentemente saudáveis que são levadas às urgências pelos familiares porque têm uma dor forte no peito, deixam de mexer os braços e/ou as pernas, paralisam um lado do corpo, ficam com a boca torta, deixam de falar ou caem ao chão aparentemente sem razão. Quando ainda for possível, o médico diagnostica o que vulgarmente se chama trombose ou ataque do coração. - Alimente-sse de uma forma saudável. Procure ingerir uma quantidade de calorias diárias que lhe ajude a atingir um peso adequado. A ingestão diária de fruta, verduras e legumes ajuda a prevenir um infarto do miocárdio. Limite a ingestão de sal em menos de 6 gramas por dia (cerca de 6 colheres rasas de chá de sal, ou seja, 4 colheres rasas de chá de sal para o preparo dos alimentos mais duas colheres de sal próprio dos alimentos). Evite os alimentos ricos em colesterol (ingira menos de 300 mg de colesterol por dia), os quais são exclusivamente de origem animal (derivados do leite com alto teor de gordura, gordura aparente das carnes, gema dos ovos, pele das aves, miúdos, embutidos e certos frutos do mar). Evite também as gorduras saturadas (frituras) e as gorduras trans ou hidrogenadas, que se encontram em alguns produtos industrializados, como molhos, sorvetes, bolos e certos biscoitos. Procure ingerir peixe, principalmente os ricos em ácidos graxos ómega-3 (sardinha, truta, salmão e bacalhau), pelo menos duas vezes por semana. Os fitoesteróis são substâncias antioxidantes de origem vegetal que podem ser encontradas em margarinas enriquecidas, uma óptima opção para substituir a manteiga ou as margarinas com gorduras hidrogenadas. Procure ingerir alimentos ricos em fibras (cereais, fruta, verduras e legumes). Derivados da soja, grão, integrais, nozes, assim como outros alimentos, apresentam efeitos comprovadamente benéficos sobre as gorduras do sangue e a aterosclerose (leia as páginas sobre alimentos funcionais). 4 - Procure ingerir bebidas alcoólicas moderadamente. A ingestão regular de bebidas alcoólicas, como o vinho tinto, não deve ser estimulada, com o objectivo de prevenir um infarto do miocárdio. Se é homem e costuma beber, pro- - Persiga o seu peso ideal. Um índice de massa corporal (IMC = peso dividido pela altura ao quadrado) inferior a 25 kg/m2 e uma circunferência abdominal inferior a 94 cm nos homens e 80 cm nas mulheres são as metas a atingir quando o assunto é peso e medidas. Para uma perda de peso, uma dieta hipocalórica e a prática diária de exercícios físicos são fundamentais. A utilização de medicamentos poderá ser útil. A cirurgia bariátrica pode ser indicada para casos seleccionados. 6 7 - Realize todos os exames complementares solicitados pelo seu médico. O resultado destes exames será fundamental para a avaliação do seu quadro clínico e, consequentemente, para a definição de um plano de prevenção e tratamento adequado a si. 8 - Não deixe de usar as suas medicações de uso contínuo. Para o combate dos factores de risco para o infarto do miocárdio (como a hipertensão arterial, as dislipidemias, a diabetes mellitus, a obesidade, o hábito de fumar, entre outros), poderá ser necessária a utilização de medicamentos. A maioria destas drogas será de uso contínuo e indefinido. Use regularmente as medicações prescritas pelo seu médico. Não pare de usá-las sem a permissão do mesmo. Evite trocas no balcão das farmácias. 9 - Combata o stress e a depressão. Se está stressado ou até depressivo, procure o seu médico de confiança. Estas duas situações aumentam o risco de sofrer um infarto do miocárdio. Provavelmente será necessária a avaliação de um profissional especializado na área, como um psiquiatra ou psicólogo. Exercícios físicos, técnicas de relaxamento, psicoterapia e uso de medicamentos poderão ser necessários. 10 - Dedique pelo menos um dia da semana totalmente para si e para o convívio junto dos seus familiares. Permaneça a maior parte do tempo possível junto das pessoas que ama. Procure viver em paz e harmonia com o mundo que está à sua volta. 4 CORAÇÃO Setembro 2010 JSA "O conselho para viver mais anos uma vida saudável é que tenha tempo para si, faça exercício físico regularmente sob orientação médica, aumente o consumo de frutas, legumes e verduras, ou melhor, opte por uma alimentação diversificada, troque o guisado pelo grelhado, não gaste o seu dinheiro a comprar cigarros e bebidas alcoólicas e tenha o hábito de ir ao médico para saber como está a sua saúde" Joseth de Sousa “Os hábitos saudáveis devem começar com as crianças” CONSELHOS PARA VIVER MAIS ANOS SAUDÁVEIS O conselho para viver mais anos uma vida saudável é que tenha tempo para si (não só de trabalho vive o homem; tire férias, dê um passeio), faça exercício físico regularmente sob orientação médica (caminhe pelo menos 30 minutos três vezes por semana), aumente o consumo de frutas, legumes e verduras, ou melhor, opte por uma alimentação diversificada, troque o guisado pelo grelhado, não gaste o seu dinheiro a comprar cigarros e bebidas alcoólicas, tenha o hábito de ir ao médico para saber como está a sua saúde e para ser mais bem orientado, de forma a prevenir situações graves, como doença do coração (insuficiência cardíaca, infarto, etc.), doenças do rim (insuficiência renal), má circulação, acidente vascular cerebral, etc. Todos os hábitos saudáveis devem começar com as crianças. Se se sentir cansado, dificuldade em respirar (falta de ar, respiração curta), dor no peito, batimento rápido do coração, dores nas pernas ao andar, inchaço no rosto e nas pernas, urinar pouco, etc., vá ao médico, não fique com o problema em casa, ou procure curiosos, para não atrasar o início do tratamento. O CORAÇÃO BATE 100 MIL VEZES POR DIA O coração humano é o órgão responsável pelo percurso do sangue bombeado através de todo o organismo, que é feito em aproximadamente 45 segundos em repouso. Bate cerca de 100 mil vezes por dia, bombeando aproximadamente 7 500 litros de sangue. Neste tempo o órgão bombeia sangue suficiente a uma pressão razoável, para percorrer todo o corpo nos sentidos de ida e volta, transportando assim oxigénio e nutrientes necessários às células que sustentam as actividades orgânicas. LOCALIZAÇÃO E POSIÇÃO O coração é o órgão central da circulação, localizado na caixa torácica, levemente inclinado para a esquerda e para baixo (mediastino médio). Sendo constituído por uma massa contráctil, o miocárdio, revestido interiormente por uma membrana fina, o endocárdio, é envolvido por um saco fibro-seroso, o pericárdio. O coração é constituído por duas porções: a metade direita ou coração direito, onde circula o sangue venoso, e a metade esquerda, onde circula sangue arterial. Cada uma destas metades do coração é constituída por duas cavidades, uma superior – a aurícula – e uma inferior – o ventrículo. Estas cavidades comuni- cam entre si pelos orifícios auriculoventriculares. As duas aurículas encontram-se separadas pelo septo interauricular, e os dois ventrículos pelo septo interventricular. Na cavidade atrioventricular esquerda encontra-se a valva mitral, e no orifício atrioventricular direito a valva tricúspide (são valvas que se abrem em direção ao ventrículo e se fecham para evitar o refluxo do sangue). A circulação sanguínea é assegurada pelo batimento cardíaco, ou seja, o batimento do coração, que lança o sangue nas artérias. O coração é um órgão musculoso que, no homem, tem o tamanho aproximado de um punho. FUNCIONAMENTO O coração está constantemente a contrair e a relaxar, para bombear todo o sangue do nosso corpo. É uma bomba hidráulica, em que os tubos de saída são as artérias e os tubos de entrada as veias; o líquido que anda a circular é o sangue. O seu sincronismo actua como se fossem duas bombas trabalhando simultaneamente. Uma das bombas engloba a aurí- cula e o ventrículo direitos e a outra a aurícula e o ventrículo esquerdos. A função da aurícula e do ventrículo direitos é arrastar o sangue para os pulmões, onde se liberta o dióxido de carbono e se fornece de oxigénio. Por outro lado, a aurícula e o ventrículo esquerdos têm o trabalho de arrastar o sangue enriquecido de oxigénio para todas as partes do corpo. Quer viver mais anos saudáveis? Faça exercício físico, sob orientação médica, três vezes por semana, durante pelo menos 30 minutos Setembro 2010 JSA PUBLICIDADE 05 6 SANGUE Setembro 2010 JSA A rota do sangue O PAÍS COLHE POR ANO CERCA DE 80 MIL UNIDADES DE SANGUE. PARA SATISFAZER AS SUAS NECESSIDADES ANGOLA PRECISA DE TRÊS VEZES MAIS. tável. Nesta sala, o dador permanece não mais de 10 minutos, e de seguida é servido um outro lanche baseado em frutas, iogurtes, etc., para aumentar o seu potencial energético. PATRÍCIA VAN-D DUNEM O sangue humano é considerado um elemento terapêutico insubstituível em várias situações clínicas de risco de vida. Dar sangue é um dever cívico de todos cidadãos saudáveis para com a sua comunidade. A promoção da dádiva, a selecção dos dadores, a colheita e o tratamento do sangue são algumas das tarefas do Centro Nacional de Sangue, uma entidade do Ministério da Saúde que coordena todas as actividades ligadas à doação e transfusão de sangue a nível do país e que tem como objectivo primordial assegurar o acesso ao sangue seguro a todos os cidadãos que dele necessitarem. O Centro, que deveria abastecer as unidades hospitalares de todo país, não tem capacidade para responder às reais necessidades de sangue nos hospitais, em consequência do ainda reduzido número de dadores voluntários. Minimamente equipado, o Centro Nacional de Sangue abastece apenas duas unidades hospitalares públicas, nomeadamente o Hospital Pediátrico de Luanda e o Josina Machel. Luanda é, segundo o Centro Nacional de Sangue, a província que consome mais sangue e seus componentes. Alcançar 100% de doação de sangue voluntária e não remunerada é umas das metas que estão longe de ser atingidas. Com uma necessidade de 20 a 50 dadores voluntários por dia, o Centro Nacional de Sangue regista apenas, em média, 1 a 2 dadores voluntários por dia e cerca de 15 dadores familiares. Segundo dados avançados por uma responsável do Centro, trata-se de um dos maiores défices de sangue dos últimos anos. A referida fonte, que defende um maior trabalho de sensibilização no sentido de aumentar ao máximo o número de dadores voluntários, fez saber que cerca de 80% dos dadores que procuram este Luísa Cambelela “As cirurgias cardíacas e os transplantes hepáticos são algumas das intervenções que necessitam de grandes quantidades de sangue” António Domingos Kiteque a dar sangue – um exemplo de cidadania responsável! serviço são familiares, o que constitui um risco acrescido, já que estudos revelam que a maior parte dos indivíduos que contraíram infecções por transfusões em todo mundo recebeu doações de sangue dos seus familiares. DOAÇÃO DE SANGUE Segundo dados de 2007 do Centro Nacional de Sangue, o país colhe por ano cerca de 80 000 unidades de sangue, das quais 28 468 provêm de Luanda e 51 619 das restantes províncias, mas, para satisfazer as suas necessidades, Angola precisava de aproximadamente 280 000 unidades "Está habilitado a dar sangue todo e qualquer cidadão que tenha entre 18 e 60 anos de idade, pelo menos 50 kg e que seja saudável" "Se o candidato a dador for aprovado, é-lhe oferecido um lanche" de sangue. Está habilitado a dar sangue todo e qualquer cidadão que tenha entre 18 e 60 anos Após a colheita, o sangue segue dois caminhos: para o laboratório de doenças transmissíveis e para o laboratório de imuno-hematologia de idade, pelo menos 50 kg e que seja saudável. Os homens podem doar sangue 4 vezes por ano, enquanto as mulheres podem fazê-lo apenas 3 vezes por ano. Ao chegar ao Centro Nacional de Sangue, o dador tem o primeiro contacto com os técnicos de saúde no denominado laboratório de triagem, onde lhe é feito o doseamento da hemoglobina e a pesquisa do plasmódio, ou gota espessa, que poderá detectar ainda outras prováveis infecções que o dador tenha. A triagem clínica é um outro momento da dádiva de sangue. Numa sala própria, o dador ou candidato a dador deve ser sincero quando é questionado de forma confidencial sobre a existência de algum problema de saúde ou comportamento de risco que tenha tido e que o impeça de dar sangue. É ainda nesta área que o potencial dador é aprovado, reprovado ou lhe é dada a possibilidade de se auto-excluir, sem no entanto ter de justificar a sua auto-exclusão ao técnico de saúde. Se o candidato a dador for aprovado, é-lhe oferecido um lanche e logo a seguir dirige-se para a sala de colheita, onde todo o material utilizado é descar- TESTAGEM DO SANGUE Após a colheita, o sangue segue dois caminhos, ou seja, para o laboratório de doenças transmissíveis e para o laboratório de imuno-hematologia, este último para saber o grupo sanguíneo e de seguida ser processado. Para o rastreio das infecções transmissíveis pela transfusão são feitos testes para o despiste de VIH-1/2, sífilis, hepatite B e C e malária. A prevalência média de VIH em dadores de sangue a nível nacional é de 1,6%, de hepatite B 5,4%, de hepatite C 1,7% e de sífilis 0,6%. Depois deste processo, são obtidos três componentes do sangue, nomeadamente o concentrado de glóbulos vermelhos, que tem a capacidade de transportar oxigénio para todos os tecidos do corpo e que é muito utilizado em caso de anemia e hemorragia. O concentrado de glóbulos vermelhos é refrigerado no chamado banco de sangue, a uma temperatura que vai de 2°C a 8°C, e pode ser conservado durante 35 dias. Pode-se ainda obter o plasma, que pode ser conservado por um ano a uma temperatura de -30°C, e as plaquetas, conservadas a uma temperatura que vai de 22°C a 23°C durante 5 dias. Para a médica Luísa Cambelela, especialista em imuno-hemoterapia do Centro Nacional de Sangue, é necessário que os serviços de hemoterapia acompanhem o desenvolvimento do sector da saúde em Angola. A médica explica que as cirurgias cardíacas e os transplantes hepáticos são algumas das intervenções que necessitam de grandes quantidades de sangue. Segundo Luísa Cambelela, numa cirurgia cardíaca o doente pode receber 3 a 5 unidades de sangue ou mais, enquanto num transplante hepático o doente pode receber até 30 unidades de sangue. Organizações não governamentais, associações juvenis, empresas e igrejas são alguns dos parceiros do Centro Nacional de Sangue, que, através de doações voluntárias, o ajudam a manter o normal funcionamento. Setembro 2010 JSA GESTÃO HOSPITALAR 7 CONFERÊNCIA INTERNACIONAL Peritos debatem a gestão das unidades de saúde O s gestores das unidades de saúde de Angola e dos restantes países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reúnem-se, em Luanda, de 27 a 29 de Outubro, na IV Conferência de Gestão Hospitalar para debater, com especialistas convidados, a eficiência na administração de unidades de saúde e o seu contributo para a melhoria dos sistemas nacionais. A inovação em gestão clínica, os modelos mais adequados, a infecção hospitalar e seus custos, a formação, a bioética e a responsabilidade social das instituições de saúde são alguns dos temas em análise no encontro, que conta com a participação de peritos da OMS, do Bastonário da Or- dem dos Médicos de Angola, Pinto de Sousa, do presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, Pedro Lopes, do presidente da Federação Brasileira dos Hospitais, Luiz Aramicy, e do Bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique, Aurélio Zilhão, entre outros oradores de Cabo Verde e Guiné-Bissau. Em simultâneo, decorre a primeira edição da HOSPITALAR ANGOLA, um salão profissional onde são expostos os mais recentes produtos, tecnologias e serviços para a modernização de clínicas e hospitais, em prol da saúde das populações, apresentados pelas principais empresas farmacêuticas e de equipamentos. De acordo com Mário Dias, comissário do evento, "o espaço exposicional está quase esgotado, dada a oportuni- dade única que é oferecida de comunicar com gestores e médicos dos PALOP". Para o vice-ministro, Carlos Masseca, que presidirá à sessão de abertura, "só com gestores capacitados para olharem para um hospital como um todo, capazes de utilizar da melhor maneira os recursos postos à sua disposição é que podemos atingir o objectivo final de um serviço de saúde, a satisfação total dos utentes". De acordo com este responsável, "queremos que os nossos gestores tirem o maior proveito desta conferência e exposição" e também que "possamos oferecer aos que vêm aquilo que é o conhecimento acumulado dentro do nosso país". A Conferência é encerrada pelo ministro da Saúde de Angola. Mais informações em www.gestaohospitalar.org. 8 ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE SAÚDE Para o jornalista Liberato Furtado (à esq.) “como profissionais, podemos criar acções integradas para produzir e transmitir os propósitos e as mensagens utilitárias do sistema de saúde às comunidades” A jornalista Stela Silveira intervém no debate Jornalistas "unem-se" pela saúde Um encontro longo, mas conclusivo, na passada quinta-feira, 16 de Setembro de 2010, proclamou a Associação Angolana de Jornalistas pela Saúde (AJOSA). Vai informar, educar e comunicar para a saúde. A ltamente determinado, o grupo pretende trabalhar para a melhoria da saúde e o bem-estar social em Angola. "É mais um parceiro do MINSA e do Ministério da Comunicação Social", disse a Dr.ª Paulina Semedo, que também fundou a AJOSA. "Permitirá a análise e diagnósticos na procura de soluções de saúde e a melhoria do comportamento das pessoas. O objectivo é a advocacia da Associação em busca de mais parceiros em prol da saúde dos angolanos." A assembleia geral decorreu no Centro de Educação Ambiental da Elisal, em Luanda, e, por unanimidade, ela aprovou os estatutos da AJOSA como uma associação de âmbito nacional, pessoa colectiva de direito privado, nãogovernamental, isenta de ideologias políticas, partidárias ou religiosas e possuindo fins não lucrativos. "Uma vez concluído este acto, vamos passar agora ao processo de legalização junto do sistema judicial", disse o jornalista Herculano Coroado, a quem foi atribuído o cargo interino de assistente executivo da AJOSA, até à nomeação dos corpos gerentes da Associação. "Segue-se uma fase muito importante e democrática da nossa Associação." Nesta assembleia constituinte, os membros aprovaram a proposta da atribuição do título de presidente de honra da AJOSA a Paixão Júnior, o actual PCA do Banco de Poupança e Crédito. O evento reuniu jornalistas, médicos e empresários, que, juntos, fundaram a AJOSA e prometem trabalhar na melhoria da saúde e alargar o bem-estar social. ADVOCACIA SOCIAL "O conhecimento dos problemas da saúde ajudaria a esclarecer quer os gestores quer a sociedade", disse o jornalista Teixeira Cândido, que participou na assembleia geral que fundou a AJOSA. "É uma associação que vai permitir fazer advo- cacia social e ajudar os directores dos hospitais públicos e privados, por exemplo, para que conheçam melhor o nível de satisfação das pessoas a quem servem." Embora se antecipe uma adesão de vários outros associados, a AJOSA vai reunir jornalistas na luta pela melhoria do deficiente Sistema Nacional de Saúde Pública. "Como profissionais, podemos criar acções integradas para produzir e transmitir os propósitos e as mensagens utilitárias do sistema de saúde às comunidades", afirmou o jornalista Liberato Furtado, que acredita na "Como o seu principal objecto social, a AJOSA vai informar, educar e comunicar para a saúde" "A AJOSA vai reunir jornalistas na luta pela melhoria do Sistema Nacional de Saúde Pública" possibilidade da melhoria da relação entre a comunicação social e a saúde em Angola. "Porque não fazer chegar às autoridades e ao público as inquietações populares e, ao fim, contribuir na concepção de políticas públicas para a saúde?" O médico ginecologista Professor Doutor Pedro de Almeida coordena a Mesa da Assembleia Geral (AG). Já o jornalista e director do semanário O País, Luís Fernando, é o subcoordenador. A jornalista e directora do Centro de Educação Ambiental de Luanda, a secretária da Mesa até à eleição dos corpos gerentes. Como o seu principal objecto social, a AJOSA vai informar, educar e comunicar para a saúde. Também antecipa a defesa e a promoção da ciência, o direito universal aos cuidados de saúde, o livre acesso às fontes de informação e a liberdade de expressão. Além disso, compromete-se a fazer advocacia e a proteger os interesses de todos os seus membros e associados. Mas é no âmbito da responsabilidade social que assentam os seus objectivos. "A saúde não é só vista do ponto de vista particular", alertou a Dr.ª Paulina Semedo. Após a fundação da AJOSA, "quando as pessoas têm de ter um comportamento social, no contexto de comunidade, isto ganha mais peso. Cada indivíduo tem de ser visto como membro associado." Membros fundadores e ordinários poderão concorrer às eleições para os quatro órgãos sociais da AJOSA, os Conselhos de Direcção, de Peritos, Benfeitores e Fiscal. A Comissão Eleitoral, dirigida pelo engenheiro Marcos Nostre, deve receber as listas até 15 dias depois da proclamação da Associação. As eleições são aguardadas duas semanas após a recepção das listas de candidatos pela Comissão Eleitoral. Setembro 2010 JSA 9 ENTREVISTA AO DR. PEDRO DE ALMEIDA Um trabalho sob o signo da humanização O desafio está lançado. A Associação Angolana de Jornalistas pela Saúde (AJOSA) passa a ser uma realidade. Mas juntar jornalistas para engajar a favor da saúde e do bem-estar social uma sociedade dominada pela pobreza não será fácil. ESMERALDA MIZA A missão é liderada pelo médico e professor da Universidade Agostinho Neto (UAN), Pedro de Almeida, ginecologista obstetra da Maternidade Lucrécia Paím que coordena a Mesa da Assembleia Geral. O Dr. Pedro é um antigo director do Programa Nacional de Informação e Educação para a Saúde do Ministério da Saúde. Foi secretário permanente da Comissão Nacional de Saúde, sendo hoje um sénior profissional de saúde com um longo historial no jornalismo angolano. O Jornal da Saúde falou com o Dr. Pedro de Almeida. – Quais os objectivos da AJOSA? – A Associação Angolana de Jornalistas pela Saúde (AJOSA) é uma organização nacional não governamental que tem como grande objectivo estratégico adequar a relação entre a comunicação social e o sector hospitalar do sistema angolano de saúde, para que os serviços sanitários sejam prestados à população em geral, sob o signo da humanização. A AJOSA tem como balizas fundamentais contribuir para uma melhor informação, comunicação e educação pela saúde, impulsionando o acesso universal aos cuidados de saúde por parte da população. A acção da AJOSA estará virada essencialmente para as grandes endemias, tendo a malária em primeiro lugar, saúde materno-infantil, doenças crónicas não transmissíveis, saúde mental, saneamento básico e problemas ambientais, entre outras prioridades. – Quais são as expectativas? – As expectativas em torno da AJOSA são bastante animadoras. A iniciativa da sua constituição conta com o apoio inequívoco dos Ministérios da Saúde e da Comunicação Social, duas estruturas do executivo angolano, em relação às quais os membros da Associação contam obter o grande suporte na sua missão de usar os meios de comunicação social para elevar a responsabilidade social, reforçar a confiança pública para a melhoria do estado de saúde e bem-estar social da população em Angola. Em nosso entender, a existência de uma associação como a AJOSA reflecte a materialização da acção de um punhado de pessoas, interessadas no bem-estar da colectividade, como exercício de cidadania, obedecendo a valores como a liberdade de expressão, responsabilidade social, respeito pela diferença, humanismo, honestidade, transparência, rigor, ciência e compromisso. – Que sentimentto tem, quando o desafio é enorme? – O sentimento que me anima é o de franca dedicação, buscando sinergias, para que o projecto AJOSA cresça, se desenvolva e ganhe maturidade e notoriedade necessárias, com o esforço e entrega dos seus membros e amigos da Associação. Apesar da grandeza do desafio, o nosso querer saberá suplantar todas as adversidades, dada a nobreza dos nossos propósitos, cujo fim último é o de tornar a nossa terra-mãe Angola um melhor lugar para se viver. – O senhor é médico e lidera uma associação de jornalistas. O que isso significa? – Neste momento, estou a trabalhar com um grupo de companheiros que procura unir esforços visando dar corpo à AJOSA. Neste conjunto de pessoas que exercitam o seu direito de cidadania há jornalistas, comunicólogos, marketistas, educadores, juristas, médicos e outros agentes sociais. Apesar da minha formação médica, considero-me com sensibilidade para trabalhar com todos os companheiros da AJOSA, incluindo os jornalistas, que constituem o grosso da equipa. Na condição de médico, penso ter condições de contribuir para uma ligação mais estreiPedro de Almeida “Considero de suma importância este tipo de advocacia” ta entre o sector de saúde e o da comunicação social. "UM GANHO PARA A SOCIEDADE ANGOLANA, AS POPULAÇÕES…" Luís Fernando Presidente da Associação Angolana de Apoio aos Doentes de Anemia Falciforme (ADAF) O surgimento de uma entidade como a Associação Angolana de Jornalistas pela Saúde é claramente um ganho que a sociedade angolana vai ter. As populações nas suas comunidades, o nosso povo, todos, vão poder contar com a ajuda fundamental de profissionais que, não sendo técnicos nas artes das curas, dos diagnósticos, da prestação directa dos cuidados de saúde, são, contudo, elementos-chave de um sistema que tem de funcionar em perfeita interligação para ser eficaz. A saúde hoje é cada vez mais prevenção. Antecipar-se aos problemas, às crises, às epidemias. Os bons sistemas nacionais de saúde apoiam-se cada vez mais no conceito da prevenção, da educação das populações sobre como lidar com os fenómenos susceptíveis de pôr em risco a sua integridade física, o bem-estar das suas famílias, o meio que os circunda. A ANJOSA, a meu ver, é um parceiro de peso com que o Ministério da Saúde vai poder contar, porque será sempre fundamental uma comunicação feita por gente que sabe, que entende o peso das mensagens, dos riscos adjacentes aos ruídos entre quem emite e quem recebe a informação. A humanização dos serviços de saúde está na ordem do dia e os jornalistas podem com o seu trabalho converter-se num fortíssimo apoio do Estado na aplicação das suas políticas no campo da assistência médica, da prevenção, da saúde de uma maneira geral. Acredito nas boas intenções da ANJOSA e no seu papel muito nobre. Herculano Coroado “A nossa saúde precisa do apoio daqueles que podem ajudar a prevenir os males da saúde, os jornalistas, os médicos, os membros comunitários e as pessoas em geral” ENTREVISTA A HERCULANO COROADO Um trabalho sob o signo da humanização Saúde e bem-estar são um bem procurado por muitos angolanos. O drama abre oportunidades para os jornalistas que proclamaram a AJOSA, a Associação Angolana de Jornalistas pela Saúde, no Centro de Educação Ambiental de Luanda. O jornalista Herculano Coroado é o assistente executivo interino da Associação. O Jornal da Saúde entrevistou-o. ESMERALDA MIZA – Como jornalista, qual é a sua visão em relação à saúde em Angola? – Em progresso. Julgo que tem havido novos investimentos do governo angolano e da cooperação internacional. Isso é encorajante. Mas muito mais pode ser feito. Seria injusto dizer que as coisas estão satisfatórias. Com efeito, ao invés de reclamarmos, decidimos fundar e proclamar a AJOSA para ajudar a melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. – Porquê a Associação de Jornallistas pela Saúde? – Porque a nossa saúde precisa do apoio daqueles que podem ajudar a prevenir os males da saúde, os jornalistas, os médicos, os membros comunitários e as pessoas em geral. Doenças como a malária, a maior fonte de morte em Angola, são puramente preveníveis. – Grandes debates já surgiram nos órgãos de comunicação ação no sector da saúde. Qual será social à volta da humaniza o vosso papel neste campo? – Todo. Primeiro, porque humanizar significa comunicar melhor. Segundo, porque o nosso objectivo é criar responsabilidade social e confiança pública. Se as pessoas não confiam nos hospitais morrem em casa ou vão em busca da ajuda de um curandeiro. Isso seria um retrocesso. A informação jogaria um papel fundamental no sentido da humanização dos serviços e da percepção que as pessoas têm sobre o real papel de um agente de saúde. dicos e jornalistas? – A Associação vai congregar apenas méd – Todos estes e aqueles que estejam interessados neste projecto totalmente laico e apolítico. Em questão de responsabilidade social, há espaço para todos. – O que é necessário para pertencer à Ajosa? – Aderir à causa, pagar as quotas, cumprir os estatutos e seguir os regulamentos da Associação. 10 AMBIENTE Setembro 2010 JSA Luandenses produzem quatro milhões de quilos de lixo por dia KILAMBI KIAXI E CACUACO SÃO OS MUNICÍPIOS MAIS AFECTADOS. ELISAL QUER EDUCAR OS CIDADÃOS São cerca de quatro mil toneladas de resíduos que a população da capital gera diariamente. A Empresa de Limpeza e Saneamento de Luanda (Elisal) quer educar e sensibilizar os cidadãos para esta problemática e suas consequências no ambiente e na saúde. O Programa de Educação Ambiental, já em curso em 18 escolas, prevê a realização de 80 campanhas de sensibilização nos mercados, praias, junto ao pequeno comércio, escolas e estações de abastecimento de combustível, com o apoio de 70 instrumentos de sensibilização, com destaque para a "lixomachimba", conforme relatou Stella Silveira, directora de comunicação e imagem da empresa, em entrevista ao Jornal da Saúde. ESMERALDA MIZA QUAL A QUANTIDADE DE LIXO PRODUZIDA EM LUANDA E QUAIS OS MUNICÍPIOS QUE MAIS O PRODUZEM? A quantidade de resíduos produzidos depende muito da densidade populacional por município, recursos humanos e materiais disponíveis, características socioeconómicas e culturais da população, entre outros factores. QUAIS OS MUNICÍPIOS MAIS AFECTADOS PELO LIXO, E PORQUÊ? Os municípios mais afectados são Kilamba Kiaxi e Cacuaco, devido, principalmente, à estruturação urbana, que dificulta os acessos para a recolha fundamentalmente na estação chuvosa. QUAL A QUANTIDADE DE LIXO QUE A ELISAL RECOLHE DA CAPITAL DIARIAMENTE? Cerca de quatro mil toneladas de lixo por dia. QUAIS OS MAIORES DESAFIOS NESTE TRABALHO DE RECOLHA? Um dos nossos maiores desafios é trabalhar com a comunidade no grande Programa de Educação Ambiental, que prevê a realização de campanhas de sensibilização nos mercados, praias, junto ao pequeno comércio, nas esco- las, estações de abastecimento de combustível, entre outros, com o objectivo de introduzir alterações comportamentais efectivas junto do público mais jovem, inicialmente, por se entender ser este o que melhor responde à mudança comportamental, mas também poder levar o programa às famílias. Outro dos desafios é sentirmos o crescimento paulatino dos nossos colaboradores (as empresas contratadas pela Elisal envolvidas no processo), quer do ponto de vista operacional quer de equipamento. QUE DESTINO É DADO AO LIXO HOSPITALAR? O lixo hospitalar é incinerado na incineradora oficial, que é operacionalizada pela Recolix. Só depois é que vai para o Aterro Sanitário dos Mulenvos. PARA QUE SERVEM OS ATERROS SANITÁRIOS EM TODO ESTE PROCESSO? Os aterros sanitários servem para dar o tratamento e deposição ou destino final aos resíduos sólidos urbanos, tendo em conta os princípios ambientalistas de protecção da terra, da água e do ar. Para o caso de Luanda, temos o Aterro Sanitário dos Mulenvos, que é o destino final de todos os resíduos sólidos recolhidos diariamente na província de Luanda. DE QUE FORMA SE PODE RECICLAR E REAPROVEITAR O LIXO QUE PRODUZIMOS EM LUANDA? Retirando da massa dos resíduos produtos que possuam potenciais económicos e características de reaproveitamento e reciclagem. Para o efeito, deve ser estabelecida uma política de gestão de resíduos adequada, determinando princípios e responsabilidades, principalmente dos grandes geradores/produtores de resíduos (aqueles que mais resíduos produzem, os grandes centros comerciais, grandes importadores, etc.), e fomentar industriais (que possam usar essa matéria) para abastecer o mercado interno. EM MUITAS PARTES DO MUNDO, OS RESÍDUOS LÍQUIDOS – ÁGUAS USADAS – SÃO REAPROVEITADOS PARA CONSUMO. QUAIS OS PLANOS DA ELISAL EM RELAÇÃO A ESTA PRÁTICA? A reutilização de águas residuais ainda é prematura na nossa província. Oficialmente, são rejeitadas nos corpos hídricos receptores, rios ou mar, embora a Elisal tenha construído a primeira Estação de Tratamento de Águas Residuais, no projecto "Morar", em Viana, mas acabou por não ser usada. O traçado inicialmente eleito para lançamento do emissário foi invadido por construções não autorizadas, ficando assim condicionada a conclusão do programa da macrodrenagem para a sua posterior ligação. Há a necessidade de se estabelecer Planos Directores para a correcta gestão destes efluentes. QUAL A SITUAÇÃO ACTUAL DO LIXO EM LUANDA? Com a inauguração do Aterro Sanitário dos Mulenvos em 2007, Luanda completou o ciclo de gestão operacional adequada. A recolha melhorou, mas é uma melhoria sazonal, porque na estação seca sempre atingimos níveis mais altos, recolhemos áreas que na estação chuvosa se tornam inacessíveis. Entretanto, também já se começam a concluir projectos na rede viária, que permitirão um aumento da capacidade de mobilidade dos meios da Elisal e seus parceiros, o que nos possibilitará estender os nossos serviços. Houve também uma melhoria nos investimentos, grande parte das operadoras renovou e ainda está a renovar as suas frotas, casos da Kiaxi Waste (município do Kilamba Kiaxi), Envirobac (Maianga), Vista Waste (Samba), Triambiente (Rangel) e Ersol (Samba), aumentando assim a sua capacidade. É necessário intensificar os trabalhos na procura de níveis de qualidade acima do esperado. Estas acções minimizariam PRODUÇÃO DE LIXO POR MUNICÍPIO TONELADAS/DIA ÁREA A B C D1 D2 E1 E2 F G1 G2 H1 H2 I1 I2 TOTAL MUNICÍPIO INGOMBOTA RANGEL MAIANGA NÚMERO DE HABITANTES 211 310 291 636 775 378 CAZENGA 1 241 174 KILAMBA KIAXI 1 059 500 CACUACO 1 001 721 VIANA 1 360 960 SAMBIZANGA 480 286 SAMBA 821 375 7 243 340 PRODUÇÃO DE RESÍDUO 233 256 359 374 321 213 289 441 179 464 251 153 205 209 3947 os acumulados de resíduos dispersos por toda a província. O QUE SE PRETENDE FAZER PARA MELHORAR A IMAGEM DE LUANDA? Estamos a trabalhar, desde Novembro de 2009, na inauguração do Centro de Educação Ambiental de Luanda, no Programa de Educação Ambiental. Este programa, além de estar a ser levado a cabo em 18 escolas do ensino primário da rede pública de Luanda (duas escolas de cada município), prevê a realização de 80 campanhas de sensibilização, que serão desenvolvidas com o apoio de 70 instrumentos de sensibilização, com destaque para a "lixomachimba", que é uma Unidade Móvel de Sensibilização (viatura de grandes dimensões). A aposta na área da educação ambiental, ferramenta imprescindível para a geração de competências individuais e sociais de cidadania activa, é resultado do forte envolvimento do governo da província de Luanda, direccionado para a dignificação e promoção da qualidade de vida das populações envolvidas. Pretendemos continuar o trabalho de melhoria da gestão técnica das operadoras envolvidas no sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos na província, para que haja remoção regular do lixo produzido pela comunidade e para que todos os dias Luanda acorde limpa. Setembro 2010 JSA PUBLICIDADE 11 12 HUÍLA Governação huilana expande serviços sanitários a todos os municípios da província Em termos de tratamento, os serviços de saúde já se encontram implantados em todos os municípios da província da Huíla e com um apetrechamento técnico-humano e material ao nível adequado e aceitável dos actuais desafios neste sector. Conheça a Huíla A Huíla, província do sul de Angola, tem cerca de 1 559 mil habitantes e 79 022 quilómetros quadrados. A sua capital é a cidade do Lubango. É constituída por 14 municípios: Caconda, Cacula, Caluquembe, Chiange, Chibia, Chicomba, Chipindo, Cuvango, Humpata, Jamba, Lubango, Matala, Quilengues e Quipungo. Inicialmente, com a colonização portuguesa, a Huíla estava inserida no território de Benguela e integrada no Distrito de Moçâmedes (actual Namibe). O município de Humpata tem um grande potencial turístico. Foi uma das zonas onde se fixaram os primeiros colonos, tendo em conta a beleza natural da região. Entre outra pode-se destacar a Fenda do Alto Bimbi, o miradouro do Bimbe, a Escadaria da Serra da Leba, a Cascata da Estação Zootécinica da Humpata e a Barragem das Neves. A região foi descoberta pelos colonos Boers, a 4 de Janeiro de 1881 e ascendeu à categoria de concelho a 17 de Janeiro de 1883. Textos de ARNALDO VIEIRA Sérgio da Cunha Velho “O executivo huilano tem políticas bem definidas para a saúde” E stes pronunciamentos foram avançados ao Jornal da Saúde pelo vice-governador da Huíla para a área social, Sérgio da Cunha Velho. De acordo ainda com o responsável, o executivo huilano tem políticas bem definidas no que concerne à saúde, isto porque tem seguido e implementado todas as orientações do executivo central, tendentes à oferta de melhores condições para as populações em relação ao atendimento e prestação de serviços de saúde. "Esta política tem passado pela construção de novos hospitais e centros de saúde nos catorze municípios que comportam a província, bem como pela melhoria da oferta de medicamentos." Interrogado sobre a situação dos recursos humanos na área da saúde, Sérgio da Cunha Velho disse pensar que a Huíla está bem servida, acreditando por outro lado que, com a implantação da Faculdade de Medicina e com o Instituto Médio de Saúde, dentro de poucos anos a província vai ultra- Sérgio da Cunha Velho defende a construção urgente de uma pediatria, de uma nova maternidade, psiquiatria e hospital sanatório passar os défices actuais no tocante a quadros humanos. Sobre o sector da saúde, Sérgio da Cunha Velho falou também da sua evolução re- ferindo que ela se verifica em varias áreas, quer em termos de desenvolvimento humano quer quanto à criação de condições para a optimização da prestação de serviços de saúde. O responsável avançou também nesta entrevista em exclusivo ao Jornal da Saúde que num horizonte temporal de três anos o executivo huilano vai concluir todos os projectos de desenvolvimento técnico, estrutural e estruturante para oferecer à população huilana, sendo este um processo contínuo e evolutivo e não uma meta final. Um olhar de alegria foi ressaltado pelo governante no que concerne às várias cooperações que existem no sector da saúde. "Contamos com parceiros de todos os estratos de conhecimento, quer a nível empresarial, quer a nível nacional e internacional." Como qualquer área de intervenção social, a saúde também tem as suas preocupações. Neste particular, Sérgio da Cunha Velho defende a construção urgente de uma pediatria e de uma nova maternidade, psiquiatria e hospital sanatório, bem como o seu apetrechamento em meios técnicos e materiais. O vice-governador para a área social da Huíla aproveitou esta entrevista ao Jornal d a S aúde para sugerir que as mesmas unidades passem a ser independentes no tocante ao Orçamento Geral do Estado. Sérgio da Cunha Velho concluiu admitindo não ser das melhores a situação salarial dos quadros da saúde nesta província. "Trata-se de casos de âmbito central, e não local. O Governo pugna séria e urgentemente a mudança da situação", rematou. Região Sul do país ganha centro de Odontologia A clínica Danfran pôs à disposição da população do Sul do país serviços no ramo da Odontologia. O edifício localiza-se na cidade do Lubango, no Prédio dos Médicos, e conta com uma mão-de-obra qualificada. A ideia é procurar diminuir o número de angolanos que se deslocam aos países estrangeiros para cuidar da boca e dos dentes. Por isso, de acordo com Bernardeth de Lurdes, funcionária sénior da instituição dos serviços de Odontologia, esta iniciativa reveste-se de grande importância, não só para os proprietários mas também para o país em geral e para a província. Frisou ainda que foram feitos grandes investimentos para se concretizar esta realidade. Os equipamentos a utilizar no atendimento aos pacientes são de ponta e também foram contratados médicos e pessoal técnico altamente qualificados, dois especialistas sul-africanos e um namibiano, além de uma angolana formada em Portugal. O centro dispõe ainda de dois técnicos especialistas no fabrico e colocação de próteses dentárias, segundo a nossa fonte. Já o governador provincial, Isaac dos Anjos, que esteve presente na inauguração do empreendimento, louvou esta iniciativa privada e desafiou mais empresários a investir no ramo da saúde. Isaac dos Anjos parabenizou por estarem juntos dois especialistas numa só clínica. "É maravilhosa a oportu- nidade destes serviços na nossa província, onde temos problemas sérios de dentição e de cárie dentária por falta de flúor na água", disse o chefe do executivo huilano, acrescentando que muitos jovens ficam sem o seu belo sorriso porque muito cedo perdem a dentição nestas paragens. Setembro 2010 JSA 13 Associação dos diabéticos abre núcleo na Huíla A Associação dos Diabéticos de Angola (ASDA) abriu este mês, no Lubango, um núcleo para "alertar, formar e educar as pessoas afectadas pela doença sobre as formas de combate", de acordo com a sua presidente, Filomena Quiosa. Segundo esta responsável, "trata-se de um projecto destinado à melhoria de vida dos diabéticos e redução do índice de afectados, pois o número tem aumentado nos últimos anos". O núcleo provincial da ASDA na Huíla, sob gestão de Arminda de Almeida, ficou sedeado no Hospital Geral Dr. Agostinho Neto, cedida pelo director geral, Henrique Chipenda, onde decorreu uma sessão de despiste. O Vice-governador para o Sector Social, Sérgio da Cunha Velho, e a chefe do departamento provincial de Saúde Pública e Controle de Endemias, Judite dos Santos Rocheta, acolheram a delegação da ASDA. A cerimónia contou ainda com a participação da directora-adjunta do Jornal da Saúde, Maria Odete Pinheiro. O acontecimento, veiculado pela rádio e imprensa local, teve repercussões imediatas junto à população. Dezenas de pessoas manifestaram interesse em aderir à Associação para poderem beneficiar dos seus serviços, ou simplesmente com o intuito de colaborarem, como é o caso de responsáveis de algumas empresas locais, como a CocaCola e as Águas da Chela. A ASDA pretende abrir núcleos em todo o País, para que possa estender os seus serviços de apoio aos diabéticos a todos os cidadãos angolanos. O QUE É A DIABETES? A diabetes é uma doença crónica que se caracteriza pelo aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue e pela incapacidade do organismo em transformar toda a glicose proveniente dos alimentos. À quantidade de glicose no sangue chama-se glicemia e quando esta aumenta diz-se que o doente está com hiperglicemia. QUAIS SÃO OS SINTOMAS TÍPICOS DA DIABETES? Nos adultos - A diabetes é, geralmente, do tipo 2 e manifestase através dos seguintes sintomas: – Urinar em grande quantidade e muitas mais vezes, especialmente durante a noite (poliúria); – Sede constante e intensa O director do hospital geral, Henrique Chipenda, dá o exemplo ao submeter-se ao despiste da diabetes. (polidipsia); – Fome constante e difícil de saciar (polifagia); – Fadiga; – Comichão (prurido) no corpo, designadamente nos órgãos genitais; – Visão turva. Nas crianças e jovens - A diabetes é quase sempre do tipo 1 e aparece de maneira súbita, sendo os sintomas muito nítidos. Entre eles encontram-se: – Urinar muito, podendo voltar a urinar na cama; – Ter muita sede; – Emagrecer rapidamente; – Grande fadiga, associada a dores musculares intensas; – Comer muito sem nada aproveitar; – Dores de cabeça, náuseas e vómitos. É importante ter presente que os sintomas da diabetes nas crianças e nos jovens são muito nítidos. Nos adultos, a diabetes não se manifesta tão claramente, sobretudo no início, motivo pelo qual pode passar despercebida durante alguns anos. Os sintomas surgem com maior intensidade quando a glicemia está muito elevada. E, nestes casos, podem já existir complicações (na visão, por exemplo) quando se detecta a doença. Abertura do núcleo da ASDA e sessão de despiste da diabetes com a presença de Arminda de Almeida, Filomena Quiosa, Judite Rocheta e Henrique Chipenda Hospital Central do Lubango aposta na melhoria da assistência médica, medicamentosa e humanizada aos utentes "A discussão das causas mais profundas e principais da morte da população é a nossa meta." Foi com estas palavras que Vitória da Conceição Correria, vice-governadora para a área técnica da província da Huíla, fez a abertura das primeiras jornadas técnico-científicas na história do Hospital Central do Lubango, a maior unidade sanitária da região Sul do país, que decorreram a 15 e 16 de Setembro. A responsável disse também acreditar que o evento poderá propiciar um clima para o refrescamento dos conhecimentos dos profissionais da saúde. Participaram no evento mais de 200 delegados, sendo 160 dos 800 funcionários do hospital, 40 convidados das províncias do Cunene, Namibe e Kuando Kubango, além de alunos de formação na área da saúde. Devem estas jornadas encontrar solução para os problemas sanitários que afligem as populações, de acordo com Vitória da Conceição Correia. Martinho Angelina, director pedagógico e científico do hospital central do Lubango, frisou que o evento vai alavancar os profissionais da instituição com mais ferramentas de trabalho. "Vamos discutir formas para melhorar o A Vice-governadora, Vitória da Conceição Correia, acompanhada pelo reitor da Universidade Mandume ya Ndemufayo, Viriato Gaspar, à direita nosso desempenho", disse. Já o Dr. Adriano Cassela, coordenador das jornadas técnico-científicas, adiantou que cerca de vinte e seis temas serão abordados nesta actividade, com destaque para as principais patologias que atormentam as populações na região Sul do país. A margem destas primeiras jornadas técnico-científicas do Hospital Central do Lubango, que decorreram sob o lema "Investigação e pesquisa em saúde, ao serviço da melhoria da assistência médica, medicamentosa e humanizada aos utentes", foi rubricado um protocolo de cooperação com a Faculdade de Medicina da Universidade Mandume Ya Ndemufayo. A decana desta instituição de ensino superior, Ana Silva Gerardo, disse que este facto vai melhorar a aprendizagem dos estudantes, pois estarão facilitadas as aulas teóricopráticas "Os estudantes poderão ter no Hospital central do Lubango acesso à área de anatomia patológica e contacto directo com o doente", sustentou Ana Silva Gerardo. O Hospital Central Dr. António Agostinho Neto situa-se no Município do Lubango, no Bairro Comandante Cowboy, ocupa uma área de 11 200 m2 e com uma população estimada para assistir de 3 154 854 habitantes. A primeira fase foi inaugurada em 1972, com a construção da torre principal. De 2006 a 2008, o hospital beneficiou de obras para a sua conclusão e reabilitação, tendo sido reinaugurado a 29 de Agosto de 2008. É um hospital de referência provincial e também assiste alguns doentes provenientes das províncias vizinhas (Namibe, Cunene e Kuando Kubango). Tem uma capacidade instalada de 520 camas e uma média de 351 camas reais. 14 VIH/SIDA E ITS Setembro 2010 JSA Novo plano nacional à vista Todos os dias, ao cair do sol, Joana, mãe solteira de 23 anos de idade, toma um longo tempo à janela da varanda do seu quarto, num prédio de construção colonial portuguesa que resiste à invasão da favela no Bairro Prenda, em Luanda. Voltada à vista do mar e ao céu azul dourado desta tarde, a jovem olha para o sol que se afoga no fundo da paisagem, como se observasse o tempo que resta, até que algo seja feito, para, pelo menos, como ela sublinha, "prolongar a sua vida". Isso caso não seja possível salvá-la "das garras" da doença, o VIH/sida. "Sinto uma grande agonia na alma ao ver o tempo passar", disse Joana. "Às vezes, a sensação é pior do que a dor que sinto no corpo." JOÃO DILA Domingas, seropositiva:"Há falta de centros de tratamento para doentes com sida e os equipamentos avariam-se por falta de assistência adequada" U ma ex-trabalhadora do sexo nas noites de Luanda, Joana consta entre o crescente número de seropositivas que anseiam melhores dias para o seu tratamento médico. Para muitas, uma vez detectado o vírus, o socorro é deficiente. Mas agora as esperanças voltam-se para o Quarto Plano Estratégico Nacional (PEN IV) de controlo das infecções transmitidas sexualmente (ITS) e do VIH/sida, no triénio 2011-2014, que o governo poderá adoptar. Após revisão, o processo foi entregue, a versão final do PEN IV foi apresentada ao vice-presidente angolano, Fernando da Piedade Dias dos Santos. O vice-presidente lidera o sector social do Executivo e reuniu a Comissão Nacional de Luta contra a Sida e Grandes Endemias. Em análise esteve a situação seroepidemiológica do VIH/sida no país e as respostas que se impõem, de acordo com uma nota de imprensa publicada pela Comissão. Segundo o esboço 2 desta resposta, revisto por especialistas e parceiros sociais do Governo, o PEN IV visiona um futuro comum, sem as ameaças do VIH/sida à saúde pública, permitindo o desenvolvimento socioeconómico do país e o bem-estar dos cidadãos. As metas seriam o controlo e a inversão dos efeitos negativos da pandemia mundial em Angola. O destino é o que o Executivo considera ser "a concretização dos Objectivos do Milénio definidos no ano 2000 em Nova Iorque, Estados Unidos da América, e o Acesso Universal até 2015". Uma estimativa do esboço 2 do PEN IV antecipa que em 2012 a taxa de seroprevalência do vírus será de 2,03% das pessoas entre os 15 e os 49 anos de idade. A população total seropositiva seria de 180 mil pessoas. Para o corrente ano, a estimativa oficial apontava os 173 261 casos. A seroprevalência rondaria os "Uma estimativa do esboço 2 do PEN IV antecipa que em 2012 a taxa de seroprevalência do vírus será de 2,03% das pessoas entre os 15 e os 49 anos de idade. A população total seropositiva seria de 180 mil pessoas. Para o corrente ano, a estimativa oficial apontava os 173 261 casos. A seroprevalência rondaria os 1,99% em 2010. Mas esta projecção oficial é "extremamente optimista" para muitos especialistas independentes" 1,99% em 2010. Mas esta projecção oficial é "extremamente optimista" para muitos especialistas independentes. O argumento é que Angola seria tecnicamente incapaz de fazer diagnósticos "efectivos". País com uma população total estimada em 18 milhões de habitantes e uma extensão territorial de 1 246 700 km², Angola emprega métodos de análises "indirectas" quando afere os níveis de seroprevalência. DOENÇA URBANA, FRONTEIRIÇA E FEMININA Num estudo da seroprevalência efectuado em mulheres grávidas, apresentado há dois anos e que constou do esboço 2, concluía-se que o vírus ataca predominantemente as províncias limítrofes, como o Cunene (4,4%), Lunda-Norte (4,4%) e Benguela (4,2%). A capital, Luanda, no litoral, observou um índice de prevalência de 3,9%, nos seus mais de 7 milhões de habitantes. Para o estudo, quem vivia na cidade e nas áreas urbanas aparentemente enfrentava um maior risco de infecção do que o habitante do meio rural. As mulheres formavam o grosso da população infectada, em comparação com o sexo oposto, uma relação de 2,4 mulheres por cada homem. A faixa etária feminina mais afectada situava-se entre os 25 e os 29 anos de idade. Os homens, entre os 30 e os 34 anos. Nas trabalhadoras do sexo de Luanda verificou-se uma seroprevalência de 23% há 4 anos. Entretanto, no esboço 2, não houve qualquer referência ao custo do Plano em revisão. Nos últimos dois anos, o combate ao VIH/sida consumiu 73 milhões de dólares. O Governo angolano disponibilizou 77,34% deste valor. Parceiros e doadores internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Global, custearam 16% do orçamento. Até agora, o PEN III em execução alargou a prevenção. Todavia, faltou melhorar substancialmente os serviços de tratamento aos doentes de sida, como reclamam vários pacientes. Uma seropositiva há quase uma década e hoje em tratamento médico, Domingas, de 40 anos de idade, acusa a carência de centros de tratamento para doentes de sida. O Hospital Esperança é o único especializado. Mas a capacidade seria limitadíssima. "Temos dificuldades em fazer exames complementares, incluindo o CD 4", disse Domingas. "Vejo que os maiores problemas são os aparelhos e equipamentos ultramodernos e sensíveis que se avariam por falta de uma assistência adequada e a frequente oscilação no fornecimento de energia eléctrica." Às vezes, há dificuldades no acesso ao kit completo de anti-retrovirais, o principal medicamento em uso que pode retardar a acção do vírus e prolongar a esperança de vida do portador do VIH. Em Angola, o Governo estabeleceu o acesso aos anti-retrovirais e ao tratamento médico como universal e gratuito. "Mas há dificuldades no acesso a todos exames", protestou Domingas, que viaja para o estrangeiro em tratamentos mais completos. "O drama cria custos no acesso ao tratamento." Solteira e mãe de um adolescente, Domingas observa muita discriminação contra os doentes de sida. O palco são os hospitais públicos, que "devem" atender as doenças infecciosas. Atraídos pelo slogan "Acesso universal para todos", lá muitos doentes procuram tratamento a enfermidades "oportunistas, devido às suas fragilidades imunológicas". O drama não foge à realidade de Joana, já com a aflição à flor da pele. "Cada dia que passa", disse a jovem seropositiva, que aprecia o ar frio que a janela envelhecida do seu quarto aspira enquanto observa o rápido anoitecer, "parece ser uma batalha silenciosa e incerta que perco". Mas no plano concluído, os autores deixam claro que será preciso tratar e cuidar melhor dos doentes de VIH/sida, como esta jovem. O PEN IV estabelece metas ambiciosas, como a redução da mortalidade e morbilidade entre as pessoas que vivem com o VIH, além de melhorar a sua qualidade de vida. Tanto Joana como Domingas preferem ver para crer. SAÚDE MATERNO-INFANTIL 15 Setembro 2010 JSA Governo quer reduzir mortes João Teixeira procura resposta para a sua aflição. Deve ou não enviar a esposa para Londres e, escrupulosamente, seguir o tratamento médico até ao fim da sua gravidez, que já tem seis meses? "A percentagem de consultas pré-natais pelos 20% da população mais rica foi de 89%, enquanto aquela que se regista nos 20% da população mais pobre foi apenas de 45%" PAULO DILA H á dois anos que a sua esposa quase perdeu a vida, quando interrompeu a primeira gravidez e abortou o bebé por complicações na gestação numa maternidade em Luanda. Faltavam sete meses para o parto. Estas complicações na gestação eram muito frequentes em Angola. Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1400 mulheres por 100 000 nados-vivos morriam durante a gestação até 2009. Menores são as "chances" de uma criança sobreviver ao parto e chegar com vida e saudável aos 5 anos de idade em Angola. Segundo o Inquérito Integrado ao Bem-Estar da População (IBEP), publicado no dia 19 de Agosto deste ano, no país morrem 193 crianças em mil nascidas, antes dos 5 anos de idade. Ambos os casos provam o grau de risco que o Governo angolano quer reverter radicalmente. O primeiro passo foi o lançamento da campanha de redução acelerada da mortalidade e morbilidade materno-infantil, a 20 de Agosto, no Centro de Convenções de Talatona, em Luanda. O ministro da Saúde, Dr. José Van-Dúnem, disse que da estratégia nacional consta o planeamento familiar, o reforço da capacitação de recursos humanos, das mulheres e das comunidades para a redução da mortalidade e morbilidade materno-infantil. O ministro Van-Dúnem também antecipou o reforço dos mecanismos de coordenação, a monitorização, mobilização e alocação de recursos para a saúde materno-infantil. Esta campanha surge numa altura em que as Nações Unidas se encontram engajadas para que neste mês de Setembro, através do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, se lance a estratégia global de saúde materno-infantil. "Em Angola, a taxa de prevalência da má nutrição em crianças menores de cinco anos reduziu de 31% para 16%, e a percentagem de mulheres que frequentam as consultas pré-natais cresceu de 66% para 69%" O objectivo é a reversão dos oito milhões de óbitos infantis no planeta devido a causas preveníveis e o combate ao número de mais de 350 mil mulheres que anualmente morrem em todo o mundo devido a complicações evitáveis, atribuídas à gravidez e ao parto. Luís Sambo, director-regional para África da Organização Mundial da Saúde, sublinhou que as elevadas taxas de mortalidade materna, neonatal e infantil na região africana continuam a constituir um importante obstáculo ao desenvolvimento da saúde. "A tendência actual", alertou o Dr. Luís Sambo, "mostra que muitos países da região africana não irão alcançar o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio relativo à saúde infantil e materna, se se continuar com o ritmo actual". SINAIS DE ESPERANÇA? Em Angola, no recente IBEP, a proporção da mortalidade por malária caiu de 35% para 23%. Basicamente, a quebra deveu-se à distribuição de mosquiteiros impregnados e à disponibilidade de tratamento antimalárico adequado para as mulheres grávidas e crianças, segundo o que descrevem os especialistas. Na observação dos parceiros internacionais do Governo, a taxa de prevalência da má nutrição em crianças me- nores de 5 anos reduziu de 31% para 16%, e a percentagem de mulheres que frequentam as consultas pré-natais cresceu de 66% para 69%. A governadora de Luanda, Francisca do Espírito Santo, não podia estar mais radiante. "O facto de se registar um aumento de 39 partos realizados nos centros de saúde na província de Luanda desde que vigora a paz em Angola, em relação aos anos anteriores", disse a governadora Espírito Santo, "e a redução da mortalidade infantil, significa que as famílias depositam maior confiança nos serviços prestados, que o trabalho feito na comunidade tem surtido efeito e que as gestantes consciencializam-se de que as salas de parto são o melhor local para ter o bebé". Mas há vozes de advertência. "É necessário, porém, eli- minar as lacunas e disparidades ainda existentes", advogou o Dr. Koen Vanormelingen, que falava em representação do sistema das Nações Unidas e dos parceiros em Angola. "A cobertura de saúde para as populações com menos recursos é bastante reduzida e o acesso aos serviços de qualidade é bastante influenciado em função do acesso geográfico." O Dr. Vanormelingen usou PARA A REDUÇÃO DA MORTALIDADE MATERNO-INFANTIL ORÇAMENTO PARA A SAÚDE TEM DE AUMENTAR 15 POR CENTO O optimismo é partilhado pelo Executivo. O vice-presidente da República, Fernando da Piedade Dias dos Santos, que encerrou o evento, disse que a campanha acelerada para a redução da mortalidade materna e a informação constituem um importante marco na realização dos vários compromissos nacionais e internacionais assumidos por Angola para o desenvolvimento social do país e do continente africano. Não será fácil. O Dr. Vanormelingen apontou vários passos para que a aposta seja efectiva. É o caso da clarificação das obrigações dos parceiros nacionais e internacionais, públicos e privados, a diferentes níveis, para que se tenha um plano único, de modo a orientar as acções. Também se devem mobilizar os recursos humanos, técnicos e financeiros necessários para que o plano possa ser implementado. Isso significa um aumento orçamental do Estado para a saúde, até 15%, segundo a Organização Mundial da Saúde. Por último, espera-se pelo desenvolvimento de um mecanismo de monitoria única a nível do sector de saúde, de forma a reforçar o sistema de informação para a saúde e evitar a ineficiência por duplicação. "Em nome das agências das Nações Unidas", afirmou o Dr. Vanormelingen, "reafirmo o nosso compromisso de trabalhar em coordenação com o Governo e os seus parceiros para reduzir a pobreza e melhorar a saúde materno-infantil no contexto dos 11 compromissos de Angola para as crianças, e tomar a redução da mortalidade materno-infantil como prioridade absoluta em Angola". Mais do que um mero ideal, João Teixeira gostaria que tudo isso fosse uma realidade, para que pudesse optar por ter a sua esposa a dar à luz nos hospitais do país. uma análise de quantis para demonstrar que a percentagem de consultas pré-natais pelos 20% da população mais rica foi de 89%, enquanto aquela que se regista nos 20% da população foi apenas de 45%. A par disso, o atendimento qualificado a mulheres grávidas permanece baixo, com 49%, e o acesso à água potável e ao saneamento básico baixou de 60% para 42% e de 75% para 60%, respectivamente. Isso facilitou o surgimento de outras epidemias, como é o caso da poliomielite, segundo a análise de especialistas. "As altas taxas de mortalidade materna infantil representam uma rejeição dos direitos fundamentais à saúde consagrados na própria Constituição de Angola, na Convenção dos Direitos da Criança e na Convenção contra a violência e discriminação da mulher", afirmou o Dr. Vanormelingen, que acredita que um investimento na saúde das crianças e das mulheres ajuda substancialmente ao desenvolvimento do país, pela melhoria do capital humano e pela diminuição das despesas. Os parceiros sociais do Governo, as Nações Unidas e as suas agências sublinham que a campanha lançada pelo Executivo angolano é uma base fundamental para a redução da mortalidade materno-infantil em Angola. 16 PEDIATRIA Setembro 2010 JSA SUCESSO ESCOLAR Os contributos da saúde Uma alimentação variada, completa e equilibrada, com os nutrientes necessários, constitui uma das garantias indispensáveis para um bom desenvolvimento intelectual do indivíduo. PATRÍCIA VAN-D DÚNEM C omer bem é, segundo muitos especialistas, o segredo das crianças que apresentam melhor desempenho escolar. A ausência de alimentos como o leite e seus derivados, sumos naturais, água, sopas, frutas, peixe, carne, vegetais, massa, feijão, pão e ovos podem fazer toda a diferença quando o assunto é o rendimento escolar. Em entrevista ao Jornal da Saúde, a médica pediatra Ermelinda Soito Ferreira fala da importância e influência de uma boa alimentação no rendimento escolar das crianças. CONSULTAS REGULARES De acordo com Ermelinda Soito Ferreira, o estado de saúde da criança influencia muito o seu nível de aproveitamento escolar. Daí a chamada de atenção aos encarregados de educação para levarem os seus petizes a consultas regulares com o pediatra, ter o calendário de vacinação actualizado e levar a criança, pelo menos uma vez por ano, a uma consulta de oftalmologia. Segundo a médica pediatra, a integridade visual da criança é muito importante, e constitui uma premissa para o seu bom desenvolvimento. ALIMENTAÇÃO ADEQUADA No que concerne à alimentação das crianças nas escolas durante os intervalos, Ermelinda Ferreira alerta para a necessidade das cantinas existentes nas escolas terem um médico nutricionista, de forma a cultivar nas crianças bons hábitos alimentares e incluir na sua dieta alimentos essenciais para um crescimento saudável, ao invés de alimentos muito gordurosos como hambúrgueres, refrigerantes , doces em excesso, Comer bem é, segundo muitos especialistas, o segredo das crianças que apresentam melhor desempenho escolar. enlatados, batata fritas e alimentos pré-cozinhados. Ermelinda Soito Ferreira salienta a importância da criança fazer todas as refeições começando por um pequeno-almoço, um lanche de manhã e à tarde, o almoço e o jantar, factores básicos para um estilo de vida saudável e consequentemente um bom rendimento escolar. O SONO É IMPORTANTE O sono é muito importante para a criança, fazendo parte do ritmo de vida durante o qual há maturação e desenvolvimento neurológico, essencial para uma aprendizagem eficiente, frisou. Ermelinda Soito Ferreira salienta que as crianças devem ter um número de horas de sono adequado à sua idade para que tenham um des- envolvimento saudável. Ainda de acordo com a especialista, os princípios fundamentais de um ritmo de vida normal e adequado ao desenvolvimento da criança devem ser cumpridos para um bom rendimento escolar. Uma criança que não tem o período de sono necessário à sua idade está muito mais susceptível ao fracasso escolar que outras crianças da sua idade, disse a médica. Ermelinda Soito Ferreira lança por outro lado, um apelo aos encarregados de educação no sentido de educarem os seus filhos a respeitarem as horas de sono principalmente na idade pré-escolar. Ermelinda Soito Ferreira realçou também a importância dos pais conversarem com os seus filhos, auxiliá-los na sua aprendizagem e tarefas escolares, demonstrando o seu interesse no seu rendimento dos mesmos. Vale a pena o tempo perdido! Paulina Semedo “Encorajamos as mães a não desistir desta árdua, mas gratificante, tarefa de promover a boa alimentação e hábitos saudáveis” Para alguns é mesmo o que diz o título: tempo perdido! Horas de sono Um recém-nascido deve ter em média 14 a 18 horas de sono por dia. Aos cinco anos as crianças necessitam de 12 a 13 horas de sono. Já na fase dos 7 aos 9 anos necessitam de 10 a 12 horas de sono por dia. ois, estamos a referir-nos ao tempo que nós, as mães, dedicamos a preparar os lanchinhos para os nossos filhos comerem nos intervalos das aulas. Preocupamo-nos em colocar uma peça de fruta, uma sandes e às vezes uma garrafinha de água ou de sumo. Contudo, as nossas criancinhas preferem o que a cantina da escola põe à disposição dos mal-informados alunos em matéria de valor nutricional dos alimentos, em detrimento daquilo que, além de ser cuidadosa e higienicamente preparado, não lhes vai custar mais nada! O nosso conselho é de encorajar as mães a não desistir desta árdua, mas gratificante tarefa, a de promover a boa alimentação e hábitos saudáveis de bem comer e viver. Já diz o ditado: é de pequeno que se torce o pepino. Filhos que desde cedo aprendem a conviver e a observar atitudes positivas e estilos de vida saudáveis adoptam comportamentos e têm a atitude que lhes vai garantir uma qualidade de vida melhor. Às direcções das escolas, públicas e privadas, solicitamos e deixamos aqui o desafio de também participarem na mudança de comportamentos das crianças de Angola, facilitando o acesso a alimentos mais saudáveis nas cantinas escolares ou pelo Programa de Merenda Escolar, para que possamos garantir um futuro livre de doenças crónicas não transmissíveis, como a diabetes e a obesidade, e, desta forma, contar com um desenvolvimento económico participativo do nosso país. P É TEMPO DE MUDAR. Ermelinda Soito Ferreira “Uma criança que não tem o período de sono necessário à sua idade está muito mais susceptível ao fracasso escolar” Setembro 2010 JSA PUBLICIDADE 17 18 PUBLICIDADE Setembro 2010 JSA MEDICINA TRADICIONAL 19 Setembro 2010 JSA JOSENANDO THÉOPHILE "Devemos regulamentar a actuação dos terapeutas tradicionais" "Em caso de doença, o primeiro passo da população angolana residente na zona rural é recorrer à medicina tradicional." Por esta razão, Josenando Théophile, médico especialista em saúde pública, defende uma cooperação mais intensa entre o Ministério da Saúde e os terapeutas tradicionais e a criação de uma lei que a regulamente, com a participação de juristas, médicos, farmacêuticos, biólogos e bioquímicos. Mas "é importante que a medicina tradicional também se modernize" e que " a população saiba diferenciar o espiritualismo e a feitiçaria da medicina tradicional, afirma em entrevista ao Jornal da Saúde. PATRÍCIA VAN-D DÚNEM O uso de raízes, folhas e cascas de árvores para o tratamento de doenças é uma prática cada vez mais frequente em Angola. Existente há cerca de quatro mil anos, a medicina tradicional tem desempenhado um papel relevante no nosso país, principalmente no seio das comunidades rurais. Para Josenando Théophile, médico especialista em Saúde Pública, no momento em que vivemos, é quase impossível rejeitar os efeitos terapêuticos da medicina tradicional. Josenando Théophile defende que deve existir uma maior colaboração entre a medicina tradicional e a medicina convencional, para que se obtenham melhores resultados. O médico citou o exemplo de países como o Brasil e a China, que já tiveram ganhos substanciais com a utilização da medicina tradicional. Josenando Théophile disse por outro lado que é importante que a medicina tradicional, a par da medicina FEITIÇARIA NÃO É MEDICINA TRADICIONAL "É importante que a população saiba diferenciar o espiritualismo e a feitiçaria da medicina tradicional" ATENÇÃO AOS FALSOS TERAPEUTAS TRADICIONAIS "Há muitos indivíduos que afirmam ter conhecimento para curar doenças com plantas medicinais, mas não passam de simples curiosos, podendo deste modo pôr em risco a vida de quem recorre a este tipo de tratamento" convencional, também se modernize adoptando medidas que visem uma maior eficácia em termos terapêuticos. Segundo o especialista em Saúde Pública, esta modernização passa por uma melhor arrumação, conservação e dosagem exacta dos medicamentos tradicionais. O também professor universitário disse ser necessário apostar mais no desenvolvimento da medicina tradicional angolana para valorizar e promover a sua integração no Sistema Nacional de Saúde. Estimular a formação e a investigação em saúde envolvendo a medicina tradicional pode ser um dos passos para a sua integração, acrescentou. COOPERAÇÃO ENTRE O MINISTÉRIO DA SAÚDE E OS TERAPEUTAS TRADICIONAIS De acordo com Josenando Théophile, em caso de doença, o primeiro passo da população angolana residente na zona rural é recorrer à medicina tradicional. Por isso, o médico defende uma cooperação mais responsável entre o Ministério da Saúde e os terapeutas tradicionais, de forma a melhorar os indicadores de saúde pública e a prestação dos cuidados primários de saúde no país. Josenando Théophile salientou entretanto a necessidade da criação de uma lei que regulamente a actuação dos terapeutas tradicionais em Angola. O médico, que reconheceu terem já sido dados alguns passos nesse sentido, defende a participação de juristas, médicos, farmacêuticos, biólogos e bioquímicos na elaboração de uma lei que vá ao encontro da realidade angolana. FALSOS TERAPEUTAS Com trinta e um anos de experiência, o médico chamou a atenção da população para a existência de falsos terapeutas tradicionais. Segundo Josenando Théophile, muitos indivíduos que afirmam ter conhecimento para curar doenças com plantas medicinais não passam de simples curiosos, "Deve existir uma maior colaboração entre a medicina tradicional e a medicina convencional" "É importante que a medicina tradicional, a par da medicina convencional, também se modernize" podendo deste modo pôr em risco a vida de quem recorre a este tipo de tratamento. Josenando Théophile disse também que é importante que a população saiba diferenciar o espiritualismo e a feitiçaria da medicina tradicional. O médico especialista falou ao Jornal da Saúde por ocasião do 31 de Agosto, dia consagrado à medicina tradicional africana. Perfil de Josenando Théophile Médico "Chefe de Serviço" do MINSA. Doutorado em Parasitologia pela Universidade de Rouen/França. Mestre em Saúde Pública pela Universidade Católica de Louvain/Bélgica. Especialista em Saúde Pública pelo Colégio de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Agostinho Neto/Angola. Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Nacional do Zaire, actual República Democrática do Congo. Professor Titular na Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto. Membro do Comité Africano para o Desenvolvimento e Investigação em Saúde da Organização Mundial da Saúde. Presidente do Comité Executivo do Conselho Científico Internacional para a Pesquisa e Luta contra as Tripanosomoses da União Africana. Membro do Conselho Superior de Ciência e Tecnologia de Angola, presidente da 6.ª Comissão de Ciências Médicas do mesmo Conselho e coordenador-adjunto do Conselho Científico do Ministério da Saúde. Presidente do Conselho Regional Norte da Ordem dos Médicos de Angola. Director-geral do Instituto de Combate e Controlo das Tripanossomíases (ICCT). Tem várias publicações sobre a Tripanossomíase Humana Africana e Investigação em Saúde. Em anos anteriores foi: delegado da Saúde no Alto Zambeze/Moxico; director clínico do Hospital Provincial do Luena/Moxico; director nacional do Controlo de Endemias; director-adjunto do Instituto Nacional de Saúde Pública e membro do Colégio de Pós-Graduação em Ciências Médicas (CPGCM). 20 SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO Setembro 2010 JSA Centro de Segurança e Saúde no Trabalho quer prevenir acidentes laborais em Angola O CENTRO É A PRIMEIRA UNIDADE DO PAÍS NO ÂMBITO DA PREVENÇÃO DE DOENÇAS PROFISSIONAIS Em operação desde Maio deste O CSST tem como objectivo reduzir e prevenir os acidentes e doenças profissionais ano, o Centro de Saúde e Segurança no Trabalho (CSST), projecto pioneiro em segurança e saúde laboral em Angola, foi criado com o objectivo de reduzir e prevenir a nível nacional os acidentes e doenças profissionais. A iniciativa do projecto é do Governo de Angola, através do Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social – MAPESS, em estreita cooperação com o Ministério da Saúde e em parceria com o Grupo LR, sendo deste último a responsabilidade da concepção, execução e gestão do projecto por 18 meses. O CSST presta serviço a empresas públicas e privadas, actuando com êxito no diag- nóstico precoce dos problemas clínicos de saúde, avaliação dos factores ocupacionais de risco e encaminhamento dos profissionais para tratamento efectivo das doenças detectadas. O CSST assume ainda um importante papel pedagógico, promovendo acções de sensibilização para a questão da segurança no trabalho através da promoção de encontros científicos sobre medicina do trabalho, serviços de consultoria e sessões de formação so- bre segurança no trabalho para empresas. O CSST – Centro de Segurança e Saúde no Trabalho está equipado com tecnologia de ponta e disponibilizará as mais variadas especialidades, desde clínica geral, análises clínicas, diagnóstico funcional, auditometria, saúde ocupacional, oftalmologia, otorrinolaringologia, ortopedia, cardiologia, pneumologia, estomatologia, entre outras. Localizado no Município de Viana, em Luanda, nas proximidades do Centro de Reabilitação Profissional, o Centro opera com uma capacidade média diária de atendimento de 200 consultas. O seu funcionamento é garantido por 20 especialistas nacionais e 12 israelitas, num total de 32 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e técnicos de laboratório, técnico de raio X, técnico de segurança no trabalho, e outros. "O CSST – Centro de Segurança e Saúde no Trabalho vem inovar os serviços de assistência sanitária no país. Será uma referência a nível nacional e faz parte da estratégia de Saúde Pública para estabelecer, aprofundar e oferecer qualidade e soluções aos problemas de saúde, privilegiando a informação, a prevenção e o tratamento das doenças decorrentes do trabalho", afirma a Dr.ª Isabel Cardoso, directora do CSST. UNIDADES MÓVEIS A prever um maior alcance do serviço e comodidade com economia de tempo e recursos financeiros para as empresas com grande número de funcionários, o CSST conta com o inovador serviço de Unidades Móveis, equipadas com consultório, laboratório de análises clínicas e sala de raio X. São duas unidades com capacidade de atendimento diário de 70 pessoas. Através das Unidades Móveis, o CSST atenderá as necessidades das demais províncias do país. Setembro 2010 JSA PUBLICIDADE 21 22 NUTRICIONISMO Setembro 2010 JSA Nutrição e doenças cardiovasculares Nádia Ferreira Nutricionista A nutrição desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares. O QUE SÃO DOENÇAS CARDIOVASCULARES? Nas doenças cardiovasculares dá-se uma disrupção da acção bombeadora do coração ou do fluxo de sangue que passa atra- vés dos vasos sanguíneos. As artérias podem ser danificadas pela tensão arterial alta e estreitadas pelos depósitos de gordura, sobretudo colesterol, que restringem o fluxo sanguíneo. Quando as artérias coronárias, que fornecem sangue ao músculo cardíaco, se estreitam e bloqueiam, ocorre o ataque cardíaco. Se o fluxo de sangue que é levado ao cérebro for interrompido, ocorrerá um AVC – acidente vascular cerebral. DOENÇAS CARDIOVASCULARES MAIS COMUNS A hipertensão arterial – tensão arterial superior a 140 mmHg (sistólica) ou 90 mmHg (diastólica) – provoca tensão no coração e nas artérias, levando a um estreitamento destas e dificultando o fluxo sanguíneo a chegar ao seu destino. Os níveis de colesterol total, colesterol LDL ("mau colesterol") e triglicerídeos elevados, aumentam o risco de acumulação de gordura – formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos que obstruem a passagem normal do sangue. Uma alimentação rica em gorduras saturadas e sal, aliada a um défice de exercício físico, é responsável por uma grande parte das doenças cardíacas existentes. CONSELHOS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES: 1-Reduza a ingestão de gorduras saturadas, responsáveis pelo aumento do colesterol LDL, ou seja, deve escolher lacticínios magros e carnes brancas (peito de frango, peito de peru, lombo de porco…) e retirar todas as peles e gorduras visíveis. 2- Aumente a ingestão de gorduras mono e polinsaturadas, pois, ao aumentar a ingestão de ómega-3, ajuda a aumentar o "bom colesterol" colesterol HDL. Utilize apenas o azeite para temperar e cozinhar e sempre em pouca quantidade; aumente o consumo de peixe gordo, como carapau, atum, sardinhas, e também de frutos secos (nozes, avelãs, amêndoas, pinhões, linhaça, amendoim…), pois são alimentos ricos em gorduras insaturadas e antioxidantes. 3- Uma alimentação rica em fibras diminui o risco de ataque cardíaco, e também os níveis sanguíneos de colesterol LDL. Aposte no consumo de fibras, aumentando a quantidade de cereais de aveia, cereais integrais, frutos e vegetais. 4- Diminua a quantidade de sódio da sua alimentação, optando por temperar os alimentos com ervas aromáticas. 5- A prática de exercício físico é fundamental para o fortalecimento dos vasos sanguíneos e músculos. EXEMPLO DE PLANO ALIMENTAR PARA TRATAMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES PEQ. ALMOÇO - 1 peça de fruta com 6 colheres de sopa de cereais integrais e um copo de leite magro. LANCHE - 1 iogurte magro com um punhado de frutos secos e uma peça de fruta. MEIO DA MANHÃ - 1 fatia de pão integral com uma fatia de queijo magro e uma peça de fruta. JANTAR - Sopa de vegetais, metade do prato com salada variada, 1 bife de peito de frango e três colheres de sopa de arroz integral com legumes. ALMOÇO - Sopa de vegetais, metade do prato com salada variada, 1 posta de peixe, 1 batata cozida. CEIA - 1 copo de leite magro. Para iniciar qualquer dieta deverá consultar primeiro o seu nutricionista. Setembro 2010 JSA PUBLICIDADE 23 24 PUBLICIDADE Setembro 2010 JSA